Lendas Escoteiras
E Leo Marcondes recebeu seu Cruzeiro do Sul
Leo Marcondes tinha o sorriso
de um vencedor. Os lobos de Seeonee sorriam com ele. Lilian, a Bagheera lhe deu
um forte abraço. – Leo estou orgulhosa de você! Eu sabia que você ia conseguir.
Lembra-se do que lhe disse? Valeu o seu esforço. Rosaldo o Baloo, também foi
lhe dar um abraço. – Parabéns, Leo Marcondes! Seu desafio foi vencido. Ainda terão
outros na vida, mas este você lutou e conseguiu. Aquele foi um dia de festa na alcateia.
Lembravam-se quando, há três anos, Leo Marcondes chegou para ser lobinho.
Ninguém acreditava que ia dar certo. Alguns foram contra e acharam que o grupo
escoteiro não estava preparado. Foi assunto para o Conselho de Chefes e a
discussão entrou noite adentro. Finalmente aprovaram a entrada de Leo
Marcondes. Ufa! Ainda bem. Para os chefes da Alcatéia foi uma experiência
fantástica.
O que Leo Marcondes tinha de
especial? Ele era portador da Síndrome de Down. Dona Etelvina, sua mãe, uma
pobre faxineira nada entendia assustou-se quando os médicos lhe disseram quando
ele nasceu. Nunca soube o que era a tal síndrome de Down. Dona Etelvina ficou
grávida do seu antigo patrão que não assumiu. Ela nunca casou. Seu patrão
mandou-a embora e ela não se intimidou. Conseguiu uma creche para Leo enquanto
trabalhava. A creche nem sabia o que Leo tinha. Uma Assistente Social achou um
absurdo Leo ficar misturado com outras crianças. Dona Etelvina moveu céus e
terra para ele continuar. E assim o tempo passou.
Quando fez sete anos, não havia
escola para matriculá-lo. Sempre a mesma desculpa. - Não estamos preparados.
Arlete ficou sabendo através de uma amiga em cuja casa dona Etelvina fazia
limpeza uma vez por semana. Arlete era a Akelá de uma alcateia de lobinhos e
lobinhas. Ela tinha uma vaga ideia do que era a Síndrome de Down. Não era um
bicho de sete cabeças. Fora a aparência facial, o portador podia desenvolver
quase todas as atividades normais de um menino comum. Seria até possivel em
alguns casos haver um retardo mental leve ou moderado. Arlete se informou com médicos
que conhecia. Disseram a ela que as crianças portadoras encontravam-se em
desvantagem em níveis variáveis face às crianças sem a síndrome. Ela não sabia
se Leo Marcondes tinha alguma anomalia que poderia afetar seu sistema corporal.
Estudou diversas características e
chegou à conclusão que Leo Marcondes poderia ser um Lobinho. Arlete não era
fantasiosa. Nunca foi. Leu muito sobre grupos escoteiros que se dedicavam a
pessoas portadoras de deficiências especiais. Sempre achou um trabalho
formidável. Porque não tentar? Muitos acharam uma ideia absurda. O que vão
achar os outros lobinhos? Como ele fará para acompanhar o crescimento de todos
na alcateia? Eram somente senões. Ninguém para dizer: – Ótima idéia! Quando o
conheceu ela sentiu uma enorme amizade e admiração por ele. Tinha lido sobre o preconceito e o senso de
justiça com relação aos portadores da Síndrome de Down no passado. Aprendeu que
muitos deles se desenvolveram muito bem na escola e deixá-los fora do convívio
social era um verdadeiro absurdo. Nunca tinha visto Grupos Escoteiros com
jovens portadores de deficiência física. Por quê? A pergunta ficou sem
resposta.
Porque não serem os primeiros? Iria fazer tudo
para que Leo Marcondes se desenvolvesse como os outros suas tarefas e
habilidades. Entendia perfeitamente que crianças com Síndrome de Down devem ser
reconhecidas como são e não como gostaríamos que fossem. As diferenças deveriam
ser vistas como ponto de partida e não de chegada na educação escoteira. Se
necessário, seriam desenvolvidas estratégias e processos cognitivos adequados. Não
teve mais dúvida. Convenceu a dona Etelvina a matriculá-lo no Escotismo.
Estranhou quando viu as dificuldades entre os chefes do Grupo. Muitos tinham
dúvidas e não queriam assumir.
Ela sabia que o apoio de um
estabelecimento de ensino fosse público ou privado com programas de intervenção
não existia na cidade. Sabia que a educação e experiência escolar ajudariam e
muito a desenvolver em Leo Marcondes sua própria identidade, para além dos
limites do lar. Conhecia uma professora muito amiga que a ajudou. Leo foi
matriculado em uma escola. A amiga de Arlete prometeu lugar lutar para que os
resultados fossem demonstrados aos professores e ele não fosse somente um caso
especial. Ela conversou por muito tempo com Rosaldo e Lilian seus assistentes
na alcateia. O apoio deles seria importante. Sabia que o cuidado que deveriam
ter com ele seria diferente como os demais lobos. Não foi preciso mudar o
programa. Ele deveria se sentir um igual. Não foi fácil. Leo Marcondes no
primeiro dia ficou com medo de todos. Emburrado em um canto, não queria se
enturmar. Fechou em si mesmo nas cinco primeiras reuniões. Quase chegaram a
desistir. Foi Mirtes uma Lobinha a salvação. Alegre, espevitada, gritava,
cantava e sabia fazer amigos. Ela foi até Leo Marcondes e logo se tornaram amigos.
Dai para frente tudo fluiu para
alegria de todos. Agora achavam que o caminho estava aberto graças a Mirtes.
Quem diria! Na oitava reunião ele ficou o tempo integral. Até procurou o Baloo
Rosaldo, dizendo que queria o uniforme. Rosaldo disse que o grupo escoteiro iria
adquirir, mas ele teria que se esforçar mais nas etapas. Só assim poderia fazer
a promessa e vestir o uniforme. Leo Marcondes não entendeu. – Quero o meu
uniforme! Gritou. De novo Mirtes para explicar. Dizem que a suprema felicidade
da vida é ter a convicção de que somos amados. Cinco meses e chegou o dia de
sua promessa. Mirtes fez questão de ensinar frase por frase.
Foi uma festa. Todo o grupo
escoteiro presente. Os chefes da alcateia ficaram com medo de que, na hora, Leo
Marcondes mudasse de ideia. Dona Etelvina não cabia em si de contente. Leo
Marcondes foi convidado para dirigir o Cerimonial de Bandeira e proferir a
oração. Ele de cabeça baixa disse em voz quase inaudível – “Senhor, senhor,
senhor, ajuda todo mundo!” Olhou para Mirtes e sorriu. Mirtes foi correndo
abraçá-lo. Todos muitos emocionados. Para surpresa Leo Marcondes não quis
repetir A Akelá e disse tudo sozinho. Foi o início da virada para Leo
Marcondes. Sua mudança foi da água para o vinho. Daí para o Cruzeiro do Sul foi
um pulo. Sempre Mirtes mostrando o caminho a seguir.
Leo Marcondes conseguiu. Leo
Marcondes venceu. Claro, muitos o ajudaram, mas Leo Marcondes provou que podia
ser um e mostrou ser um grande Escoteiro quando passou para a Tropa. Leo Marcondes cresceu, estudou virou um homem
de bem. Soube que ele estava fazendo carreira política. Candidatou-se a
vereador e foi eleito com boa margem de votos. Sua luta era em prol daqueles
que diferente dele, não puderam ter a oportunidade que lhe deram. Soube também que
ele comprou uma boa casinha para sua mãe. Dona Etelvina não precisava trabalhar
mais. Nada faltava para ela. Leo Marcondes agora era o chefe da família. E
assim Leo Marcondes virou herói.
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