Lendas Escoteiras.
As divertidas histórias Escoteiras de Dom Tommaso.
Dom Tommaso estava com sete anos. Seus folguedos, sua alegria sua escola
em Orvieto na Itália era linda e cheio de historias. Adorava sua cidade e se
pudesse ficaria na rua brincando com seus amigos todo tempo. Mas seu Pai Dom
Lucheto Tommaso não era de conversar muito. Era dono de uma Loja onde se vendia
de tudo. Iniciava seu trabalho às cinco da manhã e só fechava às onze da noite.
Um domingo ele disse: Vamos partir. Vamos para o Brasil. Benito Mussolini (um
político Italiano) pretende se unir a Hitler. Boa bisca isto vai dar. Vamos
embora antes que as coisas comecem a complicar! – Pai! Reclamou Dom Tommaso.
Amanhã eu começo nos “Lupetti” (lobinhos). Já conversei com a Akelá a “Capo”
(Chefe) dos “Branco (Alcatéia) e ela me aceitou. Pai eu aprendi a fazer o
“Cerchio! (Grande Uivo) e aprendi seu lema – “migliore possibile” (Melhor
Possivel). Pai já comprei o II libbro dela Jungla (Livro da Jângal), por favor
pai, deixe pelo menos eu ser um deles por um ano! Porque o senhor não vai com a
mamãe e me deixa com Vovó Donatela? – Levou um catiripapo do pai e foi chorando
para seu quarto. O II Duce foi bom uma época, mas depois tudo mudou. Sabia que
ele deixaria os italianos comendo o pão que o diabo amassou.
Não teve jeito.
Partiram um mês depois e Il Viaggio Della Macchina e vapore “Europa” (navio).
Outras crianças estariam se divertindo e vibrando com a viagem, mas não Dom Tommaso.
Poderia ter feito amizade com os filhos dos Andrella, os Armani, os Baccagini
ou mesmo os Bassani. Seu pai levou uma bela quantia para comprar uma fazenda.
Sonhava em plantar café (O menino Dom Tommaso sonhava em beber café no pé,
devia ser muito gostoso pensava). Os anos passaram. A “famiglia” enricou. Se
Dom Tommaso esqueceu os “Lupetti” ele não disse. Cresceu, seu pai morreu e ele
assumiu seu lugar. Dizem que ele aparecia em oitavo lugar no Ranking de Bilionários
da revista Bloomberg. Políticos faziam fila em sua fazenda. Aquilo era demais
para ele. No fundo nunca esquecera que por pouco poderia ter sido um Lupetti
(Lobinho) e não foi. Precisava de alguém de fibra para ajudá-lo com aquela
“cambada”. Mandou vir da Itália a peso de ouro o Consigliere Bortolleto. Valeu.
Em cinco meses ele mostrou ser inteligente o bastante para fazer sumir alguns
políticos e empresários que desfaziam do seu império.
Uma tarde fumava um esplêndido
Cohiba (marca de charuto) na varanda quando teve uma ideia. Gritou e em
segundos Bortolleto apareceu. – Vamos organizar um Grupo Escoteiro aqui em
Orvieto (fundou uma cidade ao lado de sua fazenda no Brasil com o mesmo nome de
sua terra natal). Quero coisa boa. Verifique quais as necessidades. Gaste o que
for necessário. Depois contrate os melhores “Capo Scout” que encontrar.
Triplique os salários deles. Garantia de um contrato para cinco anos aconteça o
que acontecer. Peça autorização no “Ufficio Nazionale Scout”. (distrito ou
escritório regional Escoteiro). Se ficarem em dúvida leve Pacharello e
Donatello bem armados para assustar. Quem sabe deixe lá alguns milhões de
dólares. Isto azeita tudo e brasileiros adoram. Bortolleto não era de discutir.
Ordem dada ordem cumprida. Partiu para a capital. Foi direto procurar o “Capo
di tutti Capi Scout” na cidade. Fez uma lista dos melhores. Não foi difícil,
pois o país passava por uma fase difícil. Poucos empregos e muitas demissões. O
Chefe Pascoal Lambert assustou com a proposta. Era gerente de uma multinacional.
Ofereciam pagar três vezes mais. Não se fez de rogado. Ele era Insígnia de
Madeira e um grande estudioso do escotismo.
Maria da Graça riu e achou que era uma piada. Quando viu dois jagunços
armados em sua porta passou a acreditar. Era IM em lobo, uma das melhores
Akelás do Brasil. Era uma dinheirama. Partiu no mesmo dia. Grapeppe Mario
Montes era filho de italiano. Nascera no Brasil e sempre sonhou em morar na
Itália. Era o dirigente distrital em uma pequena cidade próximo de Jundiaí.
Tinha uma empresa, mas a proposta era demais. Por último Miocárdio Juvenal
pensou em não aceitar. Era dirigente de uma grande região escoteira. Com
sessenta e oito anos pensava em se aposentar. Ia dizer não quando adentraram na
sala Pacharello e Donatello. Cada um com uma metralhadora Breda, calibre seis,
800 tiros por segundo. – Quanto pagam? Lá foi ele para Orvieto. Todos ficaram
embasbacados com as mansões onde iam morar. A sede Scout era demais. Nunca
viram igual. Quatro enormes salões, sala para cada sessão com escritório
próprio do Chefe. O material de campo era de dar inveja. Melhor não contar como
eram, pois para muitos seriam um sonho.
Nunca viram ou se reuniram com Dom Tommaso. Quem dirigia tudo era o
Consigliere Bortolleto. Durante um mês prepararam tudo. Afinal eram bambas no
escotismo. Tarantinno Il pároco Della Chiesa era italiano. Vibrava com tudo.
Agora esta molecada ou toma jeito ou vão levar uns cascudos de Dom Tommaso. No
dia da inauguração a cidade em festa. Vieram políticos, o Vice-Presidente da
Republica (A presidenta estava sendo acusada e podia sofrer um impeachment a
qualquer momento). Uma Coccinelle (Alcatéia de lobinhas) veio diretamente de
Orvieto para a inauguração. Vinte capo Scout também vieram da Itália. O
Consigliere trouxe cinco dirigentes de Gilwell Park. A cidade vibrava. Nunca
viram nada parecido. O aeroporto da fazenda de Tom Tommaso estava cheia de
aviões. Nunca se viu tanta gente importante. Onde estava Tom Tommaso? Sumiu. O
Doutor Tullio Simoncini estava preocupado. Sabia que Dom Tommaso não podia se irritar
fazer exercícios nada que pudesse dar ao seu coração o que ele não precisava.
O Doutor Tullio Simoncini morava em Roma e viera para Orvieto no Brasil
em 1950 por ordem de Tom Tommaso. Ajudava a cidade e tinha montado um belo
Hospital, mas sua preocupação era com seu mentor. Ele sabia que a festa poderia
dar fim na sua vida. Mas fazer o que? O Italiano era unha de onça. Não dava o
braço a torcer. – Doutor! – É meu último desejo. Tenho que ser Lobinho antes de
morrer! Só assim partirei feliz. A sede
Scout estava lotada. Em cima dos muros milhares de gente. Tinha gente por todo
lado. No portão não podia entrar mais ninguém. O Consigliere Bortolleto foi
claro nas suas ordens a Pacharello e Donatello. Quem encher o saco uma boa
cacetada como presente. O Grupo Escoteiro formado, cinco tropas Escoteiras, as Coccinelle
em pose de gala. A chefaiada espera do grande Dom Tommaso. E eis que ele chega,
fardado de azul uniforme do Lobinho. Sorridente, um belo boné de lobo com duas
estrelas no tope e um lenço azul. Gritou alto para a Akelá Maria das Graças –
Akelá! Primeiro o grande uivo! Esperei sessenta e nove anos e não dá para
esperar mais.
“E Dom Tommaso deu o Grande Uivo”. Pediu um jogo e
na sua matilha marrom ele se divertia até cair ao chão sorrindo. Todos correram
para ajudar. Dom Tommaso cumpriu sua promessa. Seria sempre um “Cucciolo”. Seu
sonho não ia morrer, mas coitado de Dom Tomaso, morreu ali na grande festa
escoteira onde o Grande Uivo que sempre sonhou se realizou. Agora que fique em paz.
Um lobo de quase oitenta anos se foi, mas a selva aplaudia a partida de Dom
Tommaso!
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