Lendas escoteiras.
A lenda do broche de ouro.
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Caramelo freou com força sua bicicleta na porta da Oficina de meu pai. – Estava
sem ar, vermelho espavorido e gritou: Vado! Encontrei um escoteiro de passagem,
vale a pena conhecê-lo. - Era sempre assim, Caramelo nosso almoxarife quando
não estava na escola ou em reunião de Patrulha você o encontrava na Rodoviária
ou na Estação Ferroviária. Ele mesmo um menino sem linhagem acreditava que era
um Hercules Poirot o um Sherlock Holmes. Vivia a cata de notícias, coisas de
cidade pequena para dar um toque especial nas reuniões de Patrulha que
aconteciam três vezes por semana.
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Uma vez perguntei a ele quais livros tinha lido dos seus personagens e ele
sempre respondia que tinha lido “O caso dos 10 negrinhos” de Agatha Christie e
leu na casa do seu tio o Assassinato no expresso Oriente. Foi uma época sem TV,
sem internet, sem smart fone, mas que nos levava sempre a Biblioteca Municipal.
Eu frequentava atrás de histórias escoteiras. Não havia nada e somente a
bibliografia de Baden-Powell e seu escotismo na Enciclopédia Britânica.
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Vamos? Não posso Caramelo. Meu pai saiu para atender um cliente e não sei
quando volta. Mas o que você viu mesmo? – Ele com seu jeito de futuro escritor contou-me
na maior cara de pau que na Estação desceu um viajante com um broche de ouro na
lapela e tinha uma flor de lis. – Mas Caramelo, só porque tinha uma flor de
lis? Vado meu Deus! Tinha o emblema da UEB. Era um escoteiro eu juro! Comecei a
interessar pelo viajante e seu broche de ouro. Dificilmente descobríamos
escoteiros em visita a nossa cidade. Quando aparecia um era um pandemônio,
todos querendo abraçar, ouvir e contar causos.
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Não havia mais do que cinco meses que tinha ido a capital com o dinheiro da
escoteirada para compras na cantina escoteira na capital. Fui lá muitas vezes e
todos me achavam conhecedor do Brasil. Quando o Chefe Jessé apareceu com um
broche de lapela não teve um escoteiro que teve o brilho nos olhos pela
descoberta. Foi tanto interesse que a “vaquinha” pagou minha passagem ida e
volta e trouxe uma mochila belga das grandes cheias de badulaques escoteiros.
Foi uma verdadeira expansão do escotismo na cidade. O prefeito, alguns
vereadores, o juiz e o delegado ganharam seu broche.
Meu
pai chegou e parti com Caramelo atrás do homem misterioso que usava um broche
de ouro na lapela. Uma vez o Padre Peter Klaus recém-chegado da Alemanha e
assumindo a paróquia Santa Rita fez uma visita à sede escoteira a convite do
Chefe Jessé. Viu todos uniformizados e mesmo com a flor de lis de lapela.
(neste caso não devia ser usada). Olhou para todos e no seu linguajar alemão, mal
falava o português começou a contar uma lenda Broche de Ouro.
– Escoteiros!
Conta-se uma lenda do Escaravelho Dourado que originou o adorno.
A história
conta que tudo começou na civilização Maia com a história de uma princesa que
se apaixonou por um homem com o qual não poderia casar. Tão inconsolável ficou que
chorava dia e noite por seu amor proibido. Um xamã ouvindo seu choro e
descobrindo a causa, transformou-a num besouro brilhante, uma joia viva. O seu
amado colocou o broche em seu peito e assim ela passou a sua vida perto do
coração que ela amava. A fama do Broche de Ouro correu mundo e hoje é uma
mensagem para quem os usa na lapela.
- Olhou para todos e sorrindo terminou sua lenda: A imagem
é de um broche que hoje em dia ainda é muito vendido na América Central: a de
um besouro vivo cravejado de pedras. Ele é preso na roupa, na altura do
coração, por um alfinete. Dizem que dura em média três anos. É vendido com um
pedaço de tronco oco - Seu habitat - onde retira os nutrientes necessários para
se alimentar. Isto não é incrível? Olhei para Caramelo, pois estava cansado de
pedalar por toda a cidade na busca do Broche de Ouro.
Caramelo com os olhos vermelhos me pediu desculpa.
Vado sei o que vi, não duvido. Não duvidava para nós a palavra do escoteiro era
ponto de honra. Demos por encerrada a busca e fomos para a sede, mesmo sendo
pouco mais de duas horas da tarde de uma quinta sem reunião sempre tinha alguém
lá para papear, montar pioneirías, treinar nós... E nunca mais vimos na cidade
um homem misterioso com seu Broche de Ouro na Lapela que eu sonhei ver e ter
uma para mim.
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