Lendas escoteiras.
Um por todos e todos por um!
Maninho sempre foi um bom Escoteiro. Era também um bom católico, e por muitos
anos foi coroinha na Paróquia Santo Antonio. Maninho nunca prestou atenção nas
vicissitudes da vida, pois ele era apenas um menino. Deus sabia que ele era
bom, levava a sério a lei escoteira e fazia do décimo artigo sua filosofia de vida.
Ele estudava, mas não era inteligente. Maninho tinha a “cabeça fraca” como sua
mãe dizia. Seu pai pouco ligava para ele e sempre viajando na firma que
trabalhava. Maninho não entendia muito das provas escoteiras e seus amigos de
patrulha ficavam horas em sua casa tentando mostrar a ele os nós Escoteiros, os
sinais de pista, entender o desenho da Bandeira Nacional e cantar o rataplã.
Todos
sabiam que ele dificilmente ia ler um mapa, nunca iria fazer um percurso de
Giwell e dificilmente seria um Sinaleiro. Na patrulha amavam Maninho. Seu
sorriso simples, sua humildade era respeitado por todos. Bem mandado nunca foi
preciso que o Monitor lhe chamasse a atenção. Em vez de pedir porque não
dividir as tarefas? Quando ele fez a promessa toda tropa veio às lagrimas, de
alegria é claro. Maninho quando recebeu o lenço e o distintivo de promessa, deu
um enorme salto e gritou: - Viva Deus, viva meu Monitor, viva meu Chefe e viva
a minha mãe! E começou a cantar alto o Rataplã.
O
bonito é que toda tropa acompanhou. Quando fez catorze anos ainda era noviço. Ele
nem sonhava com a segunda classe. Seu Chefe em comum acordo com a Corte de
Honra deu a ele varias especialidades e um distintivo que ninguém conhecia. O
chamou de Escoteiro Padrão. Maninho ria de felicidade mostrando a todos seu distintivo
de Escoteiro Padrão.
Quando lhe contaram Jamboree Maninho sorriu de orelha a orelha. – Já pensou? Eu
lá? Vendo milhares de irmãos escoteiros? Todos sabiam ser impossível. Era uma
fábula para ir. E não é que Seu Josué da Loja de presentes soube e mandou
chamá-lo: - Maninho, veja quando vai ficar. Vou pagar toda a sua despesa. Você
vai ao Jamboree. Durante dias Maninho sorriu, cantou e foi a todas as missas na
paróquia Santo Antonio.
Padre
Wantuil estava assustado. Quem mais iria? Perguntou ao Chefe escoteiro –
Ninguém Padre. Ninguém tem condições financeiras para ir. – E você acha que ele
pode ir sozinho? – claro que não padre, mas o que eu posso fazer? Sabemos todos
até onde ele pode ir, sabemos que ele tem um pouco de deficiência mental, mas o
que eu posso fazer Padre? Ele sonha dia e noite com esta viagem. Tenho medo,
medo de falar com ele e isto piorar seu desenvolvimento mental. Até hoje senti
que ele está amadurecendo, mas deixá-lo ir só? O que vai acontecer lá?
O Chefe procurou a mãe de Maninho para conversar. Foi uma conversa triste. Dona
Elza, não sei o que fazer – Nem eu Chefe. Ele fala neste tal de Jamboree o dia
inteiro. Vai para a escola cantando a canção do Jamboree. Foi na biblioteca e
leu tudo sobre o tema. Voltou e me chamou aos gritos: - Mamãe, Mamãe! Nosso
Chefe mundial foi em três jamborees! Já pensou em encontrar com ele lá? Todos
da tropa ficarão surpresos. – Depois Chefe fui saber que o Senhor Baden-Powell
é falecido.
Sabe
Chefe, eu falei para ele e ele sorriu – Mamãe, consegui as taxas para ir ao
Jamboree agora vou encontrar o Baden-Powell e a senhora vai se convencer que
ele está vivo. – Como fazer? Como resolver? Falar com ele seria uma decepção.
Dona Marisa a sua professora dizia que o escotismo deu a ele outra motivação
para estudar. Acreditava que ele podia terminar o primeiro grau naquele ano.
Em um Conselho de Patrulha foi votado que o Martins o
Sub Monitor seria o responsável para explicar tudo ao Maninho sobre o Jamboree.
– Dizer para ele quem só ele iria, os demais não podiam pagar. Ensinar a ele a
se virar sozinho saber como agir, como fazer amigos enfim, tudo que ele
precisasse saber para amar o Jamboree. – Maninho ouviu e ficou pensativo. Nunca
pensou em ficar longe de sua Patrulha. Em casa comentou com sua mãe. – Mamãe o
que vou fazer sem eles? Eles me ajudam nunca me deixaram sozinho e agora vou
sozinho no Jamboree? – Sua mãe não disse nada. Ela não sabia o que dizer.
Durante toda a semana Maninho não pensava em outra coisa. Com o Chefe ele não
obteve resposta, com o Padre Wantuil também não chegaram a uma solução. –
Chefe, disse o padre, é ele quem tem de decidir sozinho.
No sábado, ao terminar o Cerimonial de Bandeira e feita à oração Maninho pediu
a palavra. No centro da ferradura ele disse: - Chefe e meus amigos da tropa um
dia vocês me disseram que aqui somos todos irmãos. Somos iguais aos três
mosqueteiros: – “Um por todos, todos por um” Ou vamos todos ao Jamboree ou não
vai nenhum! Nunca irei sair daqui sem vocês, afinal somos todos irmãos de
sangu.e não? A tropa calada explodiu em uma palma escoteira inesquecível. Maninho
sorriu. – Eu sei o preço de um jamboree, mas quanto vale a amizade de vocês?
Esta não tem preço. Nunca irei para nenhum lugar sem estar junto aos meus
amigos e irmãos escoteiros.
– O
Chefe da tropa estava às lágrimas. Carregaram Maninho nos ombros saudando sua
lealdade. Foi a partir daquele dia que aprenderam o significado de “Um por
todos, todos por um”. Maninho cresceu. Vinte anos depois foi eleito prefeito da
cidade. Ficou tão famoso que quiseram fazer dele um deputado ou senador. Ele
nunca aceitou. – Aqui nasci aqui morrerei. Aqui fiz amigos e com eles ficarei
para sempre. Se fosse verdade o romance que Alexandre Dumas escreveu, Athos,
Aramis, Phortos e D’Artagnan iriam levantar suas espadas, abraçar Maninho e
junto a ele gritar aos quatros ventos – “Escoteiros! Um por todos? Todos por
um”
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