Lendas
Escoteiras.
Lamparina, um
Monitor inesquecível.
Era uma vez... - Todos
nós temos um Monitor para se orgulhar. Ele pode existir hoje ou pode estar lá
em um passado distante. Alguns a gente tem saudades imensas outros a gente
abraça e se orgulha em tê-lo por perto como amigo. São coisas que nós
Escoteiros temos e que poucos que não são podem ter um dia.
- Foram centenas de monitores. Os vi em muitas
atividades com suas patrulhas com tempo bom ou molhado. Lamparina foi um deles
que marcou. Ao fazer a passagem já era alto e forte. Nem sei como ficou até os
onze nos lobos. Foi direto para a Touro. Foi ele quem escolheu. Disse a todos que
um touro parecia com ele. Sempre olhando para frente e nunca desistindo de
nada. A Patrulha passou a ter por ele um enorme respeito. Maniento o Monitor tinha
dúvidas. Para surpresa quando ficou sabendo do acampamento disse a todos na
Patrulha: No Acampamento do fim do mês na Cachoeira dos Macacos quero construir
as pioneiras básicas do campo. Sozinho. Sozinho Monitor! Por favor!
- Quando Maniento
contou para Sorridente deram boas gargalhadas. Maniento não se fez de rogado.
Disse para Canela e Porteira, os responsáveis pelas pioneirias de campo que
iriam deixar Lamparina fazer o que queria. – Monitor! – Disse Porteira, mas ele
é um lobinho recém-chegado o que sabe de pioneirias? Deixa prá lá. Vamos ver o
que ele sabe. Vamos ver se é somente uma gabolice. Quem sabe podemos correr ao
pomar do Seu Tomeu e se deliciar com as goiabas e mexericas? Ficaram
boquiabertos na volta. Lamparina tinha construído uma bela Mesa Tripé, o toldo
estava esticado, havia bancos em volta para todos e dois lugares para
convidados. O Fogão suspenso e o lenheiro deixou Mosquito o cozinheiro
estupefato. Perfeito! E com lenha para dois dias! E as fossas de líquido e
detrito? Nunca viram iguais. As tampas abriam-se automaticamente. Tudo feito
com cipós! Quando Pé de Cabra foi procurar um matinho para suas necessidades
Lamparina gritou para ele: - Siga a seta! E não é que o ex-lobinho fez uma
privada perfeita? Passou a ser respeitado por todos. Era um perfeccionista. Seus
nós, amarras e costuras de arremate eram de dar inveja. Era bamba no uso do
cipó, com a machadinha e um facão. Outros escoteiros de patrulhas diferente
sempre o procuravam. Lamparina tornou-se perito em orientação, mapas e croquis.
Dominava com facilidade uma bússola Prismática ou a Silva. Em um acampamento
construiu um relógio de sól. Até o Chefe veio ver e aplaudir. Era de uma criatividade
incrível. O que fazia de artimanhas e engenhocas deixavam todos perplexos.
- Montserrat o Chefe da
tropa pensou vários dias o que fazer com ele. Em menos de um ano se fizesse a
jornada poderia sem duvida receber a Primeira Classe. Mas como? Ele não tinha
nem a segunda classe. Era um simples Escoteiro noviço. O tempo sempre ajuda. Lamparina
se tornou um herói na Tropa Escoteira Visconde de Mauá. Não era soberbo, nunca
foi. Humilde, simples e amigo de todos. Tinha uma enorme força e agilidade fora
sua inteligência. Quando Maniento passou para sênior ele assumiu a monitoria.
Um exemplo para os demais. Pé de Cabra, Canela e Porteira que tinham três anos
de patrulha e eram Primeira Classe não reclamaram. Era natural que Lamparina
assumisse. Em setembro a tropa recebeu um convite para um Curso de Monitores
que chamavam de Ponta de Flecha. Lamparina pensou em não ir. Achava que os
dirigentes do curso eram pomposos demais e muitas vezes ensinavam aos monitores
normas e cerimonias diferente do que fazia. Se pelo menos o Chefe Montserrat
estivesse presente tudo bem. Acabou
indo, não queria decepcionar os demais monitores. O Distrital ficou boquiaberto com Lamparina.
Praticamente era ele quem adestrava a todos com as técnicas, como fazer, como
ser amigo dos patrulheiros como liderar e ser liderado. Os chefes do curso não
saiam de perto dele.
- Ah! O meu amigo
Lamparina. Ficou até aos dezessete anos no Grupo Escoteiro. Um dia disse que
recebeu uma bolsa de estudo para uma faculdade na capital. Muito choro, muitas tristezas
muitos apertos de mão e ele partiu em uma tarde fria de fevereiro de 1958.
Todos sentiam sua falta. Foi o líder e a alma do grupo. Três anos longe de sua
cidade. Passando para pioneiro tinha saudades dele. Sempre lembrado em qualquer
atividade escoteira. Nos fogos de conselho fazia-se silêncio quando diziam o
nome dele. Era um mago, um palhaço lindo, um contador de histórias sem igual.
Dedilhava um violão com maestria e sabia cantar como ninguém. Quatro anos
depois voltou à cidade. Para ele era um volta a Gilwell revendo os amigos que tanto
amou. No bar do Tonhão, Maniento, Canela, Porteira, Mosquito, Sorridente eu e
Pé de Cabra nos reuníamos para ouvir suas historias da capital. Nunca o vi mal
uniformizado. Sempre um exemplo. Ainda me lembro dele com seu bastão totem,
correndo com sua Patrulha para os acampamentos, orgulhosos com suas mochilas e
suas bandeiras para descobrir novas florestas, campinas, vales e serras nas
montanhas que circundavam nossa cidade.
- Na última vez deu um
abraço apertado em todos. – Amigos agora ficará difícil minha volta aqui ao
grupo. Vou partir, uma proposta de trabalho na Suíça vai me tirar o sonho de
estar com vocês sempre. Vou deixar aqui meu coração, meu amor e minha amizade. Minha
mente vai, mas meu coração estará aqui com vocês. Olhei aquele jovem grandalhão
com lágrimas que caiam no chão sagrado de sua cidade. Eu não sei por que a razão a despedida nos dói tanto se nossas almas estão
ligadas. Talvez tenha sido e sempre serão. Talvez tenhamos vivido mil vidas
antes desta e em cada uma delas sempre nos encontramos. E talvez a cada vez
tenhamos sido forçados a nos separar pelos mesmos motivos. O adeus
triste e choroso sempre machuca a quem queremos bem. Nunca mais o vi. Nunca
mais o esqueci. Lamparina foi um Monitor que posso dizer que sempre admirei e
amei!
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