Lendas
Escoteiras.
“Gigante”.
... - “Aquilo que você
faz, fala mais alto do que aquilo que você diz”. O que você plantar hoje
certamente colherá amanhã. Já um disse um sábio: “Plante uma ação e você
colherá um hábito. Cultive o hábito e você desenvolverá um caráter!”. Gigante
não era anão, não era famoso, mas fez da tropa de Rio Vermelho a melhor de todo
o estado. Não acreditam? Leiam a história e depois me digam.
“Gigante”? Nunca... Não passava
de um quase anão. Bem era um pouco maior, mas todos olhavam para ele como se
ele fosse um anão. Laredo da Paz vivia sorrindo. Sua face, sua maneira era de
um pequeno grande homem que nunca fez ou desejou mal a ninguém. Sua mãe morreu do
parto e seu pai quando o viu sumiu de Morro Vermelho. Afinal que iria querer
cuidar de um menino que nasceu assim? Coitado. Nasceu com síndrome de Down e
isto afugentou boa parte da população do seu convívio que desconhecia esta
característica e achou que era uma aberração da natureza. Nem sabiam que elas apresentam
personalidades e características diferentes e únicas. Quem ia dizer para elas
que Síndrome de Down se bem cuidada pode alcançar excelentes capacidades
pessoais de desenvolvimento, de realização e autonomia. São entes que são
capazes de sentir, amar, aprender, divertir e trabalhar. Iria aprender
facilmente a ler e escrever e pode tranquilamente levar uma vida autônoma. Quem
conhecia sabia que qualquer um com essa anomalia pode ser sombra de duvida ocupar
seu lugar na sociedade.
Mas quem em Morro Vermelho sabia disto
naquela época? Sua Avó já quase cega o levou para casa. Cuidou, deu carinho
amor e tudo que ela podia dar com os parcos salários que recebia de
aposentadoria. Laredo cresceu como um excluído, exilado ou um Pariá que ninguém
queria se aproximar. Aos quinze anos viram que ele não era um perigo para a
sociedade. Mesmo excluído de amigos da sua idade ele sorria, nunca fez nenhum
mal a ninguém. Era aquele que senta lá atrás na sala de aula e nunca reclamou.
Aos vinte anos sua Avó faleceu. Ficou só e não sabia como sobreviver. Tentou de
tudo, mas não teve oportunidade. Foi Dona Ana que acreditou e o levou para
ajudante em sua vendinha na esquina da Rua do Contador. Recebia uma migalha,
mas não reclamava. Os “fregueses” gostavam dele. Educado prestativo e sempre
com um sorriso seu atendimento era o melhor que podiam encontrar.
Substantivo e Adverbio
monitor e Submonitor da Patrulha Garça discutiam o futuro da patrulha e da
Tropa. Chefe Corel ficou muito doente. Diziam que era câncer e que em breve ele
iria “bater as botas”. Poucos gostavam dele. Prepotente, se julgava o melhor e dizendo
que deviam seguir seu exemplo. Pelo sim pelo não a Tropa não chorou sua partida
para tratar na capital. Sem Chefe a Corte de Honra se reunia todas as semanas
atrás de uma solução. Seu Domingos presidente disse que sem Chefe não poderiam
ficar. Melhor fechar a tropa. A Alcatéia fechou há tempos por falta de chefes.
Parecia uma maldição em vez de uma graça para alguém ser voluntário na formação
de jovens. Por quê? Bem o escotismo desde sua fundação pelo Sargento Cacildo
nunca foi bem visto. Uma história que ninguém queria contar.
Substantivo andava pela
cidade chorando e pedindo a Deus que os ajudasse. Sentou em uma calçada e
começou a passar mal. Filho de imigrantes Japoneses nunca foi aceito pelos
matutos de Morro Vermelho – Dizem que são “camicases”, dizia Bonfá o barbeiro. Ninguém
nem sabia o que era camicase. Gigante o viu passando mal. O pegou no colo e
levou para sua casa. Deu-lhe um refresco de groselha, lavou sua testa com agua
fria e a respiração de Substantivo voltou ao normal. Era apenas uma insolação e
a água fresca e sombra foi um perfeito remédio. Surgiu daí uma grande amizade.
Substantivo pensou: - Porque ele não poderia ser nosso Chefe? Levou a ideia
para a patrulha e a Tropa. Todos se espantaram. - Ele? Não dizem que é irmão do
capeta? Disse Parafuso. Pelo sim pelo não aceitaram a visita de Gigante em um
sábado para conhecerem melhor.
No dia 16 de maio de 1956 ele foi empossado
como Chefe da Tropa. Como? Não sei. Seu Domingos presidente nem ligava mais
para o Grupo que só tinha um Chefe de Tropa com uma doença incurável. - Quem se
importa? Pensou. Seis meses depois se apresentou um Chefe impoluto com banca de
chefão um homem que se chamava Zé Boquinha e era representante do Escotismo
nacional. – Ele não pode ficar! Não tem curso, nem ler sabe e é um doente, uma
aberração da natureza! Gigante no alto da sua humildade disse que sabia ler e
escrever e ser irmão e amigo de todos nunca uma aberração. Sabia matemática,
português, e estava aprendendo filosofia. O Chefe da capital riu. – Não quero
saber. Fora daqui! Enfrentou a ira de 30 escoteiros com seus bastões prontos
para agredi-lo. Saiu correndo e nunca mais voltou. A cidade riu quando soube de
tudo. Orgulhou-se dos seus meninos e bateu palmas para Gigante que não levantou
uma mão para agredir ou machucar alguém.
Passaram quinze anos.
Muitos dos meninos daquela Tropa viraram homens feitos. Alguns foram embora
para tentar uma faculdade, outros arrumaram emprego e até mesmo Zé Dedão um
antigo cozinheiro se casou e se tornou um grande industrial da cidade. Mosca
Branca o intendente dos Touros se formou “Devogado” e voltou juiz de direito.
Morro Vermelho hoje se sente orgulhosa com seus mais de 140 escoteiros e
lobinhos. Na escola quando da matrícula perguntam: - É Escoteiro? Nada contra,
qualquer um pode entrar sendo Escoteiro ou não, mas os escoteiros sorriam mais,
eram corteses educados e bons estudantes.
O melhor mesmo é Gigante. Tirou o segundo grau, e não quis continuar
estudando. Deu sua vida pelo Grupo Escoteiro. Era seu amor sua paixão. A
meninada adorava seu Chefe. Hoje tem muitos oriundos daquela época, mas Gigante
nunca quis ser o chefão do grupo. Boticário o Monitor mais antigo assumiu a
chefia do Grupo. Não faz nada sem primeiro consultar Gigante.
Pelo sim pelo não tudo
deu certo para Gigante. O Grupo nunca se registrou. Tentaram processos de todos
os tipos para fechá-lo. Mosca Branca agora Juiz ria e dizia – Que eles se
preparem para uma boa luta de Scalp! Gigante continua na vendinha de Dona Ana. São
sócios. Dona Ana quase não aparece. A vendinha cresceu e ele foi aconselhado a
construir um Super Mercado. – Eu? Nunca meus amigos. Sou feliz assim e porque
mudar? Gigante descobriu o caminho da felicidade. Dizem que se Baden-Powell
olhasse na terra sua criação, ficaria orgulho do Grupo Escoteiro de Morro
Vermelho. “Mais ainda de Gigante, um Chefe que não precisou ser dono da
verdade, prepotente ou mesmo o líder que muitos esperam e que foi amado e
idolatrado pelos escoteiros que tiveram Gigante como seu Chefe.
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