sexta-feira, 19 de agosto de 2016

O lobisomem de Onda Verde e o valente Escoteiro Pedrito.


Lendas Escoteiras.
O lobisomem de Onda Verde e o valente Escoteiro Pedrito.

                      Não que Pedrito o cozinheiro da Patrulha Coruja fosse um “faloreiro”, ou melhor, um garganta na cidade de Onda Verde. Era uma cidade famosa pelo seu ar doce, onde se sentia o perfume das flores, onde a relva verde parecia uma onda espalhada sem mar. Calma, pacífica, menos de vinte mil habitantes era um paraíso para os que nasceram lá. Foi lá que nasceu Pedrito hoje Escoteiro da Patrulha Coruja. Pedrito adorava contar “patacas”, valentias e até criava histórias onde ele era o herói. Seu Chefe de Tropa sempre o lembrava do primeiro artigo da lei. Uma só palavra. – Pedrito deixa de ser garganta! Dizia sempre. Mas eis que um fato aconteceu e tudo mudou. Um boato surgiu e aterrorizou seus habitantes. Muitos juraram ter visto um lobisomem rondando a cidade nas noites de lua cheia. Os escoteiros que se reuniam a noite na sede da Rua Garça ficaram com medo e só saiam em patrulhas e nunca sozinhos. O tal Lobisomem foi comentado, destrinchado e suas historias correram por toda a cidade. – Ele ataca só nas noites de lua cheia! Diziam os entendidos. Diziam que adorava sangue humano. Só volta ao normal ao raiar do sol.

                Foi em uma quinta à lua era quarto crescente. Na sede da Rua Garça todas as patrulhas estavam reunidas com o Chefe Naldinho e o Assistente Renato. Os águias, os corujas, os touros e os elefantes estavam completos. Sabiam do grande jogo e ninguém queria perder. Seria uma “Busca ao Tesouro Perdido” na cidade. Achavam que seria um jogo estupendo. Seis pistas espalhadas pelos quatro cantos de Onda Verde. Só havia um senão, era o tal Lobisomem da meia noite. Pedrito ria e se gabava que ia achar o tesouro e “caçar” o lobisomem. Mostrava os braços estendidos fazendo pose de como ia derrubar o Lobisomem com um soco no meio da testa. A Patrulha Coruja se reuniu para discutir o jogo. Lavério um Escoteiro antigo entrou com o assunto do lobisomem. Contou como surgiu a lenda. Segundo ela o lobisomem seria o sétimo filho após uma sequência de filhas mulheres. Ele seria um homem normal, que se transforma em meio lobo meio homem durante as noites de lua cheia. A lenda dizia que as Quartas feiras de cinzas e a Sexta feira santa seriam os dias mais propícios para o aparecimento do lobisomem. Era quando aparecia para se saciar de sangue humano, disse Lavério.

          Todos deveriam tomar cuidado, quando os cães ficassem agitados, não parassem de latir, pois eles eram os primeiros a avistar o Cachorro grande que nada mais nada menos seria o lobisomem. A Patrulha ficou muda. Ninguém dizia nada. Pedrito logo se levantou. Se ele aparecer me chame, dou um jeito nele! Todos riram. Naquela noite foram para casa juntos. A última casa era a de Pedrito. Quando Nando ficou na casa dele Pedrito se sentiu sozinho e começou a ficar com medo. Ninguém na rua e ele tremendo só em pensar de topar com o Lobisomem. Deus do céu! Ajude-me! Saiu correndo virou a próxima esquina e entrou em sua casa tremendo.

           Os dias foram passando. A Patrulha se preparando para o grande jogo. Na sexta feira seria entregue aos Monitores uma carta prego dando a primeira pista. O envelope dizia o local e o horário aonde eles os Corujas deveriam se encontrar. As demais instruções estavam dentro do envelope. Ninguém imagina como seria a primeira pista. Naquele dia era de lua cheia. Não ficaram na sede até tarde como era costume. Só comentaram sobre a carta que tinham recebido e que o local para abrir seria na Rua Balalaica, em frente ao portão do cemitério! Caramba! Pedrito assustou. Seria às seis da tarde, dia ainda, mas Pedrito morria de medo de cemitério. Jurava ter visto um dia uma alma do outro mundo voando baixo em cima das catacumbas.

               Uma semana depois Pedrito não pensava em assombração, capetas, ou mesmo em lobisomem que por sinal estava sendo esquecido por toda a cidade. Assoviava baixinho uma linda canção Escoteira que aprendera no último acampamento e pensava como seria o tal lago da canção. Era uma história de Caçadores de Peles voltando para casa sem ter conseguido nada de suas caçadas. Em seus caiaques nos lagos enormes cantavam tristonhos e saudosos de suas famílias que há tempos não viam. Ao virar a esquina da Rua do Papagaio, viu um vulto correndo em direção ao Matadouro do seu Luizão. Pedrito pensou em correr para sua casa, mas como estava sem histórias para contar, resolveu correr atrás do vulto. Nem olhou para trás e quando olhou era tarde de mais.

                 Viu o vulto passar pelo matadouro e entrar no cemitério. Nove da noite ele começou a tremer e deu meia volta. Deu de cara com o Lobisomem. Enorme, corpo peludo, dentes enormes, olhos vermelhos chamejantes, unhas dos pés e das mãos enormes. O bicho o pegou pelo lenço Escoteiro e o levantou no ar. – Quem é você magrelo papudo? Perguntou. – Pedrito tremendo e já borrando sua calça curta respondeu chorando – Sou o Pedrito Senhor Lobisomem! – Pare de borrar de medo e seja homem! Falou o Lobisomem. – Mas sou um menino Senhor Lobisomem, bom Escoteiro da Patrulha Coruja, bom filho, bom aluno e temente a Deus! Solte-me pelo amor que tenha a Ele! – O lobisomem chegou sua boca fedida no seu rosto e disse – Vou lhe dar uma mordida na orelha, se gostar vou tirar todo seu sangue, se não gostar quebro seu pescoço e o deixo ir embora! – Pedrito estava quase desmaiando de medo. Sem perceber quando o Lobisomem ia morder a sua orelha ele foi mais rápido. Deu uma dentada na orelha dele. O bicho berrou! Maldito disse. E o soltou levando a mão na orelha.

                Ninguém soube explicar, mas a Patrulha toda apareceu para ajudar Pedrito, estavam com seus bastões e o Lobisomem tentou correr e caiu na calçada bem em frente ao portão do cemitério. Ao cair à máscara de lobisomem se soltou e todos viram que era “Seu” Chulápio, o coveiro do cemitério. – Então é o Senhor o Lobisomem “Seu” Chulápio fingindo e assustando todo mundo. “Seu” Chulápio choramingando pediu pelo amor de Deus que não contassem para ninguém. Ele não tinha diversão nenhuma no cemitério. Nem mesmo uma alma do outro mundo ou um fantasma aparecia mais. Deixaram-no sozinho, pois tinha mais de seis meses que não morria ninguém na cidade.


                  A patrulha ficou com pena do “Seu” Chulápio. Prometeram não contar nada. Pedrito sorrindo não perdeu tempo. Contou a Deus e o povo da mordida que deu na orelha do Lobisomem. Todos riam e olhe, Pedrito fazia questão de passar em frente ao cemitério todas as noites de lua cheia. A cidade passou a admirar sua coragem. O Lobisomem apareceu outras vezes e não deixou de fazer alguns habitantes correrem feitos loucos. Teve até uns habitantes que dizem ter visto o lobisomem abraçar Pedrito. Eu sei que o Jogo da Caça ao Tesouro Perdido foi um sucesso. Melhor para Pedrito que junto a sua Patrulha acharam a sexta pista fácil. Claro, com a ajuda do “Seu” Chulápio que viu o Chefe colocando o tesouro no Mausoléu da família Crispim. Certo ou errado não contaram nada a ninguém. O Tesouro? Oito canivetes suíços. Lindos. Pedrito ficou conhecido como caçador de Lobisomens e Vampiros e sua fama correu mundo. Mundo? Claro, mundo de Onda Verde, a cidade que ele viveu escoteirando para sempre!

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