A Árvore da Montanha.
(Um tributo à canção símbolo dos escoteiros do
Brasil)
¶ A árvore da montanha
Ole-li aio...
Ole-li aio...
Não
se mede o tempo. O tempo não pode ser medido. O tempo existe para lembrar os
tempos de outrora. Cada história tem seu tempo. Cada história tem seu passado.
Contam que a patrulha Quati foi acampar na Chapada dos Lagos Negros. Uma estradinha
de terra e a carretinha seguia gemendo com aquele barulho peculiar dos eixos
das rodas. Nas retas bastavam dois para empurrar e nas subidas todos
colaboravam. Moleque o intendente sabia do seu ofício. Ganhou do Seu Toledo do
Posto de Gasolina um galão de graxa. Das boas. Durou anos. Todo mês lavava a
carretinha e lubrificava. Fazia isto com um carinho enorme. A carretinha era
como se fosse sua vida.
¶ Esta árvore tinha um galho O que galho, belo
galho.
Ai, ai, ai que amor de galho. E o galho da árvore...
Ai, ai, ai que amor de galho. E o galho da árvore...
Os
sete patrulheiros se divertiam com a jornada. Mais um acampamento para deixar
saudades. Gostavam das surpresas quando acampavam na Chapada dos Lagos Negros. Sabiam
que depois da Curva do Lobo Cinzento chegariam ao Sitio do Seu Modesto. Gente
boa, grande amigo. Gostava dos escoteiros como se fossem seus filhos. Tinha
dois, cresceram e mudaram para a capital. Dona Salete morrera há muitos anos e
ele fazia de tudo para não decepcionar a escoteirada. Não o viram na varanda
quando se aproximaram, mas viram a porteira, enorme imponente, há mais linda
Porteira que tinha conhecido. Dava um ar clássico e acolhedor às paisagens do
campo. Entre as duas sebes os mourões de madeira de lei se sobressaiam. Quem a
fez era um artista. Ela era verde, uma verde oliva que se sobressaia na entrada
do sitio. Ao chegar todos tiraram suas mochilas e sem avisar ao Seu Modesto
encarapitavam em cima dela no primeiro vão entre uma taboa e outra. Um
empurrava até o barranco, dava seu pulo certeiro e lá ia ela correndo ao vão do
outro lado com aqueles sete Escoteiros sorrindo de felicidade.
¶ A arvore da montanha
Ole-li aio...
Ole-li aio...
Os
rangidos da porteira era uma melodia suave para a audição de Escoteiros
mateiros. Seu Modesto chegou à varanda e sorriu ao ver os escoteiros Querem
almoçar? – Grato Seu Modesto, temos de partir, queremos chegar até às duas da
tarde! E despedindo dele e da porteira partiram. Agora era o Morro da Saudade.
Quase dois quilômetros de subida. Todos em volta da carretinha empurrando. Sabiam
que logo após a Curva do Sol Poente ela estaria lá, imponente, a desafiar a
natureza com sua arrogância da melhor de todas com uma altura e copa sem igual.
A Castanheira se destacava sozinha naqueles pastos verdejantes. Única no seu
estilo a desfilar pelas terras do seu Modesto. Magnifica em sua pose reinava
sozinha. Hora de encher os cantis na nascente e molhar o rosto, tirar os
sapatos e sentir a água fria nos pés. Uma delicia incomparável! Depois um
descanso embaixo dela, descanso que muitas vezes ficavamos até o raiar do outro
dia. A Castanheira nos fazia sonhar, uma Árvore na Montanha que chegava aos
céus.
¶ Este galho tinha um broto Ó que broto, belo
broto.
Ai, ai, ai que amor de broto. E o broto do galho E o galho da árvore.
Ai, ai, ai que amor de broto. E o broto do galho E o galho da árvore.
As
mochilas se faziam de travesseiros para descansar embaixo daquele sombreiro
maravilhoso. A Árvore da Montanha parecia sorrir. Desta vez não ficaram muito
tempo. Hora de partir, podia chover ou escurecer e precisavam chegar. Partiram.
Sempre olhando para trás como a dizer a Castanheira que não era mais que um até
logo, não era mais que um breve adeus. A volta já estava marcada. No topo da serra
onde a Árvore da Montanha reinava avistaram a Chapada dos Lagos Negros. Dois
lagos pequenos com um grande bosque em volta. Quantas vezes acamparam ali? Tantas
que nem podiam imaginar. Nunca se esqueceram da Montanha onde tinha uma Árvore.
¶ A arvore da montanha
Ole-li aio (bis)...
Ole-li aio (bis)...
Sonhos não morrem jamais, sonhos vividos são lembranças na mente que
dificilmente esquecem. Acampamentos? Amavam acampar... Cada um com historia
para ser marcada no livro da vida. Os campos que os recebiam, as selvas que se
apaixonaram por eles, os vales que se deleitavam com suas presenças. Uma noite,
duas um punhado. Sem novidades no Front. Na Chapada dos Lagos Negros era o
epicentro dos acampamentos inesquecíveis. Um vento sul, brisas frescas, sem
chuvas, lagos para se refrescarem em suas águas cristalinas. No penúltimo dia
quando a noite chegou fizeram um fogo estrela no centro do campo de patrulha. Escoteiros
sorrindo, uma conversa ao pé do fogo, canções indo e vindo e sempre a lembrar
de sua majestade a Árvore da Montanha. Uma saudade enorme resolveram partir
antes do dia marcado.
¶Este broto tinha uma folha. E esta folha
tinha um ninho.
E este ninho tinha um ovo.
E este ninho tinha um ovo.
O acampamento inesquecível foi
anotado em mentes de jovens meninos escoteiros. Agora era matar a saudade da
Árvore da Montanha. Partiram à tardinha. Iram passar a noite com ela.
Avistaram-na ao longe, pomposa, imponente como a dizer: – Sabia que viriam!
Montaram rancho ao pé da árvore. Um jantar delicioso, um fogo quadrante sem
fumaça para não machucar a Castanheira. A noite calma e estrelada veio de mansinho.
Nunca tiveram problemas... Sete
Escoteiros sob a Árvore iriam
tê-la por uma noite inesquecível. Acima dela às estrelas cintilantes como uma barraca,
zelavam pelos escoteiros. A Árvore da Montanha estava feliz. E ela junto
aquelas sete almas nobres também dormiu. Era como se estivessem abraçados.
Tornaram-se um só. Brancas nuvens no céu sorriram. A estrela Dalva apareceu
como se fosse um anjo para olhar aqueles heróis e aquela Árvore centenária que
abrigou para sempre todos os Escoteiros do Brasil. Da árvore do silêncio pende
seu fruto, a paz.
¶ E este ovo tinha uma ave. E esta ave tinha
uma pluma. E esta pluma tinha um índio.
¶ E este índio tinha um arco. E este arco tinha uma flecha. Esta flecha foi na árvore ó que árvore, bela árvore. ¶ Ai, ai, ai que amor de árvore.
E a árvore da montanha
Olé-li-aio (bis).
¶ E este índio tinha um arco. E este arco tinha uma flecha. Esta flecha foi na árvore ó que árvore, bela árvore. ¶ Ai, ai, ai que amor de árvore.
E a árvore da montanha
Olé-li-aio (bis).
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