Crônicas
de um Chefe Escoteiro.
As
flores da primavera voltaram, pois o verdadeiro amor nunca morre.
Na mesma pedra se encontram, conforme o povo
traduz,
Quando se nasce - uma estrela, quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam hão de emendar-nos assim:
“Ponham-me a cruz no princípio... E a luz da es
Quando se nasce - uma estrela, quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam hão de emendar-nos assim:
“Ponham-me a cruz no princípio... E a luz da es
Naquela pequena clareira a pequena
fogueira estava apagada. Nem brasas havia mais. A lua esquecera-se que ele
estava ali e se escondeu em uma montanha distante. As estrelas no céu
desistiram de tentar alegrá-lo e ficaram paradas no céu sem brilhar. Ele não
tinha forças para ao menos colocar mais um galho seco, soprar e quem sabe o
calor do fogo poderia ajudar na sua imensa dor. Uma dor cruel, uma perda que
marcaria seu coração para sempre. Chorar? Ele chorou muito. Chorou quando
soube, pensou em se matar em suas exéquias, sentiu a vida se esvair nos meses
que ficou só sem ter ela sorrindo ao seu lado como sempre fazia. Os amigos
escoteiros tentaram consolar, palavras bonitas surgiram e ele sabia que seu
coração estava morto. Não ligava. Porque falar do artigo da lei? O que sabem da
dor de uma perda de alguém que nunca mais vai voltar? Sorrir? Para que sorrir
se nunca mais ela estará junto dele? Preferia estar morto e não se matou por
que acreditava em Deus.
O vento soprava de leve e a brisa da
noite começou a cair. Ele não sentia frio e nem calor, seu corpo embruteceu-se
nas suas necessidades mais simples. Tentava, chorava e por dentro gritava para
si que precisava esquecer se não ficaria louco. Os tempos das alegrias se fora.
Há tempos não acampava mais com a tropa. Não tinha motivos mesmo porque parou
de frequentar as reuniões. Seus Escoteiros o procuraram, mas só viam lágrimas
nos seus olhos. Sentia-se bem acampando sozinho. Sem vozes, sem alguém com sua
piedade que não o satisfazia. A dor vinha mais forte ele sabia, mas pelo menos
a natureza poderia lhe trazer a calma que ele precisava. Durante o dia tentava
fazer uma pioneiría maior para passar o tempo. Mesmo que a fome não era tanta
ele pouco ligava para ela. Pescara sim bons peixes que apodreceram na mesa
rustica da cozinha que construiu. Ele gostava das noites sombrias. Nem ligava
para a lua, para as estrelas e esquecera completamente o encanto do nascer e do
por do sol.
Não podia esquecer aquele dia quando
a viu pela primeira vez. A chuva caia torrencial e ela brincava na chuva
cantando e dançado com uma alegria tal que o encantou para sempre. Quem era
ela? Não importava ele sabia que foi assim do nada que surgiu um grande amor. Ele
sempre acreditou que os Escoteiros são fortes, sabem pular uma dificuldade e
sabem sorrir. Quem sabe ele pensou que era um deles e nunca foi? Era sua
reunião terminar e ele corria apressado a dar os avisos aos monitores e partia
célere para encontrar-se com ela. Rosamaria, seu nome era Rosa rainha das
flores e Maria mãe de Jesus que diziam ter uma beleza sem igual. Passeavam de
mãos dadas, viviam sorrindo um para o outro, iam a mil lugares e ele nunca a
tocou a não ser roçar seus lábios vermelhos molhados como o néctar das flores.
Ele gostava do cheiro dela. Gostava do seu modo de sorrir de olhar e de sua voz
de anjo.
Seu casamento foi inesquecível. Para ele
o melhor dia de sua vida. A escoteirada lá sorrindo, brincando com seus bastões
sobre suas cabeças, cantando o Rataplã e palmas escoteiras repaginando as
folhas do livro da história que nunca existiu. Quando ele e ela ficaram sós ele
não sabia o que fazer. Ela estava linda em uma camisola branca como sua pele e sorria
envergonhada. Amaram-se sobre a proteção de Deus. Os dias mais felizes de sua
vida ele nunca mais iria esquecer. A escoteirada sentia sua força e sua nova
forma de viver. Seu Chefe agora era outro. As atividades eram feitas com
alegria tal que todos vibravam querendo mais. A pequena cidade ovacionava
aquele casal maravilhoso e quando ela fez sua promessa foi uma apoteose.
Parecia que o tempo reverenciava aquela moça dos olhos negros com seu sorriso
enorme e sua vontade de amar para sempre o jovem Chefe Escoteiro que jurou ser
seu companheiro por toda a eternidade.
Ninguém soube realmente o que aconteceu.
Ela começou a definhar e morreu em poucos meses. O tempo parou no espaço infinito.
Ninguém sabia o que dizer e mesmo as palavras do Velho Pároco, aquele que o
batizou a dizer que viver com a ideia fixa no próprio sofrimento seria o mais
puro egoísmo. – Meu filho sofrer pelos outros é caridade, sofrer voluntariamente
por motivo próprio é egoísmo! Meu Deus, não deixe que ela morra, ele dizia. Mas
ela estava morta. Ele se transformou em um zumbi a correr as ruas da sua cidade
sem saber para onde ir. Cada
pessoa tem determinada resistência à dor. O que para uns é uma coisa terrível,
para outros é apenas um pequeno choque; o que para certas pessoas é uma
verdadeira tragédia, para outras não passa de um golpe contornável, mas para
ele era como se fosse uma faca transpassando a cada minuto seu coração que ele
dera para ela.
Naquele ultimo dia ele fez a
fogueira como se fosse uma máquina que não pensava. Era seu ultimo dia, pois
ele precisava voltar. Precisava trabalhar já que suas pequenas economias
estavam no fim. As chamas subiram aos céus e juntas as fagulhas faziam seu
espetáculo que ele hoje esquecera e que um dia achava um espetáculo à parte.
Havia um bule de café fumegante, pois era sua rotina de anos e anos. Mas ele
sabia que quando o fogo terminasse o café se esfriaria e ficaria ali junto com
ele esperando o amanhecer. Abaixou a cabeça e começou a chorar. Veio um soluço
forte. Estava engasgado de emoção e dos seus sonhos que se foram. Um barulho de
um galho quebrado lhe chamou a atenção. Em uma trilha que levava ao Lago
Dourado ele viu se aproximado um Velho Escoteiro, Barbas brancas, cabelos
brancos e trazia na mão um Velho e tosco chapéu escoteiro. Ele olhou com
espanto aquela figura que não lhe era desconhecida. Ele sabia que o tinha visto
em algum lugar.
O Velho Escoteiro o saudou carinhosamente
e sentou em sua frente em uma pequena tora que há anos estava ali. Ele não
disse nada. Sorria, um sorriso cativante como se sua vida fosse um mar de
rosas. O Velho Escoteiro olhou para o fogo que rejuvenesceu. As chamas
aumentaram. O Velho Escoteiro olhou para o céu e ele nunca viu um céu tão
brilhante onde as estrelas no firmamento davam seu espetáculo sem cobrar. Os
cometas cruzavam o céu como a saudar aquele Velho Escoteiro que resolveu voltar
ao mundo onde viveu há muitos e muitos anos. A lua saiu de trás das montanhas e
uma brisa suave começou a roçar seu rosto trazendo o perfume das flores
silvestres. Ninguém disse nada. Ele não sabia o que dizer. Começou a sentir uma
paz que nunca sentiu antes. Frases começaram a pipocar em seu cérebro – Há uma
espécie de conforto na autocondenação. Quando nos condenamos, pensamos que
ninguém mais tem o direito de fazê-lo. Eram vozes que ele não conhecia.
Ele segurava-se em suas lembranças.
Não queria esquecer-se delas. Rosamaria não podia ser esquecida. Sem perceber
lembrou-se das palavras de uma poetiza que disse: O que vale na vida não é o
ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que
colher. Lagrimas começaram a cair, mas diferente das lágrimas doidas de antes.
O Velho Escoteiro estava em pé. Sorria para ele da mesma maneira que chegou.
Foi até onde ele estava. Colocou a mão em seu coração e no dele. Somos irmãos
de sangue, tu e eu! Ele disse e partiu. Ele o viu andando sobre o Lago Dourado
e desaparecer nas sombras da noite. Nesta noite ele dormiu. Sonhou com ela. Ela
sorria e dizia que o nosso amor era eterno. Estava escrito nas estrelas que
seria assim. Ele acordou rejuvenescido. Nunca esqueceu Rosamaria e sabia que
eles se encontrariam em muitas vidas que Deus lhe reservou. Estariam juntos
para sempre em toda a eternidade.
Quando ele chegou naquela tarde ao
Grupo Escoteiro ninguém perguntou, ninguém tentou mudar a rotina que sempre
teve. Ele se incorporou a ela. O mundo não para e todos nós seguimos o passo do
mundo. Ele sabia que ia lembrar-se dela para sempre, mas como uma alegria que
iria continuar na eternidade. Ao sair do portão para retornar a sua casa ele
viu em uma esquina o Velho Escoteiro. Ele estava sorrindo e lhe fazendo o sinal
Escoteiro. Ele retribuiu. O Velho Escoteiro partiu subindo até uma nuvem banca e
ele nem perguntou quem era de onde veio e para onde ia. Ele só sabia que sua
vida mudou para sempre!
Um Sentimento verdadeiro não morre.
Por decepcionado que fique, por machucado que seja
Pode até esfriar
Ou adormecer
Mas tal como o vento, jamais deixa de soprar:
Um Amor de verdade retém em si a própria essência do Tempo e do Universo
- É imortal, é Infinito
É Eterno...
Por decepcionado que fique, por machucado que seja
Pode até esfriar
Ou adormecer
Mas tal como o vento, jamais deixa de soprar:
Um Amor de verdade retém em si a própria essência do Tempo e do Universo
- É imortal, é Infinito
É Eterno...
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