Luiza.
Nota - As mulheres que
adotaram o escotismo como filosofia de vida, merecem todas as honras do mundo.
São elas que nos colocaram aqui na terra, são elas que nos dão amor à vida e no
escotismo a paz. Dizer tudo sobre elas eu prefiro ficar nesta quadrinha que diz
tudo: Bendiz o amor imensurável, nos jardins pintados de cores... O vento
beijando a face, a face molhada de amor... – Mãe escoteira tem o amor
universal!
- Chefe, eu quero
chorar e não consigo. Lágrimas aparecem e correm pela minha face. Todos dizem
que eu sou feliz e não disse a ninguém que aprendi a mostrar um sorriso, mas
poucos sabem quando estou chorando por dentro. – Pobre Luiza. Diferente de mim.
Quando eu dizia que não vou chorar é por que já estou chorando. Sempre fui
sentimental demais. As Escoteiras sempre a procurarem abrigo nos meus braços.
Eternos abraços que serviam para fazer esquecer as tristezas do coração.
Minha mãe sempre me
disse que chorar é humano, e quando chorei no nascimento de Claudinha minha mãe
sorriu para mim ali no leito da vida onde outra vida estava chegando para me
alegrar. Às vezes ficava tanto tempo sozinha, que a solidão deixava de ser
ausência e passava a se tornar companhia.
Acho que foi por isto que resolvi ser Chefe Escoteira, mas era tão
difícil...
Os anos passaram e um
dia me vi sozinha. Claudinha partiu, foi tentar outra vida longe de onde eu
morava. Lomanto sumiu em uma esquina da vida. Luiza me olhou com os olhos
cheios de lágrimas e disse: - Chefe sabe o que eu queria agora? Queria ir à
praia, e sentar na maior pedra que estiver lá, e de lá de cima olhar o mar e
chorar tudo que eu tenho para chorar. Pois é Chefe e depois disto tudo iria
voltar para casa aliviada e poder sorrir um sorriso meu, um sorriso verdadeiro,
sem choros escondidos, sem maquiagem, sorrir um sorriso puro. Será que eu
consigo?
– Olhei para ela
espantada. Pensei comigo, cuidado com o que vai dizer, palavras machucam e quem
ouve nunca esquece. Levantei do banquinho e abracei Luiza. Ela me deu um abraço
forte que dizia tudo que sentia. Eu precisava conhecê-la melhor. Precisava
sorrir para ela dar uma palavra de carinho. Mas logo eu? Quantas vezes me vi
sorrindo querendo chorar? Quantas vezes eu chorei querendo sorrir? É a vida é
mesmo estranha.
Afinal que Chefe era eu
que não sabia dizer as palavras certas na hora certa? Acho que o problema sou
eu, é que sinto demais, me importo demais, demonstro demais. E acabo esperando
o mesmo das pessoas e não é bem assim. Olhei para Luiza. Agora quem chorava era
eu. Pensei comigo que precisava ir embora da Tropa por uns tempos. Tirar férias
dessa minha maneira intensa de sentir as coisas, dessa mania de querer carregar
o mundo nas costas e sentir culpa pelo que não posso dar conta.
Vou olhar tudo de
sobrevoo, como quem, desmemoriada, está ausente dos próprios pensamentos. Ainda
abraçada a Luiza vi que o sol estava se escondendo no horizonte. A reunião ia
terminar. Precisava deixar meus problemas para trás. Uma noite de descanso
seria o cenário ideal para recuperar as energias.
Não houve tempo para
pensar, a Tropa toda veio me abraçar. Desta vez elas as meninas que eu amava
eram as chefes e eu uma simples escoteira que sentiu no coração o amor que
precisava encontrar. Sorri, sorri novamente. Afinal por que preocupar com que
os outros pensam de mim se ao meu redor tem tanto para me fazer feliz?
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