quinta-feira, 4 de agosto de 2016

As vozes do silêncio.


As vozes do silêncio.

          Foi um poeta que escreveu que o sentimento mais profundo de um ser humano é o silêncio. – “Se você não consegue entender o meu silêncio de nada irá adiantar as palavras, pois é no silêncio das minhas palavras que estão todos os meus maiores sentimentos”. Eu gosto do silencio, de ouvir, interpretar as palavras, olhar nos olhos e pensar se era isto mesmo que eu queria dizer. Paulo Coelho diz que nós vivemos em um universo que é, ao mesmo tempo, gigantesco o suficiente para nos envolver e pequeno o bastante para caber em nosso coração. Na alma do homem está à alma do mundo, o silêncio da sabedoria. Deve ser fantástico passear pelas estrelas, sentir o som do silencio velejando pela via láctea, ver o brilho de um comenta passante, tentar entender o universo mais lentamente, sem pressa... Passar por um buraco negro sem saber o que encontrar... Ah! O silêncio. Dizem que ele e oração dos sábios.

            Fico extasiado ao ler Saramago gritando ao mundo o seu silêncio: - Não direi: - Que o silêncio me sufoca e amordaça. Calado está calado ficarei, Pois que a língua que falo é de outra raça. Palavras consumidas se acumulam se represam cisterna de águas mortas, ácidas mágoas em limos transformadas, vaza de fundo em que há raízes tortas. - Não direi: Que nem sequer o esforço de dizê-las merece, Palavras que não digam quanto sei neste retiro em que me não conhecem. Nem só lodos se arrastam, nem só lamas, nem só animais boiam, mortos, medos, túrgidos frutos em cachos se entrelaçam no negro poço de onde sobem dedos. - Só direi, Crispadamente recolhido e mudo, Que quem se cala quando me calei Não poderá morrer sem dizer tudo. Não só ele, mas eu também me extasio com as vozes do silêncio.

             Quem já teve a felicidade, a alegria, a satisfação de acampar onde não se ouvia o cantar de um ser humano? As vozes gritantes pululantes procurando destruir o maravilhoso som do silencio da natureza? Quanto deleite. Quanta satisfação e contentamento em apagar a voz, deixá-la escondida na garganta e sentir o fundo musical do tempo que nada diz e a gente se transforma em um ser humano imortal. Um dia tentei interpretar o silencio das matas, do alto de uma montanha, na cascata sorridente de um vale feliz. Lá fui eu com uma mochila, uma matutagem, um cantil uma faca escoteira e viajar na trilha da bem-aventurança. Era só eu. Sozinho naquele cercado de um lugar chamado paraíso. Ninguém mais pode entender meu prazer, meu deleite e a euforia de estar ali... Em silencio! Já ouviu a voz do vento? Ele canta divinamente. Canta para embalar as árvores, para alegrar as flores do campo, ele canta para dizer que existe que o mundo não e o que pensamos, mas é uma nascente de Deus.


          Não há como viver na natureza. Audição ao vivo ao ouvir o som das arvores balançando ao receber sua aragem nas folhas, nos galhos, macaquinhos pulando ao alegre ventar. Não importa de onde veio ou para onde vai. Tente ficar de olhos fechados, deixe seu pensamento se misturar com os sons da floresta, sinta o vento no corpo, estremeça deixe fremir o seu olfato, percorra com sua audição seu jubilo de ouvir tão linda canção... Do vento! Só sendo Escoteiro é que podemos interpretar a voz da cascata murmurante, sua fonte e o borbulhar das águas cristalinas. Nunca esqueci no alto daquela montanha, uma vista de tirar o folego, eu ali calado, em silencio, tentando imaginar tudo aquilo e o dom de quem criou tão bela imagem. Fiquei parado. Extasiado.

        Os minutos se passaram, e tudo estava calmo, exceto a minha respiração. Ela dava arrancos, entrecortada, tendendo a soluçar em silêncio. A música expressava o que não pode ser dito em palavras, mas não pode permanecer em silêncio. Uma voz da noite me disse: Escuta e serás sábio. O começo da sabedoria é o silêncio. Não sabia o que dizer ou fazer. Estava parado estático. Lembrei-me de uma poetisa que dizia: - O silencio de Deus nos ensina, antes de reclamar que Ele não te respondeu tente entender o que Ele está te ensinado. Fechei os olhos. Não queria abrir, só queria ouvir. Nunca na vida tinha me sentido assim. Era como se eu estivesse sozinho abraçando um fogo de conselho, luzes de algodão vermelho querendo subir aos céus. Céus? Lindas estrelas no firmamento. Queria pegá-las, acariciá-las, levá-las comigo para não esquecer aquele momento. Uma orquestra noturna de grilos e pirilampos com suas luzes brilhantes começaram a tocar uma linda melodia. Uma coruja buraqueira rindo cantava: - Linda é à noite, tente ouvir o Senhor, pois muitas vezes Deus se cala... Mas o silêncio de Deus não significa que Ele desistiu de nós.


       Tenho que retornar, me enrosco em minha manta azul como o céu que vejo e amo. Existe um vento calmo no ar. Brisa gostosa. Ouço ao longe o cantar do Uirapuru. Sinto pardais dedilhando um violão encantando. Uma melodia toca no violão apaixonado. Sinto pedacinhos molhados gotejando na minha face. Sei que são lágrimas de alegria. O que dizer de tudo que sinto que vi e amo ao sentir o silencio maravilhoso em mim? Como Einstein em penso noventa e nove vezes o que sou e nada descubro. Deixo de pensar e continuo em profundo silêncio. E eis que a verdade vai aos poucos me revelando: - Você Escoteiro é filho da natureza. Reconhece nela o Criador e por isto sente falta dela. Não sei mais o que dizer. Volto à civilização. Civilização? Deve ser quem sabe um dia todos aprenderam a voz do silencio, ouvir, entender, sorrir sem discutir quem está com a razão.   

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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