Lendas Escoteiras.
O lobisomem de Onda Verde e o valente Escoteiro
Pedrito.
Não que
Pedrito o cozinheiro da Patrulha Coruja fosse um “faloreiro”, ou melhor, um
garganta na cidade de Onda Verde. Era uma cidade famosa pelo seu ar doce, onde
se sentia o perfume das flores, onde a relva verde parecia uma onda espalhada
sem mar. Calma, pacífica, menos de vinte mil habitantes era um paraíso para os
que nasceram lá. Foi lá que nasceu Pedrito hoje Escoteiro da Patrulha Coruja.
Pedrito adorava contar “patacas”, valentias e até criava histórias onde ele era
o herói. Seu Chefe de Tropa sempre o lembrava do primeiro artigo da lei. Uma só
palavra. – Pedrito deixa de ser garganta! Dizia sempre. Mas eis que um fato
aconteceu e tudo mudou. Um boato surgiu e aterrorizou seus habitantes. Muitos
juraram ter visto um lobisomem rondando a cidade nas noites de lua cheia. Os
escoteiros que se reuniam a noite na sede da Rua Garça ficaram com medo e só
saiam em patrulhas e nunca sozinhos. O tal Lobisomem foi comentado,
destrinchado e suas historias correram por toda a cidade. – Ele ataca só nas
noites de lua cheia! Diziam os entendidos. Diziam que adorava sangue humano. Só
volta ao normal ao raiar do sol.
Foi em uma quinta à
lua era quarto crescente. Na sede da Rua Garça todas as patrulhas estavam
reunidas com o Chefe Naldinho e o Assistente Renato. Os águias, os corujas, os
touros e os elefantes estavam completos. Sabiam do grande jogo e ninguém queria
perder. Seria uma “Busca ao Tesouro Perdido” na cidade. Achavam que seria um
jogo estupendo. Seis pistas espalhadas pelos quatro cantos de Onda Verde. Só
havia um senão, era o tal Lobisomem da meia noite. Pedrito ria e se gabava que ia
achar o tesouro e “caçar” o lobisomem. Mostrava os braços estendidos fazendo
pose de como ia derrubar o Lobisomem com um soco no meio da testa. A Patrulha
Coruja se reuniu para discutir o jogo. Lavério um Escoteiro antigo entrou com o
assunto do lobisomem. Contou como surgiu a lenda. Segundo ela o lobisomem seria
o sétimo filho após uma sequência de filhas mulheres. Ele seria um homem
normal, que se transforma em meio lobo meio homem durante as noites de lua
cheia. A lenda dizia que as Quartas feiras de cinzas e a Sexta feira santa
seriam os dias mais propícios para o aparecimento do lobisomem. Era quando
aparecia para se saciar de sangue humano, disse Lavério.
Todos deveriam tomar
cuidado, quando os cães ficassem agitados, não parassem de latir, pois eles eram
os primeiros a avistar o Cachorro grande que nada mais nada menos seria o
lobisomem. A Patrulha ficou muda. Ninguém dizia nada. Pedrito logo se levantou.
Se ele aparecer me chame, dou um jeito nele! Todos riram. Naquela noite foram
para casa juntos. A última casa era a de Pedrito. Quando Nando ficou na casa
dele Pedrito se sentiu sozinho e começou a ficar com medo. Ninguém na rua e ele
tremendo só em pensar de topar com o Lobisomem. Deus do céu! Ajude-me! Saiu
correndo virou a próxima esquina e entrou em sua casa tremendo.
Os dias foram passando.
A Patrulha se preparando para o grande jogo. Na sexta feira seria entregue aos
Monitores uma carta prego dando a primeira pista. O envelope dizia o local e o
horário aonde eles os Corujas deveriam se encontrar. As demais instruções
estavam dentro do envelope. Ninguém imagina como seria a primeira pista. Naquele
dia era de lua cheia. Não ficaram na sede até tarde como era costume. Só
comentaram sobre a carta que tinham recebido e que o local para abrir seria na Rua
Balalaica, em frente ao portão do cemitério! Caramba! Pedrito assustou. Seria às
seis da tarde, dia ainda, mas Pedrito morria de medo de cemitério. Jurava ter
visto um dia uma alma do outro mundo voando baixo em cima das catacumbas.
Uma semana depois Pedrito
não pensava em assombração, capetas, ou mesmo em lobisomem que por sinal estava
sendo esquecido por toda a cidade. Assoviava baixinho uma linda canção
Escoteira que aprendera no último acampamento e pensava como seria o tal lago
da canção. Era uma história de Caçadores de Peles voltando para casa sem ter
conseguido nada de suas caçadas. Em seus caiaques nos lagos enormes cantavam
tristonhos e saudosos de suas famílias que há tempos não viam. Ao virar a
esquina da Rua do Papagaio, viu um vulto correndo em direção ao Matadouro do
seu Luizão. Pedrito pensou em correr para sua casa, mas como estava sem
histórias para contar, resolveu correr atrás do vulto. Nem olhou para trás e
quando olhou era tarde de mais.
Viu o vulto
passar pelo matadouro e entrar no cemitério. Nove da noite ele começou a tremer
e deu meia volta. Deu de cara com o Lobisomem. Enorme, corpo peludo, dentes
enormes, olhos vermelhos chamejantes, unhas dos pés e das mãos enormes. O bicho
o pegou pelo lenço Escoteiro e o levantou no ar. – Quem é você magrelo papudo?
Perguntou. – Pedrito tremendo e já borrando sua calça curta respondeu chorando
– Sou o Pedrito Senhor Lobisomem! – Pare de borrar de medo e seja homem! Falou
o Lobisomem. – Mas sou um menino Senhor Lobisomem, bom Escoteiro da Patrulha Coruja,
bom filho, bom aluno e temente a Deus! Solte-me pelo amor que tenha a Ele! – O
lobisomem chegou sua boca fedida no seu rosto e disse – Vou lhe dar uma mordida
na orelha, se gostar vou tirar todo seu sangue, se não gostar quebro seu
pescoço e o deixo ir embora! – Pedrito estava quase desmaiando de medo. Sem
perceber quando o Lobisomem ia morder a sua orelha ele foi mais rápido. Deu uma
dentada na orelha dele. O bicho berrou! Maldito disse. E o soltou levando a mão
na orelha.
Ninguém soube
explicar, mas a Patrulha toda apareceu para ajudar Pedrito, estavam com seus
bastões e o Lobisomem tentou correr e caiu na calçada bem em frente ao portão
do cemitério. Ao cair à máscara de lobisomem se soltou e todos viram que era “Seu”
Chulápio, o coveiro do cemitério. – Então é o Senhor o Lobisomem “Seu” Chulápio
fingindo e assustando todo mundo. “Seu” Chulápio choramingando pediu pelo amor
de Deus que não contassem para ninguém. Ele não tinha diversão nenhuma no
cemitério. Nem mesmo uma alma do outro mundo ou um fantasma aparecia mais.
Deixaram-no sozinho, pois tinha mais de seis meses que não morria ninguém na
cidade.
A patrulha ficou
com pena do “Seu” Chulápio. Prometeram não contar nada. Pedrito sorrindo não
perdeu tempo. Contou a Deus e o povo da mordida que deu na orelha do Lobisomem.
Todos riam e olhe, Pedrito fazia questão de passar em frente ao cemitério todas
as noites de lua cheia. A cidade passou a admirar sua coragem. O Lobisomem
apareceu outras vezes e não deixou de fazer alguns habitantes correrem feitos
loucos. Teve até uns habitantes que dizem ter visto o lobisomem abraçar Pedrito.
Eu sei que o Jogo da Caça ao Tesouro Perdido foi um sucesso. Melhor para
Pedrito que junto a sua Patrulha acharam a sexta pista fácil. Claro, com a
ajuda do “Seu” Chulápio que viu o Chefe colocando o tesouro no Mausoléu da
família Crispim. Certo ou errado não contaram nada a ninguém. O Tesouro? Oito
canivetes suíços. Lindos. Pedrito ficou conhecido como caçador de Lobisomens e
Vampiros e sua fama correu mundo. Mundo? Claro, mundo de Onda Verde, a cidade
que ele viveu escoteirando para sempre!
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