sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Lendas Escoteiras. Lamparina, um Monitor inesquecível.



Lendas Escoteiras.
Lamparina, um Monitor inesquecível.

Nota - Nota: - Todos nós temos um Monitor para se orgulhar. Ele pode existir hoje ou pode estar lá em um passado distante. Alguns a gente tem saudades imensas outros a gente abraça e se orgulha em tê-lo por perto como amigo. São coisas que nós Escoteiros temos e que poucos que não são podem ter um dia.

                     Conheci centenas de monitores. Os vi em muitas atividades com suas patrulhas com tempo bom ou molhado. Lamparina me marcou muito. Quando fez a passagem era alto e forte. Nem sei como ficou até os onze nos lobos. Foi direto para a Patrulha Touro. Foi ele quem escolheu. Disse a todos que um touro era parecido com ele. Sempre olhando para frente e nunca desistindo de nada. A Patrulha passou a ter por ele um enorme respeito. Maniento o Monitor da Touro tinha dúvidas. Para surpresa quando ficou sabendo do acampamento disse a todos na Patrulha: No Acampamento do fim do mês na Cachoeira dos Macacos quero construir as pioneiras básicas do campo. Sozinho. Sozinho Monitor! Por favor!  

                Quando Maniento contou para Sorridente deram boas gargalhadas. Maniento não se fez de rogado. Disse para Canela e Porteira, os responsáveis pelas pioneirias de campo que iriam deixar Lamparina fazer o que queria. – Monitor! – Disse Porteira, mas ele é um lobinho o que sabe de pioneirias? Deixa prá lá. Vamos ver o que ele sabe. Vamos ver se é somente uma gabolice. Quem sabe podemos correr ao pomar do Seu Tomeu e se deliciar com as goiabas e mexericas? Ficaram boquiabertos na volta. Lamparina tinha construído uma bela Mesa Tripé, o toldo estava esticado, havia bancos em volta para todos e dois lugares para convidados. O Fogão suspenso e o lenheiro deixou Mosquito o cozinheiro estupefato. Perfeito! E com lenha para dois dias! E as fossas de líquido e detrito? Nunca viram iguais. As tampas abriam-se automaticamente. Tudo feito com cipós!

                  Quando Pé de Cabra foi procurar um matinho para suas necessidades Lamparina gritou para ele: - Siga a seta! E não é que o ex-lobinho fez uma privada perfeita? Passou a ser respeitado por todos. Era um perfeccionista. Seus nós, amarras e costuras de arremate eram de dar inveja. Era bamba no uso do cipó, com a machadinha e um facão. Outros escoteiros de patrulhas diferente sempre o procuravam. Lamparina tornou-se perito em orientação, mapas e croquis. Dominava com facilidade uma bússola Prismática ou a Silva. Em um acampamento construiu um relógio de sól. Até o Chefe veio ver e aplaudir. Era de uma criatividade incrível. O que fazia de artimanhas e engenhocas deixavam todos perplexos.

                 Chefe Montserrat pensou vários dias o que fazer com ele. Em menos de um ano se fizesse a jornada poderia sem duvida receber a Primeira Classe. Mas como? Ele não tinha nem a segunda classe. Era um simples Escoteiro noviço. O tempo sempre ajuda. Lamparina se tornou um herói na Tropa Escoteira Visconde de Mauá. Não era soberbo, nunca foi. Humilde, simples e amigo de todos. Tinha uma enorme força e agilidade fora sua inteligência. Quando Maniento passou para sênior ele assumiu a monitoria. Um exemplo para os demais. Pé de Cabra, Canela e Porteira que tinham três anos de patrulha e eram Primeira Classe não reclamaram. Era natural que Lamparina assumisse.

                 Em setembro a tropa recebeu um convite para um Curso de Monitores que chamavam de Ponta de Flecha. Lamparina pensou em não ir. Achava que os dirigentes do curso eram pomposos demais e muitas vezes ensinavam aos monitores normas e cerimonias diferente do que fazia. Se pelo menos o Chefe Montserrat estivesse presente tudo bem.  Acabou indo, não queria decepcionar os demais monitores.  O Distrital ficou boquiaberto com Lamparina. Praticamente era ele quem adestrava a todos com as técnicas, como fazer, como ser amigo dos patrulheiros como liderar e ser liderado. Os chefes do curso não saiam de perto dele.

                Ah! O meu amigo Lamparina. Ficou até aos dezessete anos no Grupo Escoteiro. Um dia disse que recebeu uma bolsa de estudo para uma faculdade na capital. Muito choro, muitas tristezas muitos apertos de mão e ele partiu em uma tarde fria de fevereiro de 1958. Todos sentiam sua falta. Foi o líder e a alma do grupo. Três anos longe de Valadares. Passando para pioneiro tinha saudades dele. Sempre lembrado em qualquer atividade escoteira. Nos fogos de conselho fazia-se silêncio quando diziam o nome dele. Era um mago, um palhaço lindo, um contador de histórias sem igual. Dedilhava um violão com maestria e sabia cantar como ninguém.

                       Quatro anos depois voltou à cidade. Para ele era um volta a Gilwell revendo os amigos que tanto amou. No bar do Tonhão, Maniento, Canela, Porteira, Mosquito, Sorridente eu e Pé de Cabra lá nos encontrávamos para ouvir suas historias capital. Nunca o vi mal uniformizado. Sempre um exemplo. Ainda me lembro dele com seu bastão totem, correndo com sua Patrulha para os acampamentos, orgulhosos com suas mochilas e suas bandeiras para descobrir novas florestas, campinas, vales e serras nas montanhas que circundavam nossa cidade. 

                     Na última vez deu um abraço apertado em todos. – Amigos agora ficará difícil minha volta aqui ao grupo. Vou partir, uma proposta de trabalho na Suíça vai me tirar o sonho de estar com vocês sempre. Vou deixar aqui meu coração, meu amor e minha amizade. Minha mente vai, mas meu coração estará aqui com vocês. Olhei aquele jovem grandalhão com lágrimas que caiam no chão sagrado de sua cidade.

                         Eu não sei por que a razão a despedida nos dói tanto se nossas almas estão ligadas. Talvez tenha sido e sempre serão. Talvez tenhamos vivido mil vidas antes desta e em cada uma delas sempre nos encontramos. E talvez a cada vez tenhamos sido forçados a nos separar pelos mesmos motivos. O adeus triste e choroso sempre machuca a quem queremos bem. Nunca mais o vi. Nunca mais o esqueci. Lamparina foi um Monitor que posso dizer que sempre admirei e amei!  

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