domingo, 2 de abril de 2017

O perdão vem do céu.


Lendas Escoteiras.
O perdão vem do céu.

                       Dolores desceu do ônibus na Rua Santo Inácio. Precisa achar a casa de Dona Ana que lhe ofereceu emprego de doméstica. Com surpresa viu um menino uniformizado de Lobinho e sorriu. Lembrou-se de Juanito. – Mamãe quando eu crescer eu quero ser Lobinho! Ele lhe dissera com voz doce. Quem podia imaginar que ele partiria para o céu em pouco tempo? Não encontrou a rua que procurava, mas viu o menino entrar em um portão onde parecia ser um Grupo Escolar. Alguma coisa a empurrou até o portão. Entrou. Vi dezenas de meninos correndo, brincando e cantando. – Então era assim que eles viviam? Viu um banco de madeira e lá se aboletou. Absorta nas brincadeiras dos jovens ela não notou um homem maduro, bem uniformizado sorrindo para ela. Quanto tempo alguém não sorria assim.

                        - Boa tarde Senhora. Há que devo a honra de sua visita? – Dolores assustou. Ninguem nunca fora assim tão educado e cavalheiro deste que... Melhor nem lembrar. – Ele gentilmente continuou: - Olhe fique a vontade, mas se quiser saber mais sobre os escoteiros estou pronto a lhe dar todas as informações! – Ela sorriu e agradeceu. – Moço, eu só estou olhando. Meu filho um dia me disse que quando crescesse queria ser um lobinho. – Ora, ora, mas que surpresa. E onde ele está? – Lágrimas começaram a cair e Dolores pensou em ir embora. – Não vá Senhora, desculpe se a fiz recordar o que não queria. Fui indelicado. Posso lhe oferecer um café? Tenho lá na sede. Por favor, me acompanhe!

                          Dolores se sentia saudosa e lisonjeada. Quanto tempo um homem não falava assim para ela? Será que todos os chefes escoteiros são cavalheiros como ele? – Foi com ele até a sede. Após o café sentaram na varanda onde dava para apreciar a movimentação das tropas e alcateias. – Senhora, meu nome é Estefan, me chamam de Chefe Granada, quem sabe pelo meu nome, pois meus pais eram espanhóis. Sou o Diretor Técnico e sou Escoteiro desde criança. – Ele com toda simpatia contou e explicou o que é o escotismo, como surgiu e o que como pode ajudar aos jovens. Dolores se sentiu outra mulher. Não queria fingir, aquele homem a estava tratando tão bem que devia ser mais correta com ele contando a verdade. Mas valeria a pena? Ela sabia que quando soubesse iria sorrir de maneira diferente se despedir e dizer que poderiam conversar outro dia.

                        - Senhor Estefan, disse ela. – Ele sorriu e retrucou; - Nada de Senhor, Chefe Granada ou Estefan simplesmente. – Desculpe, Chefe Granada é melhor. E riu. Quanto tempo ela não ria? – O senhor está sendo tão sincero que quero lhe contar que sou. Acabei de sair da prisão. Estou em liberdade condicional. Por quê? Meu filho Ruanito tinha leucemia. Os médicos diziam que não tinha volta. Ele morreria em pouco tempo. Eu trabalhava em uma gráfica com pouco salário nada podia fazer. Tinha um namorado. Um marginal. Eu não sabia. Um dia me disse que eu poderia embolsar quinze mil reais. Daria para pagar uma viagem aos Estados Unidos e eles verem se Juanito poderia ser curado. – Fácil Dolores. Você vai levar drogas para a Holanda e olhe, é muito difícil a policia descobrir.

                       – O dinheiro me subiu a cabeça. Meu filho valia qualquer sacrifício. Aceitei, deixei Ruanito com uma amiga. Seriam dez dias ida e volta. Fui presa no aeroporto de Cumbica. Foram oito anos na penitenciaria de Avanhandava. Apanhei, sofri e até hoje nem sei se paguei meus pecados. Juanito morreu um mês depois. Sai em liberdade condicional. Estou tentando um trabalho, pois é difícil conseguir aqueles que saem da prisão. Todos tem medo de mim. Ficam longe. Amigos e amigas que tive se afastaram. Meu antigo namorado foi morto pela polícia. Dolores chorava. Levantou e disse que iria embora. Ele não precisava se preocupar. Chefe Estefan ou Granada se levantou. – Calma. Aqui ninguém a condena. Fique mais um pouco, eu a levarei em casa.

                       Os tempos passaram. Quem me contou esta história não ficou sabendo o final. Um dia o encontrei em uma barcaça no São Francisco rumo a Juazeiro. Ele me apresentou a um casal. – Chefe Vado Escoteiro, quero lhe apresentar Dolores e o Chefe Granada. São casados e aqueles jovens rindo ali na proa são seus dois filhos. – Fiquei estupefato. Mais tarde ele me contou que o Grupo não aceitava aquela união. Quiseram forçá-lo a pedir demissão. Ele não aceitou. O distrital entrou no meio exigindo sua exoneração. Ele contratou um advogado. Ameaçou ir aos jornais contar tudo. Não seria bom para a UEB. Ninguém disse mais nada. Ela ama o escotismo e mesmo com muitos lhe virando as costas ainda é Chefe. – Ele me disse que não deixaria seus meninos por nada.


                       Apenas uma história. O amor acontece quando se acreditam quando a confiança, quando ele é maior que tudo. Perdoar não é só no céu. Na terra existe o perdão e ele é maior ainda quando existe o amor. – A prisão não são as grades, e a liberdade não é só a rua. Existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência. Recomeça... Se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro onde quase não se vê o futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcance não descanse de nenhum fruto queiras só a metade... E Eles foram felizes para sempre! 



Dolores sem perceber entrou em uma reunião de escoteiros. Seu filho morto um dia sonhou ser um. Ela tinha uma história. Viveu por oito anos em uma prisão. Sabia que nunca iria recuperar seu nome. Sua vida findava. Porque ninguém perdoa um presidiário? Vai ser sempre bandido? Uma historia onde dirigentes escoteiros lhe viraram as costas. Mas ouve um chefe. Um chefe de verdade que lhe deu a mão. São meus convidados e se quiserem podem comentar o que fariam se acontecesse em um grupo de vocês!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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