Vale a pena ler de novo.
Patu o Caolho, o bandido cruel da Caverna do
Morcego.
Passava das dez da noite e ainda estávamos papeando em volta do fogo
comendo bananas assadas e tomando um delicioso café no bule que esquentava nas
brasas da fogueira. Cortiço um sênior magro e alto, cabelos encaracolados
estava em pé de costas para a floresta contando uma história fantástica.
Cortiço tinha o dom da palavra, dos gestos e da imaginação. Todos nós da
patrulha Serpente tínhamos admiração por ele. Nunca conheceu seus pais e foi
criado pela Avó que lhe deu carinho e amor. Cortiço terminou dizendo: - Se
quiserem podemos ir lá agora. Não é longe. Em nossas bicicletas é só atravessar
O Pontilhão Negro da estrada de ferro, em menos de uma hora chegamos a Riacho
Grande. De lá é fácil atingir a curva do Índio. Dizem que embaixo da pequena
ponte de madeira do rio Amarelo as cavernas estão lá para quem quiser explorar!
Um
silêncio profundo se fez. Todos pensavam a mesma coisa. Será que iria valer a
pena? A lenda que Cortiço poderia ser verdade ou não. Não seria fácil
atravessar o Pontilhão da estrada de ferro. Não havia saída de emergência e se
um comboio de minério aparecesse para não morrer todos tinham que pular no rio.
E as bicicletas? Perder tudo? O que dizer aos nossos pais? – Vagonete o Escriba
falou baixinho: - Uma aventura e tanto, mas atravessar a ponte? Se o fantasma
do Patu o Caolho estivesse lá tudo bem, a gente já enfrentou fantasmas antes,
mas a ponte era um desafio infernal. Pikitito que pouco falava concordou e foi
mais além. – Se conseguirmos será a primeira vez que vou viver uma grande
aventura. Orelhudo o Monitor não disse nada. Porteira o sub. riu baixinho. –
Sei não disse – Se conseguirmos seremos os primeiros a aventurar em uma
travessia mortal. Que eu saiba ninguém nunca tentou. Não deu outra, todos se
levantaram, fecharam suas barracas com cipó bem preso para evitar bichos,
vestiram seus casacos simples e sem ostentação, montaram em suas bicicletas e
partiram. Eram dez e meia da noite.
Contavam-se fábulas e relatos nem
sempre verdadeiros de Patu o Caolho. Lá pelas bandas de Derribadinha e Riacho
Grande ele era famoso. Seria o máximo se encontrassem com ele. Em meia hora
avistaram pontilhão. Pararam na entrada. Nenhum som. Cada um olhou para o outro
e o coração disparou. – Orelhudo pediu que usassem os cabos que usavam na
cintura para amarrar uma bicicleta na outra. Se tivermos que pular pelo menos
poderemos recuperar todas elas no fundo do rio. Nem bem se levantarem e ouviram
o apito do trem. Sorriram. Se esperassem ele passar teriam alguns minutos para
correr dentro do túnel escuro do pontilhão até o outro lado. O trem passou. Do outro
lado do rio sorriram aliviados. Vinte minutos depois margeando o Rio do Peixe
viram a entrada da caverna. Escura, fantasmagórica. A noite parecia a morada do
demônio. Medo para eles era uma palavra que não existe.
Levaram um lampião pequeno a querosene. Foi aceso e não iluminava mais
que dois metros à frente. E daí? Era o suficiente. Pikitito ficou responsável para
marcar o caminho. A certeza da volta sem sobressaltos dependia dele. Ele sabia
de sua responsabilidade. Cortiço tentava recordara o que lhe contaram. Havia
duas bifurcações na caverna. Uma levava a sala dos morcegos assassinos.
Milhares deles. Quem chegou ali foi morto em segundos com suas mordidas fatais.
A outra levava a um salão enorme. Diziam que Patu o Caolho morava lá com a sua
winchester e seu parabélum na mão. Diziam que o teto da caverna era enfeitado
de cabeças dos meganhas que ele matou. Pé ante pé eles desceram uma rampa e avistaram
a bifurcação. Qual escolher? Na moeda? Não tinham nenhuma. Eram os seniores
mais duros que existiam, mas para eles dinheiro nunca foi problema. Orelhudo
mostrou que era o Chefe. Vamos pela direita! Falou. Ninguém disse nada e o
seguiram.
Quinze minutos depois uma visão do inferno. No salão, bem no meio, Patu
o Caolho sentado à moda índia, de costas para eles falou baixinho –
Aproximem-se! Eu sabia que vinham! Porteira que sempre ria queria chorar. - E
agora? Pensou? O bandido vai matar um por um! Vagonete parecia ser o único a
não ter medo. Aproximou-se do bandido e sentou ao lado dele. Um pequeno fogo um
tropeiro simples e uma artimanha assando o animal qualquer. – Comam a vontade
disse o Bandido. Parecia apetitoso. Pescoço tirou sua faca e tirou uma
lasquinha. – No ponto pensou. Todos fizeram o mesmo. Ninguém falava. – Meia
hora depois Patu o Caolho começou a falar: - Nunca fui bandido, Capitão Micunha
da Policia de captura se “arrebicou” pela minha mulher. Não me respeitou como
homem. Fui obrigado a cortar a garganta do meganha filho da mãe. Aqui escondi. De
vez em quando um pequeno batalhão aparece. Era só fechar a entrada da direita e
eles caiam direitinho no salão dos morcegos assassinos. Nunca escapou ninguém. Vou
vez ou outra a noite até Derribadinha ou Riacho Grande para pegar mantimentos. Sem
dinheiro era só dar uns tiros para o ar e o prefeito abria a porta do armazém sem
reclamar.
Orelhudo, Porteira, Pescoço, Vagonete, Pikitito, Cortiço e Pé de Chumbo
da patrulha Serpente calados ouviam a história de Patu o Caolho. Não tinham
nada para dizer. Ficaram em pé e Orelhudo agradeceu o petisco que comeram. Era
hora de voltar. Pé de Chumbo fez a pergunta que todos queriam fazer: - E as
caveiras senhor Patu? – Ele fez um gesto. Ainda sentado à moda índia o salão se
iluminou. Centenas de caveiras penduradas no teto. Todos balançando. Todas com
o uniforme da policia de captura! – Obrigado e até senhor Patu. Que vamo que
vamo para nosso acampamento. Patu olhou para eles – Boa viagem. Sempre os vi lá
acampando. Todos se entreolharam. Em fila indiana fizeram o caminho de volta.
No Pontilhão da estrada de ferro não deu outra. Na metade da ponte um trem
enorme, com faróis incríveis apareceu sobre eles. Pularam no rio. Quase vinte e
cinco metros de altura. Moleza para aqueles seniores. Foram até a margem
tiraram as roupas e voltaram para buscar suas bicicletas no fundo do rio.
Sei que a Patrulha Ventos do Norte também se arriscou e foi até lá. Sei
que a última não achou Patu o Caolho. Sumiu neste mundo de Deus. O fato é que
Patu o Caolho ficou amigo dos Escoteiros e sempre os tratou muito bem. Alguns
seniores passaram a contar uma história diferente. De Bandido passaram a contar
que era um homem perseguido que merecia nosso respeito. Coronel Saldanha do
Batalhão militar não gostou. Deu um ultimato: - Se continuarem com esta
história acabo com vocês! Pelo sim e pelo não calamos. Afinal respeito é bom e
todos nos gostamos. Kkkkkkkkk!
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