O último adeus de Baden-Powell.
De 1940 a 2019.
... -
Não sei a data nem o ano que BP escreveu sua carta de despedida. Como Criador
de ventos e inventor de arco-íris, sempre leio a sua ultima mensagem. Ainda não
escrevi a minha e nem sei se vou escrever, principalmente quando sinto que meus
dias estão diminuindo. Repousar não ajuda e me sinto cada vez próximo da minha
estrela. Hoje adquiri alguma força para me reinventar ao seu lado de BP, em
PAXTU, numa tarde qualquer antes do natal, mais precisamente em 09 de dezembro
de 1940. Seus dias estavam contados, em poucos dias ele subiria ao céu, em uma
nuvem azulada, diferente das cores de neve que habitavam a terra. Em sua
varanda, usando uma nova Parker 100, cuja elegância e sofisticação tinha
comprado meses antes... Avancemos na história...
- Baden-Powell.
Olhou no relógio, eram dezessete horas. O sol se punha atrás das colinas do
monte Quênia. Seus olhos miúdos cansados de tantas aventuras olhavam a página
simples onde estava a escrever sua última mensagem aos escoteiros do mundo.
Acreditava que precisava deixar uma mensagem de força e fraternidade entre
eles. Olhos simples, calmos, sentindo o piar dos pombos nos olmos próximos
começou a escrever:
-
Caros Escoteiros.
– “Se
por ventura vocês tiverem visto a peça “Peter Pan”, deverão estar lembrados de
que o capitão pirata faz antecipadamente seu último discurso, porque receava
que, possivelmente, quando chegasse sua hora, não teria tempo de fazê-lo”. - Baden-Powell
piscou os olhos cansados... Olhou novamente seu jardim, não era sua velha
Inglaterra, mas considerava sua nova morada como sua segunda Pátria. Ajeitou a
caneta em suas mãos, e continuou: – “Acontece quase à mesma coisa comigo e,
embora neste momento, eu não esteja morrendo – Mas creio que este dia se
aproxima, quero enviar a vocês uma palavra de despedida. Pensem que estas serão
as últimas palavras que dirijo a vocês e, por isso, peço que as leiam e reflitam
profundamente sobre elas”...
- Baden-Powell
sentia os braços cansados, queria fechar os olhos e dormir. Lembrou-se de
Mafeking onde dormir era um sonho que não podia realizar. Lembrou-se de
Brownsea e viu os rostos dos meninos com quem acampou pela primeira vez. Nunca
pensou que o movimento seria tão grande como agora. Sorriu e levantou os ombros
como a exercitar para mais uma batalha, só que desta vez era usar não um sabre,
mas sua nova Parker 100. E continuou a escrever: - Eu vivi uma vida muito
feliz. Por isso, desejo que cada um de vocês também tenha uma vida feliz.
Acredito que Deus nos colocou neste mundo maravilhoso para que sejamos felizes
e para que aproveitemos a vida. “A felicidade não provém do fato de sermos
ricos, nem de sermos bem-sucedidos em nossas carreiras e, tampouco de sermos
complacentes com nós mesmos”.
-
Baden Powell parou de escrever. Ouvia vozes no andar de cima. Deviam ser as
crianças a brincarem de esconde-esconde ou quem sabe algum jogo de tabuleiro.
Ele sabia que os jogos seriam parte importante na formação de sua estupenda
criação e ele pretendia dar aos rapazes com seu novo método do Escotismo algum
que nunca foi criado. Afinal as crianças gostam de brincar e desejam cada vez
mais jogos mais brinquedos... Continuou: – “O primeiro passo rumo à felicidade
é dado quando, ainda jovens, nos empenhamos em nos tornar saudáveis e fortes.
Assim quando chegarmos à idade adulta seremos pessoas úteis ao mundo e
poderemos aproveitar a vida! O Estudo da natureza mostrará que Deus criou o
mundo repleto de coisas belas e maravilhosas para vocês desfrutarem das mesmas.
Alegrem-se com o que receberam e façam bom proveito disso. Olhem para o lado
brilhante das coisas, ao invés do seu lado sombrio”...
-
Baden-Powell parou. Com os olhos cansados e pequenas lágrimas olhou uma névoa
violeta subindo as alturas distantes onde o tempo vagou. Sentiu um cheiro de
rosas no ar... Um perfume inebriante. Uma torre de arvores aparece nos
olmos próximos, em resposta ao distante cantar de uma pomba. Uma abelha
cantarolava sonolenta por um mel que não encontrou. Tudo era paz em sua
PAXTU ao anoitecer. Não podia parar, a Parker rodopiou fazendo da escrita sua
última mensagem: - “Contudo, o verdadeiro caminho rumo à felicidade está em
fazer outra pessoa feliz. Tentem deixar este mundo um pouco melhor do que o
encontraram e, quando chegar a hora de vocês, que possam partir felizes com o
sentimento de que, pelo menos, não desperdiçaram o tempo, mas sim, fizeram o
melhor que puderam”...
- Baden-Powell
viu que a noite chegou. Era hora de descansar e honestamente sabia que estava
cansado. Olhou para trás e deu um pequeno suspiro... Foi um dia carregado de
recordações. Sabia que não fora um dia ocioso. De novo ouviu na janela superior
risadas de gente jovem indo para a cama. Sabia que amanhã seu dia seria tão
feliz como hoje... Sorriu e voltou a escrever: - “Para viverem e morrerem
felizes tenham este pensamento como guia e, sem esquecer o lema “Sempre Alerta”
sejam sempre fieis a Promessa escoteira e às suas regras, mesmo quando já forem
adultos. Que Deus os proteja e os ajude a cumpri-las”.
-
Baden-Powell. – Sorriu. Sabia que era um vencedor. Imaginava um Escotismo no
futuro cheio de amor paz e fraternidade. Conseguiu terminar. Sabia que seu fim
era próximo. Viveu como sempre quis viver sorrindo e sendo feliz. Não havia
mais o brilho avermelhado do por do sol para dar luzes e sombras nas florestas
que se estendiam abaixo. Uma névoa violeta subia as alturas distantes onde o
tempo vagou... Era hora de dormir...
– Do vosso
amigo,
Baden-Powell of Gilwell.
E eu daqui a pouco também vou dormir. Quanto tempo ainda tenho? Não sei.
Deus é quem decide o caminho de todos nós.
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