Lendas
pioneiras.
Lago do
Enforcado – Onde moram os Pioneiros Fantasmas.
- Esta é uma história
de ficção. Mas não posso dizer que não existiu. Aconteceu há muitos anos. Ao
meu modo contei para todos que me conheceram. Não sei os resultados, pois nunca
mais falei com Max e Virgínia apesar de que me disseram que eram meus guias,
meus gurus, meus anjos da guarda!
Estava bivacando em
volta do Lago do Enforcado há dois dias. Eu e mais cinco pioneiros. Normal
naquela época. Com as bicicletas nas costas subíamos uma trilha até o outro
lado, pois nos disseram que precisaríamos seis dias para dar a volta em todo o
lago e tentar achar o local certo. Nunca tinha ouvido falar neste lago, foi Zé
Tostão quem comentou. Zé Tostão era padeiro e dos bons, seus pães vendia-se que
nem amor de moça bonita. Não era pioneiro e nunca foi Escoteiro, mas o danado
sabia de coisas que nem podíamos imaginar. Foi ele que nos contou da Caverna do
Cachorro Louco, da Curva da Cascavel que dizem matou mais de oitenta homens da
Bandeira de Fernão dias Pais. – Zé porque não participa conosco? - Não posso
Vado Escoteiro. Um dia você vai conhecer meu pai. Está louco varrido – Vive
gritando e sabe, tem hora que dá vontade de interná-lo. Não o fiz porque sei
que vai morrer em uma semana se for para Barbacena (cidade que ficou celebre
com seu manicômio).
Foi meu pai quem me
contou sobre o Lago do Enforcado. Ele diz que fala com os mortos e eu acredito.
Disse para mim rindo e gritando que lá tem um Clã Pioneiro do Além. Ele nem sabia
o que era Clã por isto acreditei. Ele contou-me de Max e Virginia, dois
pioneiros de Cidade do Sol Nascente que eram namorados desde criança. Ao saírem
da reunião do Clã seu fusquinha foi atropelado por uma jamanta. Morreram os
dois na hora. Isto foi há muitos anos, poucas pessoas ficaram sabendo. Meu pai
disse que eles amavam o pioneirismo e resolveram montar um Clã Pioneiro para
ajudar as almas desencarnadas que um dia foram Escoteiros ou Pioneiros. Porque
lá no Lago dos Enforcados eu não sei. Era uma história e como toda história
precisava de averiguação. A equipe que estava comigo era experiente e todos
tinham “larga moita de tempo” no escotismo. O medo ali era pouco e a vontade de
conhecer e desvendar a “querelança” era maior que tudo.
Encontramos um belo lugar para pernoitar.
Seriam seis noites e uma em cada lugar. Achávamos que só assim poderíamos ter a
visita dos dois pioneiros Fantasmas e porque não trocar uma ideia com eles?
Aprender a fazer fazendo se aplica também a nós pioneiros. As primeiras quatro
noites nada aconteceu. Esqueci-me de dizer que fora uma enorme sucuri que
passou pelo campo sem notarmos não vimos mais nada de anormal. Lembrei-me do
Chefe Montanha que na maior cara de pau contou que acampou com monitores a
beira do rio Corrente e a noite, viram um enorme tronco proximo à barraca
deles. Resolveram aproveitar para servir de banco, e fizeram uma ótima Conversa
ao Pé do Fogo e só pararam quando sentiram que o tronco se mexia e escorregava para
frente. Assustados e com seus lampiões a querosene “lumiando” à frente, deram
de cara com uma enorme Sucuri. Garantiu-me que tinha mais de trinta metros. A
gente acredita fazer o que?
Naquela penúltima noite
eu perdi o sono. Os outros foram dormir. Eram duas barracas de duas lonas e era
apertado dormir três em cada uma. O ar estava agradável. Um vento sul soprava
calmamente vindo da mata a sudoeste do lago. As aguas mansas e calmas estavam
paradas. Ao longe vi uma bruma cinzenta se aproximando, o engraçado é que a
bruma tinha formato de um Gavião. Ela parou bem proximo a mim. Do meio dela
surgiram dois pioneiros. Uma pioneira e Um pioneiro. Pensei com meus botões
devem ser Max e Virginia. Ambos eram altos, muitos simpáticos para não dizer
que Virginia era linda. Seus Cabelos negros esvoaçantes com o vento que soprava
lhe davam um aspecto de uma bela mulher. Ambos bem uniformizados. Até no além
eu vi que havia garbo e boa ordem. Sorriram para mim e educadamente fizeram a
saudação escoteira me dando um Servir vibrante. Graças a Deus que não disseram
SAPS! Arre!
Podemos sentar?
Disseram. – Claro disse eu. – Posso chamar meus amigos pioneiros que estão
dormindo? Viemos aqui para conhecê-los. Eles sorriram e acharam melhor não. Que
eu não me preocupasse. Todos estavam sonhando com aquele momento e o Mestre Pioneiro
deles o Chefe Arcanjo os levava onde está nossa sede. Ele vai mostrar como é e
como funcionamos, Fiquei calado. Eu sonhava? Max riu e disse que não. - Pode
beliscar para ver! Acreditei. Pioneiro não mente nem brincando. - Vado
Escoteiro, venha conosco disseram. Todos os outros irão dormindo, mas queremos
você acordado. Queremos se você aceitar ser o nosso porta voz, e contar a todos
os Clãs do mundo que existimos, e como ajudamos a eles em todas as atividades.
Se você assim o fizer seremos eternamente gratos. Recusar? Nunca! Fui com eles.
Eu levitava acima do lago como uma flor levada pelo vento. Um enorme Arco Iris
apareceu. À noite? Isto mesmo, à noite. Iluminava uma linda estrada que nos
levou até perto do céu. Milhares de pioneiros iam e vinham como formigas a
buscar algo a fazer.
Tudo aqui é bem
organizado chefe. Disse Virginia. Era uma moça encantadora. Uma voz meiga e um
olhar doce de alguém que sabia amar seu semelhante como se ama Nosso ser
Supremo. São mais de duzentos clãs
divididos em 20 pioneiros cada. O trabalho de ajuda ao próximo é incessante.
Damos preferencia aos que pertenceram ao Movimento Escoteiro. Quando eles sobem
aos céus precisam de ajuda. Muitos têm parentes e amigos que estão ali tentando
fazer o mesmo. Quando dizemos Servir, ou Sempre Alerta eles sempre dão um
sorriso. Se quiserem morar com os familiares tem livre arbítrio se não temos
barracas para eles ou podem dormir em nossa caverna. Já tivemos muito trabalho
para ajudar aqueles que não querem ser ajudados. Eles não sabem que não estão
mais na terra e não querem perder o vínculo.
Fiquei maravilhado com
o trabalho. Levaram-me a dezenas de reuniões de Clãs. Todas elas voltadas para
a ajuda ao próximo. Ali o lema Servir tinha grande significação. Participei de
varias cerimônias de bandeira. Eles têm um sistema único. Cada um vê sua
própria bandeira e canta seu próprio hino. Levaram-me a vários saraus e fiquei
maravilhado. Um deles fez questão de cantar para mim a Canção do Clã. Chorei.
Belo demais. Voltamos e pensei ter ficado lá muitos dias, na verdade foram
menos de quinze minutos. Coisas do além. Eles se despediram e me disseram que
seriam meu guia para sempre. Estariam sempre junto a mim. – Chefe Vado, todos
do movimento tem um guia. São os anjos da guarda. Conte para todos o que viu.
Não irão acreditar é claro, mas ficará na dúvida. E esta dúvida é que a
abertura da verdade, do viver pioneiro e como ele poderá prosseguir. Servir Chefe,
e se foram para sempre!
Nenhum comentário:
Postar um comentário