terça-feira, 1 de novembro de 2016

A Árvore da Montanha. (Um tributo à canção símbolo dos escoteiros do Brasil)


A Árvore da Montanha.
(Um tributo à canção símbolo dos escoteiros do Brasil)

¶ A árvore da montanha
Ole-li aio...

        Não se mede o tempo. O tempo não pode ser medido. O tempo existe para lembrar os tempos de outrora. Cada história tem seu tempo. Cada história tem seu passado. Contam que a patrulha Quati foi acampar na Chapada dos Lagos Negros. Uma estradinha de terra e a carretinha seguia gemendo com aquele barulho peculiar dos eixos das rodas. Nas retas bastavam dois para empurrar e nas subidas todos colaboravam. Moleque o intendente sabia do seu ofício. Ganhou do Seu Toledo do Posto de Gasolina um galão de graxa. Das boas. Durou anos. Todo mês lavava a carretinha e lubrificava. Fazia isto com um carinho enorme. A carretinha era como se fosse sua vida.

¶ Esta árvore tinha um galho O que galho, belo galho.
Ai, ai, ai que amor de galho. E o galho da árvore...

                   Os sete patrulheiros se divertiam com a jornada. Mais um acampamento para deixar saudades. Gostavam das surpresas quando acampavam na Chapada dos Lagos Negros. Sabiam que depois da Curva do Lobo Cinzento chegariam ao Sitio do Seu Modesto. Gente boa, grande amigo. Gostava dos escoteiros como se fossem seus filhos. Tinha dois, cresceram e mudaram para a capital. Dona Salete morrera há muitos anos e ele fazia de tudo para não decepcionar a escoteirada. Não o viram na varanda quando se aproximaram, mas viram a porteira, enorme imponente, há mais linda Porteira que tinha conhecido. Dava um ar clássico e acolhedor às paisagens do campo. Entre as duas sebes os mourões de madeira de lei se sobressaiam. Quem a fez era um artista. Ela era verde, uma verde oliva que se sobressaia na entrada do sitio. Ao chegar todos tiraram suas mochilas e sem avisar ao Seu Modesto encarapitavam em cima dela no primeiro vão entre uma taboa e outra. Um empurrava até o barranco, dava seu pulo certeiro e lá ia ela correndo ao vão do outro lado com aqueles sete Escoteiros sorrindo de felicidade.

¶ A arvore da montanha
Ole-li aio...

      Os rangidos da porteira era uma melodia suave para a audição de Escoteiros mateiros. Seu Modesto chegou à varanda e sorriu ao ver os escoteiros Querem almoçar? – Grato Seu Modesto, temos de partir, queremos chegar até às duas da tarde! E despedindo dele e da porteira partiram. Agora era o Morro da Saudade. Quase dois quilômetros de subida. Todos em volta da carretinha empurrando. Sabiam que logo após a Curva do Sol Poente ela estaria lá, imponente, a desafiar a natureza com sua arrogância da melhor de todas com uma altura e copa sem igual. A Castanheira se destacava sozinha naqueles pastos verdejantes. Única no seu estilo a desfilar pelas terras do seu Modesto. Magnifica em sua pose reinava sozinha. Hora de encher os cantis na nascente e molhar o rosto, tirar os sapatos e sentir a água fria nos pés. Uma delicia incomparável! Depois um descanso embaixo dela, descanso que muitas vezes ficavamos até o raiar do outro dia. A Castanheira nos fazia sonhar, uma Árvore na Montanha que chegava aos céus.

¶ Este galho tinha um broto Ó que broto, belo broto.
Ai, ai, ai que amor de broto. E o broto do galho E o galho da árvore.

          As mochilas se faziam de travesseiros para descansar embaixo daquele sombreiro maravilhoso. A Árvore da Montanha parecia sorrir. Desta vez não ficaram muito tempo. Hora de partir, podia chover ou escurecer e precisavam chegar. Partiram. Sempre olhando para trás como a dizer a Castanheira que não era mais que um até logo, não era mais que um breve adeus. A volta já estava marcada. No topo da serra onde a Árvore da Montanha reinava avistaram a Chapada dos Lagos Negros. Dois lagos pequenos com um grande bosque em volta. Quantas vezes acamparam ali? Tantas que nem podiam imaginar. Nunca se esqueceram da Montanha onde tinha uma Árvore.

¶ A arvore da montanha
Ole-li aio (bis)...

           Sonhos não morrem jamais, sonhos vividos são lembranças na mente que dificilmente esquecem. Acampamentos? Amavam acampar... Cada um com historia para ser marcada no livro da vida. Os campos que os recebiam, as selvas que se apaixonaram por eles, os vales que se deleitavam com suas presenças. Uma noite, duas um punhado. Sem novidades no Front. Na Chapada dos Lagos Negros era o epicentro dos acampamentos inesquecíveis. Um vento sul, brisas frescas, sem chuvas, lagos para se refrescarem em suas águas cristalinas. No penúltimo dia quando a noite chegou fizeram um fogo estrela no centro do campo de patrulha. Escoteiros sorrindo, uma conversa ao pé do fogo, canções indo e vindo e sempre a lembrar de sua majestade a Árvore da Montanha. Uma saudade enorme resolveram partir antes do dia marcado.

¶Este broto tinha uma folha. E esta folha tinha um ninho.
E este ninho tinha um ovo.

            O acampamento inesquecível foi anotado em mentes de jovens meninos escoteiros. Agora era matar a saudade da Árvore da Montanha. Partiram à tardinha. Iram passar a noite com ela. Avistaram-na ao longe, pomposa, imponente como a dizer: – Sabia que viriam! Montaram rancho ao pé da árvore. Um jantar delicioso, um fogo quadrante sem fumaça para não machucar a Castanheira. A noite calma e estrelada veio de mansinho.  Nunca tiveram problemas... Sete Escoteiros sob a Árvore iriam tê-la por uma noite inesquecível. Acima dela às estrelas cintilantes como uma barraca, zelavam pelos escoteiros. A Árvore da Montanha estava feliz. E ela junto aquelas sete almas nobres também dormiu. Era como se estivessem abraçados. Tornaram-se um só. Brancas nuvens no céu sorriram. A estrela Dalva apareceu como se fosse um anjo para olhar aqueles heróis e aquela Árvore centenária que abrigou para sempre todos os Escoteiros do Brasil. Da árvore do silêncio pende seu fruto, a paz.


¶ E este ovo tinha uma ave. E esta ave tinha uma pluma. E esta pluma tinha um índio.
¶ E este índio tinha um arco. E este arco tinha uma flecha. Esta flecha foi na árvore ó que árvore, bela árvore. ¶ Ai, ai, ai que amor de árvore.
E a árvore da montanha
Olé-li-aio (bis).

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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