quinta-feira, 23 de maio de 2019

Lendas escoteiras. Era uma vez... Um lindo nascer do sol!




Lendas escoteiras.
Era uma vez... Um lindo nascer do sol!

Prólogo: - “Eu sou o nascer do Sol, enquanto a Terra estertora. E quando o engenho da vida vai embora eu sou o crescer da Lua no intimo de um céu que chora. Todavia, encontro a arte da vida vagando pelo ar. Vejo deliberadamente o abstrato a se formar. Faço-me de Sol e Lua enquanto a Terra aflige Faço-me eclipsar”. Brenon Salvador.

             Vamos Nani, está na hora! Acorde! Eu não queria acordar. Acordar para que? Ainda noite escura, um frio gelado lá fora da minha barraca e eu queria dormir. Jesse não perdoava, puxava minhas pernas, meus braços e até retirou minha manta que me aquecia e eu me enroscava mais e mais. Achei que Jesse não estava bem da cabeça. Bastava que ele nos fez subir no Monte Altaneiro, às duas da tarde, um sol de rachar só para vermos um por do sol. Bah! Quantos por do sol em vi em minha vida? Já tinha visto muitos, claro, não prestava atenção, pois logo escurecia. Mas ele sempre dizendo que os Escoteiros são amigos da natureza, das belezas da terra, e nós tínhamos muito a aprender. Chegamos cedo lá. Todos cansados da subida respirando ofegante. Nem uma árvore para nos proteger. Vimos o sol iluminando todo o Vale da Esperança. Até que estava bonita a vista. Muito verde, da Cachoeira da Onça saia uma fumaça e o sol ainda pelejando no céu. Sentei na Pedra Vermelha e a patrulha sentou também. Acho que ninguém estava nem ai para o tal por do sol.

            Lembro que tudo começou quando ele resolveu nos mostrar como a natureza era bela, e se nós prestássemos atenção iriamos ver tantas coisas lindas que poucos que não os Escoteiros poderiam ver. Eu não entendia nada do que ele dizia e até fiquei surpreso, pois ele era mais velho que eu um ano. Onde será que aprendeu estas coisas? Foi Netinho quem me disse que ele passou uma semana enfurnado na biblioteca da cidade. Deve ter sido ali que veio estas ideias de natureza. Para dizer a verdade para mim árvore era árvore e riacho era riacho. Se ela a cachoeira soltava fumaça tudo bem. O Chefe disse um dia que isto era provocado pelo calor e o contato da água fria a cair de uma altura de mais de 20 metros. Para mim era natural. E quando os peixes queriam pular pelas pedras até o alto? Jessé sorria e se punha a explicar da época da piracema. Não entendi nada e achei que os peixes eram idiotas, pois nunca iriam conseguir. Mas O Jesse não dava folga. Ele viu uma aranha entre duas arvores fazendo sua teia e chamou a patrulha para observar. – Olhem como ela faz, vejam a sua inteligência! Vocês sabiam que a aranha constrói a teia com a fiandeira, uma parte do seu corpo que fica no fim do abdome? Lá tem um monte de tubinhos do qual sai uma substância liquida e quando entra em contato com o ar, essa substância endurece e se transforma em fio de seda!  

             Palavra que não sabia de nada. Jessé parecia nosso Professor de história. Até que achei a história da aranha interessante, mas o por do sol? Bem não vou criticar o Jessé, pois ele praticamente nos obrigou a ficar ali olhando o sol que estava escondendo atrás do Pico do Gavião, e quer saber? Até que achei bonito. Nunca em minha vida tinha prestado atenção. Voltamos e ele sempre falando da natureza, como a trilha de retorno era cheia de samambaias, lá vinha ele com seu ar professoral a dizer que elas gostam muito de terrenos pantanosos e locais mais altos, pois precisam de chuvas e ar frio para sobreviverem. Jessé era demais. Ainda pela manhã nem tínhamos acabado de almoçar e ele nos obrigou a lavar as panelas correndo, ainda bem que ele também ajudava, e nos levou para um tal de jogo Ver sem ser Visto. Não entendi bem, pois era um jogo parado, e nossa missão era chegar perto dos Inhambus que ficavam próximo da Lagoa da Chuva. – Vão devagar olhando onde pisam. Primeiro olhem onde sopra o vento, o vento não pode levar o cheiro de vocês até o passado ou animal que irão observar se não ele voa e adeus.

          Quase ninguém conseguiu chegar a menos de dez metros. Mas o Jesse era um Monitor diferente. Ele quase tocou as asas de um Inhambu. Tinha de me levantar da barraca. Era um absurdo com aquele frio e ir ver o nascer do sol de novo no Monte Altaneiro. Poxa subir duas vezes no cume? Fazer o que. Peguei minha manta e me enrosquei todo nela. A patrulha estava calada. Ninguém dizia nada. A subida não demorou mais que meia hora. Estava escuro ainda quando sentamos na Pedra Vermelha. Ao longe tudo escuro. Pensei comigo que ser Escoteiro é bom, mas o Jessé estava passando dos limites. Minha cama na barraca estava gostosa demais. Jesse cantarolava a canção da alvorada. Ela assoviava bem. – então ele começou a falar – Vejam, vocês já observaram que a beleza da vida está no inicio das coisas? Vocês estão aprendendo agora para depois lembrarem para sempre. O nascer do sol é como o nascer da vida, o nascer do amor, o nascer da amizade!

       Quer saber a verdade? Eu vi o nascer do sol do alto do Monte Altaneiro. Nunca imaginei que fosse assim. Nunca prestei atenção a nada que o nosso Monitor nos ensinava. Mas foi a madrugada mais bonita em minha vida. Era lindo olhar no horizonte, além da Montanha da Lua e ver o amarelo aparecendo, depois o vermelho e ele em todo o seu esplendor dar o brilho em todo o vale. Meus olhos não piscaram um só instante. Jessé sem tirar os olhos daquele espetáculo, recitava uma frase de J. Reis que dizia – encontre em cada anoitecer um motivo para recomeçar. Pois ao nascer do sol, a vida te reservará mais uma surpresa ao longo do dia. Meus olhos de criança encheram-se de lágrimas. Ninguém dizia nada. Aquela era a hora da patrulha. Era a hora do seu despertar. E foi então que todos olharam para o Jessé e sem nada a dizer ele entendeu o que queríamos dizer – “Obrigado Monitor. Este espetáculo ficará para sempre guardado em nossos corações”.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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