terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Chefe Falcão Maltês um Gentleman Escoteiro.


Conversa ao pé do fogo.
Chefe Falcão Maltês um Gentleman Escoteiro.

             Não sei quem colocou o apelido. Nunca perguntei. Seu nome correto? Quem eu saiba ninguém sabia. Se foi um segredo eu não sei, mas gostava do nome dele como Chefe escoteiro. Foi um grande amigo enquanto estivemos juntos. Disse-me um dia que fora Chefe do Grupo Escoteiro Estrela Cadente. Nunca tinha ouvido falar. Mas não é disto que quero falar sobre ele. Chefe Falcão Maltês era um perfeito cavalheiro. Um gentleman inglês. Como se diz hoje uma figura que merece um lugar entre os homens de honra deste país. Nunca deixou alguém mais velho que ele em pé no ônibus. Ninguém sentava sem antes ele arrumar a cadeira e olhem, as chefes adoravam. Pagar despesas? Nem pensar. Se ele não pudesse pagar não iria. Dizia sempre que os homens devem ser boníssimos com as mulheres, pois são elas que carregam o fardo mais pesado.

             O que eu admirava muito no Chefe Falcão Maltês era seu modo de falar aquele jeito inglês gostoso que vemos nos filmes. Ele sempre foi um exemplo aos escoteiros. Lembro que uma vez estávamos em marcha de estrada indo acampar no Vale da Tartaruga, e caiu um pequeno papel de bala na trilha onde percorríamos. Ele parou toda a tropa. Chamou a todos e com uma voz calma e educada disse – Sabem que somos invasores? A escoteirada não entendeu nada. – Porque Chefe? Disse um deles. - Porque a relva, as árvores, os pássaros, o rio e as montanhas estavam aqui antes de nós. Portanto eles são os donos. Nós somos intrusos. Vocês gostariam que alguém entrasse em suas casas, sem pedir e jogassem papeis de bala na sala? Ninguém disse nada. Um Escoteiro foi até lá e pegou o papel e guardou na mochila. E nos acampamentos? Sua inspeção era rigorosa. Não perdoava nada. Nem fossa mal tampada. Mas fazia tudo de uma maneira tal que encantava a todos – Escoteiros! – dizia ele, porque deixar que a abelha o beija flor, os pássaros do céu sintam o mau cheiro? Afinal eles vivem pelo aroma gostoso das flores, dos bosques e das florestas. Temos o direito de tirar deles o aroma das folhas das árvores, o vai e vem da fonte que jorra o farfalhar do vento que trás o perfume da montanha? Afinal isto não é certo, não é mesmo?

           Um dia estávamos sentados na porta da barraca, um pequeno fogo crepitava e ele começou a cantar uma linda melodia. Todos acorreram para perto dele. Ele parou e os escoteiros ficaram intrigados. – Vou continuar, aguardem. Só quero aproveitar a oportunidade para dizer a vocês, que as músicas, canções tudo que existe é belo. Sabendo cantar e sabendo ouvir. Se um dia vocês ouvirem uma música Clássica, ou mesmo uma ópera seja em qualquer lugar podem até não gostar. Mas se assistirem a um concerto de uma Orquestra sinfônica ao vivo, ou mesmo a uma ópera em um teatro tenho certeza que irão adorar. A Música para se gostar tem de ter sentimento. Existem músicas e músicas para cada momento da vida. As clássicas relaxam e fazem sonhar, musicas romântica ou orquestrada são lindas dependendo onde estamos a ouvir. As românticas são ótimas para quando se tem um grande amor. Temos, continuou ele – Que aprender tudo que possamos absorver. As músicas de hoje cantadas ou não desde que não tenham segundas intenções em suas letras, são válidas. Mas existem outras e um Escoteiro deve estar preparado para descobrir, ouvir e sonhar com todas elas. Não é o barulho estridente da música que nos toca o coração. Ouvir boa música faz parte de nós escoteiros que vivemos nas montanhas acampando.

          Era assim o Chefe Falcão Maltês. Dizia sempre que podia que o Escoteiro é um cavalheiro, um fidalgo. – Lembram-se do que diziam da mulher de César? Assim somos nós, ele dizia. Não basta mostrar que somos, temos que se portar como tal. – Que tal dar a vez a um amigo? Abrir a porta para ele? Que tal dividir o doce, o farnel, seu cobertor, que tal dividir sua alegria, sua felicidade com quem não a tem? – Chefe Falcão Maltês deixou saudades. Sempre acreditei que todos nós chefes escoteiros devemos ser uma espécie de Chefe Falcão Maltês. Alguns dos nossos jovens precisam aprender boas maneiras. Claro, é função dos pais. Mas não estamos ali para colaborar? – Um dia ele me disse – Chefes Vado, hoje muitos se apegam a entender o jovem como ele é e a justificar. Certo isto? Prefiro deixar para os que vivem ao seu lado dizer. Mas existem normas, direitos e deveres que são sagrados. Um pai nunca vai dizer ao filho se ele quer ir escola, se ele quer sentar a mesa para as refeições ou se ele pode escolher a hora para dormir. Isto faz parte da família. Da educação que ele transmite ao seu filho. Ele será cobrado pelo que fez. A formação é sagrada dentro do lar. Para mim isto não tem discussão.

             Entendi perfeitamente seu recado. Não é porque os tempos mudaram que as boas maneiras, a educação, o cavalheirismo o dever e a honra devem ser deixadas de lado. O respeito aos mais velhos, o respeito ao meio ambiente, o respeito com as pessoas, o direito de um e o de outro nunca devem ser olvidados. Seria bom, seria bom mesmo que existem muitos chefes Falcão Maltês por aí. Acho que tem muitos jovens que se chamam de escoteiros e escoteiras que poderiam ouvir suas palavras e aprender. E porque não muitos adultos?


               Já faz anos que não vi mais o Chefe Falcão Maltês. Soube que ele resolveu abrir um Grupo Escoteiro nos garimpos do Suriname. Um país perdido nas fronteiras do Brasil com a Guiana Francesa. Porque a escolha? Ele não me disse. Partiu com um sorriso para nunca mais voltar. Quem sabe ele seria um novo Cavaleiro Andante, a ensinar naquelas plagas distantes, no meio da selva e para aqueles garimpeiros rústicos que não existe hora e nem lugar para ser educado e ter honra? Que ele seja feliz. Ensinou-me muito. Tem chefes que são e tem outros que dizem ser. Eu até hoje ainda não me situei. Que Deus me ajude a cumprir minha missão, claro se eu tiver uma para cumprir.  

domingo, 27 de dezembro de 2015

Era uma vez... São Pedro lá do céu!


Lendas Escoteiras.
Era uma vez... São Pedro lá do céu!

                   Hoje me lembrei desta história. Minha memória diz que aconteceu, mas muitos amigos daquela época diziam que não foi bem assim. Menino estudante, Escoteiro, cidade pequena sem nada o que fazer, corria-se com suas possantes bicicletas nas casas dos amigos escoteiros, reuniões de patrulha e pensando no próximo acampamento. Era uma festa quando alguém com peças Escoteiras apareciam na cidade. – De onde? Qual Patrulha? E a luta para levar para sua casa? São coisas do passado, passado que ficou na memória e nem sempre se fatos assim ainda acontecem neste Brasil imenso. Mas vamos às lembranças. Desculpe se faltar alguma coisa, faz tempo, muito, o Velho Escoteiro tem 75 anos e na época somente 12. Recordações faz bem e eu tenho muitas para lembrar.

                    Não me lembro do seu nome. Pudera ele nunca disse, pois assim como chegou ele partiu. A gente o apelidou de São Pedro, aquele que mora no céu. Fisionomia igual a que o Padre José nos contava. Uma barba branca que de tão branca ao ficar ao sol se tornava azulada. Magro, e quem o olhasse bem de perto diria que era só pele e osso. Será que não se alimentava? Usava uma roupa simples, calça caqui curta bem puída e uma camisa caqui com alguns rasgos no ombro. Usava um cinto. Era o nosso conhecido. Sem sombra de dúvida era um cinto escoteiro. Esquecemos até que em sua cabeça também morava um chapéu de abas largas, mas que agora estava decaído se mostrava velho, carcomido e com pequenos furos. No banco que estava sentado havia uma pequena mochila, diferente das que nos conhecíamos. Nunca vimos o que tinha dentro dela. Sua figura chamava a atenção, tinha os dentes perfeitos e quando sorria maravilhava a todos. Falava como se estive declamando poesias tipo aquelas que nosso professor de português declamava sem sorrir e querendo ser o que ele nunca foi. Um poeta.

                          Não lembro quem o viu pela primeira vez, sentado no banco da Praça da Estação. Praça nova árvores recém-plantadas. Dizem que hoje estão enormes e as palmeiras inigualáveis. Bem não estou aqui para falar da praça e sim do velhinho de barbas brancas azuladas, ou melhor, São Pedro lá do Céu. Quando lá cheguei outros lá estavam. A notícia correu de boca em boca dos escoteiros e lobinhos. Gente estranha e com peças Escoteiras na cidade era motivo de jubilo por parte de todos nós. O cinto e o chapéu sem dúvida o identificava. Em volta daquele simpático velhinho nós pequeninos Escoteiros agachados em sua frente de olhinhos arregalados queríamos saber de tudo. Ele tinha um lindo sorriso e de vez em quando seus olhos fechavam parecendo que iria dormir. Sonhador chegou correndo. Era e sempre foi nosso porta-voz. As patrulhas confiavam nele. Sabia falar como ninguém, um proseador que não perdia nunca o fio da meada.

                            Todos nós esperávamos que nosso acólito trouxesse a tona e desvendasse o segredo do Chapéu e do cinto que acintosamente aquele velhinho, ou melhor, São Pedro lá do céu portava. Ao menos a fivela estava limpa. Não brilhava, mas ainda tinha a cor da originalidade quando produzida. O chapéu mesmo limpo não mantinha as abas retas e planas. Tinha um semblante que encantava. Sonhador disse que o ouviu falar que estava com fome. Façamos uma vaquinha! Conseguimos doze paus. Perna Seca e Orelhudo foram correndo ao bar do Zé Moreno. Voltaram com quatro coxinhas, seis bolinhos de carne e dois pães. São Pedro lá do Céu comeu com gosto. Educadamente. Mastigava como se estivesse contando cada mordida. Beleleu levou Narigudo até sua casa na bicicleta. Voltaram em dez minutos com um cantil cheio de água e uma garrafinha de groselha. Ele sorria e falava baixinho com Sonhador.

                       Lá pelas tantas discutimos onde ele iria dormir. Velho assim era difícil levar para a casa dos vinte e oito meninos Escoteiros e quinze lobinhos que se ajuntaram em sua frente na Praça da Estação. Seus pais poderiam estranhar. Bororó Monitor da Onça Parda sugeriu trazer a barraca de duas lonas da chefia e um cobertor do exército que ganhamos. Na grama atrás do banco a barraca foi armada. Sonhador disse para ele que podia dormir tranquilo. O Guarda Noturno era o Zé Birosca, antigo Escoteiro. Ele estava em casa. Ficamos lá até por volta de nove da noite. Fui embora pensativo. De onde era? Como chegou? Seria um antigo Escoteiro ou um Chefe? Dormi pensando e durante todo tempo de escola nem vi o que os professores disseram. Queria que as aulas terminassem para correr até a Praça da Estação.

                             Encontrei Bico Doce e Orelhudo conversando. Ele se foi me disseram. A barraca estava desarmada e bem dobrada nos moldes Escoteiros. Os espeques limpos e enrolados em um jornal. Se ele dormiu ali levantou cedo. Antes do alvorecer. Zé Birosca o Guarda Noturno disse que não o viu ir embora. Seu Nonô Fogueteiro Chefe da estação disse que o maquinista Zé Be Deu o levou como carona no trem de carga das cinco da matina. Fiquei decepcionado. Se ele fosse um dos nossos quantas novidades para nos contar? Sabíamos que nossa fraternidade era enorme, mas só umas fotos apagadas de uma revista que um viajante nos presenteou vimos Escoteiros de outros países. Será que eles seriam iguais a nós?

                     Na semana seguinte eu e Orelhudo encontramos Zé Be Deu o maquinista. – Desceu em Crenaque. Disse que iria atravessar o Rio Doce em uma jangada que ele guardava na Caverna do Morcego. Falou baixinho que iria rever seu amigo o Cacique Abaeté dos Aimorés do outro lado do rio. Eram amigos há séculos. Séculos? Pensamos no que disse o maquinista. Perguntamos mais e ele não disse mais nada. Olhei para Orelhudo que balançou a cabeça. Imortal? Seria ele realmente São Pedro lá do Céu? Meninos Escoteiros a filosofar. Durante muitos anos nos Fogos de Conselho e em Conversas ao Pé do Fogo levantávamos a história de São Pedro lá do Céu. Falou-se tanto que agora para os novos ele era um Santo Escoteiro. Alguns juravam tê-lo visto nas margens do Rio Vermelho, outros na Montanha da lua e um afirmou que ele corria em cima das águas nas corredeiras do Rio Piaba. Ah! As histórias existem, verdade ou não fiquei sabendo que na Corte de Honra foi votado para ele ser o patrono da tropa. Porque não?


(A minha vida fechou-se duas vezes antes de se fechar – Mas fica por saber, se a imortalidade me revela Um evento maior. Tão largo tão incrível de pensar, como estes que sobre ela duas vezes tombaram. Partir é tudo o que sabemos do céu, tudo o que do inferno se pode precisar). Emily Dickinson

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Os sete filhos de Moisés.


Contos de natal.
Os sete filhos de Moisés.

                 Foi um natal inesquecível. Nunca mais em minha vida eu esquecerei aquele 24 de dezembro ao pé do monte Canaã, bem próximo fluindo do sul do Mar da Galiléia. o Rio Jordão viajava portentoso para terminar a muitos e muitos quilômetros no Mar Morto. Eu nasci a noroeste do Mar Morto, em Israel cidade abrigada por montanhas centrais e que até hoje faz parte da história do Velho Testamento. Canaã era uma cidade pequena, aprazível e lindamente florida. Na Rua dos Reis Magos morava Moisés, um homem alto, forte e ninguém dizia que ele tinha mais de 100 anos. Moisés tinha um sorriso franco, e todos os habitantes de Canaã juravam que ele nunca tinha mentido. Zípora sua esposa havia morrido e o deixou com seus sete filhos seis homens e uma mulher.  Todos quase da mesma idade, pois havia dois pares de gêmeos Thiago e João Lucas, Davi e Josué. Só Ismael Ruth e Israel não eram gêmeos.  Conta uma lenda que Deus por meio do seu espírito tomou a forma humana para abençoar e batizar os filhos de Moisés.

                  Aarão era o Chefe Escoteiro que me contou está história. Foi numa tarde quente que parei em sua Taberna vazia e ele com um sorriso franco me convidou a entrar e sentar em uma mesa com uma visão fantástica do Mar Morto. Aarão falava baixo, voz rouca e vestia um saiote escocês que até hoje não sabia o porquê. Confesso que não perguntei. Escoteiros se descobrem facilmente. Em qualquer lugar um sinal surge e um sempre alerta aparece sorrindo. Convidou-me para pernoitar ali à noite, ele quase não tinha ninguém para papear e sentia falta de boas companhias principalmente daqueles que participavam do movimento de Baden-Powell. Todos os viajantes e caminheiros invejavam os habitantes de Canaã. Uma cidade tranquila que acolheu muitos deles vindo do norte. Notei que àquela hora da tarde não havia ninguém a vista. Hora da “siesta” rotina de muitos que vieram da Mesopotâmia e que resolveram arranchar na cidade. Aarão era semita, oriundo da Babilônia bem próximo ao Rio Eufrates.

                Nunca tinha sido Escoteiro. Resolveu fazer com um grupo de meninos uma Tropa e por imposição de muitos pais teve que aceitar algumas meninas. Moisés em pessoa chegou para falar com ele oferecendo ajuda e foi um baluarte na propagação do escotismo junto às autoridades locais. Inscreveu seus sete filhos e por votação eles decidiram ter sua própria patrulha a qual deram o nome de Garça Branca. Eu nunca tinha ouvido falar em uma patrulha formada por irmãos e me interessei pela história. Decidiram em Conselho de Patrulha que o Monitor seria eleito conforme a atividade e situações adversas para que cada um pudesse ter a experiência de um e outro quando houvesse necessidade de agir como um verdadeiro líder. Durante dois anos eles foram exemplos para os demais escoteiros. Nunca houve uma altercação, uma discussão, uma palavra áspera, pois levavam ao pé da letra a Lei Escoteira e sem esquecer também a Lei de Moisés. – Sabe amigo – Dizia Aarão, foi numa terça feira, férias escolares, cidade pachorrenta, sol forte e temperatura alta que me pediram para acampar.

                              Moisés junto a eles sorria e dizia que decisões tomadas por escoteiros são decisões aceitas pelos adultos. – Aarão – dizia Moisés - Me prometeram que estariam de volta a noitinha do 24 de dezembro, pronto para a missa do galo que frei Kety ajudado por Ramsés e auxiliado por um monitor da Águia iriam celebrar. Nunca perderam essa missa e Moisés confiava nos seus filhos. Partiram ao alvorecer, ainda com o orvalho caindo nas montanhas do Monte Sinai. O dia prometia. Em fila alguns habitantes sorriram a vê-los passar cantando o Rataplã. Foi Ruth quem contou como tudo aconteceu depois. Mais de onze da noite do dia 24 de dezembro e eles não haviam chegado. – Chefe dizia Ruth, seguimos pelos Pirineus até a trilha do Monte Carmelo onde montamos o acampamento. Tudo transcorria bem e cada um de nós desenvolvia as pioneiras, as etapas da Primeira Classe e João Lucas a do Correia de Mateiro.

                            Na hora do almoço não vimos Israel. Isto não era comum. Davi usou seu apito sonoro, com três silvo breve e três longos e nada. Saímos em seu alcance. João Lucas era mestre em pista. Achou uma pegada que seria de Israel. Fomos a todos os lugares possivel. Do alto do Monte Carmelo dava para avistar o Monte Tabor e até o Monte das Oliveiras onde Jesus fez seu sermão da montanha. As pistas eram fáceis de seguir e nada de Israel. À tardinha antes do escurecer voltamos para o acampamento. Thiago chorava baixinho e eu também. Lágrimas corriam nos olhos de João Lucas, Josué e Ismael. Davi ajoelhou de cabeça baixa e começou a rezar. Ajoelhamos com ele. Eu pedi a Deus que o protegesse. Ele não queria vir ao acampamento, era o menorzinho dos irmãos. Mas como a maioria aprovou ele veio também. A noite foi chegando devagar. Não havia fome, não ouve jantar. Não sabíamos o que fazer. Só Deus para nos ajudar.

                     Moisés na praça esperava inquieto a chegada dos seus filhos escoteiros. Não queria terminar sua vida assim. Pensou se Deus o abandonara, mas rezou de novo e acreditou na eternidade. Existem coisas que não entendemos principalmente o modo como Deus trabalha. Quando não temos mais esperanças de sermos usados por Deus. Quando tudo diz que não há solução, quando não nos sentimos mais capazes de resolver o que tem de ser resolvido. Moisés amava seus filhos. Ele sabia que sua vida foi repleta de ensinamentos. Ele sabia que o modo como Deus o moldou e o fez capaz de criar seus filhos era maravilhoso. Ele sorria como se fosse o verdadeiro Moisés das Taboas da Lei. Ele sabia que nunca foi abandonado e mesmo não sendo filho e neto de um rei ele soube criar seus filhos muito bem. Confiava neles, deu a eles os melhores ensinos, roupas, uma vida cristã invejável. Onde estariam àquela hora? – Deus! Oh meu Deus! Não posso perdê-los. Fazei de mim seu instrumento, fazei o que quiser, mas traga-os de volta para mim!

                      Os sete jovens ajoelhados em frente uma barraca, bem próximo ao Monte Sinai avistaram um imenso vermelhão no céu. Uma estrela enorme que iluminava tudo a sua volta. Descendo a montanha Israel vinha devagar, segurando um cajado e atrás dele viram três velhos pastores montados em camelos. Vestiam túnicas azuis, grandes barbas brancas, e o elevarem no ar até onde estavam. – Um deles falou como um rei dizendo – Está tudo bem, vão para casa, seu pai os espera na porta da igreja. Thiago, João Lucas, Davi, Josué, Ismael e Ruth abraçaram Israel. Um milagre aconteceu. Ele tinha caído em uma cascata de pedras e quebrara o joelho. Não podia andar. Os três homens que estavam montados em camelos o socorreram – Disseram para ele: - Vamos Escoteiro, vamos levar você aos seus irmãos. Temos pouco tempo, pois Jesus de Nazaré vai nascer! Levanta, sua perna está boa! Partiram sorrindo e lá no céu cantavam: £ “Jesus nasceu. O mundo vai mudar...” £. E foi assim que Melchior, Baltazar e Gaspar partiram pelo céu estrelado.


                     Voltei para casa pensativo. Seria verdadeira a história de Aarão? Perguntei a ele onde morava Moisés e ele sorriu sem me dar resposta. Até hoje me pergunto se poderia haver uma patrulha de irmãos. Não sei. Aarão me disse que sim. Bem quando tudo parece perdido, melhor é procurar refletir o que a gente sente e o que poderá ser.

Era uma vez... O natal de todos nós.


Era uma vez... O natal de todos nós.

                       Semana do natal. Ficamos centenas de dias esperando. Sempre a dizer: - Quando o Natal chegar eu... Todo ano é assim. A data é santa, é a virada de um ano. Alguns preferem o Ano Novo. É como se fosse um dia mágico – A partir de hoje tudo vai mudar em minha vida! Será? Pode até ser que não, mas pelo menos existem esperanças e as esperanças são o melhor que temos para acreditar. Nestas datas fazemos sempre uma retrospectiva do ano que passou. Para alguns bons para outros nem sempre. Ficaram marcas no meio do caminho. Sempre ao virar o ano eu me lembro de uma linda canção - Marcas do que se foi! Ela sempre dizia tudo que eu acreditava quando o ano novo chegava. Ela pedia paz no coração de todos, dar as mãos sem escolher a quem seja amigos e ou inimigos. Afinal o tempo passa e sempre devemos caminhar todos juntos, sabendo que as marcas dos nossos passos pelo chão irão ficar.

                      Eu gostava da canção. Falava dos sonhos que vamos ter sonhos que todo dia nasce em cada amanhecer. Dizia que o tempo passa e com ele caminhamos juntos neste mundo, sem parar. É bom ter esperanças, saber que podemos mudar. Não foi nosso amigo Chico que sempre dizia que nesta vida tudo passa, o que aconteceu de ruim também passará? Estamos caminhando para um novo mundo, uma nova era, devemos escolher ser bons e ir para o caminho certo de Deus. Não se esquecer de dar amor e caridade ao nosso próximo. Nunca é tarde para corrigir nossos erros e recomeçar, quem sabe esquecer o que foi ruim e pensar nele como exemplo para melhorar. Não existe impedimento nenhum neste mundo para recomeçar. Sabemos que não podemos voltar atrás e fazer um novo começo... Mas sabemos que podemos começar e fazer um novo fim. Natal, Ano Novo. Quem sabe todos os dias nós podemos dizer isto assim?

             Natal... Ano Novo... Um dia qualquer perdido e lembrado em determinada data do ano. Ainda bem que a maioria escolheu esta data para sorrir para festejar, para ouvir para abraçar e sentir pelo menos neste dia a paz no coração. Cantar, lembrar que hoje é natal - ¶Então é Natal, e que a gente fez? – O ano termina, e começa outra vez¶ - Gosto do natal, não sei quantos ainda terei em minha vida. Em cada um sempre surge um fio de esperança, uma vontade imensa de recomeçar, de pedir a Deus forças para prosseguir. Dizem que melhor que todos os presentes é ver uma família reunida e feliz neste dia. Eu acho que sou feliz. Ainda tenho o amor de todos eles e a amizade de todos vocês. Gostaria que você também fosse feliz. Que os seus sonhos não realizados se realizem e eu sei que haverá um pedacinho do céu lá em cima para você. Não existem limites para ser feliz, para sonhar, para desejar um Natal lindo, não só para nós, mas para todos os povos do mundo!

Feliz Natal meus amigos escoteiros ou não. Que o novo ano que se aproxima possa ser aquele que você sempre esperou. Meu abraço fraterno e meu Sempre Alerta!

Chefe Osvaldo.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Contos de Natal. Pedro o Pescador.


Contos de Natal.
Pedro o Pescador.

Então é Natal, e o que você fez? O ano termina, e nasce outra vez.
Então é Natal, a festa Cristã. Do velho e do novo, do amor como um todo,
Então bom Natal, e um ano novo também que seja feliz quem souber o que é o bem.

                  Ele não esperava. A menina era linda e o beijou no rosto. Era uma escoteira e sorria para ele. Ele tentou sorrir, mas viu muitas pessoas se aproximando o chamando de pedófilo e tantas coisas mais. Tentou correr e não conseguiu. Uma fome incrível e a fraqueza enorme. Tinha dois dias que só comeu um pão. As coisas não iam bem e nem os bons samaritanos que lhe davam um almoço ele encontrou. Começaram a bater nele de todo jeito. Eram muitos. Levou socos por todo corpo e no rosto. Um jovem tinha um bastão na mão e ele perdeu os sentidos. Ouvia a menina gritando que não era o que pensavam, era apenas um jogo. As outras Escoteiras podiam afirmar. Ninguem prestava atenção. Afinal era um homem asqueroso, barbudo, fedia e nem documentos tinha. Acordou em uma cama de hospital preso por uma algema a cama de aço. Ao lado um policial o olhava com asco. Começou a lembrar de quem era. Lembrou que saiu para pescar em seu barco e uma borrasca o jogou ao mar. Sabia nadar. Nadou tanto que nem se lembrava mais o que aconteceu.

Então é Natal, pro enfermo e pro são pro rico e pro pobre, num só coração.
Então bom Natal, pro branco e pro negro amarelo e vermelho, pra paz afinal,
Então bom Natal, e um ano novo também que seja feliz quem, souber o que é o bem.

            Debora não se conformava. Ela e Raquel choravam o dia inteiro. Ele não teve culpa a culpa fora delas achando que podiam brincar e ficar por isto mesmo. Tentou convencer a Chefe Rebeca para ajudar, mas era natal, ela ia viajar para a casa de seus pais. O Chefe Batuel fora para a praia. Tentou sua mãe e a mãe de Raquel e nada. Elas sabiam que deixar aquele pobre homem preso e todo machucado seria demais. Afinal eram Escoteiras, sempre fizeram uma boa ação, levavam a sério a lei e a promessa. Chamaram a patrulha. A Tropa se reuniu. Foram para a porta da delegacia. Ele ainda estava no hospital. Foram para lá. Ninguem as deixou entrarem. O Doutor Efraim se apiedou. Ouviu a história. Levou Debora e Raquel ao quarto do homem preso. Elas se ajoelharam e pediram perdão. Pedro lembrou de seu nome. O chamavam de Pedro o Pescador. Da Aldeia de Nazaré. Lembrou de Ezra sua esposa, chorou quando viu na sua mente Ioná e Jane suas lindas filhas. Sentou na cama do hospital e beijou as mãos das duas Escoteiras. O Policial tentou intervir, mas o Doutor Efraim o proibiu.

Então é Natal, o que a gente fez? O ano termina, e começa outra vez.
Então é Natal, a festa Cristã. Do velho e do novo, o amor como um todo,
Então bom Natal, e um ano novo também que seja feliz quem, souber o que é o bem.

                  Pedro começou a lembrar de sua vida. A sua Aldeia de Nazaré apareceu linda em sua mente. Era noite de natal e sua família devia estar na Capela a celebrar a chegada do filho de Deus. Sabia que seus amigos deviam estar rezando por ele. Lembrou-se de Ezra sua esposa, amada, linda, a mulher que ele escolhera para viver com ela por toda a vida. Quanto devia ter sentido sua falta. Porque ele se esqueceu de tudo? Afinal era feliz, pescava, os peixes davam seu sustento. Pobres sim, mas ele Ezra e suas filhas Ioná e Jane tinham tudo que queriam ter. Uma casinha a beira mar, um barco simples, mas feito com suas mãos. Amigos e uma aldeia que seriam deles para sempre. Nunca pensou em sair dali. Amava todos, amava sua família, amava seus amigos e suas aldeia. 

Harehama há quem ama Harehama, há,
Então é Natal, e o que você fez? O ano termina, e nasce outra vez.
Hiroshima, Nagasaki, Mururoa, ha... É Natal, é Natal, é Natal.

                  Uma multidão de escoteiros e Escoteiras se aglomeram em frente ao hospital. Eram seis da tarde do dia 24 de dezembro. O delegado chegou. Não teve jeito tinha de soltá-lo. – Pedro, disse o delegado, vou soltar você, mas não pode ficar aqui. Vou pedir que uma viatura o leve até sua aldeia. Fique lá, não venha aqui por uns bons tempos. Sua foto saiu no jornal e na TV se souberem que você está solto podem matá-lo. Mesmo sendo 24 de dezembro Debora convenceu seu pai a levá-lo no lugar da viatura policial. Pai a culpa é minha! Jerusa sua mãe se convenceu. Eu também vou. Partiram rumo a Aldeia de Nazaré. Chegaram lá por volta das onze da noite. A aldeia dormia. Mas ouviram um órgão tocando. Vinha da capela e ela estava cheia. Pedro o Pescador entrou. Um silencio profundo. Uma voz cortante no fundo da capela se ouviu – Pedro! É Você? Jesus amado. Você está vivo! – Ezra Ioná e Jane correram para abraçá-lo. A alegria invadiu a todos que estavam naquela capela humilde da cidade Nazaré. Debora chorava de alegria, abraçou seus pais. – Missão cumprida pai, agora me sinto feliz e com meu coração sorrindo. Olhou novamente para Pedro e gritou bem alto: Anrê Pedro seja feliz. Sempre Alerta!

Então É Natal – Simone

O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Os contos de Natal. Maria.


Os contos de Natal.
Maria.

Olhe o que foi meu bom José, se apaixonar pela donzela
Dentre todas a mais bela, de toda sua Galileia.

                   Nove horas, nuvens escuras cobriam o Bairro de Belém. Maria na janela de sua casinha olhava a rua com um sorriso inocente. Soprava um vento calmo e ela nem imaginava que prenunciava uma forte chuva que já despontava no horizonte. Maria tinha um sorriso maravilhoso. Aos setenta e quatro anos com seus cabelos curtos que um dia foram loiros e hoje de cor metálica parecia uma santa a abençoar os passantes na rua onde morava. Os vizinhos sorriam para ela, todos a conheciam e sabiam que ela sofria falta de memória, não tinha a mente fértil, quase não se lembrava do seu passado e o que aconteceu ontem e só o hoje ainda era lembrado. Ela sabia o que era felicidade, pois demonstrava isto a todo instante. Ainda lembrava quando José saiu para ir trabalhar na marcenaria. José seu marido era para ela tudo na vida. Não lembrava, mas sabia que foram muitos felizes e ainda eram. Uma pequena lembrança de Tiago. Onde ele andava? Foi até o portão. Sempre estava trancado com um cadeado, pois José toda manhã o trancava. Ela não podia sair pela rua. Se isto acontecesse se perderia, pois não tinha mais a mínima noção onde moravam.

Casar com Debora ou com Sara meu bom José, você podia
E nada disso acontecia, mas você foi amar Maria.

                         José trabalhava com afinco. Tinha dois aprendizes. Marcenaria pequena, mas muito procurada. Ele era considerado um dos melhores profissionais marceneiros na cidade. Maria para ele era tudo. Sempre a amou desde que a viu pela primeira vez com seu lindo uniforme de Bandeirante. Um azul que nunca mais esqueceu. Ela o olhou e sorriu. O trevo de quatro folhas estava em sua blusa e ele viu que tinha sonhado com ela. Apresentou-se. Ela sorria inocente. Era um amor perfeito. Casaram-se dois anos depois ela ainda com dezoito anos e ele com vinte e um. Seu pedido de continuar como bandeirante foi bem aceito por José. Como negar? Foram cinco anos de casamento para o nascimento de Tiago. Seu único filho. Maria lhe disse que era a mulher mais feliz do mundo. Ele não sabia por que não tiveram mais filhos. Desígnios de Deus? Sua preocupação com Maria era enorme. Precisava trabalhar, mas tinha medo que ela um dia resolvesse passear pelo bairro. Sabia que ela nunca mais iria encontrar o caminho de volta. Ah! Doença que só Deus sabe e podia explicar.

Você podia simplesmente, ser carpinteiro e trabalhar
Sem nunca ter que se exilar, e se esconder com Maria.

               Tiago infeliz nunca teve paz em seu casamento. Ele e Sara nunca conseguiram ter filhos. Sara ficou amarga, quase não conversavam e quando ele achava que estavam em paz os desentendimentos aconteciam. Ela não se perdoava por não ter condições de ser mãe. Chorava se chamava de desnaturada e muitas outras coisas. Tiago tentou convencê-la a adotar um bebê. Mas ela não queria. A preocupação de Tiago agora era com sua mãe. Seu pai nunca lhe pediu, mas ele sabia que em seus olhos havia a suplica de diariamente levar sua mãe para sua casa até ele voltar. Ele queria, mas Sara não. Eles brigaram tanto que Tiago desistiu. Não seria difícil para ele levar sua mãe todos os dias para sua casa, não era longe e no seu carrinho seria um pulo ir e voltar. Sara dizia: - Ela entra por uma porta e eu saio na outra! Dizer o que? Ele sabia do Alzheimer.

Você podia simplesmente, ser carpinteiro e trabalhar
Sem nunca ter que se exilar, e se esconder com Maria.

                Maria sorriu ao ver o portão aberto. Lembrou-se das reuniões bandeirantes. Correu ao quarto e retirou de uma mala antiga seu uniforme. Estava guardado num Velho bau, mas muito desbotado. Vestiu. O chapeuzinho quase não serviu. Saiu sorrindo pelo portão sem saber para que lado seguir. Nenhum vizinho a viu subindo a rua em passadas simples e calmas. Passou por muitas pessoas que a cumprimentaram. Um sorriso espontâneo brotava em seu rosto. Viu um ponto de ônibus. Pegou o primeiro que passou. Perguntou ao Motorista onde era a reunião da Companhia das Bandeirantes. – Desculpe Dona, mas não sei! – Desceu em uma praça pensando ser a praça onde conheceu José. Alguém deu nela um empurrão. Sentiu várias mãos forçando a retirada de sua bolsa. Lá não tinha nada, nenhum documento. A bolsa estava vazia. Alguém lhe deu um chute e gritou – Velha danada, nem dinheiro tem! Maria sentiu uma dor enorme. Procurou um banco e sentou. O tempo foi passando e a fome chegou. Onde comer? Tinha de voltar para casa, lá ela tinha no forno um “quentado” do jantar de ontem que José deixou.

Meu bom José você podia, ter muitos filhos com Maria
E teu oficio ensinar, como teu pai sempre fazia.

                      José recebeu um telefonema. Trabalhava até tarde naquele 24 de dezembro para atender um amigo. Era um policial militar dizendo que sua esposa estava na 45º Delegacia do Bairro do Jaçanã. José levou um choque. Como? Será que tinha se esquecido de trancar o portão? Não se perdoava por isto. Ligou para Tiago que chegou correndo com seu fusquinha. Foram direto para a Delegacia. Maria estava sentava em uma poltrona sorrindo e vestida com seu uniforme bandeirante. Tinha no colo um bebê lindo de olhos azuis. Uma menina de doze ou treze anos também bandeirante estava com ela. – Senhor José! – A bandeirante disse: - Eu a vi na Praça do Bom Jardim, sorrindo com esta criança no colo! Quando vi seu uniforme sabia que era uma coordenadora Bandeirante. Chamei um guarda e fomos para a delegacia. Lá no fundo da sua bolsa tinha um telefone. Era o do Senhor! – E de quem é esta criança? José perguntou. – Ela disse que era sua neta! – disse o delegado. Veja como a criança sorri em seu colo. Ela a chama de Madalena! – José não sabia o que fazer. O delegado disse para levarem a criança. Ele se encarregaria de avisar ao Juizado de Menores.

Porque sera meu bom José, que esse teu pobre filho um dia
Andou com estranhas ideias, que fizeram chorar Maria.

                  Na casa de Tiago tudo era festa. Sara não tirava Madalena do colo. Ela sabia que o Juiz daria para ela adotar. Tiago era um marido mais feliz do mundo. José não cabia de contente. Maria só dizia que ganhou uma neta. Uma estrela brilhou no céu. No passado em uma manjedoura Jesus nasceu. Ali naquela casinha uma menina tinha muitos pais que a amavam. Feliz natal, que os sonhos seus se realizem!

Me lembro às vezes de você, meu bom José, meu pobre amigo
Que dessa vida só queria, ser feliz com sua Maria.

Bom José. Nalva Aguiar

domingo, 20 de dezembro de 2015

O último adeus do Velho Lobo.


Contos de Natal.
O último adeus do Velho Lobo.

                Para ele seria o mesmo natal de sempre. A família reunida, os netos correndo pela casa, as conversas dos filhos, tudo muito parecido com os anos anteriores, mas sempre com um sabor especial. Quarta feira, 24 de dezembro. Ele acordou cedo. Tomou seus remédios e sem o desjejum partiu. Era sempre assim. Uma volta no bairro para sua caminhada matinal. Sabia que no retorno o café fumegante estaria pronto. A família sempre se reunia à tarde, e por volta da meia noite todos iam a mesa para se refastelarem com o magnifico manjar da Mama. Ele já havia notado uns lapsos de memória e sabia a tempos que seus pensamentos se misturavam. A Santa Catarina pirolim pirolim pom pom, era filha do Rei”♫. Sentiu-se cansado e sentou em um ponto de ônibus na avenida próxima a sua casa. Fechou os olhos para tentar fazer sua mente voltar ao presente. Não sabia como, mas o ônibus chegou e ele entrou. Sentou na frente. Porque fazia isto? Ele não sabia. Nunca fez isto antes. Na viagem que ele não sabia o destino se lembrou do seu passado. Viu-se menino escoteiro na Mata do Morcego. Encurralado em uma árvore por uma jaguatirica. Ela o olhava com olhar amigo. Ele não acreditava. ♫”Acenda, Fogo, acenda, Acenda essa fogueira”. Aqueça minha tenda e ilumine essa clareira! ♫...

          - Senhor aqui é o ponto final! – disse o motorista. – Mas como vou fazer para voltar? – Espere o próximo ônibus. Este vai se recolher a garagem! Ele desceu. Não sabia onde estava. Lembrou-se quando sênior acordou em um vale enorme, cheio de pássaros cantantes e uma cascata que faziam um barulhão. Ele não sabia onde estava quando saiu da barraca. Chegaram à noite perdidos e sem rumo certo. ♫ Acorda escoteiro que o galo já cantou, cantou, cantou o galo já cantou... Co-co-ro-có.... ♫. Olhou para um lado e para o outro, uma enorme avenida e milhões de carros passando de um lado e de outro. Prédios enormes. Qual ônibus para voltar? Ele não sabia. Não sabia de mais nada. Esquecera seu telefone e endereço. Nunca saia com seus documentos, pois sua volta no quarteirão era pequena. Viu que nem dinheiro tinha – Seu guarda, preciso voltar para casa – Onde o senhor mora? – Não sei! – Seu nome? – Não lembro. Sei que me chamavam de Velho Lobo, eu fui escoteiro. – O guarda o olhou de esguelha. – Não posso ajudar, atravesse a rua e ande dois quarteirões. Vais encontrar uma viatura equipada com rádio. Quem sabe podem ajudar o senhor! ♫ “Avançam as Patrulhas, lá ao longe, lá ao longe”. Avançam as Patrulhas, cantando com valor, lá ao longe!”“... 

           Teve medo ao atravessar. Nunca viu tanta gente correndo e querendo chegar do outro lado. Confundiu-se e no meio do caminho parou. Sua mente o levou até o Despenhadeiro do Lobo. Um medo incrível de escorregar e cair. Ele ficou pendurado em um galho e se não fosse o Nonato cozinheiro tinha morrido.  ♫ “Rigor, Boom, rigor, boom. Vem correndo depressa Escoteiro Ajudar o cozinheiro a fazer um jantar supimpa, supimpa Parazibum, zibum” ♫. Parou no meio da avenida. Nunca sentiu tanto medo. Ninguém se preocupava com ele. Mesmo com seus 87 anos ele ainda pensava que podia manter o domínio de sí mesmo. Em passadas largas atravessou a outra parte da avenida. Sentiu que alguém o segurava por trás e na frente um jovem lhe deu um murro na barriga. Ele sentiu uma dor tremenda. Ali na calçada estava sendo assaltado por pivetes e ninguém o socorreu. ♫ Como é feliz o acampamento na floresta, Junto de nós passa um riacho a murmurar, cantam as aves em seus ninhos sempre em festa, o vento sopra a ramagem a cantar!” ♫. Uma moça o pegou com braço e mandou-o sentar próximo ao vão do MASP. Eram duas da tarde, ele precisava dos seus remédios. A fraqueza chegava e ele sabia que não ia aguentar.

               Precisava comer. Em sua casa já teria almoçado. Lembrava que nem o café da manhã tomou. Levantou com dificuldade. Viu uma lanchonete, viu coxinhas, e bolinhos de carne. – Moço eu posso comer um e pagar depois? – O garçom riu. - Sem dinheiro necas meu Velho. Saiu andando em passos trôpegos. Começou a sentir tontura. Sabia por quê. A diabete fazia efeitos em seu corpo. ♫ “Quando se planta la bela polenta, la bela polenta, Se planta cosi. Se planta cosi. Oh!, oh!, oh!, bela polenta cossi” ♫. A tarde chegou de mansinho e as luzes dos postes se ascenderam. O frio começou a fazer efeito em seu corpo. Não tinha blusa. Uma senhora negra riu quando viu que ele tiritava de frio. Lembrou-se quando se aventurou no Deserto de Atacama e no Vale da Morte. No dia um calor de rachar a noite o frio era demais. – Venha comigo ela disse. Debaixo do viaduto tem fogueiras feitas pelos meus amigos. Ele foi. ♫ “Em Silêncio acampamento, este canto vinde ouvir, são fagulhas da fogueira que nos dizem escoteiros a Servir” ♫...

            A noite foi cruel. Mesmo em volta daquela fogueira ele pensava que não iria resistir até o outro dia. Carros passavam proximo buzinando. Era noite de natal e ele não se lembrava do seu nome, de sua família só lembrava-se do seu apelido. Velho Lobo. Lembrou-se também da subida no Pico da Manada no Peru. Dormiram encostados em uma enorme pedra onde cabia só dois e eram cinco! Foi lá que pela primeira vez viu a neve que caia em flocos brancos e lindos de ver. ♫ “Longo é o caminho, longo, longo, mas andaremos sem parar! Duro é o caminho, duro, duro, cantemos para não cansar!” ♫... Dormia e acordava, dormia assentado encostado a lateral do viaduto. Os seus novos amigos dormiam tendo como cobertor papelões que eles guardavam das lides onde recolhiam lixo reciclado para sobreviver. Ouviu ao longe alguém cantando uma canção de natal. Lembrava vagamente quando em uma reunião de Giwell em um Jamboree alguém contou uma história de natal. A lembrança o emocionou. ♫ Eu era um bom lobo um bom lobo de lei. Não estou mais lobando, o que fazer não sei, me sinto velho e fraco não sei mais lobear, logo a Gilwell Assim que eu possa vou voltar” ♫...

            O dia amanheceu. Ele estava fora de si. Sentia falta de ar, tremia e quase não ficava em pé. Seu corpo não obedecia a sua mente. Como um robô saiu cambaleando pela rua. As pessoas desvencilhavam-se achando que ele estava embriagado. Até uma senhora disse bem alto – “Com esta idade e bêbado pela manhã”? Ele começou a se sentir mal. Uma dor enorme no peito. Sabia que era seu fim. Seus olhos se fecharam. ♫ Prometo neste dia, cumprir a lei, sou teu escoteiro, Senhor e Rei. Eu te amarei pra sempre, cada vez mais. Senhor minha promessa, protegerás” ♫... Viu sua mãe sorrindo, como ela era bela e nova. Viu seus irmãos e irmãs que já tinham partido ali acenando. Fechou os olhos e esperou ser chamado para subir aos céus com eles. Acordou assustado em sua cama em seu quarto. Toda sua família em volta sorrindo. Era sua mulher, eram seus filhos, seus netos e vizinhos. O quarto cheio de gente. Bem vindo Papai, bem vindo marido, Vovô estava morrendo de saudades! Então não tinha morrido? Viu próximo uma jovem uniformizada de Escoteira. – Quem é você? Foi sua esposa quem contou – Ela viu você caindo e dizendo ser um Velho Lobo. Sabia que você era um Escoteiro. Pediu um taxi e o levou ao pronto socorro. Telefonou para várias delegacias e uma delas já sabia do seu sumiço. Comunicaram por telefone. Ela meu marido, foi seu anjo de natal!


Bravo, bravo Bravo, bravíssimo, bravo, bravo bravo, bravíssimo bravo, bravíssimo bravo, bravíssimo bravo, bravo bravo, bravíssimo” ♫...

sábado, 19 de dezembro de 2015

As aparências enganam. (baseado em fatos reais)


Lendas Escoteiras.
As aparências enganam.
(baseado em fatos reais)

                Surgiu como um fantasma em nosso Grupo Escoteiro. 1962? Pode ser. Ele não falava, gritava. Achava que todos naquela sala eram seus empregados. Deixei o que estava fazendo e olhei para ele. – Gritou: - Quem é o Chefe aqui? Meus amigos da diretoria olharam para mim preocupados. Melhor dizer que era eu. – Sou eu disse! – Ele me olhou enviesado. Era forte, alto com uma enorme cicatriz da orelha aos lábios. Briga na certa pensei. Cortado por faca! – Este é meu filho! Vai ser Escoteiro. Não o trate bem, Ele precisa aprender a ser homem. Exigem dele tudo, pois não gosto de meninos chorões. Não vou vir buscá-lo. Ele tem de aprender a chegar em casa sozinho. Aqui vocês são responsáveis por ele! – Deu meia volta e sumiu pela porta da sede do Grupo Escoteiro. Fiquei pasmado, os amigos da diretoria também.

                 Olhei para o menino na porta. Onze anos? Pode ser. Raquítico, cabelos negros encaracolados. Não sorria. Olhava para mim como se eu fosse mais um desafio em sua vida. E agora? Não era assim a matricula em nosso grupo Escoteiro. Mandar o menino embora? Era o que devia ter feito e não o fiz. Mandei o garoto sentar. Conversei calmamente com ele. – Seu pai é assim? Ele respondeu – Meu pai é o que é e eu sou o que sou. Quando começo? Pensei com meus botões. Por hoje sim. Amanhã não sei. Chamei o Chefe dos escoteiros e expliquei da melhor maneira possível. Ele me olhou sorrindo e disse: - Está com medo Chefe? – Sem resposta. Não iria mostrar o que sentia. Olhando o menino que estava em posição de sentido olhando para mim, muito circunspecto achei que teria que ser mais sensato. Só completei ao Chefe Escoteiro: O pai dele vai aparecer. Vamos ver no que vai dar.

                    No final da reunião Dinho (apelido do menino) foi embora sozinho. Antes de ir chegou próximo a mim, fez pose militar e me deu um Sempre Alerta bem postado e falado. Espantei-me com ele no seu primeiro dia. Fui para casa tentando controlar os nervos. Fui a pé pensando. Era respeitado na comunidade. Cheguei à conclusão que não haveria uma segunda vez. Respeito é bom e eu gosto. Mal virei à esquina e o vi no bar do Chico. Mesas e cadeiras espalhadas debaixo de uma castanheira antiga, onde sempre me reunia com amigos. Ele bebericava uma cerveja. Levantou-se e fez sinal para aproximar. Ora, ora! Fala-se no tinhoso e ali estava ele. - Se não desse bola seria mal educado, se desse atenção poderia ouvir o que não queria. Enfim entre o sim e entre o não me aproximei. Ficamos conversando por horas. Ele me contou causos e causos. Já estava ficando “borracho” e precisava ir para casa. Saí dali impressionado com que ouvi e vi. Jiparanã se tornou um grande amigo e eu sabia que iria morar em meu coração para sempre. 

                     Um dia chegou à sede com aquele rompante de dono de tudo, aproximou de mim em uma reunião e perguntou quando poderia fazer o uniforme e onde compraria o chapéu e os distintivos. Tentei explicar para ele as normas. Ele teria de passar por elas. – Bolas para as normas – disse. E na semana seguinte apareceu de uniforme surpreendendo a todos nós.  Resolvi relevar, daria tempo ao tempo. Pensei que breve ele iria submergir. Isto não aconteceu. Por duas vezes sem avisar se inscreveu em cursos na capital e os fez com seu rompante habitual. Todos nós do grupo passamos a gostar dele, era um excelente escotista. Dedicado, organizado e prestativo. Ficou como meu assistente na Tropa Sênior e os jovens o adoravam. Muitos jovens ficavam horas no seu estabelecimento comercial (açougue) conversando e aprendendo com ele.

               Surpreendeu-me nas atividades ao ar livre e nos grandes acampamentos. Era um excelente mateiro. Os seniores embasbacados com seus conhecimentos de sobrevivência na selva sorriam. Isto fez dele um herói e garanto que não me senti ofendido. Para mim era magnífico. Em pouco tempo eu iria embora da cidade. Seria ótimo contar com ele para me substituir. Seu gênio foi aos poucos sendo contido. Um dia alguém gritou para ele que suas pernas nuas abaixo da calça curta eram lindas. Ele se voltou e disse: - Você acha bonita? Deve ser igual a da sua mãe! Porque não vem aqui olhar? – Ninguém respondeu. Um silêncio sepulcral. Seu estilo, seu bigode, sua altura, sua força não era para ser arrostada. Meses depois fui embora. Dois anos depois recebi um telegrama. - Chefe Jiparanã foi preso e condenado a quinze anos de prisão. Não pestanejei, era uma amizade sem igual. Pedi licença na minha empresa por cinco dias, peguei o trem noturno e voltei a minha antiga cidade.

                      O meu amigo Capitão Marlon me contou a história. Jiparanã estava em seu açougue e chegaram dois bêbados rindo e debochando, falando que ele um autêntico bicha e homossexual. Riram e completaram: seus escoteiros aprendem com você a fazer assim? Você pode imaginar o que aconteceu. Jiparanã deu uma tremenda surra nos dois. Foram parar no hospital. A história poderia ter terminado ali, mas os dois borrachos em uma noite, o atacaram em uma esquina, e mesmo ferido a faca em diversos lugares, matou um deles torcendo seu pescoço. Claro que foi legítima defesa. Mas o que foi morto era de uma família rica que contratou um advogado famoso para assessorar o promotor. O juiz não levou em consideração o passado de Jiparanã. Ele sabia que ele era Escoteiro. Deu-lhe quinze anos com possibilidade de sair em um cinco por bom comportamento. Fui visitar Jiparanã na penitenciária. Ele estava sorridente, alegre e me recebeu com regozijo, me abraçando e apresentando aos amigos da prisão.

                   Senti-me forasteiro ali. Conversamos por horas. Antes de partir o visitei outra vez e ele me disse que recebera uma carta da Direção Nacional, suspendendo-o das suas atividades de Escotista. Eles fizeram um inquérito e acharam melhor que não vestisse mais o uniforme e participar de atividades escoteiras. O Chefe do Grupo me mandou uma correspondência, um ano depois, comentando o caso de Jiparanã. Saiu da cadeia, e não voltou mais ao escotismo. A Direção Nacional o absolveu, mas colocou ressalva na sua participação. Os seniores estavam com nova chefia, mas apesar da proibição, Jiparanã ainda fazia atividades com eles, sem uniforme. Sua arrogância foi esquecida. Agora cativante era outro Chefe. Seu filho passou para os seniores e depois Pioneiro. Cuidava do açougue do pai.


                 Não tive mais notícias. Minha vida mudou muito. Jiparanã deixou saudades. Foi para mim um caso especial. Onde estiver e se ainda estiver vivo (deve estar com mais de 80 anos) espero que tenha alcançado a felicidade que sempre mereceu. Fico com saudades sempre que me lembro dele, Jiparanã, um saudoso valente cujo espirito Escoteiro era verdadeiro e amava a seu modo o escotismo. Nem sempre conhecemos os bons e os maus em profundidade. Se merecerem fazemos referências se são amigos contamos histórias. 

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....