Lendas escoteiras.
A incrível lenda do Guardião da Floresta da
Bocaina.
“Conta uma lenda que toda vez que alguém
desaparecia na Floresta da Bocaina as margens do Rio Vermelho, a sudoeste de Palo
Verde e ao norte da capital do Pará, uma densa neblina tomava conta para evitar
que as buscas tivessem sucesso. Dizem que era uma floresta tão densa que a luz
do sol raramente passava entre as copas das árvores e isto criava um cenário
ideal para a existência de lobisomens, bruxas e gnomos”.
Prologo:
Eu não ia deixar Diógenes sem graça. Aquela
historia que ele contava que em uma das suas reencarnações era aquele que
andava com um lampião aceso dizendo estar em busca de um homem honesto é pura
invenção. Ninguem acreditava que ele foi o mendigo que perambulava pela rua
carregando um lampião, dizendo estar procurando um homem honesto. Ele não
trabalhava e tinha uma casinha boa e andava sempre bem vestido. Não éramos
propriamente amigos e até desconhecia o seu outro modo de vida. Naquela tarde estava
a meditar sobre nosso próximo acampamento quando ele sentou ao meu lado. A Praça
do Povo era meu lugar preferido para pensar. – Eis que ele senta ao meu lado.
Já lhe contei esta? Falou. Qual Diógenes? – A do Guardião da Floresta da
Bocaina? Nunca tinha ouvido falar, mas dei corda a ele. Gostava de uma história
bem contada e quem sabe ajudaria a entender melhor aquele jogo bem bolado que
estava pensando para o próximo acampamento.
– Olhe meu caro escoteiro Já vi muitos de vocês de calças curtas na
minha cidade. Sei que gostam de acampar, explorar florestas e montanhas e sei
também que adoram seguir um riacho de água doce à procura de sua nascente. Eu
morava em Palo Verde, disse, uma cidade a sudoeste do Rio Vermelho bem longe da
Capital do Pará antes de vir para cá. - Foi lá que conheci os escoteiros. Eu os
via desfilando de mochila indo para o campo a procura de aventuras. Um dia
pensei em ser um e depois desisti. Tudo por causa do Jobson dos Santos. Um
menino pequeno, magro, raquítico metido a valente e que não levava desaforos
para casa apesar de sua fraqueza. Jobson resolveu ser Escoteiro. Foi aceito
porque sua mãe era amiga de uma Chefe de lobinhos. Na Patrulha Lagarto ninguém
ligava para ele. No primeiro acampamento sumiu por horas. Apareceu depois
sorrindo e mesmo com a “lavada” do Monitor e do Chefe continuou rindo e não
disse nada.
Jobson era inteligente. Menos de cinco meses sabia tudo para fazer as
provas Escoteiras. Só não fez porque o Monitor Maguilson foi contra. – Olhe precisa
amadurecer mais. Jobson não disse nada, ele não encrencava e nem retrucava.
Aceitava tudo de bom grado. Um dia em um acampamento de fim de semana um
fazendeiro amigo da tropa fez uma visita e a noitinha e em uma Conversa ao Pé
do Fogo contou uma história interessante. Claro que ninguém acreditou. –
“Escoteiros” - ele disse – Se um dia vocês forem para os lados do Rio Vermelho,
bem a sudoeste de Palo Verde nunca entrem na Floresta Negra da Bocaina. É uma
floresta tão densa que é difícil andar. Mesmo com um bom facão fazer uma trilha
é difícil. À tardinha uma bruma cinzenta percorre toda a mata e quase nunca o
sol consegue penetrar entre as árvores.
- Todo mundo prestava a máxima atenção ao senhor Zeferino o fazendeiro.
Olhos arregalados, pois se tinham uma coisa que gostavam eram histórias
incríveis e quem sabe um dia viver uma delas? – Nesta floresta negra dizem que
habitam “lobisomens, bruxas e gnomos”. Contaram-me que tem um enorme leopardo
rajado de amarelo e negro que toma conta de tudo. Ninguém ousa entrar lá e o
tal Leopardo com suas enormes garras mata quem se arrisca. Um empregado meu, de
nome Zózimo riu pegou uma espingarda e um facão e sumiu por dois meses.
Encontraram-no quase morto as margens do Rio Vermelho. Depois que foi tratado
no hospital pegou o primeiro ônibus e sumiu da cidade. Os que ouviram sua
história tremem até hoje em contar.
Lourenço contou que encontrou o Leopardo. Horrível, não deu tempo de
fugir. Mas o Leopardo o encurralou em uma gruta. O Leopardo sumiu e na noite
escura e sem luar, apareceu uma linda moça, com um vestido longo e branco. Ele
sorriu e achou que tinha tirado a sorte grande. Foi até ela e os dentes enormes
e as unhas enormes logo o envolveram. A moça se transformou em um Leopardo e só
não o matou porque ele conseguiu correr pulando nas águas escuras do Rio
Vermelho. Depois contou que avistou um enorme lobisomem e várias bruxas voando.
O Senhor Severino sorria com sua história. Mais tarde, na barraca Jobson
deitado pensava na história. Não saia de sua cabeça. – Vou ver onde fica, se
ninguém quiser ir eu vou!
Dito e feito. Jobson convidou a todos da patrulha – Ninguém quis ir. Ele
tentou tudo e até o Chefe o proibiu de continuar com aquela história
fantástica. Jobson, disse o Chefe, ninguém nunca voltou vivo, porque esta
insistência? Acredite eu o proíbo de comentar novamente com sua patrulha.
Jobson olhou o Chefe e não disse nada. Uma tarde Jobson sumiu. Seus pais
preocupados o procuraram no grupo e com todos seus amigos. Nada. O delegado
chamou diversos homens e correram por toda a vizinhança da cidade. Dona Matilde
disse que o viu pela manhã de uniforme Escoteiro e chapéu, Uma mochila e um
bornal rumo a nascente do Rio Vermelho. Os Escoteiros quando souberam pensaram
logo que ele tinha ido para a Floresta Negra da Bocaina. Danado! Pensaram. No
fundo todos o invejavam.
Jobson desapareceu por anos e ninguém mais ouviu falar dele. Nonato
Castanheira era Sênior e tinha também o sangue aventureiro a correr em suas
veias. Quando Jobson sumiu ele era lobinho. Agora como sênior vivia sonhando em
conhecer o mistério da Floresta Negra. Um dia ele também sumiu. Cinco meses
depois Nonato Castanheira voltou. Maltrapilho, doente e quase morto. Tinha um
olhar diferente, não falava e nem sorria. Escreveu um bilhete aos seus pais
pedindo desculpa por não ter dado notícias. Ele ia voltar e nunca mais iriam
vê-lo novamente. No bilhete ele disse que apaixonou pela Fada Violeta, a mais linda
mulher que o mundo conheceu. Contou que a noite ela se transformava em fada e
durante o dia era o temido Leopardo Guardião da Floresta. A princesa Violeta
tinha muitos homens em sua volta. Formavam um enorme batalhão que a defendia
contra tudo e contra todos. Sobre as bruxas e Lobisomens e Gnomos ele não
escreveu nada.
Pelo sim e pelo não acreditei
na historia. Sempre tive um desejo de ir a Palo Verde para tirar a limpo esta
historia. Eu sou um Escoteiro aventureiro e não deixo nada sem investigar. Vou
tirar a limpo a história dos guardiões e da Princesa Violeta. Sei que eu não
vou me enamorar. Adoro minha esposa e meus filhos e até já disse a eles o que
vou fazer. Na próxima primavera irei de avião até Belém. De lá embarco em um
navio no rio Amazonas até a nascente do Rio Vermelho. Se Palo Verde e a
Floresta Negra existem, eu um Escoteiro vou encontrar sem sombra de dúvida. E
quando voltar, se voltar vocês saberão toda a verdade!
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