Contos
de fogo de conselho.
A
rebelião dos bichos.
Tentei tudo para apaziguar.
Não consegui. Tudo aconteceu na sede escoteira. Ela se tornou uma selva de
tantos bichos, aves e peixes do Brasil. Como os peixes respiravam não me
pergunte. Surgiram de todas as partes. Chegavam de ônibus, avião automóvel e até
uma dupla de Elefantes chegou em um Helicóptero Esquilo e nem sei como caberam
nele. Não, não era um treinamento para viajar na Arca de Noé. O motivo era
outro. Eles na floresta se reuniram para eleger cada um da fauna brasileira. Deveria
ser o mais douto, o mais sábio e o mais falante.
Fizeram questão que a
escolha recaísse naqueles mais éticos e que demonstrassem ter caráter e
entender o significado de lealdade. Afinal pretendiam dar uma lição de
civilidade a algumas tropas escoteiras que não levavam a sério o nome de Patrulha
que escolheram. Era uma revolta surda, mas educada, ficaram calados por muito
tempo, mas tinham de tomar uma providencia. Não me deixaram entrar. – Aqui
humanos não entram. Aceitei. Fiquei na janela assistindo. Vi chegando os papagaios,
corujas, cisnes de todas as cores, gavião-carijó, águias, sem contar as duas
onças, uma pintada e a outra parda. Centenas. O salão nobre ficou lotado.
A Coruja-buraqueira foi eleita
para presidir os trabalhos. Pedindo silêncio ela começou: – Pássaros, peixes e
animais do meu país. Vocês já sabem o motivo desta reunião. Ainda ontem o
Quatipuru veio reclamar para mim que nunca o escolheram como nome de Patrulha.
O mesmo aconteceu com o Tucunaré, O Sagui de tufo branco e centena de outros. Fiz
uma pesquisa na Internet e vi que os jovens não tem boa orientação de quem
somos nós. A maioria deles só querem nomes pomposos e quase sempre retirados da
fauna americana ou europeia. Adoram nomes em Inglês. E já vi Patrulha se
chamando de “Challenger” aquela nave espacial.
Se aqui copiam nomes de outras nações lá ninguém
fala ou nomeia nome da fauna brasileira. Eles são autênticos. Uma palma
estrondosa repicou no salão nobre. - Continuou a Mestre Coruja. - Temos que
tomar uma providencia. Afinal se os escoteiros e seniores não nos escolhem, é
melhor que façamos uma revolução e quando eles forem acampar, iremos gritar e infernizar
a vida deles. As tais patrulhas de nomes esquisitos não terão mais nosso apoio.
– Uma cobra venenosa, a Surucucu estava presente – Riu baixinho – Deixa comigo
dona Coruja. Eu e a Cascavel do chocalho negro, damos umas mordidas e
resolvemos logo este problema.
Todos riram. – Não! Não é assim
que vamos resolver. Precisamos estudar uma fórmula do que somos, mas
educadamente. Olhem, só para ter uma ideia, vou convidar para um desfile aqui
no palco alguns animais, aves e peixes que nunca foram lembrados pelos
escoteiros. Que façam uma fila e vão passando em minha frente dizendo seu nome:
- Começou o desfile. O primeiro
a se apresentar foi o Veado Catingueiro, o Quatipuru, a Cotia, O Touro Nelore. Em
seguida veio à raposa verde, a Jaguatirica, a Doninha amazônica, O Zorrilho, a
Baleia Azul, O Golfinho, o Boto cor de Rosa, o Ouriço Preto, o Puma do Pantanal
e o Macaco Prego. Cantando veio o Macuco, a Codorna Amarela, o Aracuã do
Pantanal, o Mergulhão Caçador, o Maçarico Brasileiro, o peixe Tucunaré, a
Traíra, O Piau, a Jacupemba, o Sagui de Tufo Branco e o Príncipe Negro. Receberam
muitas palmas o Bugio, A Ema, a Iguana, a Garça Branca, o Boto Vermelho, o
Tracajá, o Canário da Terra, o Tatu Peba, o Gaivotão, o Mutum de Penacho, o
Cervo do Pantanal, o Jacaré Açu, o Mocó, o Tuiuiú, o Tucano, o Quati, O Beija
Flor, o Tamanduá Bandeira, o Martim Pescador, O Lobo Guará, a Ariranha, a Arara
Azul... Um desfile enorme. Todos tristes. Mais de cem bichos da fauna esperavam
sua vez para o desfile dos sem Patrulha.
Foi o Beija Flor dourado quem
tomou da palavra – Amigos e Amigas pretendo nunca mais beber do caldo açucarado
que eles põem para mim nos campos de patrulhas. A Coruja Buraqueira concordou e
disse: Eles não me verão mais nos galhos próximos aos Fogos de Conselho. O
Canário Belga falou lá no fundo do salão: - Eles nunca mais me verão cantar nas
madrugadas. Era uma choradeira só. – Vamos tomar uma posição rosnou alto a Onça
Pintada. Vamos dar uma surra neles quando forem acampar!
– Todos riram, mas foram
interpelados pela Coruja Buraqueira. Vamos fazer um abaixo assinado. Quando o
próximo sábado chegar, entregaremos uma copia a cada Patrulha que for a
reunião. Cada um de nós que tem asas fica responsável. E assim foi feito.
Levaram para as patrulhas do Brasil, um abaixo assinado com mais de 5.000
assinaturas dos bichos da fauna Brasileira. Escreveram suas insatisfações com a
escolha de nomes estrangeiros para as patrulhas e porque não se lembraram
deles.
Fui embora tristonho. Eles
tinham razão. Não só nos nomes de patrulhas, mas também nas tropas e nos
grupos. Chegaram ao ponto de copiar uniformes e chapéus esquisitos. Deu-me uma
sensação de vazio por dentro. Que sabe daqui para frente, muitas Patrulhas
novas irão pesquisar mais a Flora e a Fauna Brasileira? Seria verdade? Não sei.
Seria bom se elas pudessem dar valor ao que é nosso, pois se não fizermos isto
desde criança, ninguém lá fora vai fazer por nós. Ficaram de marcar nova
reunião. Desta vez com a presença dos nossos heróis, nossos poetas, aqueles que
temos orgulho de ser brasileiro. Quem sabe um dia tudo isso vai mudar?
Nota - O escotismo brasileiro está
adotando muito dos que os escoteiros de outras nações fazem. A onda agora é ser
chamado de Scout. E os nomes das patrulhas? Os gritos de tropa e de grupo?
Sempre a copiar o que fazem lá fora, basta ver a vestimenta. Colada nas vestes
dos scouts americanos. Divirtam-se com esta revolução dos bichos que nunca
aconteceu, mas seria bom demais se tivesse acontecido!
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