Lendas
Escoteiras.
Em
cada coração uma sentença.
Nonôvat era diferente
de muitos monitores. Existem os amigos, os gentís, mandões, morcegos, irmãos
mais velho, indiferentes, falastrões, humildes. Mesmo assim são eles que dão a
vida pela patrulha. Seu nome verdadeiro era Antônio Medeiros. Nonôvat tinha um
grande coração. Monitor da Patrulha Jaguatirica escolhido pelo Chefe Ricardo. A escolha
de Nonôvat foi bem recebida. Na Curimbatá e na Gavião, Josivaldo e Moreno na
Corte de Honra deram seu aval. Havia uma Tropa feminina que tinha atividades em
separado, mas faziam outras em conjunto. Acampavam, faziam excursões e
atividades aventureiras em conjunto, mas cada tropa com sua própria
individualidade. Havia um respeito enorme.
O Chefe Ricardo e a Chefe
Loreta eram ótimos chefes. Eles sabiam que nada poderia dar certo se não
tivessem bons Monitores. Sempre diziam aos graduados: – Para ser um líder, você
tem que fazer as pessoas quererem te seguir, e ninguém quer seguir alguém que
não sabe onde está indo. Na Patrulha Jaguatirica ninguém disse não para a
promoção de Nonôvat. Eram experientes com mais de um ano de patrulha. Giba o
Sub. era uma mão na roda. Nonôvat sabia cobrar sem gritar, e sempre o primeiro
a fazer e ajudando. Não era e nunca foi um mandão. Aos treze anos aprendeu bem
como liderar a Patrulha. Sabia que liderar é preciso também saber ser liderado.
Dizia aos seus patrulheiros sorrindo – Olhem! Se ficarem mal humorado tome
café! Se não gostarem sigam a luz, se no final dela tiver um buraco negro, se
joguem. E dava boas risadas. Os escoteiros adoravam sua maneira de liderar.
Os patrulheiros davam a vida pela patrulha. Todos sabiam exatamente o
que fazer. Suas funções eram seguidas a risca. A tralha da patrulha era a
melhor da Tropa. Panelas sempre limpíssimas, material de sapa afiados e
oleados, duas barracas bem cuidadas, duas lonas seminovas tudo muito bem
acondicionado. Na patrulha os patrulheiros eram peritos em afiar e usar
perfeitamente uma machadinha um facão ou uma faca escoteira. Conseguiram com
muita dificuldade uma bússola Silva e outra Prismática. Nos grandes jogos ou
nos mais simples a patrulha aprendeu que ganhar é bom, mas saber perder é uma
arte. Para que se achar sempre ser o melhor? Palavras do Chefe Ricardo e
completava: Bertrand Russell dizia que: – A raiz do mal reside no fato de se
insistir demasiadamente que no êxito da competição está a principal fonte de
felicidade.
Nonôvat gostava do modo do
Chefe Ricardo. Gente fina e respeitava a todos. Nunca faltou um aperto de mão,
um abraço nas horas difíceis, um Anrê ou um Bravo! Chefe Ricardo incentivava ao
máximo, mas cabia a cada um dar o primeiro passo. Dizia que o espelho era Caio
Vianna Martins: - O Escoteiro caminha com suas próprias pernas. Na última Corte
de Honra ficaram sabendo da nova atividade do distrito. - Chefe! Mas não estava
programado! – Eu sei ele disse, reclamei, mas vai ficar mal se não formos. Na
próxima não iremos se não estiver programado. Seria uma atividade de um
domingo. Próximo ao Vale Cinzento. 23 patrulhas. Não podemos ficar de fora. No
dia da atividade chegaram no horário. Durante meia hora se confraternizaram com
as demais patrulhas presentes. Quase vinte patrulhas.
A tropa do Chefe Jurema foi à última a chegar. Ele um rapagão de uns
vinte e cinco anos, óculos escuros, chapéu de exploradores canadenses (gostava
de inventar) e com uma vareta embaixo do braço dava seu show particular. Sem
cumprimentar ninguém deram o grito da Tropa que terminava dizendo que eram os
melhores e iam arrasar. Nem o demônio podia com eles enfim um monte de asneira
não digna de escoteiros que prezam a lei. O distrital explicou o jogo. O Ouro
Misterioso. Deu como ponto de partida a trilha onde começava o Vale Cinzento
até a estrada do Astro Rei Estavam escondidos quinze lenços escoteiros. Todos
numerados. As Patrulhas não precisavam seguir a ordem, mas para achar a pista
final precisavam de pelo menos cinco lenços. Menos que isto não seria fácil
chegar ao ouro perdido. A ordem era clara. Todos deveriam estar sempre juntos.
Em cada ponto haveria um
Chefe Escoteiro. Se a Patrulha dispersasse seria desclassificada. Às treze
horas seria parada para o lanche. Paulo Cobra Monitor da Caveira do Diabo (nome
esquisito) se aproximou sorrindo de Nonôvat – Não me esperava eim? Não tem para
ninguém. Você sabe que somos os bons, os melhores da cidade. Melhor reconhecer
agora e desistir! E começou a rir voltando para sua Patrulha. - O jogo começou
guerra! Gritou o Comissário Distrital. Eram dez da manhã. A Patrulha
Jaguatirica conseguiu achar três lenços. Faltavam ainda dois. Ao meio dia e
vinte Nonôvat viu Paulo Cobra sozinho correndo sem a Patrulha. Era contra as
normas. Nonôvat foi atrás dele para dizer que se continuasse iria informar ao distrital.
Correu atrás de Paulo Cobra que tinha subido em um penhasco proibido pela
direção do jogo por oferecer grande perigo. Avisou sua Patrulha. Ao subir uns
oitenta metros ouviu um grito de socorro. Era Paulo Cobra estirado em cima de
um galho enorme de uma árvore. Desceu com cuidado.
Paulo Cobra chorava. Gritava de dor. Dizia ter fraturado uma costela e o
braço. Nonôvat achou que deveria ir buscar ajuda. Ventava forte e ele sabia que
uma tempestade se aproximava. Deixar Paulo Cobra sozinho seria pior. Com muito
custo o levou a uma pequena gruta próxima. Paulo Cobra gemia e chorava pedido
sua mãe. A chuva caiu. Forte. Raios cortando pedras e árvores no fundo da
garganta. Não foi fácil. Ele era pequeno. Paulo Cobra forte e alto. Tirou sua
blusa e colocou nele. Disse que ia buscar ajuda. Paulo gritou que não iria
ficar só tinha medo. A chuva passou. Nonôvat pegou novamente Paulo Cobra e o
colocou no ombro. Paulo Cobra choramingava. Andava tropeçando. A cada cem ou
duzentos metros parava para descansar. Viu que ia escurecer. Resolveu fazer um
SOS com um fogo com muitas folhas verdes. Com sua blusa presa em duas varetas
tentava fazer no código Morse as letras S. O. S. A noite chegou. Logo viu
vários chefes chegando.
Paulo Cobra foi levado ao hospital. Quebrou duas costelas, fraturou a
coxa direita e o braço direito. Mas ia ficar bom. Nonôvat e sua patrulha fizeram
questão de visitá-lo. Foi muito bem recebido. Paulo Cobra chorou varias vezes e
pediu perdão por tudo que fez. Nonôvat o abraçou. Ficaram amigos para sempre.
Um dia apareceram na sede dois dirigentes escoteiros. A ferradura foi formada.
O Presidente Regional chamou Nonôvat a frente. Que seria? Entregaram a ele
medalha de valor Ouro. Acharam que ele mereceu. Nonôvat segurou as lágrimas.
Ele não era de chorar fácil. As patrulhas deram o grito. Emocionante foi o
abraço de Paulo Cobra. Ele chorava copiosamente. Nonôvat estava tremendo.
Emocionado. Nonôvat em hora nenhuma se sentiu superior. Ele sabia o que tinha
feito. Ajudar um amigo Escoteiro. Não importa quem ele seja.
Ninguém pode ser
chamado Escoteiro se não for amigo de todos e irmão dos demais escoteiros. Não
importa onde e quando. Exemplos começam onde menos se espera. E fico pensando,
onde estão os meninos e meninas que recebem Lis de Ouro e Escoteiro da Pátria?
São tão poucos assim? Bem medalha nunca, medalha é para chefe sorrir e mostrar
para todo mundo. Risos.
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