domingo, 28 de fevereiro de 2016

Nascer e morrer em Casablanca.


Lendas Escoteiras.
Nascer e morrer em Casablanca.

                     O mundo fugiu dos meus pés... Não era eu quem estava ali, quem sabe apenas meu corpo, pois tudo que amava apagou como a luz brilhante no opaco da vida. Passou pela minha mente aquele poema que não sabia e nem tampouco decorei: - E agora meu Deus? A festa acabou a luz apagou, meus sonhos sumiram, a noite esfriou. E agora meu Deus? Esqueci o meu nome, zombaram de mim, já não faço mais versos, nem sei mais protestar. Foi como um tapa no rosto, na hora morri de desgosto e achei que não ia dar mais. Afinal era feita de escotismo, era minha vida, meu ser minha alma. O que eu fiz? Juro que não sabia, mas são tantos a ver o que outros fazem, maledicências me jogaram aos lobos que sem perceber eu agora via quantos deles estavam a minha volta. Tentei olhar para Dona Belinha, eu há admirava tanto, pensei que poderia um dia ser minha mãe e a decepção singrou o absurdo que ela dizia. Não era a Belinha que conheci, não era a amiga que eu pensava ter.

                   Quando meu pai quando minha mãe foi para a Estrela de Capella eu chorei demais. Tinha somente seis anos. Ele resolveu mudar de cidade, dizia para mim que ali era demais para ele. Foi onde conheceu minha mãe, casaram eu nasci. Não lembro muito de tudo, mas eu era feliz. Tinha amigas no bairro e não queria mudar. Mas meu pai estava irredutível. Fomos parar em Casablanca. Nunca tinha ouvido falar nesta cidade. 15.000? 20.000 almas moravam ali? Aprendi a fazer novos amigos, melhor ainda entrei como Lobinha no que mais tarde passou a ser o motivo de viver, uma filosofia de vida. – Tônia dizia meu pai, passei a amar esta cidade, minha filha aqui cheguei e aqui irei partir ao encontro de sua mãe quando chegar a hora. O tempo passava célere, Nas Escoteiras vibrei cada minuto que estive ali. Passei para as Guias. Tropa Mista. Não sabia se ia gostar.

                   Chefe Lima um amor de pessoa. Não tinha assistentes. Era só ele e três patrulhas com seis meninas participando. Eu era da Zodíaco, passei a amar a patrulha. Nunca tive queda por nenhum Sênior. Não era de namorar. Meu sonho era viver no campo, armar uma barraca dormir sob o luar admirando estrelas. Sorria baixinho quando mais nova pensava em ser freira. Acho que podia ter sido uma. Católica presente em todas as missas, confessando uma vez por mês achava que vivia em paz com Deus. Nunca pensei que aquilo ia acontecer. Era impossível na minha maneira de pensar. Quantas vezes fui à Casa do Chefe Lima e Dona Belinha me abraçava me contava “causos” histórias quando era de minha idade e eu dava boas gargalhadas. Parecia que ela me amava... Parecia.
                    
                   Ela chegou logo quando estávamos sentados embaixo de um pequizeiro, uma bela sombra, conversávamos sobre a próxima atividade aventureira que íamos fazer. Ela não cumprimentou ninguém. Nem ligou para o Chefe Lima. Parou em minha frente e começou a me chamar de vagabunda, cachorra, desocupada e nomes que prefiro não dizer aqui. – Deus do céu! O que estava havendo? Foi então que o Chefe Lima se aproximou – Belinha, por favor! Pare com isto. Enlouqueceu? – Agora você a defende seu safado. Não vive abraçando? Não vivem beijando? Quando vezes me traiu com ela? Devem ter sido milhares. Maldito, não quero saber mais de você. A Tropa estava boquiaberta. Ninguem sabia o que dizer. Dona Belinha saiu chorando e gritando que preferia morrer a me ver novamente ou ao Chefe Lima.

                    Não dava para ficar na reunião. Corri para casa aos prantos. Meu pai assustou. Perguntou o que era – Contei a ele, nunca tivemos segredos. Ele ficou fulo, já ia saindo para tirar satisfações com o Chefe lima e Dona Belinha. Implorei a ele que não fizesse isto. Fui para o meu quarto. Rezei, pedi a Deus que me desse uma luz, onde foi que errei. Não sabia. Nunca tive nada com o Chefe Lima. Nunca tive nada com nenhum Sênior. Nem namorado eu tinha. Fiquei de cama com febre e não parava de chorar. Quilombo um monitor da Touro apareceu na minha casa no segundo dia. Só ele foi me visitar. Não falou uma palavra e nem disse o que acontecia no grupo Escoteiro. Nenhum Sênior, nenhuma guia apareceu. Será que não acreditavam em mim? Eu precisava de uma força, de alguém que me amparasse que acreditasse em mim e isto só meu pai fazia. Resolvi não voltar mais. Se me achavam culpada que fosse. Eu não ia pedir desculpas por algum que não fiz.

                      Um mês depois uma surpresa. Dona Belinha bateu em minha porta. Fiquei assustada. De novo não! – Mas ela foi pedir desculpas. Desculpas? Destruiu-me internamente, me acusou de algum que não fiz. – Tônia ela disse – Meu Deus, o que fiz a você? A culpa foi do Lima. Eu vivia dizendo a ele que parasse de abraçar as meninas. Ele só as abraçava. Jurou-me que fazia isto inocentemente, mas um dia Chico Nonô, Patrício Romualdo e José Carlos da Patrulha Gavião conversavam na minha porta. Só ouvi que o Lima estava de caso com você. Que nos acampamentos foi pior. Chorei a noite toda. Interpelei o Lima e ele sempre dizendo que nada havia e era inocente. No sábado não aguentei mais. Aprontei aquele barraco com você. Deus meu o que fiz? Você inocente e acusei injustamente. O tempo foi passando e procurei saber a verdade. Um dia encontrei os três na porta da padaria. Abaixaram a cabeça e disseram que era tudo mentira. Eles estavam muito arrependidos.

                      E como me redimir? Dizia ela. Perdão é a única coisa que posso fazer. Exigi ir ao Conselho de Chefes, fui lá contei tudo. Todos permaneceram calados. Vontade de no Cerimonial contar a todos. Mas o mal estava feito. Lima saiu da Tropa. O escotismo para ele era tudo e agora não é nada. Minha vida com ele não tem mais razão de ser. Ele disse que nunca vai me abandonar, mas eu não sei o que fazer. – Dona belinha foi embora chorando. Mas pensei comigo como voltar? Se meu grupo meus amigos e amigas nem se deram conta de me visitar, de falar comigo de me ajudar na hora difícil eu iria voltar? Nunca mais voltei. Quando fiz dezoito anos pedi ao meu pai para me levar no Convento das Carmelitas. Estou lá há dez anos. Sinto-me bem, não tenho mais ódio no meu coração. Volto sempre ao Grupo Escoteiro que foi minha vida. Agora como freira sou muito bem recebida. Não guardo mágoa e nem rancores.


                         Sei que o escotismo prega o bem, o amor, a bondade e o perdão. Quem sabe aqueles que eram do Grupo Escoteiro ainda não tinham crescido nestas habilidades. Eu rezo muito, peço a Deus que os proteja e o ensine que a Lei Escoteira não foi feita para ler e dizer a todos que existe, a Lei Escoteira faz parte de cada um, se ela não for uma trilha para seguir na vida então nada vale uma promessa. De tudo guardo boas lembranças. Nada de ódio no coração. Que todos eles sejam felizes!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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