quinta-feira, 21 de maio de 2015

Não deixe o vento levar os seus sonhos.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Não deixe o vento levar os seus sonhos.

                    Lá estava ele, altaneiro, cheio de vida, correndo com o vento amigo que o levava onde ele queria ir. Ele sabia de sua importância, sabia que todos sempre pensavam nele e não queria decepcionar ninguém. Afinal ele era um Sonho e fazer os sonhos dos que pensavam nele realizarem o fazia feliz muito feliz... Ele sabia que nem sempre conseguia seus intentos, sonhos de alguém e ver a realização do sonhador. Tinha a experiência de ver tantos sonhos realizados, de ver a força de vontade em fazer lembrando sempre que sem isto nada poderia realizar. Ele gostava muito dos que diziam gostar de sonhar mesmo sabendo que os sonhos nem sempre se realizam. Ele sabia que existiam os sonhos possíveis e os impossíveis.  E quando ele os realizava, um sorriso enorme ele dava no seu habitat da nuvem branca onde moram os sonhos. Nunca se importou quando o chamavam de utopia, aquele sonho que não existe. Para estes ele deixava que pudessem ver o sol sem cor, a lua sem brilho as estrelas tão longe de se tocar.  

                      Ele sabia que o vento não tinha sonhos, nem a brisa da manhã que ele sentia sempre ao nascer do sol. A nuvem branca que o levava para todos os lugares agora estava atravessando um enorme oceano. Seus outros amigos sonhos diziam que era o oceano dos grandes amores, onde a felicidade existe e os que chegavam ali navegavam felizes nas águas eternas para sempre. Ele se lembrou de Conchita. Linda menina sonhadora. Morava em uma cabana no alto da montanha Azul. Todas as tardes ela sentava em um pequeno banquinho e nem notava a cor púrpura do sol que se punha no horizonte. Sua mente viajava sem destino, ela nem se lembrava de que um dia alguém disse a ela que se podemos sonhar, também podemos tornar nossos sonhos realidade. È Conchita é bom acreditar, pois naquele dia o Sonho ali passou  e ouviu o que ela queria. Não era impossível, não para ele. Ele viu seus olhos cheios de lágrimas por viver sozinha naquele canto da montanha sem ninguém. Tinha sua mãe e seu pai, mas não podia encontrar um príncipe para viver com ele para sempre?

                      Ah! O Sonho pensou que o sonho de Conchita podia se realizar. Não se sabe como uma manhã linda de sol vermelho, subindo a montanha vinha oito Escoteiros alegres e cantantes sob a luz do sol vermelho. Junto Miguelito o Chefe que adorava acampar. Solteiro quando viu Conchita na porta da cabana de madeira vermelha ele logo se apaixonou. Em seu pensamento disse para si: - Vais ser minha princesa, você terá tudo de mim. Farei de você a moça mais feliz do universo, darei a você de presente todas as estrelas no céu. À noite rezarei para você e quando a lua cheia surgir. Irei pedir a ela para iluminar seus caminhos por onde for. O Sonho sabia que meses depois eles se casaram e viveram felizes para sempre. O Sonho agora atravessava a majestosa floresta verde e formosa de um país tropical. O Sonho sentiu que precisava realizar o sonho de alguém, mas pensava o porquê de poucos agora não mais queriam sonhar. Ele sabia que um sonho para ser realizado o sonhador tem de acreditar, tem de partir na estrada dos sonhos e alcançá-lo com suas forças e lutar para que ele seja real. Fácil é sonhar todas as noites. Difícil é lutar por um sonho impossível só porque não acreditou.  

                       Viu um homem perdido nas matas verdes do país tropical, tropeçando, caminhando sem rumo, pensando que não ia sobreviver. Ele não sonhava, lutava pela vida, pois sabia que em poucos dias ia morrer. O Sonho sorriu, é hora de trabalhar. O homem que se chamava Molusco fora no passado um Escoteiro. Aprendeu a navegar, aprendeu onde o norte se encontrava com o sul, nunca precisou de bússola para achar o seu caminho. Tinha vivido em florestas, aproveitou muitas vezes quando menino o que ela poderia oferecer. Um brilho passou diante dos seus olhos. Afinal isto é um sonho? Sonho ou não eu posso vencer! – Ele pensou. Ele viu as árvores, as folhas amarelas e sentiu que elas lhe dariam o rumo. Uma nesga do sol lhe mostrou o caminho a seguir. Enquanto caminhava pensava no seu filhinho que deixou na cidade, de Mariazinha sua amada tão pequenina. Um riacho encontrou, uma jangada ele fez. Dois dias depois uma cidade apareceu na curva do rio das almas perdidas. Molusco um Escoteiro estava salvo. Correu a encontrar seus amores, Picolino e Mariazinha sua amada e seu filhinho querido ele foi abraçar.

                         Era hora de dormir para os humanos do mundo. O Sonho não dormia, mas se recolhia quando as noites quentes não deixavam ninguém sonhar. Ele imaginou que tantos poderiam sonhar sonhos lindos mesmo com sentido na pele o tempo forte do verão. Ele sabia que poemas não são feitos para serem entendidos. Isso é utopia. Bastam aos poetas que seus poemas e sonhos sejam sentidos. Tiquinho não tinha dez anos. Insistia com seus pais em ser um escoteiro. Nunca foi e este era seu maior sonho. Dom Casmurro tinha um bigodão que todos temiam. A maior fábrica de tecidos era dele. Funcionários tremiam quando arriscavam a olhar para seus olhos vermelhos. Tiquinho seu filho sabia que ele nunca iria deixar. Uma noite de verão todos os funcionários foram para casa. Ele mesmo fechou as portas e o portão. Altas horas da noite foram lhe chamar: - A fabrica começou a pegar fogo, mas um menino conseguiu apagar. O menino estava queimado deitado na cama do hospital.

                        - Como foi? Ele perguntou. Senhor ele é Juquinha Escoteiro filho de Filó das Mercês sua funcionária. Ele esperava sua mãe pelo fim do turno. Ela não sabia. Dormiu encostado no Varão da Sala Grande. Quando viu a fumaça, já treinado nos Escoteiros pelos bombeiros ele correu e conseguiu o fogo apagar. Um herói Dom Casmurro! Sem ele o senhor estaria pobre e sem sua fábrica querida. Tiquinho teve seu sonho realizado. Promessado com as vistas de seu pai. Uma alegria sem par. O Sonho viu o seu futuro, lembrou-se da escoteirada que vivia no Luar da Montanha Dourada. Lembrou-se dos tempos dos acampamentos, das alegrias que Tiquinho passou a ter. Ah! Os sonhos. O sonho sabia que eles têm um destino, um lugar para ficar, um lugar para realizar todas as vontades de quem acredita neles. Agora o Sonho partira para o rumo à além mar.


                     Havia outros lugares para ir, encontrar meninos e meninas Escoteiras que sonham e ele na sua boa vontade, os sonhos deles faria realizar. E aqui encerro o sonho de um Sonho verdadeiro. Um sonho sonhado, um sonho amado por aqueles que um dia acreditaram em seus sonhos. Como dizia Augusto dos Anjos a Esperança não murcha, ela não cansa, também como ela não sucumbe a Crença, Vão-se sonhos nas asas da Descrença, Voltam sonhos nas asas da Esperança. 

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