Os Contos da noite.
Ruth.
Fim da reunião. Melhor possível, Sempre Alerta e todos se foram para
suas casas. Dei uma ultima olhada no pátio da sede onde aconteceu a reunião e
não vi ninguém. Como Chefe do Grupo era a minha função olhar não só o campo,
mas trancar portas e janelas da sede. Foi uma reunião normal, entreguei lenços
de promessa e um certificado de curso ao Chefe Tadeu, que nos motivava com seu
sorriso e sua alegria. Foi na saleta que para surpresa encontrei Ruth uma guia
da Tropa Sênior sentada em uma cadeira e chorando. – Não era normal. Ela era
uma guia das antigas, Lobinha e Escoteira com louvor. Fiquei preocupado. Não
sabia o que dizer. Ela me olhou com os olhos rasos d’água. – Chefe, não dá
mais. Não consigo pensar viver sem ele, mas com ele nem sei se poderei viver. –
Pensei comigo: - O amor é a única loucura de um sábio e a única sabedoria de um
tolo.
–
Quem seria ele? Algum Sênior? Acho que não. Ela era séria demais para esconder
um namoro com tal emotividade. - O que dizer para ela? Eu sabia que para os
erros, há perdão. Para os fracassos chance. Para os
amores impossíveis, tempo. Olhei nos seus olhos negros e continuei calado. Nem sempre
temos as palavras certas para dizer. –
Ela se levantou me pediu desculpas me disse Sempre Alerta e vi que iria partir.
Precisava dizer alguma coisa para ela, afinal era o Chefe do Grupo e devia ter
noções de como apaziguar um coração de uma escoteira. Mas o que dizer? Que não
deixasse que a saudade a sufoque, que a rotina acomode e que o medo lhe impeça
de tentar? Eu não era um sábio e como aconselhador não fui da turma da primeira
classe. Eu sabia que nunca tinha certeza de nada. A minha sabedoria sempre
começava e terminava com dúvida.
- Pensei em lhe dar um
abraço. Sabia que tem palavras que chegam com um abraço... E tem abraços que
não precisam de palavras. Não fiz nada disto. Vi que ela estava indecisa esperando
uma palavra minha ou um aconselhamento meu. Balançou a cabeça e partiu com o
coração em prantos. Eu fiquei ali ruminando e a chamei sem esperança. Ainda não
sabia o que dizer. Ela olhou para traz. – Ruth lute pelo que acredita, se nada
mudar, invente, e quando mudar entenda. Se ficar difícil não desista, e quando
ficar fácil agradeça. Se a tristeza rondar, alegre-se, e quando ficar alegre,
contagie. E quando recomeçar acredite você pode tudo. Seria esse meu conselho
para ela?
- Ela sorriu tristonha e
nada disse. No portão da sede parou. Vi que pensou em voltar, mas seguiu seu
caminho sem olhar para trás. Sabia que tinha de dizer minhas últimas palavras.
Minha função minha obrigação. Falei alto para ela ouvir: - Ruth, tudo é
possível pelo amor e pela fé que você tem em Deus! – Ela me ouviu e balançou os
ombros. Virou a rua da sede me acenando como a dizer que não era seu último
adeus...
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