Lendas
Escoteiras.
O céu mandou
alguém.
Eu estava ajoelhado em frente
à Campa onde meu pai fizera sua nova morada. Ele tinha partido há quase um ano.
No inicio quando ia ali eu chorava. Lagrimas desciam copiosamente. Com o tempo aprendi
a manter a calma e aceitar a realidade. Agora eu sabia que ele nunca mais iria
voltar. Sempre a cada primeiro domingo do mês eu colhia algumas gardênias
brancas com um perfume doce e intenso. Foi Vovô Matilde quem sugeriu que eu
levasse. Ela me disse que meu pai adorava o perfume delas e ele ficava horas na
varanda só para inebriar com a leveza do cheiro e o perfume que exalavam. Isto
o encantava demais. Não conheci minha mãe. Ela se foi quando nasci. Meu pai
resolveu ir morar com minha Vó que era sua mãe. Ali vivi minha infância de
menino feliz. Enquanto meu pai era vivo eu tinha uma vida alegre, pois ele
sempre foi um pai perfeito. Ele me levava todos os lugares quando não estava
trabalhando. Aprendi com ele a ser um homem de verdade apesar dos meus nove anos.
O cemitério estava vazio. O
único da cidade onde morava. O Senhor Lopes responsável pelo campo santo sorria
quando eu aparecia. Ele sabia que todos os meses no primeiro domingo do mês eu
ia rezar pelo meu pai. Quando chegava a seu jazigo eu sentia uma tristeza
infinita. Soluçava e sempre pensando por que Deus o levou e me deixou sozinho
no mundo. Sozinho não, minha Avó sempre ao meu lado. Sua campa era simples,
apenas uma chapa de aço com o numero 1334. Normas internas exigiam assim. Afinal
éramos pobres e mausoléus não era permitidos. Mas todos os túmulos eram bem
cuidados, gramado com muitas arvores em volta. Nunca esqueci aquele dia quando
voltava da escola e no caminho alguém me disse que meu pai bateu a moto.
Adorava sua máquina de duas rodas. Levou-me com ela a lugares lindos,
inesquecíveis. Um choque terrível e durante muitos meses ia para os cantos da
casa chorar. Ele nunca me apareceu em sonhos, e eu sempre me pergunta o por que.
Sei que não esqueci naquele dia quando paramos em um lindo riacho e ele me
ensinou que nosso destino está nas mãos de Deus.
Eu tinha uma rotina quando
ali ia. Sempre ajoelhado, olhar fixo na placa como se ele estive sorrido e
rezava dizendo palavras que me apareciam na hora. Pedia pelo meu pai, que ele
estivesse bem, que Nosso Senhor o protegesse onde ele estivesse. De vez em
quando mesmo passado já algum tempo de sua morte eu não aguentava e chorava.
Lágrimas de dor de saudades de vontade de ver ele na minha frente e o abraçar.
Tão perdido nas minhas lembranças e desejos que assustei quando ouvi alguém
dizendo: - Posso rezar com você? Virei-me e vi um homem grisalho, magro
simpático sorrindo para mim. Não disse nada só balancei a cabeça concordando.
Ele se ajoelhou ao meu lado. Fechou os olhos e devagar bem baixinho, rezou uma
prece tão linda que até hoje não a esqueci:
- “Senhor, fortalece em nós, a paciência para com as
dificuldades dos outros, assim como precisamos da paciência dos outros, para
com as nossas próprias dificuldades... Ajuda-nos para que a ninguém façamos
aquilo que não desejamos para nós...
Auxilia-nos, sobretudo, a reconhecer que a nossa felicidade mais alta será, invariavelmente, aquela de cumprir seus desígnios onde e como queiras, hoje, agora e sempre”.
Auxilia-nos, sobretudo, a reconhecer que a nossa felicidade mais alta será, invariavelmente, aquela de cumprir seus desígnios onde e como queiras, hoje, agora e sempre”.
Quando ele terminou me deu a mão e
levantei junto com ele. – Se apresentou dizendo: Meu nome é Marco Tulio, mas me
chamam de Chefe Coruja. – Chefe? O senhor é Chefe em qual empresa? – Não meu
jovem, sou um Chefe Escoteiro. Conheces? – Não disse nada. Já os tinha visto
por aí, mas meu pai aos sábados e domingos me levava a tantos lugares que não
tive o menor interesse em ser um deles. Ele sorrindo me perguntou: - Quer
conhecer alguns jovens escoteiros amigos meus? Fiquei cismado. Meu pai me ensinou
que não devia conversar com estranhos. Principalmente adultos, mas o Chefe
Coruja me parecia boa pessoa. – Venha comigo. Não tenha medo. Não vou lhe fazer
nenhum mal, mas eu vi você aqui tão triste que nem sei bem sua história, mas
posso lhe dar um sorriso franco e verdadeiro se você quiser. – Porque não?
Pensei. Fui com ele a pé, ele não tinha carro. Onde estavam os meninos
escoteiros não era longe. A trilha nos levou lá em quinze minutos. Ao chegar
alguns se aproximaram.
Como me receberam bem
quando o Chefe Coruja me apresentou. – Escoteiros Juliano veio nos visitar. Que
tal um abraço e um bem vindo com o grito da patrulha? – Chefe Coruja, porque só
quatro meninos? – Meus monitores, meus amigos aqui sou um irmão mais Velho, mas
estamos aprendendo juntos. Uma Tropa nova, começando, em breve iremos abrir
para todos os jovens. Todos me chamaram de companheiro e me convidaram a ser um
patrulheiro como eles. Um domingo que nunca mais esqueci. Brinquei, cantei,
aprendi nós, enviei mensagens por bandeirolas, nadei no remanso do riacho.
Aprendi o grito da patrulha, aprendi que tudo aquilo foi fruto de um General
Inglês que há muitos anos trouxe belas ideias para os jovens. Quando chegou a
hora de voltar foi que me lembrei do meu pai. – Pai! Desculpe, eu não quero
esquecer você! – Chefe Coruja riu para mim. Meu amigo Juliano, jamais se desespere em meio às sombrias aflições de sua
vida, pois das nuvens mais negras cai água límpida e fecunda.
O tempo passou. Tornei-me
um Escoteiro. Não quero que pensem mal de mim, mas como sou feliz. Sei que meu
pai lá no céu está sorrindo também. Sei que ele agora pensa diferente. Eu sei
que jamais o esquecerei, e ele sabe que o escotismo me comove. Ele sabe que a
minha imagem paterna, quando ainda vivia no mundo, uma vez ou outra, sempre me
ensinava que o homem se torna eterno e que suas lembranças foram feitas para a
gente ser feliz. É bom reconhecer que vale a pena viver, mesmo com os desafios
que irei enfrentar com as incompreensões o escotismo me deu alma, e eu o tenho
para sempre no meu coração. Bom isto, meu pai viverá sempre em mim, e eu
agradeço a ele e ele sabe que tanto rezei que o Céu mandou alguém!
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