Lendas
Escoteiras.
E um Príncipe
Inglês foi Escoteiro por um dia.
Prólogo: - Uma história
de Reis? De Príncipes e Escoteiros? Pode ser. Ele era um príncipe e tinha uma
grave doença. Sempre sonhara ser escoteiro e no seu país não podia. Acharam que
ele melhoraria com a mudança do clima. Verdade ou não o príncipe foi Escoteiro
por um dia. Para quem gosta de minhas histórias.
Ninguém piscava. A
lobada abobalhada. A escoteirada sem saber o que dizer. Afinal nunca tinham
visto um príncipe e ali estava um em carne e osso. Osso? Bem o menino era osso
só. Magro, raquítico e de olhos azuis. Para uma meninada abaianada com cabelos
negros e lábios grossos aquele menino parecia um anjo caído do céu. Kelámariana
não sabia o que dizer. Chefe Lontra caladão. Esperavam o Chefe Corvo que na
sede conversava com Manfred, o mordomo do rei. O menino de olhos azuis sorria e
não dizia nada. Dizer o que? Em “Ingreis”?
Se ele soubesse alguma coisa de baianes ainda vá lá. Finalmente o Chefe
Corvo apareceu, formou uma grande ferradura e explicou: - Lord Tim é filho do
Príncipe Leonard de Cavalliere e mora no Palácio de Drottningholm uma residência particular da Família Real Sueca, disse o Chefe Corvo. Saltimbanco
nosso Monitor olhou para mim. Vai ficar em Lua Prateada por alguns meses. Os
médicos dele disseram que aqui tem o melhor clima do mundo e ele pode sarar
logo de uma doença rara que tem!
O menino parecia seda. Branquelo, mas o que
todo mundo olhava eram seus olhos azuis. Enormes coisa do outro mundo todos
pensavam. Ali onde moravam não tinha ninguém de olho azul. Saltimbanco me
cutucou: - É coisa de Reis Juventino. Só eles têm olhos azuis. Todo mundo
queria saber qual patrulha ele iria ficar. Escolheram a Tigre. Bem lá só tinha
grandões e até fiquei com pena dele. Iria ser chacoalhado toda vez que chorasse
ou pedisse mamãe! – Chefe Corvo continuou - Este é Manfred, seu mordomo e
conselheiro do príncipe. Ele vai ficar aqui para olhar e ver se o príncipe
precisa de alguma coisa. - Olhei para Saltimbanco. Ele sorriu. - Mordomo? Coisa
de lorde rico eu disse rindo baixinho. Chefe Lontra tentava continuar a
reunião. Ninguém prestava atenção nele e nem na patrulha. Todos esperavam ver o
Príncipe Lord Tim cair no chão e quebrar como porcelana. Ainda não entendiam
que ele era de carne e osso. – Será que ele vai ao acampamento em Cachoeira da
Ema? – Sei não disse. Eles nunca iam deixar o príncipe ir lá.
No primeiro dia nada aconteceu.
A lobada de olho e a escoteirada torcendo para o ver cair no chão. Bizonte da
Patrulha Morcego deu nele um tranco no jogo do Palhaço Mamão. Ele deu um salto
no ar e caiu em pé. “Impossível” pensei. Não vi nenhum osso quebrar! Um dia ele
caiu do pé de abacate. Mais de seis metros e caiu em pé. Claro que foi Bizonte
o culpado. Deu para ele uma corda estragada e podre. Paciência, não dizem que
só se aprende a fazer fazendo? Aos poucos a escoteirada foi se acostumando com Lord
Tim. Magro sim, osso puro sim, mas era duro de roer. Que o Diga Micoestripa. No
jogo da briga de galo Micoestripa ria a valer. Vou mandar este Lord Ingrêis
prus estrageiros e ele nunca mais vai voltar aqui. Ninguém esperava, mas o Lord
saiu da asa esquerda dele e com sua direita bateu bem em cima da orelha de
Micoestripa. Ele caiu de rodela no chão. E não é que o danado do Lorde o ajudou
a levantar e deu a mão esquerda?
Bem a tropa agora já tinha certo
respeito. Não gostava do Mordomo com seu cavanhaque chapéu de coco e com cara
de defunto. Risos. Branco, vestido com um esquisito paletó, uma gravatinha borboleta
no pescoço e sapatos extramente bem engraxados. Nunca correu para acudir Lord
Tim. Para ser sincero um dia achei que ele tinha dado um sorriso no Quebra
Canela que o Chefe deu. O bastão abaixado por Moroalto e Bigode bateu a toda na
sua canela e ele deu um grito enorme de dor. Mas foi por pouco tempo, logo se
refez e falou baixinho com o Chefe Lontra. Que será que ele falou? Chefe Lontra
nada disse. Antes do encerramento deu a palavra ao Lorde. Ele nada falou.
Começou a fazer gestos, imitou os japoneses que ficam abaixando e levantando a
cabeça. Depois mostrou o aperto de mão Escoteiro. Depois deu a entender como
ser cortes e leal. Não falou uma palavra, mas quer saber? Ele deu uma
verdadeira aula à tropa sobre cortesia e lealdade.
O melhor mesmo foi
no acampamento em Cachoeira da Ema. Não é que o Lorde desafiou todo mundo para
um salto lá de cima da cachoeira? Mais de quinze metros. Eu olhei para
Saltimbanco e ele me olhou. Desafio feito desafio aceito. Ele pulou primeiro.
Parecia uma flecha no ar caindo com perfeição no remanso. Eu cai de barriga e
gemi por dois dias. Saltimbanco desistiu. Menino, nem te conto, o Lord Tim era
bom mesmo em pioneiras. Trabalhava com encaixe e os nós perfeitos. Nunca em
minha vida vi nós e amarras como ele dava. Foram quatro dias e eu aprendi a
gostar de Lord Tim. Era bamba em nós, cozinheiro de mão cheia e bamba em
pioneiras e nos deu muita orientação sobre tudo. Melhor mesmo foi quando
Mocreia o desafiou na Semáforas e ele transmitiu quase setenta letras em um
minuto. Todo mundo ficou boquiaberto.
Um dia ele começou
a tossir. Tossia sem parar. Notei um filete de sangue na sua boca. Que seria? Manfred
veio correndo o pegou no colo, colocou no carro e partiu. Ninguém ficou sabendo
de nada. Ah! Sim... A tarde um helicóptero pousou no campo do Esporte Clube
Barroso. Corri até lá, mas já havia levantado voou. Na reunião seguinte um silêncio
enorme na reunião. Olhei para Saltimbanco e ele me olhou. Falei baixinho –
Sabe! Uma saudade danada de Lord Tim. Ele balançou a cabeça concordando. Dois
meses depois três helicópteros pousaram em Lua Prateada. Nunca vi tanta gente
branca e magra. Tinha um com roupa de marinheiro cheio de medalhas. Depois
fiquei sabendo que era o Rei pai do lord Tim. Foram a sede e com um interprete
deixou uma mensagem. Vi que os olhos do príncipe estavam cheios de lágrimas. O
que o interprete disse todos já imaginavam. Lord Tim havia morrido. Deixou uma
mensagem para nós e como era bonita, Deus do céu:
Meus caros amigos
Escoteiros e lobos. Vocês não imaginam quanta felicidade eu tive quando estive
junto de vocês. Pela primeira vez ninguém se curvava ninguém fingia me
cumprimentar. Aqui no palácio todos sabem que tenho uma doença terminal. Todos
me dão carinho e amor, mas não como tive aí com vocês. Foi demais conviver com pessoas como os
Escoteiros e lobos de Lua Prateada. Nunca em minha vida fiz tantos amigos como
fiz aí com vocês. Aqui no palácio não tenho amigos e confesso que vivi em Lua
Prateada os melhores anos de minha vida. Eu sei que irei partir, pois o que
tenho não tem cura. Já aceitei meu destino e sei que vou partir para uma
estrela no céu. Queria ter me despedido de um a um, mas minha partida foi
brusca. Não duvidem, pois mesmo longe em me sinto muito perto de vocês. Muito
obrigado a todos pelos melhores anos de minha vida. Fiz questão de pedir ao meu
pai que presenteasse o grupo com tudo que ele precisava para acampar e brincar
nas reuniões. Logo um caminhão cheio de presentes chegará em sua cidade. Mas o
meu presente é especial – Um viva aos Escoteiros e lobos, um abraço apertado em
Saltimbanco e em Juventino (eu). Fiquem com Deus!
Ninguém dizia nada.
Um silencio enorme, gargantas secas. Olhos marejados de lágrimas. Era como o
poeta estivesse ali dizendo: Cada
pessoa que passa em nossa vida passa sozinha, é porque cada pessoa é única e
nenhuma substitui a outra! Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e
não nos deixa só porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é
a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se
encontram por acaso. Adeus Lord Tim. Você marcou para sempre todos que tiveram
a honra de apertar sua mão!
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