Lendas
Escoteiras.
A saga do
Chefe Antonio Lazedo.
Não sei se poderia dizer
que foi uma saga. Mas como sofreu o meu amigo Antonio Lazedo. Desde pequeno que
fazia tudo para ser feliz e sua felicidade só era alcançada se fizesse os outros
felizes. Nunca negou um pedido de ajuda. Dava o que não tinha para os que
precisavam dele. Um dia na alcatéia ele tirou o uniforme, ficou só de short e
presenteou o Théo que começa na Alcateia. Mãe humilde, lavadeira, disse ao
Chefe que não podia pagar mensalidade e nem comprar uniforme. Antonio Lazedo
soube. Na ferradura tomou a decisão de ajudar a quem precisa. Chamou o Théo num
canto da sede e o presenteou. Foi bom, pois assim a Alcateia se cotizaram para
comprar um novo uniforme ao Théo. Pensando bem não sei como ele era assim. Seu
pai era dono da Padaria Bom Pastor, um português mão de vaca e sua mãe era
professora na Escola do Tobias. Nunca deu um dez aos seus alunos.
Quantas vezes o colocaram
de castigo? Quantas vezes levou chineladas nas pernas só porque queria fazer o
bem? Mas Antonio Lazedo nunca mudou seu modo de pensar. Quando tinha cinco anos
pegou o radio a pilha da cozinha e deu para o Tião Panturrilha seu amigo que
morava em um casebre proximo a casa dele. Foi um Deus nos acuda. Seus pais
chamaram o Tião de Ladrão. Veio o cabo Onofre e não quis prender o Tião. – Mas
seu Joaquim, o menino tem cinco anos! Como posso prendê-lo e sua mãe é
lavadeira! Antonio Lazedo um dia resolveu ser lobinho. Pediu para entrar e
disseram não. – Mãe! Pai! Prometo mudar se me deixarem entrar! Não adianto.
Para ele parar de chorar foi um Deus nos acuda. Em principio eles até pensaram
em não recusar, mas conhecendo como o conheciam sabia que iria aprontar. Antonio
Lazedo tanto chorou tanto implorou que venceu seus pais pelo cansaço. Aprendeu
uma canção com um lobinho amigo e dia e noite ele cantava. No almoço, no
jantar, na escola no recreio em todos os lugares. - ¶ Minha mãe vou lhe pedir,
e não quero aborrecer, para ser um homem forte um Escoteiro quero ser! –
Demais, ouvir aquilo todo o tempo e castigá-lo não adiantavam mais.
Entrou para a Alcateia e
acalmou sua sede de presentear todo mundo. No primeiro acantonamento pegou boa
parte da intendência, na maioria carnes e linguiças, colocou em uma sacola e
escondido saiu do sítio onde estava e levou até um casebre proximo. Dona Naná
sorriu de contente. A Akelá Norminha não sabia o que fazer. Naquela tarde
comeram arroz com farinha e olhe que a lobada adorou. Houve outras, muitas, mas
enfim ele foi para o Escoteiro. A Patrulha Búfalo ficou cismada. No primeiro
acampamento Antonio Lazedo sumiu. Todos em polvorosa. Onde foi? Ninguém sabia.
Quantos apitos, quantos sinais de fumaça encheu os seus onde acampavam, nas
montanhas tinha postos de semáforas e Morse. Lá pelas tantas da tarde ele
chegou. Sujo roupas em pandarecos. O que houve? Perguntou o Chefe Nonato. –
Estava ajudando seu Naor a construir seu barraco que a chuva destruiu. E assim
foi. Sempre aprontando com suas boas ações. Boas? Não sei não. Ele fazia tudo
para ajudar, tirava sua roupa e presenteava um mendigo na rua, almoçava pouco e
as sobras do dia ele corria para distribuir aos meninos pedintes nos semáforos.
Bem sua patrulha não podia
reclamar de suas boas ações. O Chefe até o colocou como "hors
concours" nas competições que fazia. Tinha-se uma coisa
que Antonio Lazedo fazia questão era do seu estudo. Ele um dia disse para si
próprio que seria um médico. Iria ajudar todo mundo sem cobrar. O tempo foi
passando. Nos seniores ele achou que estava apaixonado pela Danielle. Ela ria
dele sempre. – Antonio aqui somos amigos, eu amo o Jovi e vou me casar com ele.
Antonio sofreu muito e resolveu abandonar os seniores. Ficar ao lado dela sem
ser correspondido ele sabia que não iria aguentar. Esta paixão não
correspondida até que valeu a pena. Ele pensava na sua tristeza e esqueceu a
tristeza dos outros.
Aos vinte e
quatro anos Antonio Lazedo se formou em medicina como Clinico Geral. Diziam que
ele foi o primeiro da turma e logo correu para montar seu consultório. Vivia
cheio. Sua paga era galinhas, patos, porquinhos e até cabritos eram amarrados
na porta da morada dele. Claro ele não cobrava um tostão. Amigos Escoteiros o
procuraram – Como vai viver Antonio? – Ele ria. – Querem saber como estou vivendo?
Uns me dão um franguinho, já ganhei um saco de feijão e um de farinha. Quero
mais para que? Começou a ficar famoso. Repórteres acorreram para entrevista.
Foi filmado por redes de TV e ele se chateou com isto. Não era homem de
salamaleque. Fazia questão de ajudar sem se mostrar. Um dia sumiu da cidade.
Seu consultório estava vazio. Morreu? Pensaram. A policia abriu, pois ele
morava sozinho e seus pais já tinham falecido. Encontraram um recorte de jornal
que contava a história dos Médicos sem Fronteira.
Um dia seus
amigos levaram o maior susto. Viram na TV Rádio e jornais que ele tinha sido
indicado ao prémio Nobel. Dentre muitos médicos famosos ele foi escolhido. Mas
logo em seguida apareceu outra notícia desta vez cruel. Ele aparecia sorrindo
de joelhos com um terrorista encapuzado, com uma faca dizendo que ele seria
decapitado. Eram terroristas do Estado Islâmico já conhecidos da população
mundial. Ele sorria, não parecia estar preocupado com seu futuro. Foi decapitado.
Sua história foi contada por Zaila uma médica australiana que trabalhou com
ele. Escreveu um livro. Sua bondade correu mundo. Zaila em uma entrevista
chorava. Ela dizia que ele foi o amor de sua vida, mas que seu verdadeiro amor
era aqueles que precisavam dele. Foi um médico sem fronteiras que não dormia e
pouco comia, pois o que ele queria era fazer o bem.
Aqui no Brasil
não houve louvores. Os Escoteiros que o conheciam choraram por ele e o
aplaudiram. Não houve medalhas. Ele não estava na ativa. Era apenas um
ex-Escoteiro sênior. Eu e muitos dos seus amigos sempre nos encontrávamos para
rir e chorar sua saga nesta vida na terra. Suas histórias de bom samaritano
eram lembradas desde o tempo de lobinho. Todas pranteadas por aqueles que foram
merecidos. Nós que o tínhamos no coração nunca o esquecemos. Eu sabia que
morrer fazia parte da vida e se ele morreu continuaria vivendo em nossos
pensamentos. Como dizia Immanuel Kant, “Se vale a pena viver e se a morte faz
parte da vida, então morrer também vale a pena...”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário