quinta-feira, 16 de julho de 2015

Longo é o caminho para ser feliz.


Lendas Escoteiras.
Longo é o caminho para ser feliz.

“Nunca esqueci Santillana del Mar. Minha mente e minha alma recordam sempre da minha casa, da minha rua, do hotel e seu bar com pedras. Minha mãe dizia que era um lugar bucólico e que tudo ali era como antigamente. “Mas meus sonhos sempre me levam de volta a minha cidade que tanto amei”.

                 Eu estava com onze anos quando meus pais morreram de maneira trágica. Nunca me contaram porque eles estavam naquele ônibus maldito. O que iam fazer em Zaragoza ninguém nunca me disse. Um pavoroso desastre provocado por uma explosão de uma bomba levou para sempre quem eu sempre amei e respeitei. Completava oito anos quando tudo aconteceu. Todos tentaram esconder de mim todo o trágico acontecimento. Lembro que chorei muito e não sei por que daí em diante nunca mais sorri. Ainda não sabia o que era viver, deixar de viver ou sumir para sempre. Acharam para meu próprio bem que não deveria mais morar ali em Santillana Del Mar. Encontraram uma tia minha que morava no Rio de Janeiro. Nem condições financeiras ela teve para ir me buscar. O “Cuerpo Nacional de Policía” me embarcou um mês depois no “Aeroporto de Barajas” numa tarde cinzenta e olhe, nunca viajei em um avião e mesmo com a atenção das “Aeromozas”, lindas educadas, impecáveis em seus uniformes nem isto conseguiu me fazer sorrir. Ao meu lado uma senhora de idade, de nome Ana Lucia conversou comigo em toda a viagem. Eu escutava nada dizia. Meus pensamentos eram sombrios e nada fazia para esquecer meu pai Lorenzo e minha mamãe Luna.

                  O avião taxiou em Cumbica, e eu nem prestava atenção a nada. Minha tia me esperava no saguão de espera. Abraçou-me beijou e disse: Bem vinda a São Paulo Polliana. Nada mais disse. Pegou minha pequena sacola de roupas e fomos juntas para minha nova morada. Ela não tinha carro e pegamos um ônibus até o centro onde fomos para o Bairro Bom Jardim onde ela morava. Quer saber? A cidade não me chamou a atenção, nada chamava. Minha mente de sete anos estava presa a minha linda Santillana Del Mar. Meu pai e minha mãe estavam presentes a cada instante e eu sempre me lembrava de sua voz seu jeito de sorrir e minha mãe? Ah! Quantas saudades. Não posso negar que Lavinia minha tia fazia tudo por mim. Mas quando as noites chegavam eu ia para o meu quarto, deitava, começava a pensar e as lágrimas apareciam. Saudades, ah! Meu Deus quantas saudades.

                   Ia para a escola todos os dias. Aprendi fácil o português e acho que todos me entendiam. Não me enturmei com ninguém. Dona Laurita a professora era simpática e sorria sempre para mim. Um dia me perguntou por que eu não sorria e eu nada disse. Não tinha o que dizer. Não ia contar minha história a uma estranha. Foi numa quinta feira que durante a aula Dona Laurita pediu a atenção de todos. Entram dois jovens pouco mais velhos que eu. Ele e ela portavam lindos uniformes de cor caqui, um chapéu enorme que logo colocaram sobre o coração. Um lenço Verde e Branco que lhes dava um aspecto de gravata. Não sabia quem eram eles. Foi Dona Laurita que os apresentou – Joel e Larissa. Eles são Escoteiros do Grupo São Romão. Vieram aqui hoje para dar um testemunho. Irão lhe explicar o que é escotismo e dizer que hoje 23 de abril é o dia deles.

                Larissa era simpática, um sorriso lindo, falava com voz de anjo e pela primeira vez eu prestei atenção. Convidaram seis alunos para uma brincadeira. Chamavam de Serafim. Todos ficaram um ao lado do outro esbarrando ombros, e Joel com cara feira gritava ao primeiro: - Você conhece o Serafim? E ele dizia – Não. Respondia o Joel – aquele que fica assim e fazia uma careta. O primeiro repetia para o segundo que repetia para o terceiro até o último. Primeira cara feia, depois torto para a esquerda, depois meio abaixado e por ultimo Joel sorrindo dizia – aquele que faz assim! Dava um empurrão no primeiro e a fila caia toda no chão como o jogo de dominó. A classe explodiu de tanto rir. Eu queria rir, tentava, fazia força, mas nada. Não consegui. Larissa viu que eu não sorria. Dirigiu-se até a mim e me convidou para ser uma delas. Olhei para aquela menina mais velha que eu e pensei – Porque não?  

                Tia Lavinia foi comigo em um sábado. Era lindo tudo aquilo. Um deles jurou a bandeira, colocaram nele um lenço e fui apresentada a todos na ferradura. Não me senti importante e nem pensei que minha vida ia mudar, mas como mudou e como mudou! Durante cinco meses permaneci com sempre fora. Olhava as pessoas, os meninos e as meninas Escoteiras, aprendi a dar um abraço, a dar um aperto de mão esquerda e a fazer o sinal Escoteiro e a continuar sem sorrir. No primeiro acampamento estranhei muito. Dormir em uma barraca, fazer pioneirias, comer uma péssima comida (depois acostumei). Que saudades de uma Paella ou de uma Tortilha de Patatas que minha mãe fazia. Mas isto era passado. No segundo dia Larissa a Monitora me convidou a dar um passeio com ela no bosque. De mãos dadas fomos a passear próximo ao lago e ela só apontou um lindo cisne que navegava calmamente sobre as águas. Já era tarde e o por do sol jogava raios vermelhos sobre o lago fazendo um belo espetáculo da natureza.

                  Levantamos subimos uma pequena trilha e ela me mostrou a lua nascendo atrás de um arvoredo. Lindo, a coisa mais linda que tinha visto. Durante muito tempo nada falamos. Ela baixinho começou a declamar: - Um rastro de lua, na rua de rastros, depois que a chuva parou! Olhei para ela espantada e ela sorriu. Olhou-me no fundo dos olhos e disse: - É fácil apagar nossos rastros, sejam bons ou maus, mas a consciência está sempre de prontidão nos cobrando. Difícil mesmo é caminhar sem pisar no chão da realidade. Voltamos ao campo de patrulha e eu pensava nas suas palavras. Comecei a ver que minha vida não era uma redoma de vidro onde eu me prendia para não sair mais. Se Larissa pensava que eu estava presa ao passado ela estava certa. Nos dois últimos dias me soltei mais. Na penúltima noite estávamos todas em volta do fogo em frente a minha barraca e alguém começou a cantar a Arvore da Montanha, depois cantamos A Santa Catarina e quando alguém com uma voz doce e suave começou a cantar Adeus Montes e Vales Queridos eu comecei a chorar.


                  Desta vez não chorava pelo meu passado. Chorava porque aquela música tocou meu coração. Lembrei sim de Papai e Mamãe e em meu pensamento eu os agradeci por ter feito de mim o que era. Não podia mais ficar com o coração partido. Eu não queria mais correr sem saber aonde ir, eu queria sorrir na certeza que a minha dor se foi para sempre. Eu iria chorar com certeza, pois a vida é assim, dia de sol dia de chuva. Minhas amigas de patrulha me olharam embevecidas. Sorriram para mim e eu sorri para elas. O céu cheio de estrela me apontou uma lá ao longe que seria minha guia para sempre. Cantei com elas a última canção da noite – Em silêncio acampamento, este canto vinde e ouvir, são fagulhas da fogueira que nos dizem, Escoteiros a Servir! Amo mesmo ser Escoteira. O escotismo me mudou e fez de mim uma nova pessoa. Obrigado meu Deus!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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