Lendas Escoteiras.
Saudades do meu Velho pai.
Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor.
Não, nada
disto, não era medo quem sabe era admiração. Eu tinha um enorme respeito pelo
meu pai. Tremia quando ele me chamava, assustava quando ele sorria, e me sentia
tão bem quando me abraçava. Minha mãe foi morar no céu e só ele agora tomava
conta de mim. Nos seus braços eu cresci e explicar como era sentir sua falta é
algo inexplicável. Mas tentarei expressar esta saudade, através dessas humildes
palavras com muita dor. Pai… Sinto falta de sua voz que me aconselhava com
ternura; do seu olhar sereno com doçura; de suas mãos me reerguerem quando eu
caia; de seu abraço que me envolvia. Quando naquela tarde ele me chamou eu o
segui como bom filho. Ele só disse que eu iria descobrir agora novos mundos, eu
iria aprender a ser dono de mim, iria poder viver minha própria vida. Eu não o
entendi. Não sabia o que ele queria dizer, mas dei minha mão e fui com ela pela
rua sem saber aonde ia.
Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho eu fiquei seu fã
Eu não conhecia
nunca os vi, mas ele me levou aos escoteiros, no caminho me contou que foi um
por muitos e muitos anos. Disse-me que foi monitor da Águia, conseguiu dezenas
de especialidades e cordões. Para mim o que ele contava nada significava, pois
não sabia o que era. Mas achei que devia ser bom, pois ele me contava com tanta
dedicação com tanta vibração e eu sabia que com a sua proteção eu nada devia
temer... E seus conselhos eram para o meu bem… Quando me lembro de tudo isto meu
pai eu sinto tanta saudade que cada vez a cada dia que passa mais eu te amo!
Ele parecia conhecer todo mundo. Eram tantos a lhe cumprimentar, a sorrir a
abraçar. Ele orgulhoso me apresentou. Deixou-me lá sozinho e se foi. Fiquei com
muito medo. Os meninos foram legais, me trataram como menino e nada mais.
Quando a reunião terminou eu corri para achar o meu pai. Ele estava no portão
sorrindo e me perguntou: Gostou? Falar o que? Foi meu primeiro dia.
Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim.
Se eu soubesse o quanto dói à vida,
O tempo foi
passado, eu crescendo, aprendendo a ser alguém, a me virar sozinho a dormir em
uma barraca longe dele, a nadar no riacho de águas profundas, a fazer meu fogão
e a cozinhar. Mas mesmo ali no campo eu sentia saudades, sempre havia um pedacinho de emoção
dentro da gente. Um pedacinho de outra pessoa dentro de mim. Saudades de sua
voz, do seu sorriso do seu olhar. Ele sentia um orgulho enorme a me ver como
Escoteiro e quando a mochila colocava ele dizia: - Vá filho, conquiste a selva,
dance nos vales profundos, se quiser conquiste o mundo, pois ele é seu, basta
querer. Eu sorria me sentia além do mundo que ela me ofereceu. Um ano, dois
três um punhado. Recebi o que mereci pelas provas que fiz. Quem sabe talvez por
saber que ele sorria e se orgulhava de mim. Quando menos assustei era Chefe.
Meu pai com seu sorriso franco me dizia: - Não seja presunçoso, prepotente,
seja alegre afetuoso, seja bom com todos, pois assim muitos amigos e irmãos irá
conquistar.
Essa dor tão doída não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim.
Quando recebi
minha Insígnia ele me abraçou, um abraço enorme ele me deu. Senti uma vontade enorme
em dividir com ele minha alegria da vitória, que não era só minha e ele
sorridente de novo me disse: - Você não é mais que ninguém, quem sabe tem um
pouco mais de saber, mas lembre-se sempre existirá alguém que sabe mais que
você. Ele olhou nos meus olhos e vi uma pequena lágrima surgir, eu sei, ele era
um romântico do passado, quem sabe sonhou em ser um e não foi. Eu chorei com
ele, não me lembro se foram lágrimas de alegria, de tristeza ou de saudade que
agora brotava em mim. Vi ali em minha frente ele colocando a mão no peito,
mesmo assim sorria e caiu no cimento duro de um pátio que já foi meu... De
repente uma angústia. Saudade do que não fez, ou daquela vez. Saudades. Das
coisas, do lugar, da pessoa. De um beijo, de um carinho, daquele jeito
diferente. Ou do sorriso, de repente. Saudades de alguém. Saudades de você, meu
querido pai!
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim.
Naquela Mesa-Nelson Gonçalves