Histórias ao redor da fogueira.
A lenda dos amores perdidos.
... - Ah! Poetas, como eles são perfeitos em
descrever os grandes amores e as grandes decepções. Dizem eles que só há uma força capaz de tentar matar o amor: a morte –
que nos separa das pessoas que amamos. Entretanto, há uma única força capaz de
sobreviver à morte... É o amor – porque o fato de nos separarmos de quem amamos
não nos impede de continuar a amá-los. O amor sobrevive à morte porque
continuamos amando a pessoa que morreu. E, no nosso amor, ela continua a viver
para sempre. Que Deus nos ajude a honrarmos a sua memória.
Seu coração reclamava. Estava enlouquecendo e ninguém podia ajudar. Sabia que
se continuasse assim perderia tudo, seu emprego, sua família e seus amigos.
Quem ousava aproximar ele gritava, dizia coisas absurdas, renegava a Deus,
renegava ao diabo nada para ele servia. Pensou em morrer e até hoje não soube
por que não o fez - Meu Deus! O que fizeste comigo? Eu merecia? Nunca fiz mal a
ninguém, ajudei a quem precisava e quando ela chegou minha vida mudou. - E
porque você a levou? Com que direito? Nunca tive um amor como foi com ela. Transformei-a
em minha princesa. Amei-a desde o primeiro dia em que a vi. Deixei amigos,
deixei tudo para ficar com ela e você me tira a minha razão de viver? - Ele não
se conformava, era como uma faca cravada em seu coração. Sangrava, machucava,
agora não chorava mais. Não adiantava. Para que chorar?
Ele a conheceu em domingo de sol. Sorridente conduzia uma turma de guris. Todos
sorrindo e cantando. Quando ela o olhou com aqueles olhos azuis, ele viu que
era a mulher da sua vida. Iria dar a ela o que quisesse. Tudo para fazê-la
feliz por toda a vida. Parado ficou olhando até vê-la sumir na curva da Praça
Real. Não se deu por vencido. Seguiu-a. Encontrou-a brincando com seus meninos
de azul da cor de seus olhos. Não sabia o que falar. Enquanto brincavam,
cantavam diziam Lobo, Lobo não tirava os olhos dela. Pensou em entrar naquele
pátio e se declarar, mas sabia que faria papel de bobo. Viu que eram
Escoteiros. Ele nunca foi e nunca teve vontade de ser. Esperou pacientemente
tudo terminar e ela sair. Não ia perder aquela oportunidade. Quando ela abriu a
porta do carro ele chegou e se apresentou. Ela sorriu e disse baixinho: - Sou
Clarisse Chefe de Lobinhos.
Entrou no carro e partiu. Esqueceu-se
de pedir seu telefone, se apresentar ou saber onde morava. Esperou sonhando por
uma semana até o sábado seguinte. Montou campana na porta da sede. Ele não
percebeu quando ela entrou. Os meninos de azuis ovacionaram-na e ela sorrindo
gritou: - Lobo! Lobo! Lobo! Viu que eles a adoravam. Chamavam-na de Akelá.
Desta vez não ia deixar a oportunidade passar. Entrou, foi até o circulo e
olhando para ela que espantada não entendeu o que ele queria, Falou alto para
todos ouvirem: - - Clarisse, eu estou apaixonado por você! Ela surpreendida
viu seus lobos sorrirem: - Clarisse, nunca a vi e agora não quero perder você!
Quer ser minha namorada? – Os lobos caíram na gargalhada. Uma palma esquisita
ele ouviu. Ela sorria e que sorriso. – Moço, podemos conversar mais tarde? –
Não moça eu quero sua resposta. Por ela saberei se vou viver ou morrer.
Clarisse espantada não sabia o que dizer. – Olhe, podemos tomar um café juntos
quando a reunião terminar?
Foi assim que surgiu o grande amor de sua vida. Ele a cortejava como um
cavalheiro a moda antiga e ela passou a gostar dele também. Sentiu que ele
seria sua voz, sua maneira de ser, sua estrela que ela tanto esperou.
Casaram-se três meses depois. Ele não era rico, mas trabalhou com afinco para
fazer seu novo lar agradável. Ela enfermeira em um grande hospital não tinha
hora para chegar. Isto não o entristeceu. Fazia o almoço, o jantar, chegou a
lavar roupa e passar. Ele jurou a sí mesmo que a faria feliz para sempre. Ela
ficou grávida. – Vamos ter um filho! Incrível! Ele ia ser pai! Ele pediu a ela
que diminuísse suas atividades nos Escoteiros, mas ela sorria e dizia: - Não me
peça isto meu amor, antes de você era minha filosofia de vida. – Ela o convidou várias vezes para ser um
escoteiro. Quem sabe com ela na Alcateia. Nunca aceitou. Não sabia o porquê.
Foi em um sábado chuvoso, que ela lhe disse que iria acantonar. – Vem comigo! Não
fará nada! Basta ficar ao meu lado! - Ele agradeceu e não foi. Tentou fazê-la
desistir. – Clarisse, faltam poucas semanas para Isabel nascer! Você não pode
adiar? Não adiantou. Ela foi. Às duas da manhã foi avisado do aborto. Tropeçou
em uma vala para socorrer um lobinho. Ele gritou de medo. Correu para o
hospital. Ela estava morta. Ele sabia que estava morto também. Morria ali sua
vida. Pensou que era o homem mais feliz do mundo. Não era mais. Sua filha um
tiquitito de nada foi salva e ele a renegou. Sua vida não tinha mais valor.
Chorou quando ela foi colocada no jazigo, chorou quando viu dezenas de
Escoteiros cantando dizendo que não era mais que um até logo. Chorou e os
maldisse para sempre. Malditos, vocês tiraram Clarisse de mim.
O tempo passou. Um dia Isabel sorriu para ele. Era o sorriso dela. Ele tentou
sorrir e não conseguiu. Aos poucos ele saia com Isabel a passear. Brincava na
gangorra, corria entre flores no jardim do parque, e amava quando ela sorria
vendo as borboletas voando quando ela as espantava. Um ano, dois e quando Isabel
com sete anos pediu para ser Lobinha, seu mundo desabou. De novo? Não posso
perder mais um. Não ele disse. Mas dormiu e sonhou com ela. Clarisse sorria para ele e viu
ao seu lado Isabel com o uniforme de lobo.
No sábado a levou até o grupo. Todos sabiam quem ele era. Tiveram receio
que ele pudesse desabar e maldizer a todos os culpando novamente pela morte de
Clarisse. Ele sentou na escada da biblioteca e viu a alegria estampada em Isabel.
Chorou. Lágrimas caíram. Sentiu uma mão em seu ombro. Olhou e não viu ninguém.
Disse para sí mesmo: - Se ela estava feliz porque ele também não poderia estar?
Conversou com o chefão, entrou, e hoje tem os lobinhos em seu coração... Ao
lado dela e de Nestor! Nunca esqueceu Clarisse. Hoje ele sabe que o escotismo
lhe trouxe de volta seu grande amor e uma filha que ele dedicaria seu amor pelo
tempo que Deus quiser.
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