segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Do mundo nada se leva.


Lendas Escoteiras.
Do mundo nada se leva.

                Rato louco não perdoava ninguém. Gostava de roubar. Nunca matou, nunca fez mal ou feriu alguém. Roubava por roubar. Pensando bem não precisa disto. Rato Louco era Tomé dos Santos, filho de Doninha uma lavadeira que trabalhava de manhã à noite na beira do Rio Ponches. Nunca deixou faltar nada para ele. Porque roubava? Ela não entendia. Sempre o ensinou a ser bom, amigo, tratar bem as pessoas e estudar para ser alguém. Na escola ele ficou dois anos e foi expulso. Roubou a professora Matilde, o Diretor Tolon e os meninos mais bem aquinhoados da classe. Na rua todos corriam dele. Ele sorria se achava o tal, o valente o dono do mundo. Um menino magro, cabelos louros até bonito com seus treze anos fazer isto? Doninha perdeu as contas de quantas vezes foi à delegacia. Perdeu muitas freguesas por causa dele. O Delegado Paredes ameaçou dar um fim na sua vida. – Dona Doninha, levá-lo para a FEBEM na capital é perda de tempo. Ele vai fugir e continuar na sua sina de ladrão!

                          Agora ele tinha passado dos limites. Entrou na mansão do Juiz Moreno e roubou o que achou de valor. O Juiz subiu nas tamancas. Até sua medalha que o Presidente lhe deu ele roubou. Para que e para quem pensou o juiz. Sua mãe foi chamada e a coitada chorava. Não sabia o que fazer. Rato Louco nestas horas sumia. Ninguem sabia onde se escondia, pois viraram a tapera da Rua 12 onde sua mãe morava e nem sinal. O que será que ele pensava? Porque roubava? Era sua sina? Quando o entusiasmo penetra em tudo que fazemos, não pensamos no que foi ou será. Rato Louco nunca sentou para chorar, para pensar nos seus atos e consequências.  Seu caminho era este, um caminho de pedra sem imaginar se tem sol ou estrela no céu. Ele sorria ao saber que era um bandido. Não tinha amigos e quando sonhava se achava o mocinho das histórias de cinema. Para ele sua escolha era viver roubando sozinho, sem saber se vai morrer um dia ou se fica para a prisão que era a única que poderia lhe restar em sua vida.

                       Houve uma reunião secreta na casa de Mortimer, o Prefeito de Lagoa dos Mares. Ninguem nunca contou o que discutiram e quem estava lá. Ninguem viu pelo negrume da noite Rato Louco escondido na janela a espiar os quatro do apocalipse que discutiam o fim de sua vida. Um delegado entreguista, um Juiz desonesto, um prefeito mais ladrão que ele. Ele sabia que seria caçado e morto. Não tinha escapatória. Mandaram chamar o Tenente Macabeus da capital. Tinha fama de matador e seus soldados diziam rir quando alguém gritava pedindo perdão. Passou em casa na madrugada e sua mãe dormia. Olhou para ela e sentiu pela primeira vez um pingo d’água sair de seus olhos e rolar pela face até o chão. Pegou sua mochila, alguma matutagem um cobertor e partiu. Seguiu a estrada do Patrão e sumiu nas matas da Serpente. Andou até o dia começar a clarear. Sua barriga chiava de fome, tirou uns biscoitos comeu e continuou a se embrenhar mais e mais na floresta densa.

                         Nem lembrava quem lhe disse o que era sua vida desgraçada, gostava de declamar para si mesmo: - As ruas me ensinaram a ser o mais forte possivel... Não chorar por bobagem... Enfrentar o sofrimento com coragem... Vivendo, sofrendo e morrendo... Mas sempre lutando em busca do ouro... Da felicidade. Ria quando declamava. Sabia que nunca seria feliz. Sentiu o cheiro de fumaça quando o dia raiava. O sol entre as árvores tentava espantar a nevoa da floresta ao amanhecer. Na beira do Riacho do lobo viu duas barracas. Parou e esperou quem sabe poderia roubar alguma coisa? Notou meninos saindo debaixo delas. De uniforme no costado, chapelão encabeçado, brincavam cantando e dizendo que o dia era belo e tinha de ser aproveitado. Quando se sentiu notado pensou em correr, mas um deles o convidou para o café.
     
                          Do café ficou para o almoço para o jantar, para o leite quente antes de dormir novamente. Dormiu como nunca tinha dormido antes. Sentia uma paz que nunca sentiu. Tornou-se sem perceber um deles. Não tinha uniforme, mas lhe deram um lenço, um lenço lindo que amou pelo resto de sua vida cujos dias tão pouco durou. Aprendeu nós, amarras, ser um bamba com cipós a fazer coisas boas para usar. Pediu para ser ajudante do cozinheiro, nunca foi um bom mateiro, mas como aguadeiro e lenheiro não deixou de trabalhar. Aprendeu a gritar patrulha lobo, a cantar o Rataplã. Aprendeu a sorrir e pensou que poderia ser feliz. Agora tinha bandeira no mastro, bandeira arvorada, mata e pátria amada. Sentiu que podia mudar. Perguntou na noite do fogo se podia jurar, se podia prometer, se podia ser um menino honesto e com palavra como eles eram.

                             Dias menos dias o acampamento acabou. O sonho sumiu, os meninos escoteiros partiram e ele chorou. Porque não podia ser um deles? Alguém da patrulha lhe deu a mão, sapecou-lhe um abraço, enxugou suas lágrimas. – Seja um de nós, seja nosso irmão, somos do mesmo sangue Badeniano. Tu e eu seremos um só. Partiu com eles para a cidade. Sorria marchando na estrada, sorria pensando na vida que se transformava. Parou na curva da porteira. Viu um Jipe policial, reconheceu o Tenente Macabeus rindo pela sua presa encurralada. Os meninos escoteiros fizeram um círculo a proteger, mas nada segurava a soldadesca que sorria ao ver que sangue seria derramado. Os meninos escoteiros choravam, pediam por ele sem intercessão de ninguém. Jogaram-no jipe como se fosse um saco de estrume. O jipe soltou poeira partindo para destino ignorado.

                               O tempo passou, a chuva chegou, o sol saiu e a lua cheia bela como sempre apareceu no céu de Lagoa dos Mares. Diziam que a paz voltou à cidade. Nos Escoteiros seis meninos sentiam um nó ao dizer seu nome. Quando se reuniam choravam de tristeza como se tivessem perdido alguém que muito amavam. Para eles Rato Louco nunca existiu. Quem estava com eles era Tomé dos Santos, um amigo conquistado. Passou semanas e meses e nunca mais se ouviu falar em Rato Louco. De novo nas matas da Serpente os meninos escoteiros acampavam. O dia passou, a noite chegou. Não havia luar, mas o firmamento cheio de estrelas traziam saudades do ar. Uma fogueira, um triste cantar, uma vontade enorme de dar as mãos e rezar. E eis que uma voz gemida, tremida aparece entre a fumaça do fogo e as brasas quase adormecidas.


                             - Amigos, quanto tempo parei no tempo esperando vocês, aqui eu moro aqui eu vivo aqui eu sonho em ser Escoteiro. Foi aqui que vivi os dias mais belos de minha vida. Hoje sou espírito, sou fumaça, sou errante perdi a graça, pois já não vivo junto a vocês. Elevo-me no ar, faço piruetas, vou aos cumes, sem sossego, sou um sopro que perdeu o canto, hoje quando canto os passarinhos se calam na mata. Não vejo a hora de me calar também! - Um silêncio profundo. Escoteiros em pé, mãos entrelaçadas, alguém canta que não e mais que um até logo, outro saudando o amigo que partiu para eternidade! – Um por todos! Todos por um! 

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Nascer e morrer em Casablanca.


Lendas Escoteiras.
Nascer e morrer em Casablanca.

                     O mundo fugiu dos meus pés... Não era eu quem estava ali, quem sabe apenas meu corpo, pois tudo que amava apagou como a luz brilhante no opaco da vida. Passou pela minha mente aquele poema que não sabia e nem tampouco decorei: - E agora meu Deus? A festa acabou a luz apagou, meus sonhos sumiram, a noite esfriou. E agora meu Deus? Esqueci o meu nome, zombaram de mim, já não faço mais versos, nem sei mais protestar. Foi como um tapa no rosto, na hora morri de desgosto e achei que não ia dar mais. Afinal era feita de escotismo, era minha vida, meu ser minha alma. O que eu fiz? Juro que não sabia, mas são tantos a ver o que outros fazem, maledicências me jogaram aos lobos que sem perceber eu agora via quantos deles estavam a minha volta. Tentei olhar para Dona Belinha, eu há admirava tanto, pensei que poderia um dia ser minha mãe e a decepção singrou o absurdo que ela dizia. Não era a Belinha que conheci, não era a amiga que eu pensava ter.

                   Quando meu pai quando minha mãe foi para a Estrela de Capella eu chorei demais. Tinha somente seis anos. Ele resolveu mudar de cidade, dizia para mim que ali era demais para ele. Foi onde conheceu minha mãe, casaram eu nasci. Não lembro muito de tudo, mas eu era feliz. Tinha amigas no bairro e não queria mudar. Mas meu pai estava irredutível. Fomos parar em Casablanca. Nunca tinha ouvido falar nesta cidade. 15.000? 20.000 almas moravam ali? Aprendi a fazer novos amigos, melhor ainda entrei como Lobinha no que mais tarde passou a ser o motivo de viver, uma filosofia de vida. – Tônia dizia meu pai, passei a amar esta cidade, minha filha aqui cheguei e aqui irei partir ao encontro de sua mãe quando chegar a hora. O tempo passava célere, Nas Escoteiras vibrei cada minuto que estive ali. Passei para as Guias. Tropa Mista. Não sabia se ia gostar.

                   Chefe Lima um amor de pessoa. Não tinha assistentes. Era só ele e três patrulhas com seis meninas participando. Eu era da Zodíaco, passei a amar a patrulha. Nunca tive queda por nenhum Sênior. Não era de namorar. Meu sonho era viver no campo, armar uma barraca dormir sob o luar admirando estrelas. Sorria baixinho quando mais nova pensava em ser freira. Acho que podia ter sido uma. Católica presente em todas as missas, confessando uma vez por mês achava que vivia em paz com Deus. Nunca pensei que aquilo ia acontecer. Era impossível na minha maneira de pensar. Quantas vezes fui à Casa do Chefe Lima e Dona Belinha me abraçava me contava “causos” histórias quando era de minha idade e eu dava boas gargalhadas. Parecia que ela me amava... Parecia.
                    
                   Ela chegou logo quando estávamos sentados embaixo de um pequizeiro, uma bela sombra, conversávamos sobre a próxima atividade aventureira que íamos fazer. Ela não cumprimentou ninguém. Nem ligou para o Chefe Lima. Parou em minha frente e começou a me chamar de vagabunda, cachorra, desocupada e nomes que prefiro não dizer aqui. – Deus do céu! O que estava havendo? Foi então que o Chefe Lima se aproximou – Belinha, por favor! Pare com isto. Enlouqueceu? – Agora você a defende seu safado. Não vive abraçando? Não vivem beijando? Quando vezes me traiu com ela? Devem ter sido milhares. Maldito, não quero saber mais de você. A Tropa estava boquiaberta. Ninguem sabia o que dizer. Dona Belinha saiu chorando e gritando que preferia morrer a me ver novamente ou ao Chefe Lima.

                    Não dava para ficar na reunião. Corri para casa aos prantos. Meu pai assustou. Perguntou o que era – Contei a ele, nunca tivemos segredos. Ele ficou fulo, já ia saindo para tirar satisfações com o Chefe lima e Dona Belinha. Implorei a ele que não fizesse isto. Fui para o meu quarto. Rezei, pedi a Deus que me desse uma luz, onde foi que errei. Não sabia. Nunca tive nada com o Chefe Lima. Nunca tive nada com nenhum Sênior. Nem namorado eu tinha. Fiquei de cama com febre e não parava de chorar. Quilombo um monitor da Touro apareceu na minha casa no segundo dia. Só ele foi me visitar. Não falou uma palavra e nem disse o que acontecia no grupo Escoteiro. Nenhum Sênior, nenhuma guia apareceu. Será que não acreditavam em mim? Eu precisava de uma força, de alguém que me amparasse que acreditasse em mim e isto só meu pai fazia. Resolvi não voltar mais. Se me achavam culpada que fosse. Eu não ia pedir desculpas por algum que não fiz.

                      Um mês depois uma surpresa. Dona Belinha bateu em minha porta. Fiquei assustada. De novo não! – Mas ela foi pedir desculpas. Desculpas? Destruiu-me internamente, me acusou de algum que não fiz. – Tônia ela disse – Meu Deus, o que fiz a você? A culpa foi do Lima. Eu vivia dizendo a ele que parasse de abraçar as meninas. Ele só as abraçava. Jurou-me que fazia isto inocentemente, mas um dia Chico Nonô, Patrício Romualdo e José Carlos da Patrulha Gavião conversavam na minha porta. Só ouvi que o Lima estava de caso com você. Que nos acampamentos foi pior. Chorei a noite toda. Interpelei o Lima e ele sempre dizendo que nada havia e era inocente. No sábado não aguentei mais. Aprontei aquele barraco com você. Deus meu o que fiz? Você inocente e acusei injustamente. O tempo foi passando e procurei saber a verdade. Um dia encontrei os três na porta da padaria. Abaixaram a cabeça e disseram que era tudo mentira. Eles estavam muito arrependidos.

                      E como me redimir? Dizia ela. Perdão é a única coisa que posso fazer. Exigi ir ao Conselho de Chefes, fui lá contei tudo. Todos permaneceram calados. Vontade de no Cerimonial contar a todos. Mas o mal estava feito. Lima saiu da Tropa. O escotismo para ele era tudo e agora não é nada. Minha vida com ele não tem mais razão de ser. Ele disse que nunca vai me abandonar, mas eu não sei o que fazer. – Dona belinha foi embora chorando. Mas pensei comigo como voltar? Se meu grupo meus amigos e amigas nem se deram conta de me visitar, de falar comigo de me ajudar na hora difícil eu iria voltar? Nunca mais voltei. Quando fiz dezoito anos pedi ao meu pai para me levar no Convento das Carmelitas. Estou lá há dez anos. Sinto-me bem, não tenho mais ódio no meu coração. Volto sempre ao Grupo Escoteiro que foi minha vida. Agora como freira sou muito bem recebida. Não guardo mágoa e nem rancores.


                         Sei que o escotismo prega o bem, o amor, a bondade e o perdão. Quem sabe aqueles que eram do Grupo Escoteiro ainda não tinham crescido nestas habilidades. Eu rezo muito, peço a Deus que os proteja e o ensine que a Lei Escoteira não foi feita para ler e dizer a todos que existe, a Lei Escoteira faz parte de cada um, se ela não for uma trilha para seguir na vida então nada vale uma promessa. De tudo guardo boas lembranças. Nada de ódio no coração. Que todos eles sejam felizes!

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Katia. Minhas quinze horas de terror.


Katia.
Minhas quinze horas de terror.

                                 Esta é a história de Katia. Katia era guia. Da Patrulha Sete Quedas. Katia adorava o escotismo. Estava nele desde lobinha e nunca perdeu uma reunião, um acampamento. Ela, entretanto tinha um segundo amor. Orquídeas. Era louca por orquídeas. Em casa tentava fazê-las viver e rejuvenescer. Nem sempre conseguia. Tudo que escreviam ou falavam sobre elas ela lia. Ela nem bem fez quinze anos e a passaram para guia. Disseram que era uma tropa nova formada só por moças. Ela achou bom. Teria maior liberdade o que não acontecia quando sub-monitora na tropa Escoteira. Ela sabia que havia mais de trinta mil espécies de orquídeas e fáceis de cultivar em casa. Lindas, coloridas, perfumadas cabiam em qualquer lugar e como era cuidadosa duravam anos. Seus amigos e até um professor de seu colégio já tinha ido visitar seu orquidário.

       Nos acampamentos sempre tentava descobrir alguma árvore, próximo ou não de uma floresta que tivesse uma orquídea. Quem sabe descobria alguma que não conhecia. Lorena sua monitora já alertara ela diversas vezes que nunca devia sair sozinha e sempre avisar aonde ia. Claro o tempo livre era pouco e Katia não perdia tempo. Já tinha dois dias que estavam acampadas em um sitio e bem próximo uma linda mata. Ela tinha certeza que iria encontrar lá a “Phalaenopsis”, pois o ambiente da floresta com pouca humidade era próprio para isto. No segundo dia logo após o almoço sabia que haveria um tempo livre de pelo menos três horas. Não era a cozinheira e pela manhã tinha construído uma bela de uma mesa com bancos reclináveis.

        Sabia que não devia sair só, mas estavam todas tão entretidas com seus afazeres que escapuliu e se embrenhou na mata. Não andou muito. Próximo a um pequeno vale bem profundo ela avistou em uma árvore o que achava ser uma “Phalaenopsis”. Não se fez de rogada. Tirou a blusa de frio e lá foi ela arvore acima, pois tinha um bom treino em subir em árvores. Encantou-se com a orquídea. Linda, maravilhosa. Esqueceu que estava em uma arvore escorregadia. Caiu, um tombo enorme, quando batia nos galhos da árvore sentiu que um galho havia atravessado sua coxa esquerda. Na hora não sentiu nada, pois rolou em uma ribanceira caindo entre um vale onde havia uma vegetação espessa que escondia o que havia por ali.

        Agora sim, via que não podia mexer com a perna. Uma dor terrível. Um braço estava quebrado. Não podia se movimentar. Teve vontade de chorar, pois sabia que ali dificilmente iriam encontrá-la. A tarde chegou e veio à noite. Ouviu vozes e gritos tentou gritar e não conseguiu. Alguma coisa a impedia de falar. Logo o silencio da noite voltou novamente. Para Katia seria uma noite de terror. A Patrulha deu falta dela logo após a chamada geral. Busca daqui e dali e nada. O desespero passou a acompanhar todos os participantes. A Chefe Maria ligou para os bombeiros na cidade. Não demoraram e antes do escurecer mais de vinte homens experimentados na arte de sobrevivência na selva lá estavam. Até meia noite tentaram e depois só no dia seguinte. Uma nevoa espessa e terrível tomou conta da floresta. Não se via um palmo adiante do nariz. Todos choravam. Ninguém conseguia dormir. Os pais de Katia chegaram. Ainda bem que eram calmos. Diziam confiar na filha e em Deus. Ela tinha experiência e não se deixaria levar pelo desespero. Aconteça o que acontecer.

          Miltinho tinha cinco anos. Todos o chamavam de manteiga, porque ele não sabia. Sua mãe era assistente da tropa. Não tinha com quem deixar e o levou para o acampamento. Ele dizia ver coisas. Ninguém acreditava. Coisas de crianças diziam. Chamou sua mãe. – Mamãe, eu sei onde ela está. A mãe não acreditou. Ele pegou na mão do Capitão Marquetti. – Venha comigo, eu sei onde ela está. O capitão o olhou de soslaio. Resolveu segui-lo floresta adentro. Passava das quatro da manhã. O dia ainda não tinha amanhecido. – Ali ele apontou. O capitão Marquetti desceu até a ravina. Katia estava lá. Desmaiada. Praticamente com avançado estado de hipotermia. Sonolenta não ouviu e nem sentiu a chegada deles. O Capitão Marquetti viu que seu ritmo respiratório a estava levando a uma parada cardíaca. Se tivessem demorado mais meia hora Katia teria morrido.


        Ele chamou pelo radio outros bombeiros. Levaram Katia ao hospital. Um mês depois ela estava em casa. Não houve sermões, admoestações ou ameaças. Ela voltou a Patrulha e a tropa. E agora nunca mais, mas nunca mais sairia sozinha do campo de Patrulha. Bastou àquelas quinze horas de terror para aprender a lição. Que sirva para todos os meus amigos escoteiros.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Margarida, um jagunço do Sertão.


Lendas Escoteiras.
Margarida, um jagunço do Sertão.

Nota – Alteramos os nomes próprios e das cidades para preservar a privacidade dos participantes seniores. Tanto tempo que nem sei mais quantos ainda estão ainda neste belo mundo de Deus. A história aconteceu em parte, outra faz parte dos contadores de histórias. Não dizem que quem conta um conto aumenta um ponto?

                              - Conheço o caminho disse Boca Larga. Quando Escoteiro eu e minha patrulha entramos na trilha do Lobo e em menos de cinco horas saímos próximo a Malacacheta. Pela estrada do Rei iremos demorar mais de doze horas. Cento e cinquenta quilômetros, a maioria morrada e subida. – Cabeçudo o sub Monitor concordou. Ele também já tinha percorrido a trilha do lobo. Unha Grande o intendente ficou em duvida. – Tem quanto tempo que vocês passaram por lá? Dois três quatro anos? Será que a trilha ainda existe? Nariz Longo o Monitor pensava no que todos diziam. Cabeludo o cozinheiro nunca dizia nada, sempre calado. - Se formos iremos em cinco. Dedo Duro não vai, seu pai vai viajar e resolveu levá-lo consigo. Esta jornada não estava no programa e foi o Chefe Sansão quem nos disse que soubera de um novo Grupo Escoteiro em Malacacheta. – Porque não vão lá e confirmam se realmente tem um Grupo Escoteiro? Afinal o Acampamento distrital será daqui a dois meses e mais um grupo será ótimo.             
                      
                                Ninguém nunca tinha ido a Malacacheta. Seu Tonico motorista do ônibus foi quem nos contou como era o caminho. – Olhe são quase cento e cinquenta quilômetros. O ruim é que é subida e descida. Tem a Serra do Quati que têm bem uns sete quilômetros só de subida. Nariz Longo pôs em votação. Vamos pela estrada ou pela trilha do lobo? Todos votaram pela trilha. Se fosse verdade o que Boca Larga disse iriam fazer o trecho todo em menos de cinco horas. Tudo combinado, ração B para três dias, duas barracas de duas lonas, um caldeirão e uma caçarola, facão e machadinha. Às oito da noite de sexta feira tudo acondicionado nas bicicletas partimos. A trilha margeava o Rio Verde um velho amigo conhecido. Lá pelas duas da manhã paramos. O céu estrelado e uma linda lua cheia prenunciava tempo bom. Não montamos barraca. Melhor dormir sob as estrelas. Nossa sopinha Estava quase no ponto. Todo mundo com uma fome danada. A madrugada ia brava e foi então que fomos surpreendidos. Apareceu de surpresa sem se anunciar. Estava ali a nossa frente em pé. Um homem magro, barbudo, uma fileira de dente todos cariados. Usava perneiras, pois era uma região espinhosa. Chapéu de couro. No ombro seu fuzil inseparável que ele chamava de Loló. Amarrado na barriga um enorme colt 45. Depois fiquei sabendo que em cada perna tinha um punhal escondido. Quem seria? Todos nós ficamos preocupados.

                      Posso me adentrá? Falou baixinho. Olhamos espantados. Ele sério. – Me chamo Margarida, dá para comer com vocês? – Claro eu disse. Ficamos de olho e atento no que ele ia fazer. Coragem? Nada disto, mas dizem que ficar alerta faz bem em toda e qualquer ocasião. Sentou tirou um prato sujo do seu bornal e Boca Larga encheu. Comeu feito um esfomeado. Não pediu mais. Só água. Tínhamos café no bule esquentando no canto do fogão tropeiro. Bebeu com gosto. – Falou pouco. Meu nome é Margarida, meu pai me deu. Nunca mudei. Por causa dele matei muita gente. Se me chamam sem rir tudo bem, se acham graça esquento o bucho de quem se fizer de gozador. – Olhei para Unha Grande e ele piscou. Queria rir. Meu Deus! Não deixe ele rir!

                     - Não precisam ficar com medo. Me trataram bem. Vou embora lá pelas cinco da manhã. Podem dormir tranquilos. Enrosquei em minha capa preta em volta do fogo. – Você nasceu onde? Perguntei. – Em Barra Dourada. Próximo a nascente do Paraopeba. Lembrei-me do rio. Cascalho imundo. Pobre do rio. Estragaram ele tentando achar um ouro que não tinha. Até hoje as máquinas estão lá sujando o rio. Cabeludo queria saber mais. – Matou quantos Senhor Margarida? – Não me chame de Senhor. Senhor é o Senhor seu pai! – Putz grila! Pensei. Mas se quer saber matei mais de dez. Muitos porque riram do meu nome. Maldita hora que meu pai me batizou assim. Queria uma menina e nasci macho. Agora não tenho onde ficar. A policia de captura sempre está atrás de mim.

                       Fiquei calado. Nariz Longo me olhava e piscava os olhos. Margarida desconfiou. - Porque esta piscação? Nada Seu Margarida. Nariz Longo tem um defeito na pálpebra. – E que merda é esta de pálpebra? Danou-se! Custei para explicar. Já estava tremendo. Margarida passou boa parte da noite sentado. Eu não consegui dormir. Fingia que dormia. Às cinco da manhã juntou suas coisas, um bornal que devia levar suas balas, seu fuzil e já ia partir quando dei ele um farnel de biscoito de polvilho. Agradeceu, ficou em posição de sentido, gritou Sempre Alerta e partiu sem sorrir. Consegui cochilar até as seis. Ouvi um tropel de cavalos. Cinco soldados e um Capitão. Deviam ser a tal policia de captura.

                       Ninguém apeou. O Capitão perguntou gritando: – Viram um jagunço magro, barbudo, armado até os dentes por estas bandas? E agora? O Escoteiro tem uma só palavra falar o que? – Não Senhor. Chegamos aqui às duas da manhã. Só deu para fazer uma sopinha um café e já íamos partir. – Vão para onde? Malacacheta Senhor Capitão. Fazer o que lá? Nosso Chefe soube que tem um grupo Escoteiro lá. – Acho que não tem, passei por lá há dois anos. – Nosso Chefe Sansão disse que sim! Nos olhou ressabiado deu até logo e partiu. Pegamos as bicicletas, arrumamos tudo e quando íamos partir um barulho no mato e surgiu Margarida. – Ainda bem que não disseram nada, falou. Estava com a Loló (fuzil) armada e se dissesse que me viram iam levar uns tiros no rabo!


                     Foi embora cantando. ¶“Sordado marvado, sai da carçada que lá vai porva!”¶. Resolvemos voltar para nossa cidade. O Chefe Sansão que nos desculpasse. Para dizer a verdade eu estava com as calças toda molhada e outros com elas borradas. Não dava mais para prosseguir. Nunca mais ouvimos falar de Margarida. Do capitão não. Era famoso. Quando a cadeia estava cheia, pegava uns ladrõezinhos de fancaria colocava em fila e saiam pelas ruas da cidade e fazendo-os gritarem – Roubei galinha! Roubei o porquinho da dona Noêmia. Bebi demais, sou pinguço! Depois soltava. Pois é. Seis meses depois recebemos a visita dos Escoteiros de Malacacheta. Não acreditaram em nossa história, mas conheciam Margarida. Ficamos amigos e fomos varias vezes na cidade deles a convite. Bons tempos, tempos que uma bicicleta ou um Vulcabrás nos pés nos levava a aventuras inimagináveis. E Margarida? Sumiu no mundo.      

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Rudá, o cão sarnento do Vale do Eco.


Lendas Escoteiras.
Rudá, o cão sarnento do Vale do Eco.

                - Hoje não o tenho visto mais. Nem mesmo Uiara que acredito lhe deu os momentos mais belos em sua vida. – Olhei de novo para Montezuma. Não havia como duvidar. Seu porte, seu olhar ainda era de um índio orgulhoso como todos aqueles que nasceram na nação Xavante. Mesmo que seus irmãos não tem mais aquela postura do passado ele ainda mantinha seus hábitos, costumes e tradições. Ficamos calados por instantes. O único som era da cachoeira do macaco, onde estávamos sentados observando a secura do rio que outrora fora um gigante de águas caudalosas. Ficamos amigos há tempos. Ele me respeitava como Chefe Escoteiro e eu tinha por ele um orgulho em saber que era um autêntico Xavante orgulhoso de sua tribo. – Minutos depois ele me olhou, e orgulhosamente completou: - Chefe dos meninos do bem, eu digo e repito se você fala com os animais eles falaram com você e se reconhecerão uns aos outros. Se não falar com eles você não os conhecerá e o que você não conhece você temerá. E terminou dizendo – E aquilo que tememos nós destruímos!

                  - Eu o vi um dia na Beira do Lago Salgado, em uma tarde modorrenta com mais dois chefes escoteiros que me acompanhavam. Não vi Uiara sua companheira. Era um cão feio, sarnento com um dos olhos furados talvez por uma lança ou por um tiro de espingarda. Queria saber sua história, queria saber onde dormia onde morava. Montezuma não se fez de rogado quando o visitei naquele verão cujas chuvas não estavam mais caindo do céu. – Pensei em ver lágrimas em seus olhos, mas um bravo não chora. Prefere a morte a mostrar que um índio possa ser igual as suas mulheres. – Chefe dos Meninos do bem, Rudá era um cão do Pagé Kopenak e não era amigo dele. Nunca o alimentou e quando Uiara apareceu e ele a seguiu Kopenak não se importou. Os viu desaparecendo na curva do Touro das Águas Mornas. Ele nunca mais voltou à tribo e ninguém deu por falta dele.

                     Foi no inverno das cinco luas que ele apareceu novamente. O pelo amarelo cresceu, havia outro porte, outra maneira de andar e olhar. Suas orelhas ficaram pontiagudas e seu rosnado tinha um que de feroz que assustava. O Pagé Kopenak quando o viu tentou se aproximar. Desistiu, pois viu que os olhos de Rudá agora estavam vermelhos como brasas do sol poente. Uiara de longe só observava. Rudá ficou em pé no centro da taba do Cacique e latiu. Um latido forte que parecia um ganido de um cão raivoso e que assustou toda a tribo. O dia virou noite, não havia estrelas no céu. O ribombar dos trovões pipocavam, mas não havia raios nem chuva. Uiara deitou a sua frente em pose submissa e não latiu. De longe a tribo assustada olhava aquele cão que quando sarnento ninguém deu nada por ele. Agora parecia um animal enorme, mais que uma onça pintada daquelas que só encontramos nas margens do Rio Piquiri longe de Cuiabá bem perto do maior lago do Pantanal Brasileiro.

                    - Chefe dos meninos do bem, ninguém sabia o que dizer ou fazer. Aquele cão sarnento agora tinha o espírito do Deus dos animais, parecia vivo vindo dos altos Solimões onde habitavam os Mavutsinim, o primeiro índio criador dos povos do mundo, da serpente, do fogo e da água. Um clarão fez aparecer junto a Rudá à bela filha de Marangatu, Kerana, como se seu espirito fosse revivo quando morreu nas águas turvas do Rio Corumbá. Ela levantou as mãos e pediu silêncio. A tribo ajoelhou assustada com aquela volta de alguém que já tinha partido para a “Aldeia Divina” e sob as benções do Pagé. Todos tinham visto que seu caminho foi o mesmo de muitos que também se juntaram aos grandes espíritos que hoje moram nos céus.  Kerana de mãos levantadas começou a cantar uma canção que Montezuma conhecia. - Nesta mata distante sob a luz do luar, ouço uma canção linda que não pode parar, pescadores de sonhos são defensores da vida, eles dançam em roda para comemorar. Os pés descalços há muito tempo vivem aqui. São os Índios valentes, Tupi Guarani.

                 - Em seguida ela orou ao Deus Anhangá emocionando toda a tribo que chorava copiosamente. - Ó Grande Espírito, cuja voz ouço nos ventos, cujo sopro anima o mundo, ouça-me. Sou pequeno e fraco, preciso de sua força e sabedoria. Permita que eu caminhe na Beleza, e faça que meus olhos contemplem para sempre o vermelho e a púrpura do sol poente. Faça com que minhas mãos respeitem todas as coisas que o Senhor criou. Faça meus ouvidos aguçados para que eu ouça a sua voz. Faça-me sábio para que eu possa entender tudo aquilo que o Senhor ensinou ao seu povo. Permita que eu apreenda os ensinamentos que o Senhor escondeu em cada folha, em cada pedra. Busco força, não para ser maior do que meu amigo, mas para lutar contra meu maior inimigo – eu mesmo. Permita que eu esteja sempre pronto para ir até o Senhor de mãos limpas e olhar firme. Assim, quando a minha vida estiver no ocaso, como o sol poente, que meu Espírito possa ir à sua presença, sem nenhuma vergonha.

                     Um enorme clarão e Kerana desapareceu. Rudá e Uiara partiram devagar sem olhar para trás. Foi um dia que marcou a tribo e que aprendemos a respeitar os animais, pois no fundo eles são melhores que nós. – Fiquei ali olhando para Montezuma. Pensei em perguntar onde poderia encontrar Rudá e Uiara. Ele me olhou com aqueles olhos negros profundos como a dizer que nunca me diria. Passei quase um ano sem voltar à tribo dos Xavantes e quando estive lá pela última vez não encontrei mais Montezuma. – Só me disseram que ele partiu rumo a Grande Aldeia do Universo. Confesso que me deu enorme tristeza, pois Montezuma era um dos poucos amigos índios que ainda preservava. No passado tive outros que também se foram com os grandes espíritos em busca dos seus ancestrais na eternidade.

                        Naquela noite retornando no Trem Noturno me lembrei do poema de Tecumseh – Viva sua vida de forma que o medo da morte nunca possa entrar em seu coração. Nunca incomode ninguém por causa de suas escolhas. Respeite os outros em seus pontos de vista, e exija que eles respeitem os seus. Ame sua vida, aperfeiçoe e embeleze todas as coisas em sua vida. Busque fazer sua vida longa e de serviços para seu povo. Prepare uma canção fúnebre nobre para o dia quando você atravessar a grande passagem. Sempre dê uma palavra ou sinal de saudação quando encontrar ou cruzar com um estranho em um local solitário. Demonstre respeito a todas as pessoas, mas não se rebaixe a ninguém. Quando se levantar pela manhã agradeça pela luz, pela sua vida pela sua força. Dê graças por seu alimento e pela alegria de viver. E Quando chegar sua hora de morrer, não seja como aqueles cujos corações estão preenchidos de medo da morte. Cante sua canção de morte, e morra como um herói indo para casa.


                     Ah! Nunca esqueci meus amigos índios, hoje vivo de minhas lembranças de Rudá que só vi uma vez e nunca encontrei com Uiara que hoje vivem felizes nas matas verdes do Brasil!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Lembranças saudosas do Escoteiro Chico Viola.


Lendas Escoteiras.
Lembranças saudosas do Escoteiro Chico Viola.

                  Cheguei cedo à sede. Estavam todos reunidos no Canto de Patrulha do Morcego. Havíamos combinados antes para discutir sobre a excursão a Ponte Queimada no mês seguinte. Todos ficaram em pé, pois o Chefe Salomão chegava acompanhado de um menino. Ele nas costas tinha uma viola presa por um talabarte marron. – Morcegos! Disse o chefe – Este é o Chico. Todos os chamam de Chico Viola. Sei que vocês estão com seis patrulheiros e achei que ele poderia pertencer à patrulha de vocês! Ninguém disse nada, pois logo em seguida o Chefe chamou para a abertura no Cerimonial de Bandeira. A Tradição foi realizada. O Monitor antes da bandeira pediu licença o Chefe e se aproximou com o Chico. – Chefe! Ele falou alto, este é o jovem Chico, ele quer ser um de nós! – Aproxime-se Chico, disse o Chefe. Em breves palavras disse onde morava, nome dos seus pais e pediu às patrulhas que dessem o grito de boas vindas. A nossa ficou por ultimo. Rezava a tradição que o grito seria dado no meio da ferradura.

                    O primeiro dia de Chico Viola foi de perguntas. – Porque esta viola no seu ombro? Ele respondeu calmamente- Porque ela é minha vida, vai aonde eu for. – Todos se entreolharam. Chico não tirava nem mesmo na hora dos jogos. Alertado por Pitoco o Monitor que ele poderia quebrar ele fingiu não ouvir. No final da reunião a patrulha pediu a ele para tocar. Meu Deus! Como tocava a viola. Estávamos maravilhados e nem notamos que a maioria dos Escoteiros, das Escoteiras lobos seniores e guias fizeram uma roda em silêncio. Ele tocou Asa Branca, Casinha Pequenina, Trem das Onze, As Rosas não falam, Chega de Saudade, Menino da Porteira, Carinhoso e quando assustamos eram mais de nove da noite. Ele ainda teve tempo para tocar Luar do Sertão. Fui para casa como se estive na rua pisando em flores. Apesar dos meus quatorze anos, naquela época eram as músicas que faziam sucesso nas rádios. Ele não tocou naquele dia musicas Escoteiras. Não conhecia nenhuma.

                  Chico Viola aos poucos foi conquistando a patrulha, a tropa a Alcateia e os seniores. Toda noite lá estamos apinhados em sua volta para ouvir as canções que ele tocava com maestria. Quando aprendeu o Rataplã fiquei boquiaberto, ele conseguiu dedilhar a viola e imitar uma caixa clara repicando. Mais tarde dominava todas as musicas Escoteiras. Encantava a escoteirada, mas fazia questão de aprender todas as técnicas Escoteiras. Nunca esqueci naquela jornada na Gruta do Morcego, que na estradinha o Chefe dividiu as patrulhas sendo que duas iam à frente e outras duas atrás seguindo a pista deles. Devíamos ficar de olho, pois eles esconderiam nas proximidades e tentariam tomar nossos escalpos. Em dado momento Chico Viola disse ao Monitor – Pare. Eles estão escondidos atrás daquela Moita de Assapeixe. – Como sabes perguntou o Monitor – Eles pararam aqui, veja parte do mato mais baixa que os demais. Um deles foi à frente e fez os sinais a poucos metros daqui voltando de costas para que suas pegadas assim todos acreditassem que iam em frente. Meu conselho? Cada um vai voltando devagar até a Curva do Sino e lá quando estivermos juntos daremos a volta no bosque e os pegaremos de surpresa pelas costas!

                        Dito e feito. Ganhamos o jogo. Mas ele tinha um cuidado especial nos acampamentos. No primeiro eu o convidei para me ajudar na confecção da mesa Tripé. Ele já era bom em nós. Fazia um volta de fiel, um balso pelo seio, um aselha duplo, um direto ou escota ou mesmo um nó de pescador com os olhos fechados. Com uma só mão dava lição com um volta de fiel simples o duplo, com um arnês, lais de guia, volta da ribeira e muitos outros. Fazer uma costura de arremate ou uma amarrada diagonal ou paralela era maneiro para ele. Quando o chamei ele me olhou de soslaio foi até sua mochila e pegou uma luva de pelica. Achei uma frescura e falei para ele. – Vado, minhas mãos fazem parte de mim, sem ela não posso tocar minha viola. Calos ou corte só irão me prejudicar no futuro. Interessante que Chico Viola não tinha boa voz para cantar. Enrolava e como tocava muito bem todos acreditavam que ele seria um grande cantor e um bamba na viola.

                           Quando passei para os seniores ele foi também, pois tinha estourado a idade. Não chegou a primeira classe, mas conseguiu doze especialidades, dentre elas a de Sinaleiro, cozinheiro, acampador, socorrista e Construtor de Pioneirias. Ele ficou conosco por mais dois anos e um dia foi embora. Fez questão de dizer ao Chefe Salomão que precisava estudar música e só capital conseguira. Como as noites ele tocava sua viola na Cantina do Valdomiro um dia um cliente viu e gostou. Ofereceu sua casa e matriculá-lo na escola de musica. É muito triste a partida de alguém que amamos. Chico Viola fazia parte de nós. Até hoje aprendi a cantar e amar as músicas da minha terra que eu conhecia, mas não com tanta profundidade.

                           Lembro-me com surpresa doze anos depois encontrei Chico Viola em um Restaurante na Rua das Acácias na capital do estado. Ele era o Proprietário. Sorriu quando me viu e me abraçou a mim e a Célia. Sentou conosco por muito tempo. Contou sua história. Estudou música, fez parte da Sinfônica Estadual, mas um Maestro rancoroso e prepotente fez com que ele desistisse. O Maestro tinha poder e por onde procurava um emprego via seu pedido negado. – Vado, a vida me ensinou muitas coisas. Precisava sobreviver, o escotismo me ensinou muitas coisas a mais importante é não desistir. Eu ainda toco aqui no meu restaurante. Se ficar até mais tarde vais ver o restaurante encher de clientes que adoram me ver tocar. Era verdade, o restaurante lá pelas duas da manhã se encheu de clientes. Os garçons se desdobravam para atender todo mundo, num palco pequeno, em uma pequena banqueta, sozinho e sua viola Chico sorria recebendo as palmas de todos.


                            Conheci muitos jovens no passado que poderiam ser grandes interpretes e adquirirem a fama merecida. Juvenal foi um deles. Um interprete de árias famosas que hoje mora na Itália fazendo muito sucesso. Jaqueline foi outra que tinha uma voz de ouro. Ela cantou a Canção do Clã quando fez sua investidura tão lindamente que fizeram muitos pioneiros chorarem. Hoje canta no Carnegie Hall em Nova Iorque. Dizem que quando aparece no palco é ovacionada por vários minutos. O destino de cada um depende de duas coisas: Do esforço pessoal e da ajuda de Deus. Sei que nem todos alcançam seus intentos, mas se aqueles que estiverem fazendo diferente do que gostariam de fazer e tiverem no coração as palavras de BP, então eles serão felizes. Como diz o Velho ditado, para vencer não basta ser bom, tem que ter disciplina e ser perseverante.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

“Madalena”.


“Madalena”.

                      Mamãe! Eu nunca deveria ter nascido! Não posso ser escoteira? – Ouvir sua filha dizer isto machucava, era como se ela cravasse uma faca em seu coração. Como mudar isto? Ela não conseguia lutar contra as opiniões e os valores desta sociedade tão cheia de conceitos, preconceitos, crenças e valores que eram tabus em pleno século 21. Separar? Deixar o amor que ela tinha por Verônica? Seus pensamentos voaram ao passado. Amigas no trabalho, nunca sentiram nada por outra mulher e sem perceber o sentimento nascia aos poucos. Difícil explicar a quem não entende ou não passou por isto. Afinal amor entre duas pessoas do mesmo sexo não era tolerado na sociedade local de Monte Verde. Mas elas resolveram assumir. Esconder? Quando se ama de verdade não existem barreiras. Veronica era negra e Madalena Branca. Pior ainda. Prometeram viver suas vidas sem se preocupar com o que os outros iriam dizer. Madalena nunca esqueceu o primeiro beijo e o demorado primeiro abraço.

                    As famílias de ambas as abandonaram. Madalena tinha uma filha do seu casamento com João que a deixou para viver com outra. Ambas adotaram Ruth como um objetivo para vencer todos os obstáculos. Na escola foi difícil. Elas foram várias vezes conversar com a diretora. Ruth era humilhada constantemente por suas colegas. Tudo piorou quando Ruth pediu para entrar nos escoteiros. Quem sabe lá eles eram mais liberais? – Sinto muito senhora. Não podemos aceitar. O que direi para nosso Presidente do Grupo? Como explicar isto as mães que trabalham nas sessões? E os pais? Isto foi demais. Afinal se duas pessoas se amam e não podem viver este amor quem pode impedir que ele fosse realizado? Ruth chorou dias e dias. Ela sofria com as admoestações na rua e até mesmo quando foi confessar o Vigário a repreendeu. Afinal era uma menina de nove anos e o Vigário nunca teria este direito.

                     O Chefe Lobato se revoltou. Não podemos ser assim dizia a todos os chefes. Direitos de uns e não de todos? Que escotismo é o nosso? Somos uma fraternidade ou tentamos enganar a dizer que somos? Exigiu um Conselho de Chefes. Poucos compareceram. Era melhor fingir de morto do que dar uma opinião. Lobato ameaçou ir à imprensa. Daria seu testemunho à rádio local. O Comissário do distrito tentou dissuadi-lo. Um oficio da Região o mandou obedecer e não discutir, pois se não seria exonerado. Um absurdo. Ele não se deu por vencido. Foi à casa de Madalena e conversou com ambas. Estou saindo do Grupo, vou organizar outro. Conto com vocês para me ajudarem. Assim foi feito, mandou o registro para a Direção Nacional. Aprovaram, pois não sabiam da história.


                       O tempo é o senhor da razão. Os pais e a sociedade de Monte Verde a principio não aceitou. Depois aprovaram com ressalvas. Admiraram a coragem daquelas duas mulheres que enfrentaram de frente sem esconder o melhor caminho para ser feliz. O grupo vai bem. Ruth hoje é Lis de Ouro. Madalena que tinha perdido o emprego foi chamada de volta. O antigo Grupo Escoteiro se arrependeu. Hoje vivem em perfeita harmonia. Foi então que algum extraordinário aconteceu. O Chefe Lobato apresentou Diógenes com quem vivia há muitos anos. O Doutor Laercio Juiz de Direto amava outro homem e nunca mais escondeu o amor que sentiam um pelo outro. São histórias e historias podem ser verdadeiras ou não. Mas julgar alguém não é tarefa fácil. Como dizia o poeta julgar os erros dos outros é fácil. Difícil é corrigir os seus!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

A estrada do fim do mundo.


Lendas Escoteiras.
A estrada do fim do mundo.

(Dizem que a lenda supera a realidade. Muitos diziam que encontraram esqueletos com facas de madeira fincadas no coração. Outros diziam que a estrada levava a Ushaia, mais conhecida como a estrada do Fim do mundo. Quem por ela passava nunca mais voltaria. Covas de vampiros, esqueletos fantasmagóricos, um cemitério bizarro uma passagem entre montanhas e escarpas que todos chamavam do Vale do medo. Bruxaria? Caixões em miniaturas vazios, mas soltando uma fumaça vermelha? Mentira ou verdade, mas toda a população da cidade de Fonte da Saudade evitava passar por ali!).

                  Até hoje todos se perguntam por que ninguém se preocupou quando Sarah atravessou toda a Rua do Alencar de uniforme, com uma mochila as costas um bastão as mãos e um sorriso de quem ia descobrir o mundo. Não era uma rotina para os moradores tal fato, mas os escoteiros eram conhecidos que já nem se falava mais no que eles representavam para a cidade. Muitos sabiam da lenda da Estrada do Fim do mundo, mas era apenas uma lenda. Contavam as centenas de causos de desaparecidos, de discos voadores, de luzes coloridas que transportavam os meninos para uma cidade existente no espaço sideral. Os mais idosos falavam do Cemitério Maldito, das bruxas de olhos vermelhos, de esqueletos em cada curva do caminho. Ninguem acreditava e diziam que eram apenas histórias. Nada havia sido provado ate hoje. Tomukan e Jardel tinham um sítio logo no inicio da cidade. Nunca passaram pela estrada a noite sempre ao sol do meio dia. Uma estrada praticamente deserta e arriscar para que?

                A cidade se regozijava com os escoteiros. Faziam de tudo para alegrar a comunidade com Fogos de Conselhos, desfiles, apresentações teatrais e muitos chefes se reuniam aos sábados e domingo no Coreto da Praça para contar histórias. Os lobos e lobas as Escoteiras faceiras, os escoteiros cantantes, seniores guias e pioneiros. Uma juventude serelepe voltada para o bem e para o amor fraterno. Um dia sem ninguém esperar um Chefe desconhecido subiu no coreto e sério pediu silêncio. Ninguem sabia quem era bem uniformizado sim, mas seu semblante se visto mais de perto parecia com a cara do diabo. Mas diabo tem cara? Sei não. Dizem que muitos já o virão e outros que querem ficar longe dele. Todos se assustaram e prestaram atenção ao que ele dizia. – Um conselho ele disse, não se arrisquem, não facilitem os demônios que podem levar vocês. Nunca em tempo algum escolham a estrada do Fim do Mundo para escoteirar!

                 Se ele não tivesse dito isto nada teria acontecido. Mas Sarah sempre persistente para ver o que não deveria disse a sua patrulha que iria excursionar na Estrada do Fim do mundo. Todos conheciam Sarah. Sabia dos seus medos e de sua luta em vencer a todos eles. Quando ela partiu e não voltou à cidade ficou em polvorosa. Era um corre-corre sem parar. Os escoteiros foram os primeiros a procurar. Dona Ana Lobato foi quem contou que a viu indo para a estrada do Fim do Mundo. Quem se arrisca? O Chefe Lobo Cinzento sorriu. - Deixa comigo disse. Vinte dias depois voltou todo rasgado, ensanguentado, desgrenhado e com os olhos arregalados e o pior: - Mudo. Não falava nada. Os bombeiros da cidade deram uma voltinha no inicio e a grita que ouviram ao longe fez todos correrem para suas casas. O Prefeito Done Branco pediu a ajuda do exército. Tanques deixaram marcas e nada foi encontrado.

                  Os Touros estavam calados. Em reunião de Patrulha Tarquino falou baixinho – Sarah era das nossas. Deixar que o diabo tomasse conta dela? Afinal e nosso orgulho? Jiparanã, Joviel, Calixto e Catapora se entreolharam. – Vamos ficar sem fazer nada? Não tinha jeito. Calixto levou dois facões, Catapora quatro canivetes. Jiparanã lixou a ponteira de aço de seu bastão. Joviel era franzino. Não estava com medo, mas enfrentar a capetada não era fácil. No baú do seu pai ele sabia que tinha um enorme crucifixo. Seria ele sua arma principal. Na Rua do Alencar ninguém queria olhar. Eram cinco escoteiros que passaram bem ligeiro rumo a Estrada do Fim do Mundo. Todos sabiam que sem Sarah não iam voltar. Nem bem escureceu quem olhasse bem a frente da Estrada do Fim do mundo iria ver um clarão vermelho, gritos e sussurros. Quase dois dias e o céu continuou vermelho e as estrelas pararam de piscar. Cinco dias depois a zoeira terminou. O sol surgiu e as nuvens do céu voltaram a ser brancas e alvas.


                         À tardinha a passarada fez uma revoada infernal em Terra do Amanhecer o que fez todo mundo correr para a Rua do Alencar. Viram surgir ao longe, a Patrulha Touro com seus cinco escoteiros e a frente Sarah. Ela sorridente, eles sorridentes. Todos queriam saber, mas ninguém queria contar. A história termina aqui. O que aconteceu na Estrada do Fim do Mundo ninguém nunca soube. Nunca mais o céu ficou vermelho, os gritos das noites de tempestades sumiram. A estrada ficou toda gramada, nas áreas próximas a flores do campo surgiam aos borbotões. Agora toda a garotada passeava a pé ou em seus cavalos de aço na estrada que encontrou a paz. Na sede dos escoteiros todos queriam saber. Mas Sarah, Tarquino, Jiparanã, Joviel, Calixto e Catapora nunca contaram nada a ninguém. O tempo passou, Sarah casou com Joviel, Tarquino foi embora para a capital. Calixto e Catapora foram atrás de ouro nas Selvas do Amazonas. O bom de tudo que Jiparanã recebeu sua Insígnia, e agora é o chefão geral dos escoteiros e olhe ninguém até hoje soube o que aconteceu com Sarah, a patrulha na Estrada do Fim do mundo!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

O lendário bandido Casca Grossa e sua prisão por escoteiros.


Lendas Escoteiras.
O lendário bandido Casca Grossa e sua prisão por escoteiros.

                     Ele sentiu uma pancada na nuca. Foi uma pancada leve sem muita força que nada significava se não fosse o saco de linhagem que enfiaram em sua cabeça. Tropeçou e caiu. Outra pancada e desta vez ficou zonzo a ponto de perder as forças. Amarraram suas mãos por traz e os dois pés. Amarra quadrada e forte. Feita por quem sabia fazer. Sentiu várias mãos arrastando-o até uma caixa ou outra coisa qualquer. Depois viu que era uma carrocinha puxada por alguém. Ele não era gordo, mas chegava pela sua altura a uns 90 quilos. Calculou que o arrastaram na carrocinha por uns três ou cinco quilômetros. Pararam e ele ouviu cochichos a distancia. Tentou falar e não conseguiu. Alguém havia colocado um enorme esparadrapo na sua boca. As vozes eram irreconhecíveis, mas ele se assustou. Eram vozes de crianças.

                    Jogaram-no ao chão e ele sentiu uma dor no ombro direito. Alguém pediu desculpas. Uma voz de uma menina. Raptado por meninos e meninas? Ele não acreditava, nunca pensou que seria assim um dia. Alguém passou uma corda embaixo de suas axilas. Sentiu-se arrastado morro acima. Não era fácil para eles, pois não deviam ser muitos. Por mais de uma hora o puxavam e paravam para descansar. Agora suas costas ralavam em pedras e viu que entravam em uma gruta ou caverna. Parece que chegaram ao ponto desejado. Eles o ajudaram a sentar. Alguém tirou o saco de aniagem de sua cabeça. Olhou assustado. Cinco meninos e duas meninas. Viu que estavam de uniformes e sorriu por dentro em saber que eram escoteiros. O que eles pensavam? Que era um grande jogo? Que ele estava ali para brincar? Ele lembrou que foi um deles por alguns anos, mas sua vida mudou muito. Agora nem mais acreditava naquela causa do General Inglês que um dia amou.  

                     Uma menina dos seus doze anos se aproximou. – Pediu desculpas pelo acontecido, mas ele tinha de ficar preso. Um menino da mesma idade completou: - Já passamos um telegrama para a Policia Federal na capital. Em breve virão buscá-lo Outro menino se adiantou e disse: O Delegado Gastão viajou e o cabo Ursolino estava bêbado, assim não o levamos para a delegacia. Eles sentaram-se juntos nas pedras da gruta. O olhavam espantados, mas não estavam com medo. Ele queria falar, mas o esparadrapo na boca não deixava. Estava com sede. Tentou fazer um sinal, mas eles não entendiam. Alguém chegou espavorido. Trazia uma mochila e dentro lanches e um cantil. – O mais Velho dos seus treze anos se apresentou: - Sou o Monitor me chamam de Morcego. Não queremos seu mal, mas não podemos deixa-lo solto. Sabemos que é um bandido perigoso e cruel. Vou tirar o esparadrapo de sua boca e você só pode responder o que perguntarmos. Se falar outra coisa colocaremos de novo.

                    Sentiu uma sensação de ar puro quando tiraram. Era até bom, pois se lembrou de quando quase morreu nas mãos do Delegado Corsino. Ele o deixou preso a uma raiz de uma árvore sem comida e agua e com a boca seca. Quase morreu. Pediu água. A menina levou o cantil até sua boca. Bebeu com sofreguidão. Um menino um frangote de seus onze anos lhe deu um pedaço de linguiça frita. Comeu e repetiu várias vezes. A menina pediu desculpas. Vamos embora. Voltamos amanhã e se a policia federal não chegar trazermos mais comida e água. Partiram não sem antes colocar o maldito esparadrapo em sua boca. Ele estava acostumado com a forma que o prendiam. Não se apertou. Encostado e amarrado a uma pedra ele dormiu. Não sonhou. Não era de sonhar. Sabia que sua vida agora era outra. Não era ladrão nem assassino, era sim um caçador de recompensas e perseguido por bandidos e policias de todos os estados. De novo de caçador virou caça.

                           Acordou com os escoteiros chegando. Ainda de uniforme. Turminha Caxias. Ele riu para si próprio. No fundo gostava deles. Lembrou-se de sua promessa de seus acampamentos, do seu Chefe e dos patrulheiros da sua patrulha. Como ela se chamava mesmo? – Patrulha do Condor. Não falaram nada. Devem ter lido sobre como conversar com bandidos prisioneiros. A lábia dele é grande e se soltar morrem todos! Bebeu agua, comeu um pão com manteiga. Chegaram a ponto de levar outro cantil com café. Gostoso demais. Sentia falta de um café quente. Tiraram o esparadrapo. – O monitor gentilmente disse que desistiram de tudo. Queriam soltá-lo, mas tinham medo. A menina escoteira com os olhos cheios de lágrimas disse que um jornal comentou que ele era bom, nunca matou ninguém. Foi condenado porque entregou um filho de deputado a um polícia, que queria a todo custo acabar com a vida dele. Quase o mataram, mas se defendeu e jogou o filho do deputado em um barranco.

                           Outro menino Escoteiro pediu desculpas e disse que queria apertar sua mão, pois soubera que ele fora Escoteiro. – o monitor disse: - Como soltar você? E se nos matar? Ele sorriu. Bem que aquela turminha merecia. Ele fora aquela cidade para prender um fazendeiro que policia nenhuma queria prender. O dinheiro comprava tudo. Se ele prendesse o fazendeiro e o levasse até o estado do sul ganharia um bom dinheiro. Lá era procurado e com a cabeça a prêmio. Ele continuou calado apesar de estar sem o esparadrapo na boca. A menina pegou a faca escoteira. Ele se assustou. - Agora esta? Pensou. Ela cortou as cordas e ele ficou livre. Todos correram para o canto da gruta. Enroscaram-se de medo. Muitos tremiam como varas verdes soltas ao vento. Ele sabia que não ia fazer nada. Foi até eles. Deu a mão esquerda para cada um. Não esqueceu o sempre alerta. Sumiu na descida do morro onde ficou preso por dois dias.


                               O Doutor Lucrécio da Policia Federal queria saber quem foi que enviou o telegrama. Nele dizia que a Patrulha Condor (a mesma do bandido) prendeu Zeca Casca Grossa procurado por todo Brasil. A patrulha Condor no canto de patrulha sorria. Colocaram no telegrama Condor, mas eles eram os Gaviões Negros. Não havia patrulha Condor. O Chefe conversou com o Doutor Lucrécio por muito tempo. Ele partiu sem saber quem passou o telegrama. A patrulha foi para casa unida. Moravam na mesma rua. Na esquina da Rua do Convento com a Santo Antônio viu alguém acenar e sorrir. Uma voz forte falou sem gritar: - Obrigado. A alegria de fazer o bem é a única felicidade verdadeira. Vocês mostraram que são realmente escoteiros. Prometo mudar de vida e podem acreditar, o Escoteiro tem uma só palavra e sua honra vale mais que sua própria vida! Ele sumiu e ninguém nunca mais ouviu falar dele. Um dia Anita ao entrar em um banco foi recebida por um senhor de barba e muito educado: - Seja bem vinda escoteira ao nosso banco, afinal na Gruta me deste água e eu nunca mais esqueci! – Nossa! Era ele?

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....