quinta-feira, 11 de abril de 2019

Lendas Escoteiras. A conspiração do silêncio.




Lendas Escoteiras.
A conspiração do silêncio.

(esta é uma história fictícia. Qualquer semelhança com fatos, pessoas vivas ou mortas é mera coincidência).

Prólogo: - Conspiração conta a historia do Chefe Leo, homem humilde, com um coração aberto e amigo de todos sem distinção. Acredita na verdade tem uma só palavra e tem a ética tão esperada em um homem escoteiro. Lembrei-me de Mário Quintana: – O segredo é não correr atrás das borboletas. É cuidar do jardim para que elas venham até você. – Perdoar é bom, e amar o próximo é melhor ainda!

               Dizem que o começo da sabedoria é encontrado na dúvida. Duvidando começamos a questionar, e questionando podemos achar a verdade. Este é um breve relato da história do chefe Leo um ex-Comissário de um Distrito Escoteiro. Foi lobinho escoteiro sênior e Chefe. Ficou quase vinte anos como distrital. Tornou-se uma lenda quando o destituíram do cargo. Por quê? Isto me intrigou muito. Todos tinham por ele um grande respeito. O escotismo tem uma filosofia de vida que encanta. Ele nos vende uma premissa de fraternidade e lealdade e nem sempre isso é verdade. Como em todas as instituições com voluntários nosso movimento peca com os mesmos pecados. A inveja, a soberba e o desejo de ser o melhor são fatos que ninguém pode contestar. Dizer que isto era um mal menor seria desmerecer a nossa lei e promessa.

             Quando soube de sua exoneração e os motivos obscuros eu fiquei preocupado. Tinha de me inteirar dos fatos e não dos boatos. Fui procurá-lo pessoalmente. Fui recebido como se fosse um "Velho" companheiro de armas. Durante nossa conversa tentei saber o motivo de sua saída. Nada disse. Só frases decoradas – O Chefe Leo era um cavalheiro e em tempo algum iria condenar alguém. Disse-me que tinha chegado sua hora. Precisam de sangue novo Chefe, o escotismo hoje é outro. Sua lealdade não o deixava falar. Afinal sou um Velho Escoteiro que conhece muito da vida. Não se manda um homem como ele para o olho da rua sem ter um motivo forte. Eu só queria a verdade. Durante meses visitei os grupos que compunham o seu Distrito Escoteiro. Alguns grupos bons e outros não.

              Todos unânimes em dizer maravilhas do Chefe Leo. Ouvia mas entendia que nem todos diziam a verdade. Havia alguma coisa no ar. Não sou psicólogo para entender as nuances da vida. Havia muita fachada por trás de tudo e senti falta de sinceridade por parte de alguns chefes. Conversa aqui, ali aos poucos a verdade começou a vir à tona. Juntando as peças cheguei à conclusão que alguns chefes fingiam dizer o que não sabiam e acusavam ser saber por que. Um buchicho sem pé e cabeça. Não aceitar acusações sem provas e o que diziam era totalmente descabido.

                      Mas onde tudo começou? Uns disseram que foi do Grupo Ventos do Deserto, outros do Grupo Montanha Azul. Não importava. Um nome surgia e logo vi que o novo distrital era o protagonista. Seu nome? Aqui não importa. Pouco mais de cinco anos de escotismo já havia conseguido a insígnia de madeira. Um sonhador a altos cargos no escotismo. Conheço o tipo. Ele ainda participava do seu grupo. Alto, forte, bonachão, aquele sorriso que encanta aquele forte aperto de mão. Abraçou-me com força e deu um sorriso forçado que não acreditei. Apresentou-me a todos do grupo. Muitos não o olhavam nos olhos. Vi que não simpatizavam com ele. Muito falastrão. Abraços exagerados e sempre a dizer meu grupo, meus chefes, meus escoteiros meu distrito. O dono de tudo.

                            Não comentou sobre o Chefe Leo. Só foi sincero em dizer que o distrito precisava de sangue novo. Fui a Região Escoteira para me inteirar. O Presidente não me recebeu bem. É sempre assim. Vivi neste meio por muito tempo. Há sempre certa antipatia no ar. Por quê? Bem sou muito loquaz no que penso e nem todos gostam disto. Perguntou de maneira galhofa qual o meu interesse. Expliquei. Não gostou. Até mesmo deixou no ar uma ameaça. – Chefe cuidado no que vai dizer e publicar. Posso processá-lo pelas inverdades. Deu-me “ordens” como se fosse meu patrão. Disse a ele que estávamos em uma democracia e eu publicaria o que quisesse. Interessante nosso movimento. Não temos salários, somos voluntários e uma lei escoteira que fala de paz e amor. Esta hierarquia escoteira deixa muito a desejar. Dizem que os homens se tornam arrogantes com o sucesso e têm o mau hábito de menosprezar a quem não nutrem simpatia. Para encerrar a conversa disse que o assunto era confidencial, discutido na Comissão de Ética e esta tinha resolvido exonerar o Comissário Joe. Pedi para ler a ata e ele riu na minha cara. Ata? Confidencial Chefe!

                     Ao sair uma funcionária simpática me fez um sinal. Disse para esperar após o expediente no bar da esquina. Contou o que sabia. Disse que um Chefe chamado Renildo (o novo distrital) foi quem fez um ofício acusando o Chefe Joe de homossexual e pedófilo. Caramba! Que acusação! E o pior ele nem sabia disto. O julgaram e não teve nenhuma chance de defesa. Que base eu perguntei? Ela não soube responder. Agradeci e prometi não dizer uma palavra que ela tinha me contado. Aos poucos fui desvendando o fio da meada.  Uma senhora que fazia faxina na casa do Chefe Leo me contou reservadamente: - Um filho do Chefe Leo de uma aventura que teve quando jovem e procurado pela policia pediu para se esconder por uns tempos em sua casa. O Chefe Leo não negou. Manteve-o escondido por seis meses. Depois a policia descobriu o verdadeiro ladrão. Um belo dia sumiu. Chefe Leo preocupado não sabia o que fazer. Os amigos escoteiros não entenderam. Acharam que ele estava apaixonado pelo homem estranho na sua casa.

                        A verdade finalmente veio à tona. Lembrei-me das palavras de Santo Agostinho. – Factum audivimus, mysteria requiramus. (ouvimos o fato, busquemos o significado oculto). Pensei comigo: – Vivemos num mundo tão falso, que a verdade virou sinônimo de mentira. Procurei o Chefe Joe. Eu não iria calar. Contei para ele tudo que sabia. Seus olhos encheram-se de lágrimas. Insistiu para não comentar o acontecido. O escotismo é lindo e simplesmente maravilhoso e aceita tudo com remissão tudo que acontece em suas volta. Olhei para o Chefe Leo e vi um grande homem. Talvez um dos maiores escoteiros que tinha conhecido. Maior que o novo Distrital que em sua pequenez não era nada diante da sua insignificância.

                      Tudo na vida tem uma maneira de acontecer. Hoje o Chefe Leo e quantos são acusados sem serem culpados? Um aprendiz de distrital e um regional que se achavam dono da verdade. Uma Comissão de Ética feita para julgar e só servir aos poderosos. Naquela tarde dei nele um abraço. Apertado. Fiquei ali dizendo baixinho que o admirava mais que tudo. Disse a ele mais – Chefe Leo, homem de verdade é difícil de encontrar, o senhor para mim é um deles. Um dos poucos que conheci. Aceite meus parabéns e me tenha como seu amigo para sempre! E a vida continua nada muda, os homens são os mesmos para julgar!


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