Lendas da
Jângal.
Lobo, lobo,
lobo!
Prefácio: Três pequenas
histórias para contar aos lobinhos. Espero que eles sejam felizes e que como
diz a lei, o Lobinho está sempre alegre!
As alegrias de Tião o
Lobinho.
Uma noite perto da estrada do Sol
Nascente, Tião voltava da roça carregando como sempre sua enxada atrás de seu
pai. Foi um dia cansativo e escaldante.
Nem na escola foi. Gostava de ir, era sempre uma alegria ver dona Elza
ensinando e sorrindo para todos. Não que ele não amasse seu pai, nada disso,
mas precisava trabalhar antes que as chuvas de setembro chegassem. Ao passar
pelo Sítio das Esmeraldas ele viu uma cena inusitada. Não sabia quem eram ou o
que faziam, mas eram meninas e meninos de sua idade, vestidos de azul com um
lindo boné e um lenço verde e amarelo cantando e brincando. Seu pai parou e ele
parou também para olhar. Uma menina morena de cabelos negros veio correndo e
pegou na mão dele dizendo: Venha brincar conosco! Ele olhou para seu pai. –
Pode ir filho quando terminar volte para casa.
Ficou com eles até às oito da
noite, foi convidado para o lanche, uma senhora simpática que todos chamavam
Akelá deu-lhe de presente um lenço e um boné. Foi sorrindo para casa. Dormiu e
sonhou com eles. No dia seguinte quando voltaram para a lide na roça eles não
estavam mais lá. Ele ficou triste, lágrimas nos olhos. Seu pai o abraçou. –
Filho seu dia vai chegar. Um ano depois antes de terminar a aula, Dona Elza
contou uma novidade – Teremos em breve uma Alcatéia de lobinhos na escola. Quem
quer participar? Tião não acreditava. Sentia-se o menino mais feliz do mundo.
No dia marcado para começar ele viu a menina morena que o convidou com seu
uniforme. – Sorriu para ele e lhe entregou um embrulho. Era o seu primeiro
uniforme de lobo. Tião não sabia se sorria ou se chorava. Ele sabia sim que era
o menino mais feliz do mundo!
Quando Ana voltou a ser
feliz.
Ana nunca foi feliz. Desde
pequena que não teve ajuda de ninguém para vencer as dificuldades que enfrentou.
Cresceu em uma favela. Quase não conseguiu terminar o primeiro grau. Sua mãe
adoeceu e morreu em pouco tempo. Com seus dezessete anos foi trabalhar de
doméstica em uma casa do melhor bairro da cidade. Não era bem tratada. Era
apenas uma empregada e nada mais. Um dia saiu de lá correndo por causa do dono
da casa. Achou que ela era mulher de vida e tentou ataca-la na sala. Fugiu
correndo sem levar seus poucos pertentes. Nem mesmo recebeu os proventos que
tinha direito. Na rua não sabia aonde ir. Lágrimas corriam em seus olhos
pensando na noite que ia chegar. Aonde ia se abrigar? Sentou na porta de uma
lanchonete e a fome apertou. Não tinha dinheiro não podia pagar. Alguém colocou
a mão em seu ombro. Assustou-se. Era um lindo rapaz de uniforme Escoteiro. – Estás
com fome? Ela não queria contar e disse não.
Ele insistiu e ela aceitou
um pequeno lanche. Ele tentava saber de sua vida e ela se fechava não contando
para ninguém. Disse que ela poderia dormir na sua casa e ela riu pensando que
era mais um querendo aproveitar. Ele ligou e logo chegou uma senhora de cabelos
brancos e uma mocinha de seus treze anos, também uniformizados de Escoteiro.
Não teve jeito ela aceitou. Ficou com eles por um mês. Fez tudo que pediram,
mas eram educados demais para pedir. Ela não entendia porque o jovem a olhava
diferente. Ela também sentia uma atração. Os meses passaram, Ana e Paulo se
casaram. Ele a levou para o Grupo Escoteiro que sua mãe dirigia. Ela nunca
sentia tão feliz. Tornou-se uma Chefe de lobinhos. Amava sua Alcatéia. As
noites ela e ele sentavam na varanda e quase não falavam. Amavam-se através dos
olhos de caricias feitas sem segundas intenções. A vida é assim, basta um
segundo para nosso destino mudar. E o de Ana a vida trouxe para ela a felicidade
que nunca pensou encontrar.
A saga de Poliana e a
sede escoteira.
Todos estavam perplexos.
O padre deu 30 dias para todos desocuparem a sede. Era ordem do bispo. Os
vicentinos teriam prioridade. O Chefe Nonô com lágrimas nos olhos tentou
argumentar com o padre e este foi irredutível. Fizeram um Conselho de Chefes,
iriam fazer uma Assembleia. Sabiam que seria difícil reverter à posição do
Bispo. Poliana estava inconformada. Afinal ela a Akelá o Balu a Kaa e todos os
lobos ficaram cinco reuniões para fazer a Gruta do Conselho. Ficou linda num
canto da sede. Poliana chamou Neco e Priscilla. - Não vamos perder nossa sede.
Eu tive uma ideia. Vamos até o Palácio Episcopal no centro da cidade. O Bispo
vai nos receber de um jeito ou de outro! Não participaram do cerimonial e não
avisaram ninguém. Pegaram o ônibus e as três estavam na porta do palácio. Não
foi difícil entrar, mas um vigia queria barrar a entrada até a sala do Bispo.
Os lobos não se deram
por vencido. Deram uma quinada no vigia e subiram correndo as escadas. A
policia foi chamada. Don Flávio assustado foi ver o que é. – Ora, ora, apenas
três crianças e são lobinhos e vocês fazem um barulho deste? – Levou-os até seu
escritório. Ouviu o que tinham a dizer. Mandou seu secretário buscar biscoitos
e chocolates para eles. Poliana agradeceu e disse: Eminência, o padre vai tomar
nossa sede escoteira. Disse que o senhor quem mandou. Como pode ser tão
malvado? – Don Flávio quase caiu da cadeira. Não se lembrava disto, mas se
estavam fazendo assim com os escoteiros ele iria tomar providencia. Mandou o
secretário preparar o carro, pediu também para colocar bastante biscoito e
chocolate para todos. Na sede foi uma festa. O bispo escreveu do próprio punho
um documento. Enquanto houvesse um Lobinho ou escoteira a sede seria deles.
Chefe Nonô e todos sorriam à lobada se divertia com os chocolates, o padre veio
correndo e quase chorando pediu desculpas ao Bispo. É a males que vem para o
bem. Enfim três lobinhos tomaram atitude de gente grande e resolveram à parada!
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