Era uma vez...
A chuva cai mansamente em minha morada.
Lá fora a chuva cai mansamente. De vez em quando vou à varanda e vejo o asfalto molhado. Levanto o olhar para o céu e ele volta ao passado como a buscar as milhões de chuvas que um dia molharam meu rosto nos acampamento da vida. Aquela chuva parece uma borrasca de acampamento. Algumas vezes calma e outras como um orvalho que o vento leva para onde quiser. Ao nascer do dia ela resolveu cair mais forte. Levantei e abri a janela para ver. Gosto da chuva. Ela descansa a minha mente. Gosto de olhar ela cair e amo seu barulho forte ou calmo. Lembro-me de muitas chuvas. Não esqueço as chuvas dos lugares onde acampei e excursionei. Muitas vezes elas assustam. Os raios e trovões ensurdecedores a pipocar em nossa volta. Raios já caíram perto de mim.
Em matas fechadas grandes árvores foram cortadas ao meio por um raio brilhante. Logo em seguida o trovão querendo entrar na barraca ou nas proximidades para assustar a bicharada e a passarada. Mas ali está a natureza. Ela sempre foi assim não pode ser alterada. Ambos, a chuva e as florestas se entendem. Uma época sem tanta informação como temos hoje. - Cuidado com os raios, fique longe das árvores, fique longe dos descampados, fique longe... Não dava. O jeito era apaziguar a ventania e amar o trovão e o raio. Interessante mesmo sabendo que a ouvir o trovão não tem mais perigo, pois o raio já caiu e não devíamos ter mais medo.
Eu gosto mesmo da chuva. Nunca tive medo seja ela forte ou fraca. Temos que amar o perigo e enfrentá-lo. Manter a calma e saber que tudo pode ter uma solução para melhor:
Em teu abraço eu abraço o que existe
a areia, o tempo, a árvore da chuva
E tudo vive para que eu viva:
sem ir tão longe posso vê-lo todo:
veio em tua vida todo o vivente.
Que a chuva caia do céu em cascata. Que a chuva molhe a terra que não vive sem ela. Que a chuva molhe a todos nós para lembrarmos que somos filhos da chuva. Como era bom o vento molhado, a chuva caindo, as barracas dançado e o velho toldo amarelo com alguns furos recebendo a fumaça deliciosa da lenha molhada que agora secando seria usada para nosso jantar. Seis meninos sonhadores de calças curtas em volta do fogão de barro, um lampião a querosene com luz bruxuleante pendurado em um tripé e a gente olhando as chamas que paravam no fundo do caldeirão, um alho socado, um pouco de sal, um pequeno toicinho e que cheiro delicioso.
Deus meu! Ah! Que fome. A água fervendo, nosso amado cozinheiro a soltar devagar o macarrão quebrado que vieram nas mochilas daqueles que aprenderam a escoteirar. Chamávamos de ração B. Um farnel rotineiro para aqueles Escoteiros acampadores. É eu gosto mesmo da chuva. Saber que dias se passaram e ela não parou de cair. Desarmar acampamento? Nunca. Escoteiros não fazem isto. Protegem-se. Folhas, coqueiros ou bananeiras não importa. Tudo serve para proteção. Telhados rústicos a perder de vista.
Bom isto, o ritmo da chuva a cair sobre a barraca em um acampamento. Som de violino. Som de um violão bem tocado. Som de uma orquestra de fantasmas a tocar para nós naquelas noites escuras e sem luar a ouvir o ribombar dos trovões que pareciam sonetos sem nexo no céu. Um sono profundo, sonhos sonhados. Chuva molhada, quantas e quantas chuvas caíram sobre mim. Depois elas se vão e o vento manso aparece para trazer o orvalho da madrugada. E depois dos trovões e dos raios, das nuvens escuras lá num canto do céu um pequeno brilho, pois como dizem por aí sempre depois dela o sol vai aparecer!
- “Quando tudo vai mal e parece inclinado
A tornar-se pior e mais turvo a seguir,
Não dê coices, nem grite e não fique afobado;
“Apenas basta sorrir”.
Você diz que ama a chuva, mas você abre seu guarda-chuva quando chove. Você diz que ama o sol, mas você procura um ponto de sombra quando o sol brilha. Você diz que ama o vento, mas você fecha as janelas quando o vento sopra. É por isso que eu tenho medo. Você também diz que que gosta de acampar!
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