sábado, 16 de maio de 2015

Os heróis não tem idade.


Lendas escoteiras.
Os heróis não tem idade.

                    Mariel não sabia mais o que fazer. Tentou de tudo e nunca foi sequer ouvida pelos seus pais. Mariel tinha um sonho, dizem que meninas de sete anos não sonham, mas não é verdade. Podia até ser um sonho novo que substituiu a boneca Modelmuse 2013. Seus pais diziam que era muito cara e ela estava crescendo muito depressa. – O que você quer de Papai Noel perguntou seu pai? Ela abaixou a cabeça e disse – Quero ser escoteira! Ela já sabia a resposta. Desde o dia que pediu para participar que seu pai foi contra. Sua mãe também. – Nem pensar, diziam. – Não vou deixar você ir para o mato, dormir na barraca, pode aparecer uma cobra ou um bicho qualquer. E se forem para longe? Não sabe que sumiu um Escoteiro no Pico do Roncador e até hoje ele não apareceu? – Agora eles perguntavam o que ela queria de natal pensando que ela mudou de ideia. Nunca há deixariam entrar naquela turma. Eles eram esquisitos, vestiam um uniforme e se achavam os tais. Ninguém sabia, mas o Pai de Mariel quando jovem queria ser um e não foi. Motivos? Ele nunca contou.

                      Mariel em seu pequeno computador leu sobre tudo o que era os Escoteiros, o que eles faziam, leu as histórias dos acampamentos, aprendeu as provas e se ela entrasse hoje já sabia de tudo. Havia meses que ela insistia com seus pais e eles sempre negando. Chegaram ao ponto de dizer que se ela falasse mais no assunto eles a poriam de castigo. Sua mãe foi mais amiga, explicou para ela que ela era nova, eles não conheciam os responsáveis e se alguém a raptasse? Afinal eles moravam em um bairro nobre, seu pai era Presidente de uma Grande Empresa e ela seria presa fácil para sequestradores. Dizer para sua mãe que havia outras crianças iguais a ela não adiantava. Ela sempre dizia que os pais delas eram irresponsáveis.

                     Uma tarde de sábado sua mãe foi com seu pai ao Mercado fazer compras. Dona Nana a cozinheira ficou responsável por ela. Mariel não perdeu tempo. Que seja o que Deus quiser pensou. Sei que é errado e estou desobedecendo meus pais, mas tenho que ir - pensou. Se pelo menos eu pudesse ver o que eles estavam fazendo já seria uma alegria para mim. Pé ante pé abriu a porta da Mansão e passou sorrateiramente pela portaria do Condomínio. Sabia que não era perto. Ficava a duas quadras do seu colégio. Foram mais de uma hora a pé. Ela não sabia pegar ônibus. Não foi fácil. Com seus sete anos ela era uma menina frágil. Seus pais não deixavam nem ela participar de atividades recreativas mais pesadas no colégio. Chegou ao Grupo Escoteiro bem na hora que estavam hasteando a bandeira. Ela ficou de longe olhando. Que belo espetáculo! Seus olhos se encheram de lagrimas. Era bonito demais. E os lobinhos e lobinhas correndo para formar? Que ordem, que disciplina. Ela já sabia que iriam fazer do Grande Uivo. Quem dera eu fosse uma delas. Sei tudo de cor! Disse.

                   Esqueceu-se das horas. Quando viu estava escurecendo. Ficou olhando para eles até o final. Correu rua fora e quase foi atropelada. Chegou a sua casa já noite escura. Na porta carros de policia e de parentes. Entrou pelos fundos. – Quem foi papai? Ela perguntou. – Meu Deus! Você está aqui. A mãe e o pai correram para abraçá-la. Eles choravam de emoção. Pensavam que tinha sido raptada. Mariel sabia que o lobinho diz sempre a verdade e contou tudo para eles. Contou com lágrimas nos olhos. Sabia que o castigo viria. E veio mesmo. Mais de dois meses sem computador e sem TV. Mariel não se incomodou. Sim ficou chateada por ter feito tudo sem avisar, mas sabia que nunca eles deixariam ir. Todos os meses do castigo ela não parava de lembrar-se do que viu e sentiu. Ah! Se fosse verdade e eu fosse um deles sonhava.

                       Paolo, Billy e Eddy Mário iam para a reunião dos seniores. Todos eles antigos no grupo. Foram lobinhos e agora estavam se preparando para conseguir o Escoteiro da Pátria. Eram amigos desde a Tropa Escoteira. Uma amizade que perdurou por anos. Pararam no farol na esquina da Rua dos Tamoios com a Avenida Campos Gerais. Esperou o farol abrir. Era um local perigoso e já ouve muitas batidas. Da avenida viram quando um Audi em disparada não obedeceu ao sinal e avançou a toda velocidade. Da Rua dos Tamoios um Utilitário azul da Toyota em velocidade normal viu o farol aberto e entrou. A batida foi forte. Uma verdadeira explosão. O Audi ficou completamente destruído. O Toyota rodopiou sobre si mesmo e quando parou uma pequena explosão no motor. O fogo começou. Não havia o que discutir e nem pensar. Os três correram para o Toyota que pegava fogo. O Audi não estava em chamas. Paolo com se bastão quebrou o vidro da porta do motorista e tentou tirá-lo. Não conseguiu.

                          Nada é impossível para escoteiros. Eles não deixariam o homem morrer. Alguém gritou da calçada que o Toyota ia explodir. Corram daí se querem viver! Gritaram. Billy pegou o bastão e foi para a outra porta. Quebrou o vidro e passou por ele, pois a porta estava emperrada. Cortou o cinto que estava preso com sua faca. Paolo e Eddy do outro lado arrastaram o homem para fora. O fogo aumentou. Billy sentiu seu uniforme pegando fogo. Pulou para fora do carro e se jogou ao chão rolando de um lado para outro. Conseguiu apagar, mas seu corpo teve diversas queimaduras. A Toyota explodiu a seguir. Graças a Deus ninguém morreu. O socorro chegou em seguida. O homem da Toyota estava desmaiado. No hospital Billy ficou internado por três semanas e saiu direto para a reunião de tropa. Sentia uma falta tremenda. Nunca faltou. Que chovesse canivete, mas ele estava lá na sua Patrulha Pico da Neblina.

                       Quando Billy chegou uma salva de palmas e todos correram para abraçá-lo e ele dizendo que não. As queimaduras não haviam sarado ainda. Aceitou aperto de mão, mas fez questão de dizer que ele e os amigos fizeram o que era certo. Todos eles a sua maneira agiram como Escoteiros. A formatura estava em andamento. Billy tomou seu lugar na patrulha. Notou que chegaram um homem, uma mulher e uma menina pequena e frágil. Eles tomaram lugar na bandeira. Após a cerimonia o homem pediu a palavra. Ele era a vitima do Toyota. Ele chorava. Quase não conseguia falar. Ainda não conseguia andar direito, pois sofrera uma fratura no braço e na perna. Foi até onde Billy, Paolo e Eddy estavam e lhes deu um grande abraço. – Nunca vou me esquecer de vocês! Ele disse chorando. Eu pensava que Escoteiros eram uma turma de arruaceiros, de jovens sem ter uma forma de vida e me enganei. Por anos neguei que minha filha fosse uma, pois ela sempre o desejou.


          Mariel mudou. Agora era um lobinha alegre e cheia de vida. Como era bom saber que seus pais também ajudavam o Grupo Escoteiro. Mariel no final do primeiro dia de reunião se ajoelhou quando os lobinhos e lobinhas faziam o Grande Uivo e mesmo sabendo que ela só iria participar depois da promessa, Mariel rezou. – Obrigado meu Deus! Consegui! Meu sonho se concretizou. – Todos olharam para ela espantados. Ela levantou, sorriu e gritou bem alto – “Melhor Possível”! Agora sou uma lobinha, e prometo a mim mesma que serei escoteira por toda a vida.

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