Bandeiras ao
vento
Uma história,
uma lenda escoteira.
Prólogo: - Uma vida sem sonhos é uma emoção sem liberdade, uma
mente sem criatividade, uma história sem aventuras.
Era uma vez... O topo da montanha
do Guairá estava longe, a Patrulha Kalapalo seguia a trilha dos seus
antepassados. Todos sabiam que a Bandeira de Brás Esteves Leme passou por ali ha
muitos e muitos anos. Brás era filho de outro sextanista e deu sua vida para
achar as esmeraldas de Fernão Dias Paes Leme. Sertanejou na região limítrofe de
Minas Gerais com São Paulo e antes de morrer nos anos de 1700 se estabeleceu em
Pindamonhangaba. Tarântula um Sênior novato e estudioso foi quem sugeriu a
caminhada. – Seria uma aventura e tanto seguir os passos de Brás Esteves Leme
disse. Iriam percorrer parte do trecho já que só tinham três dias. Partiram a
noitinha de quarta feira recebendo as bênçãos do Padre Ludovico.
Mesmo a noite com
ventos calmos e frescos a subida era uma tortura. Eram seniores experimentados
e em suas mochilas levavam o essencial. Calmon o escriba de cabeça baixa
pensava que maluquice fora esta de aprovar tal atividade. Jonathan o cozinheiro
pensou em sugerir uma parada para fazer um chocolate quente. Para ele não tinha
segredos um fogão estrela, um tropeiro ou mesmo um trincheira para evitar
acidentes na floresta. Quintino o sub pensava que estava na hora de parar. Será
que Valete o Monitor tinha esquecido? Isto nunca aconteceu. Sabiam que Valete
era experiente, fora guia de Tropa e sempre sabia onde metia sua cumbuca em
jornadas ou atividades aventureiras.
Mesmo com a brisa
fresca os seniores suavam e até Donatela a única guia presente fazia tudo para
não demonstrar que a caminhada estava sendo um suplicio. Ela sorria para si
mesma ao pensar nas grandes atividades que fizeram com os seniores. Tinha
orgulho de pertencer a Patrulha Kalapalo. A trilha tinha ficado mais difícil a
cada curva a cada passada. Cem duzentos metros se tornara um enorme sacrifício
de percorrer. Algum aconteceu, pois Valete que ia a frente parou sem dizer
nada. A patrulha o seguiu. Por alguns minutos só se ouvia os grilos da montanha
e os pirilampos que rodeavam os seniores aventureiros.
- “uma fogueira há
cem metros” Valete disse baixinho no ouvido de Donatela que vinha logo atrás.
Ela treinada para os grandes jogos noturnos que faziam na Tropa Sênior, repetiu
para Jonathan que fez o mesmo com Quinino e este a Calmon. Tarântula sorria.
Quem sabe vamos filar um cafezinho quente? Foi então que um vozeirão repicou
naquela trilha da Montanha do Guairá. – Caolho! Os meninos chegaram! – O que
faço com eles? – Caolho veio ver quem era os meninos. – Nossa! Eles são Escoteiros Tiro Certo. Os
Seniores continuaram em silêncio. Correr era perder tempo. Só uma trilha e em
curva dando facilidade para Tiro Certo acertar qualquer um. – Caolho olhava nos
olhos de cada um e sentiu um arrepio na espinha, pois não demonstravam medo.
Tirou de sua
cintura um facão cuja lâmina brilhou ao luar. Tiro Certo sorria maliciosamente.
– Vamos comer disse Calmon. Peguem no Tropeiro duas juntas de javali que
matamos hoje. Podem comer a vontade! E deu uma enorme gargalhada. Jonathan
respirou aliviado. Tiro Certo chegou próximo a Donatela que não demonstrou ter
medo dele. Foram até o acampamento deles para manter respeito sem se subordinar.
Tiro certo era baixinho, com um bigodinho preto e Caolho era enorme com uma
venda preta no olho esquerdo. Os seniores sentaram-se em volta do fogo.
Jonathan o cozinheiro tirou uma lasca da carne que estava assando. Ainda
pingava sangue. Comeu e balançou a cabeça. Todos sabiam que poderiam comer sem
problema.
- Eu também fui
Escoteiro disse Caolho. Calmon deu uma enorme gargalhada pela mentira, mas viu
que era melhor ficar sério. Tarântula
perguntou onde. – Dois meses em Capiacanga. A carne mal passada do javali tinha
um cheiro horrível, mas estava gostosa. Caolho se levantou cortou um pedado do
sisal que tinha na sua mochila e começou a fazer nós. Todos olhavam
embasbacados. Era um perito em nós. Valete se levantou e nem olhou para Caolho
e Tiro Certo. – Está na hora disse. Vamos em frente. Deu a mão esquerda para
Caolho que ficou sem saber o que fazer. Todos viram que ele nunca fora
Escoteiro. Levantaram-se deram o grito de patrulha e partiram. Tiro Certo e
Caolho estavam espantados com tamanha coragem e nada disseram.
O cansaço da subida
desapareceu. Agora não demonstravam medo. Seguiram a lua que nascia no
horizonte. Duas horas depois pararam. Eram três da manhã. – Vamos dormir um
pouco. Amanhã partimos ao nascer do sol disse Valete. Dormiram e dividiram o
tempo de sentinela. Quintino de olhos no céu começou a contar estrelas. Dormiu
antes das duzentas. Calmon rezou uma pequena oração. Todos em silêncio
acompanharam sua reza. Tarântula imaginava como devia ser a vida de
bandoleiros. Jonathan repetia para si mesmo: Quem ousa conquista e saiu para a
luta, irá chegar mais longe. Donatela atualizou em segundos o que passaram no
livro da patrulha e dormiu em seguida. Valete dormia o sono dos justos. Sua
experiência para enfrentar as adversidades era conhecida.
No retorno da
Montanha do Guairá, cinco seniores e uma guia cantavam na descida. Quantos anos
ainda ficariam juntos não sabiam. Lembraram-se de Donatela quando saiu da Tropa
das Escoteiras ensinou a cada um deles: - Não desista, vá em frente. Sempre há
uma chance de você tropeçar em algo maravilhoso. Nunca ouvi falar em ninguém
que tivesse tropeçado em algo enquanto estava sentado ou dormindo. É como dizem
os seniores do mundo? - O futuro é nosso, vamos
prosseguir. Vemos longe a brilhar a nossa estrela Dalva. Quando se é jovem não
se pode desistir Marchar avante, e sempre avante, por sobre a terra, sobre os
ares e pelo ar continuando se os outros param Sorrindo sempre!
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