Lendas
Escoteiras.
As
Sete Pragas do Rio Mimoso.
Nota -
“Que as pulgas de mil camelos infestem o meio das pernas da pessoa que arruinar
seu dia, e que os braços dessa pessoa sejam curtos demais pra se coçar”... Assim
dizia Rabequita. Divirta-se com a história dela. Foi o Chefe Lépido quem me
contou. Não acredita? Reze para Rabequita não passar por sua cidade!
- Foi em Pocitos (Montevidéu) que encontrei
Marco Emílio Lépido. O chefe Lépido. Gente fina. Ficamos amigos em um Seminário
Internacional Escoteiro em São José na Costa Rica. Passaram quatro anos quando
nos vimos pela última vez. Abraços, sorrisos e entre uma cerveja e outra os “causos
ia acontecendo”. Lépido me disse que estava indo para a Cidade do Cabo na
África do Sul. Contou-me uma história inacreditável. A principio duvidei, mas o
escoteiro não tem uma só palavra? Olha Chefe estive o ano passado em Mimoso.
Cidade pequena menos de vinte mil habitantes. No Grupo Escoteiro da cidade fiz
muitos amigos. Após o término da Reunião diversos chefes e escoteiros sentados
embaixo de uma Copaíba me apresentaram a Samuel. Um escoteiro de seus treze
anos. Foi ele quem me contou da vida de Rabequita. Folclore da cidade. Moradora
no Morro da tristeza nunca ia para sua casa. Ela apoquentava todo mundo, falava
palavrões e todos corriam dela como o Diabo da Cruz. O Prefeito Bafodonça e o
Dr. Pasquelino Chifruido Gonzaga Juiz de Direito tentaram várias vezes interná-la
em um hospício.
O Delegado Praxedes já tinha
desistido. – Se amanhã ela morrer do seu enterro passo longe. As Damas dos Bons
costumes odiavam Rabequita. Só Samuel um Escoteiro da Patrulha Corvo era seu
amigo. Todo sábado pela manhã ele a levava a sua casa, lhe dava banho, roupas
limpas doadas por famílias escoteiras. Sua mãe com seus 85 anos sorria e apoiava.
Rabequita gostava de Samuel. Após o banho e um almoço a deixava dormir algumas
horas em sua cama. O Chefe Calango gostava da boa ação de Samuel. Em janeiro o
calor tomou conta da cidade. Nada de chuva e as Damas dos Bons costumes rezavam
para São Pedro e Até São Tomas que não sei se gostava de banho. A represa secava.
Os escoteiros levavam sua vidinha sempre acampando e correndo pelas encostas
com bandeiras ao vento. Rabequita dava gargalhadas com tudo aquilo. As Damas
ficavam tiriricas da vida. Reclamavam com o Vigário Dom Casmurro Sempinto. Ele reclamou
com o Bispo que reclamou com o prefeito e o Delegado que nunca fizeram nada com
Rabequita.
Dom Casmurro tinha ódio de Rabequita.
Ela só falava palavrões. Vá a m... Seu padre! – Dormia algumas noites no
chiqueiro do Zé Minhoca só para ficar fedida e rodopiar nas procissões.
Ludovico o novo Delegado meteu ela no xadrez. Achou que ia dar uma lição nesta
“Sapopemba dos infernos”. O cheiro que ela soltou na delegacia foi demais. Teve
que soltá-la. Samuel Escoteiro era quem resolvia. Sempre a procurava e ela lhe
obedecia. - Delegado, tenha paciência. - Não me enches a paciência menino, ela
não sabe com quem está lidando. Rabequita jogou uma praga e uma colmeia de
abelhas africanas invadiu a delegacia. O escrivão e dois soldados sumiram e
ninguém os viu por mais de dois meses. O Delegado Ludovico Prometeu chingava a
Deus e o mundo. À noite na procissão Rabequita gritou alto: - Querem chuva? Vou
lhes dar chuva! E ria. E gargalhava. Trovões ribombaram no céu. Um mundo de
água caiu sobre Rio Mimoso. O povo alegre dançava. Um dia, dois dias, três
quatro uma semana. A chuva não parava. A ponte desabou. Rabequita dançava na
chuva.
A Tropa Escoteira pensou em cancelar o
acampamento anual nas Pedras Lisas. Era o acampamento do ano. – Chefe disse
Samuel, não cancele dê-me dois dias. Vou resolver. Foi atrás de Rabequita. Ela
lhe deu a mão pensando que era hora do banho. Samuel falou baixinho no seu
ouvido – Rabequita, se a chuva não parar não poderemos acampar! O delegado na
janela ameaçou: - Se esta feiticeira acha que vai rir de mim está enganada. Pediu
um rabecão em Mar das Vertentes e internou a doida no Hospício de Esperança
Feliz. Levaram Rabequita a noite. Ninguém viu. Foi à conta. Em Rio Mimoso agora
só noite. O dia não amanhecia. Uma semana e nada. A cidade em polvorosa. O
Delegado Prometeu cismado. Cacilda! A fedida tem parte com o Demônio? Mandou
trazê-la de volta. Ela o olhou e disse: - A próxima vez você vai virar um
macaco prego comedor de fezes dos pássaros. Irá morrer de tanto comer banana! O
dia clareou para alegria de todos. O Prefeito Bafodonça o juiz e o delegado reuniram
a fina flor da sociedade local. O que fazer?
Chamaram o Escoteiro
Samuel. Quem sabe podia aconselhar. Querem resolver? Disse ele arrume uma
casinha boa perto do Cemitério do Paletó Preto. A cada dez dias mande o Senhor
Marombático do Supermercado Preço Alto entregar uma cesta de mantimentos. Não
esqueçam duas caixas de charutos cubanos importados. Igual aos que o
Ex-Presidente/Presidiário Lula fuma. Ele é caríssimo! - Disse o Prefeito.
Durante cinco meses a paz voltou a reinar na cidade. Um dia Marombatico não
cumpriu o prometido. O inferno voltou. Milhares de pássaros, cobras e macacos
encheram as ruas e quintais. Samuel naquele sábado levou Rabequita para seu
banho. Ela disse que ia embora. Antes deixaria a cidade feder por um ano. Samuel
não gostou. No domingo o mau cheiro começou lá para os lados da sede do Perneta
Footboll Club. A cidade em peso de mascaras. Janelas fechadas. O ar viciado. Samuel intercedeu de novo. O cheiro
desapareceu. Rabequita pediu um carro novo. Zero quilômetro. Samuel a cidade me
deve muito! O Prefeito Bafodonça explodiu! Nunca andou nem de bicicleta e agora
quer um carro? A catinga piorou.
O Carro foi entregue. Um Honda
Civic vermelho lindo de morrer. As Damas dos Bons Costumes cuspiam de ódio.
Resolveram botar fogo na casa de Rabequita. A casa não pegava fogo. Quando
retornavam viram enormes chamas em suas casas. Meu Deus! É um demônio não é uma
mulher! Bem a história termina aqui.
Samuel me disse que Rabequita cansou da cidade de Rio Mimoso. Mudou-se para a
cidade de Boina Verde. Dizem que um foguetório enorme se ouviu. Olhei para o
amigo Lépido. – Tu és bom para inventar! E dei boas risadas. Tomamos mais umas
duas cervejas Westmalle por sugestão do garçom. Despedimo-nos e cada um foi
para o seu lado. Um quarteirão antes do hotel que estava hospedado vi uma
mulher desgrenhada, suja um mau cheiro horrível e chegou perto de mim e disse –
Me paga uma cachaça filho da mãe! Paguei. Sei lá se era a Rabequita. Montevidéu
não tem disto, mas não se pode acender uma alma a Deus e ao Diabo ao mesmo
tempo! E viva Samuel Escoteiro, sem ele seria um inferno... Ou será que era
isso mesmo?
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