terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

As flores da primavera voltaram, pois o verdadeiro amor nunca morre.


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
As flores da primavera voltaram, pois o verdadeiro amor nunca morre.

Na mesma pedra se encontram, conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela, quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam hão de emendar-nos assim:
 “Ponham-me a cruz no princípio... E a luz da es
trela no fim!”.

        Naquela pequena clareira a pequena fogueira estava apagada. Nem brasas havia mais. A lua esquecera-se que ele estava ali e se escondeu em uma montanha distante. As estrelas no céu desistiram de tentar alegrá-lo e ficaram paradas no céu sem brilhar. Ele não tinha forças para ao menos colocar mais um galho seco, soprar e quem sabe o calor do fogo poderia ajudar na sua imensa dor. Uma dor cruel, uma perda que marcaria seu coração para sempre. Chorar? Ele chorou muito. Chorou quando soube, pensou em se matar em suas exéquias, sentiu a vida se esvair nos meses que ficou só sem ter ela sorrindo ao seu lado como sempre fazia. Os amigos escoteiros tentaram consolar, palavras bonitas surgiram e ele sabia que seu coração estava morto. Não ligava. Porque falar do artigo da lei? O que sabem da dor de uma perda de alguém que nunca mais vai voltar? Sorrir? Para que sorrir se nunca mais ela estará junto dele? Preferia estar morto e não se matou por que acreditava em Deus.

          O vento soprava de leve e a brisa da noite começou a cair. Ele não sentia frio e nem calor, seu corpo embruteceu-se nas suas necessidades mais simples. Tentava, chorava e por dentro gritava para si que precisava esquecer se não ficaria louco. Os tempos das alegrias se fora. Há tempos não acampava mais com a tropa. Não tinha motivos mesmo porque parou de frequentar as reuniões. Seus Escoteiros o procuraram, mas só viam lágrimas nos seus olhos. Sentia-se bem acampando sozinho. Sem vozes, sem alguém com sua piedade que não o satisfazia. A dor vinha mais forte ele sabia, mas pelo menos a natureza poderia lhe trazer a calma que ele precisava. Durante o dia tentava fazer uma pioneiría maior para passar o tempo. Mesmo que a fome não era tanta ele pouco ligava para ela. Pescara sim bons peixes que apodreceram na mesa rustica da cozinha que construiu. Ele gostava das noites sombrias. Nem ligava para a lua, para as estrelas e esquecera completamente o encanto do nascer e do por do sol.

          Não podia esquecer aquele dia quando a viu pela primeira vez. A chuva caia torrencial e ela brincava na chuva cantando e dançado com uma alegria tal que o encantou para sempre. Quem era ela? Não importava ele sabia que foi assim do nada que surgiu um grande amor. Ele sempre acreditou que os Escoteiros são fortes, sabem pular uma dificuldade e sabem sorrir. Quem sabe ele pensou que era um deles e nunca foi? Era sua reunião terminar e ele corria apressado a dar os avisos aos monitores e partia célere para encontrar-se com ela. Rosamaria, seu nome era Rosa rainha das flores e Maria mãe de Jesus que diziam ter uma beleza sem igual. Passeavam de mãos dadas, viviam sorrindo um para o outro, iam a mil lugares e ele nunca a tocou a não ser roçar seus lábios vermelhos molhados como o néctar das flores. Ele gostava do cheiro dela. Gostava do seu modo de sorrir de olhar e de sua voz de anjo.

       Seu casamento foi inesquecível. Para ele o melhor dia de sua vida. A escoteirada lá sorrindo, brincando com seus bastões sobre suas cabeças, cantando o Rataplã e palmas escoteiras repaginando as folhas do livro da história que nunca existiu. Quando ele e ela ficaram sós ele não sabia o que fazer. Ela estava linda em uma camisola branca como sua pele e sorria envergonhada. Amaram-se sobre a proteção de Deus. Os dias mais felizes de sua vida ele nunca mais iria esquecer. A escoteirada sentia sua força e sua nova forma de viver. Seu Chefe agora era outro. As atividades eram feitas com alegria tal que todos vibravam querendo mais. A pequena cidade ovacionava aquele casal maravilhoso e quando ela fez sua promessa foi uma apoteose. Parecia que o tempo reverenciava aquela moça dos olhos negros com seu sorriso enorme e sua vontade de amar para sempre o jovem Chefe Escoteiro que jurou ser seu companheiro por toda a eternidade. 

       Ninguém soube realmente o que aconteceu. Ela começou a definhar e morreu em poucos meses. O tempo parou no espaço infinito. Ninguém sabia o que dizer e mesmo as palavras do Velho Pároco, aquele que o batizou a dizer que viver com a ideia fixa no próprio sofrimento seria o mais puro egoísmo. – Meu filho sofrer pelos outros é caridade, sofrer voluntariamente por motivo próprio é egoísmo! Meu Deus, não deixe que ela morra, ele dizia. Mas ela estava morta. Ele se transformou em um zumbi a correr as ruas da sua cidade sem saber para onde ir. Cada pessoa tem determinada resistência à dor. O que para uns é uma coisa terrível, para outros é apenas um pequeno choque; o que para certas pessoas é uma verdadeira tragédia, para outras não passa de um golpe contornável, mas para ele era como se fosse uma faca transpassando a cada minuto seu coração que ele dera para ela.

           Naquele ultimo dia ele fez a fogueira como se fosse uma máquina que não pensava. Era seu ultimo dia, pois ele precisava voltar. Precisava trabalhar já que suas pequenas economias estavam no fim. As chamas subiram aos céus e juntas as fagulhas faziam seu espetáculo que ele hoje esquecera e que um dia achava um espetáculo à parte. Havia um bule de café fumegante, pois era sua rotina de anos e anos. Mas ele sabia que quando o fogo terminasse o café se esfriaria e ficaria ali junto com ele esperando o amanhecer. Abaixou a cabeça e começou a chorar. Veio um soluço forte. Estava engasgado de emoção e dos seus sonhos que se foram. Um barulho de um galho quebrado lhe chamou a atenção. Em uma trilha que levava ao Lago Dourado ele viu se aproximado um Velho Escoteiro, Barbas brancas, cabelos brancos e trazia na mão um Velho e tosco chapéu escoteiro. Ele olhou com espanto aquela figura que não lhe era desconhecida. Ele sabia que o tinha visto em algum lugar.

            O Velho Escoteiro o saudou carinhosamente e sentou em sua frente em uma pequena tora que há anos estava ali. Ele não disse nada. Sorria, um sorriso cativante como se sua vida fosse um mar de rosas. O Velho Escoteiro olhou para o fogo que rejuvenesceu. As chamas aumentaram. O Velho Escoteiro olhou para o céu e ele nunca viu um céu tão brilhante onde as estrelas no firmamento davam seu espetáculo sem cobrar. Os cometas cruzavam o céu como a saudar aquele Velho Escoteiro que resolveu voltar ao mundo onde viveu há muitos e muitos anos. A lua saiu de trás das montanhas e uma brisa suave começou a roçar seu rosto trazendo o perfume das flores silvestres. Ninguém disse nada. Ele não sabia o que dizer. Começou a sentir uma paz que nunca sentiu antes. Frases começaram a pipocar em seu cérebro – Há uma espécie de conforto na autocondenação. Quando nos condenamos, pensamos que ninguém mais tem o direito de fazê-lo. Eram vozes que ele não conhecia.

          Ele segurava-se em suas lembranças. Não queria esquecer-se delas. Rosamaria não podia ser esquecida. Sem perceber lembrou-se das palavras de uma poetiza que disse: O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher. Lagrimas começaram a cair, mas diferente das lágrimas doidas de antes. O Velho Escoteiro estava em pé. Sorria para ele da mesma maneira que chegou. Foi até onde ele estava. Colocou a mão em seu coração e no dele. Somos irmãos de sangue, tu e eu! Ele disse e partiu. Ele o viu andando sobre o Lago Dourado e desaparecer nas sombras da noite. Nesta noite ele dormiu. Sonhou com ela. Ela sorria e dizia que o nosso amor era eterno. Estava escrito nas estrelas que seria assim. Ele acordou rejuvenescido. Nunca esqueceu Rosamaria e sabia que eles se encontrariam em muitas vidas que Deus lhe reservou. Estariam juntos para sempre em toda a eternidade.

        Quando ele chegou naquela tarde ao Grupo Escoteiro ninguém perguntou, ninguém tentou mudar a rotina que sempre teve. Ele se incorporou a ela. O mundo não para e todos nós seguimos o passo do mundo. Ele sabia que ia lembrar-se dela para sempre, mas como uma alegria que iria continuar na eternidade. Ao sair do portão para retornar a sua casa ele viu em uma esquina o Velho Escoteiro. Ele estava sorrindo e lhe fazendo o sinal Escoteiro. Ele retribuiu. O Velho Escoteiro partiu subindo até uma nuvem banca e ele nem perguntou quem era de onde veio e para onde ia. Ele só sabia que sua vida mudou para sempre! 

Um Sentimento verdadeiro não morre.
Por decepcionado que fique, por machucado que seja
Pode até esfriar
Ou adormecer
Mas tal como o vento, jamais deixa de soprar:
Um Amor de verdade retém em si a própria essência do Tempo e do Universo
- É imortal, é Infinito
É Eterno...



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