segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Thiago. O último nascer do sol.


Thiago.

O último nascer do sol.


Nota – Quando fizer algo e ninguém perceber não fique triste. O sol quando nasce faz o maior espetáculo do mundo e nem todos estão acordados para poder ver! Apenas um conto, sem muita pretensão de ser o melhor!

Perdi um sol e ganhei experiência. O que vale mais dormir ou ver um sol despontando na invernada, o cantar da passarada, será mais uma maravilha da natureza? Tempos... Muitos. – Meu Chefe sorrindo me disse: Thiago Escoteiro, na virada desta noite, quando chegar à madrugada vai haver o mais lindo amanhecer com um nascer de sol para nunca mais esquecer. Olhei para ele de banda. Sabia do meu ofício em fazer sacrifício para ver um sol e uma lua brilhando no firmamento, onde se pode pegar no pensamento. 


Tinha de tomar posição, fazer arrumação, mochila agua no cantil e partir sem mais pensar. Meu Chefe sabia que eu amava a natureza, amava o sol a lua, o anoitecer e o amanhecer. Amava a passarada e a floresta quando começava a chover. Sei que o nascimento do sol é um dos espetáculos mais fabulosos da terra. É magnifico a aurora se abrindo em todo seu esplendor de cores, para dar a luz a um novo dia que vai surgir. Corri feito o vento a cata de companheiro, um bom escoteiro para me fazer companhia. Todos compromissados. Era eu sozinho e mais ninguém.



Montei no meu cavalo de aço quando a meia noite se foi. Parti feito um condenado ao pico difícil de ser alcançado. Enquanto pedalava nas campinas, sabia que logo ia chegar às colinas. Pensando na minha viagem me lembrei de um poema que li e não escrevi. – “Quem quiser plantar saudade, trate de escaldar a semente. Plante no solo bem duro, onde o sol seja mais quente. Pois se plantar no molhado, ela cresce e mata a gente”!


No fundo do bornal tinha biscoito, doce de paçoca e um belo pedaço de bolo. Me deu vontade de comer... Agora não. Precisava de chegar. No pé da montanha escondi meu cavalo de aço e parti. Três horas de escalada, e eis que suando as bicas, resfolegando demais procurei o ar da montanha, eu chegava no lugar. Sentei admirando a paisagem, linda demais com as estrelas, uma lua enluarada, e sozinho com meu Deus, fiquei aguardando o alvorecer.

Encostado num troco fofo, com sono e meio balofo, tentei nem cochilar. Meu Chefe afirmou que só daqui a dez anos, poderei de novo ver este sol nascer. É lindo a madrugada, ventinhos gelados ao sul, orvalho intempestivo, brisa gostosa a soprar. Meia dúzia de vagalumes piscavam mostrando ser donos do lugar. Fiquei de pé num estalo, o sono me veio a badalo. Eu não podia dormir. Me lembrei de um provérbio árabe que dizia: - A hora mais escura do dia vem antes do sol nascer!

Não teve jeito, duas da matina três quatro e dormi. No chão acabrunhado, acordei sobressaltado, minha mochila ao meu lado, e vi que o sol me queimava, me acordando reclamando: - Pô Escoteiro, tu perdeu. Uma oportunidade perdida, pois não vou nascer mais para você. O meu espetáculo se foi. Volte daqui a dez anos escoteiro, desta vez o espetáculo foi só meu!

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