Lendas
escoteiras.
A
classe dominante vai ao escotismo.
(Uma
pequena homenagem a Carlos Kohl, um grande amigo gaúcho que hoje mora lá no
céu).
(esta é
uma história de ficção, qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais é mera
coincidência).
Sou gaúcho
forte, campeando vivo
Livre das
iras da ambição funesta;
Tenho por
teto do meu rancho a palha,
Por leito
o pala, ao dormir a sesta.
Monto a
cavalo, na garupa a mala,
Facão na
cinta, lá vou eu mui concho;
E nas
carreiras, quem me faz mau jogo?
Quem,
atrevido, me pisou no poncho?
Vertentes da Saudade era uma
cidade pequena, antiga e ainda enraizada nas velhas tradições gaúchas. Ficava a
oeste de Uruguaiana mais de oitocentos quilômetros de Porto Alegre. Nada mudou
em Vertentes nos últimos trezentos anos. Os antigos donos da terra os Índios
Guaranis eram sombra do orgulho do passado. Uma estátua centenária do Padre
Jesuíta Cristóvão de Mendonça estava encravada na praça central e hoje poucos
param para ver o que está escrito em sua placa de bronze. Havia no ar uma
melancolia talvez por falta do que fazer pois a população vivia do plantio do
feijão e criação de gado. Ali em Vertentes da Saudade os direitos de cria
recria e engorda tinha dono. O Coronel Totonho Mercês Almeida Pais reinava
absoluto sobre os demais estancieiros. Ele praticamente era o juiz, o prefeito
e o delegado e ninguém poderia de maneira alguma contrariar suas ordens. E olhe
que estávamos no século vinte e um.
O menino Luiz Mercês Almeida Pais com onze anos tinha puxado o pai.
Orgulhoso, andava de nariz empinado e conversava com os outros como se
estivesse dando ordens. Ninguém tinha coragem de olhar nos olhos diretamente do
pai e do filho, diferente de Dona Leonor Mercês Almeida Pais esposa do Coronel
Totonho. Uma alma caridosa, nunca levantou a voz para ninguém. Todos a
procuravam nas horas mais difíceis e ela sempre bondosa não negava ajuda. O
Topógrafo Siqueira Nantes Leal nascera em Vertentes da Saudade e nem sabe como
resolveu um dia fundar um Grupo Escoteiro na cidade. Houve uma revoada geral na
meninada. De boca em boca o assunto correu e alvoraçou a cidade. Gaúcho de
verdade não abandona a sua terra e leva no peito a saudade, que toda tarde,
trás dela, assim pensava Siqueira que nunca abandonou sua cidade por nada. Dona
Filó diretora do Grupo Escolar Flores da Cunha comprou a ideia e logo ofereceu
o pátio e duas salas para que o grupo arranchasse para sempre. Assim ela
pensava.
Siqueira Nantes amava Amelinha Salsaparrilha e ela como boa moça quando
o viu cantou baixinho: - “Erva, cuia, chimarrão. Não é apenas costume, é amor e
tradição. Ela não liga para status, beleza ou dinheiro. O importante para ela,
é que ele seja Gaúcho, campeiro e Romântico”. O namoro durou meses e casaram-se
na igrejinha do Padre Antonio Feijó numa tarde linda de setembro. Siqueira nem
lua de mel teve. Um trabalho encomendado pela Ferrovia do Trigo, que ligava
Passo Fundo a Porto Alegre a pedido do Coronel Totonho pensava em fazer um ramal
até Vertentes da Saudade, uma linha regular de passageiros e porque não
transportar o gado do coronel. Siqueira Nantes não abandonou seu projeto de
organizar o grupo escoteiro. Convidou oito jovens e com mais dois professores
da escola além da diretora, escolheram o nome do grupo e definiram quando seria
feita a solenidade de promessa do grupo. Tudo andava de vento em popa. Siqueira
comentava onde passava: “Vai Tche! Por este mundão véio sem porteira, proseando
do evangelho, espaiando as boas novas do escotismo prá tudo que é vivente”!
O menino Luiz Mercês ficou uma fera quando soube que não fora convidado
para participar da primeira patrulha do grupo. Falou com seu pai e este mandou
chamar Siqueira Nantes para se explicar. De cabeça baixa ele disse que logo
teria uma vaga para seu filho. O Coronel Totonho não acreditava no que ouvia.
Mandou Zepileu seu secretario chamar os dirigentes do escotismo rio-grandense
para se explicarem a ele em sua cidade. Doutor Alfredo Maristo era o Presidente
da Região Escoteira. – Que boa bisca é este Siqueira? Se não vou fico de
entremeio com a liderança politica. Tenho de ir lá e me rebaixar para um
coronelzinho de araque. Doutor Alfredo chegou cedo a cidade. Logo foi levado a
presença do Coronel. Com seu vozeirão ele foi dizendo aos gritos de modo mal
educado: Moço! Assuma, ou suma da minha frente, pois chega de lero-lero. Se tu
não sabes o que quer, eu sei o que eu quero e papo enrolão de homem-banana, é
um abacaxi que não quero! Doutor Alfredo tentou se explicar mas não adiantou. –
Quem manda na cidade sou eu. Avisa a este sacropanta que se diz Chefe Escoteiro
que ele come na minha mão!
Doutor Alfredo conversou com Siqueira Campos. Um pobre diabo pensou por
que foi logo nascer aqui onde Judas perdeu as botas. – Doutor Alfredo, vou
desistir. Não quero mais ser Chefe – Na verdade, de que adianta ter a faca e o
queijo na mão, quando não se tem mais um fio de vontade, de motivação? Não
adiantou a desistência de Siqueira, Coronel Totonho contratou dois profissionais
Escoteiros e lá fez um grande grupo que chamaram de Grupo Escoteiro Coronel
Totonho. Doutor Alfredo foi obrigado a dar autorização pois ao contrário o
Governador do Rio Grande acabaria com ele. E assim fundou-se ou afundou-se as
boas práticas escoteiras em Vertentes da Saudade. – Como dizem por aí, Siqueira
que nunca foi Chefe e pensou que seria um cantava baixinho: - Vai Tche! Por
mundão veio sem porteira, proseando do evangelho, espraiando as boas novas pra
tudo que é vivente! – Tô loco de faceiro Tche! Convidaram-me prá ir à casa do
patrão celestial pois aqui em Vertentes da saudade nunca mais eu voltarei. Se
trouxeres teu orgulho de ser brasileiro, te entregarei a minha honra de ser
gaúcho mas nunca submisso.
Sei
que Siqueira foi para outra cidade, se tornou um grande Chefe Escoteiro e até
hoje a gauchada de lá o carregam para todo lado a saudar como se ele fosse um
herói. Levantar com o pé direito ou esquerdo, não vai determinar se o seu dia
será bom ou ruim, suas atitudes sim! Chega um dia que a gente simplesmente
muda, os sentimentos mudam e o coração faz novas escolhas. E assim vou
terminando este novo conto onde o Escotismo não se abaixou para a classe
dominante e nas palavras do gaúcho do Rio Grande eu vou dizendo: - Bueno vou me
largando, mais tarde temo aí de novo. “Forte quebra de costela prá toda a
gauchada conectada”!
Ó Rio
Grande, terra de homens bravos
E mulheres lindas e apaixonadas;
Do chimarrão que aquece noites geladas,
Jardim de sonhos, de rosas e cravos...
Pelo pampa fértil, pelo planalto
Cavalgam gaúchos de olhar obstinado
Rumo ao futuro, relíquias do passado
Que amam a terra e execram o asfalto...
Namoram-no os olhos da Argentina,
Romântica e poética dançarina,
Eterna e apaixonada donzela.
Rio Grande, estado egrégio do sul,
Coberto de oiro sob celeste azul...
Ó terra nobre, ó terra tão bela!
(Luís R Santos)
E mulheres lindas e apaixonadas;
Do chimarrão que aquece noites geladas,
Jardim de sonhos, de rosas e cravos...
Pelo pampa fértil, pelo planalto
Cavalgam gaúchos de olhar obstinado
Rumo ao futuro, relíquias do passado
Que amam a terra e execram o asfalto...
Namoram-no os olhos da Argentina,
Romântica e poética dançarina,
Eterna e apaixonada donzela.
Rio Grande, estado egrégio do sul,
Coberto de oiro sob celeste azul...
Ó terra nobre, ó terra tão bela!
(Luís R Santos)
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