quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Samuel Escoteiro e as Sete Pragas de Rio Mimoso.


Lendas Escoteiras.
Samuel Escoteiro e as Sete Pragas de Rio Mimoso.

                  Estava eu em Pocitos (Montevidéu) e uma bela surpresa aconteceu, em carne e osso o Chefe Lépido (Marco Emilio Lépido) Gente fina. O conheci ha muitos anos em um Seminário Internacional Escoteiro em San José na Costa Rica. Ficamos amigos. Amicíssimos. Fazia mais de dois anos que não o via. Sentamos em um Café de frente para o mar e conversamos até altas horas da madrugada. Eu iria retornar ao Brasil no dia seguinte e ele iria partir para a Cidade do Cabo na África do Sul. Lépido era um emérito contador de histórias. Eu gostava do jeito dele. Narrava e vivia com as mãos e o corpo o desenrolar da história. Depois de gostosos Martines ele como sempre me contou uma das suas histórias. – Meu amigo foi em Rio Mimoso. Não tinha mais que vinte mil habitantes. Gostei muito do Grupo Escoteiro de lá. Turma excelente. Foi um Escoteiro de nome Samuel, de treze anos que me contou a história de Rabequita. Folclore da cidade, sem pais e só sabiam que ela morava no Morro da Tristeza. Morar lá era o fim do mundo. Rabequita andava o dia inteiro pela cidade apoquentando todo mundo. Falava palavrões, e todos corriam dela como o diabo corre da cruz. Só podia ser maluca diziam. Porque não a internam num hospício por ai?  O Prefeito Bafodonça tinha medo dela. O Dr. Pasquelino Gonzaga Juiz de Direito nunca chegou perto dela. O Delegado Praxedes lavou as mãos. Que ela morra, pois nem no seu enterro pretendo ir. E dava boas risadas.

                 Quem não gostava dela era as Damas dos Bons Costumes da cidade. Faziam tudo para sumir com ela de lá. – Tinham ódio de Rabequita. Ela só tinha um fã. Samuel da Patrulha Corvo. Todo sábado pela manhã, antes da reunião ele a levava a sua casa para tomar banho. Só tomava banho aos sábados. Sua mãe bem velhinha sorria e apoiava o filho. Ele conseguia roupas limpas para ela junto às famílias escoteiras. Ninguém entendia nada. Todos ficavam espantados quando ele segurava sua mão e sem nenhum palavrão o seguia. Rabequita gostava de Samuel. Depois do banho Samuel Escoteiro oferecia um lauto almoço. De lá ia para reunião Escoteira sorrindo e cantando. Era sua boa ação e se orgulhava dela. O Chefe Calango gostava de Samuel. Gostava da boa ação de Samuel. O mês de janeiro prometia. Um sol escaldante, nada de chuva. A represa que abastecia a cidade estava secando. As damas do Bom Costume rezavam. Pediam a São Tomás de Aquino e não a São Pedro para ele trazer chuva. Tantas procissões que os Escoteiros preferiam acampar em vez de ficar rezando. Não adianta diziam!

                   Rabequita só olhava de longe e dava gargalhadas enormes. – Alcoviteiras, viúvas de São Pedro, vagabundas da cidade ela gritava em cima de um caminhão Velho enquanto a procissão passava. As Damas ficavam tiriricas da vida. Seu Bispo! Onde vamos parar? Dom Casmurro (o padre) não sabia o que dizer. O bispo telefonou ao prefeito que telefonou ao juiz que telefonou ao Delegado e nada. Rabequita não parava de praguejar. Uma noite dormiu no chiqueiro do açougue do Zé Minhoca só para que todos pudessem sentir seu fedor na noite da procissão. O Padre Dom Casmurro engolia em seco. Toda vez que procurou Rabequita ela o mandava para aquele lugar. Um novo delegado a meteu no xadrez. Vou dar uma lição nesta “Sapopemba dos infernos”. O cheiro que ela soltou na delegacia foi demais. Solta foi para a rua jogar pedras nos carros e nas lojas. Samuel Escoteiro quando soube foi lá e a acalmou. Ninguém sabia o segredo de Samuel e porque ela obedecia. Disse para o delgado para ter paciência. - Não me enches a paciência menino, ela não sabe com quem está mexendo. Dito e feito uma colmeia de abelhas africanas invadiu a delegacia. Milhares e milhares delas.

                     O escrivão e dois soldados sumiram com a cara inchada de mordidas. O Delegado Prometeu chingava a Deus e o mundo. Montesuma um apicultor foi lá e recolheu a colmeia. À noite na procissão Rabequita gritou alto: - Querem chuva? Vou lhes dar chuva! E ria. E gargalhava. Trovões ribombaram nos céus. Um mundo de água caiu sobre Rio Mimoso. No inicio o povo dançava e cantava de alegria. Um dia, dois dias, três quatro uma semana. A chuva não parava. A ponte sobre o rio mimoso desabou. Rabequita dançava na chuva. A Tropa Escoteira em reunião discutia sobre o acampamento anual nas Pedras Nuas. Era o acampamento do ano. Vamos cancelar! Chefe, não cancele disse Samuel. Dê-me dois dias. Vou resolver. Samuel foi atrás de Rabequita. Ela lhe deu a mão pensando que era hora do banho. Samuel falou baixinho no seu ouvido – Rabequita, se a chuva não parar não poderemos acampar! O delegado na janela ameaçava: - Se esta feiticeira acha que vai rir de mim está redondamente enganada. Telefonou para Mar das Vertentes e falou com o delegado de lá. Pediu um rabecão para levar uma doida e internar no Hospício Esperança Feliz.

                      Levaram Rabequita a noite. Ninguém viu. No dia seguinte não amanhecia. Sempre noite. O que ouve? Outra praga de Rabequita? Um dia, dois três e a noite continuava. A cidade em polvorosa. O Delegado Prometeu ficou cismado. Cacilda! A mulher tem parte com o Demônio? Mandou trazê-la de volta. Ela o olhou e disse: - A próxima vez você vai virar um macaco prego pintassilgo! Irá morrer de tanto comer banana. O dia clareou para alegria de todos. O Prefeito Bafodonça e o Dr. Pasquelino Gonzaga o Juiz de Direito, reuniram a fina flor da sociedade local. O que fazer? Chamaram também o Escoteiro Samuel. Afinal ele era íntimo dela. Quem sabe ele podia aconselhar. Querem resolver? Perguntou Samuel. Dê a ela uma casinha boa perto do Cemitério do Paletó Preto. A cada dez dias mande o Senhor Marombático do Supermercado Preço Alto entregar uma cesta de mantimentos. Todo mês mandem levar para ela duas caixas de charutos Cohiba, aquele que o ex-presidente Lula fuma. – Mas este charuto é caríssimo! - Disse o Prefeito. - Tudo bem aceito. Durante cinco meses a paz voltou a reinar na cidade. Um dia Marombatico não cumpriu o prometido. A prefeitura não pagava. O inferno caiu sobre a cidade. Pássaros invadiram a cidade. Quem saia de terno voltava borrado. Nova reunião e tudo voltou ao normal.

– Mesmo na casa nova Manuel ia buscar para seu banho semanal. Um dia ela falou com ele que iria deixar a cidade feder por um ano. Manuel insistiu. Exigiu que ela tomasse banho todos os dias. Rabequita vou arrumar um marido para você. Só tomando seu banho semanal! Não deu outra. No domingo o mau cheiro soprava dos lados da sede do Perneta Footboll Club. Ninguém descobriu de onde vinha o cheiro. A cidade em peso de mascaras. Janelas fechadas, mesmo assim estava difícil viver.  Samuel deixou de levá-la para o banho. O cheiro desapareceu. Rabequita pediu um carro. Novo. Zero quilômetro. Manuel foi ao seu encontro e disse que ela queria demais. – Samuel a cidade me deve muito! O Prefeito Bafodonça explodiu! Nunca andou nem de bicicleta e agora quer um carro? A catinga piorou.


                 O Carro foi entregue. Um Honda Civic vermelho lindo de morrer. As Damas dos Bons Costumes cuspiam de ódio. Resolveram botar fogo na casa de Rabequita. Não conseguiram. Voltaram para suas casas frustradas. O pior a casa de todas estava pegando fogo! Meu Deus! É um demônio não é uma mulher!  Bem a história termina aqui. Samuel me disse que Rabequita cansou da cidade de Rio Mimoso. Mudou-se para a cidade de Boina Verde. Quando ela se foi, um foguetório enorme se fez rebombar na cidade. Ninguém teve dó do pessoal de Boina Verde. Dei belas risadas olhando para o meu amigo Lépido. Ele me olhava com expressão galhofeira. Verdade isto meu amigo? Palavra de Escoteiro! Ele disse. Tomamos mais umas duas cervejas Westmalle por sugestão do garçom. Despedimo-nos e cada um foi para o seu lado. Um quarteirão antes do hotel que estava hospedado vi uma mulher desgrenhada, suja, um mau cheiro horrível e chegou perto de mim e disse – Me paga uma cachaça filho da mãe! Paguei. Sei lá se era a Rabequita. Montevidéu não tem disto, mas não se pode acender uma alma a Deus e ao Diabo ao mesmo tempo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....