Negócio de
ocasião.
A venda um
coração Escoteiro!
Uma explicação: -
Quando fiz esse artigo estava (e ainda estou) desiludido com os rumos do escotismo
atual segundo minha visão do programa de Baden-Powell (nem sempre correta). Meu
coração balança, mas não vou me abdicar do que acredito. Nasci escoteiro e
morrerei escoteiro. Não sou e nunca serei um aluno de Platão, de Sócrates, Aristóteles
e Baden-Powell. Sou apenas um aprendiz. Uso e abuso da máxima, “Uma vez
Escoteiro”... Sempre Escoteiro! Sempre Alerta!
- A todos que
interessarem estou colando a venda com muita dor no coração um canivete Suíço,
usado por muitos anos e que serviu para limpar peixes que pesquei nas centenas
de acampamentos que fiz. Vai junto uma mochila verde musgo, que ganhei de um
Capitão do Exercito lá pelos idos de 1951 em ótimo estado de conservação. Ela viajou
em meus costados por longas jornadas me levou a lugares incríveis, serras e
montanhas nunca imaginadas. A venda também um colchão feito de dois sacos de
estopa, vazios, que se transformam em um colchão quando cheio de capim ou folha
seca quando forem acampar. Vendo uma marmita seminova limpa sem carvão, que
ganhei de um fazendeiro de Mantena em Minas Gerais e nem sei se ele se arrependeu
em me dar. Vai junto um garfo e uma colher de pau que fiz quando tirei minha
segunda classe lá pelos anos de 1952. A caneca eu não tenho mais. Usava folhas
de bananeira ou de taioba que me serviram sem reclamar.
- Está à venda e com
muita tristeza um lenço verde amarelo, quadrado, pois assim era usado na época
da minha promessa ainda em perfeito estado de uso. Anexo uma faca mundial
simples, com o fio perfeito e com bainha em excelente estado de conservação
talqueada para não enferrujar. Vendo uma machadinha de Escoteiro, perfeita,
cabo de madeira de aroeira, envernizada, limpa, bem afiada e segue junto uma
pedra de amolar que meu pai me deu e usei por muitos e muitos e muitos anos.
Vendo um par de sapatos Vulcabrás, usados, mas ainda pronto para percorrer
léguas e léguas nas estradas de terra do meu Brasil. A venda minha bússola
Silva, que usei quando fiz minha jornada de Primeira Classe no vale do Cipó ainda
em perfeito estado, sem quebras ou riscos e junto vai uma bússola Prismática, presente
da Minha Tia da capital.
- Quase chorando coloco
a venda meu bastão Escoteiro, duas polegadas de diâmetro, um metro e sessenta
com ponteira de aço, com diversas marcas a fogo dos acampamentos que fiz. Em
cima uma representação do meu Cordão Verde e amarelo, o dourado e a Correia de
Mateiro que conquistei. Quem comprar recebe junto os cordões que conquistei. No
topo tem várias especialidades não tanto como hoje, mas me orgulho da de
Sinaleiro, Construtor de Pioneirías, Cozinheiro, acampador e Socorrista. Tem
uma bandeirola que ganhei de um guarda campo da policia rural quando acampei na
Serra do Caparaó em uma atividade no Pico da Bandeira. Com lágrimas nos olhos vendo
meu cantil francês, que um Escoteiro do Rio ganhou em um Jamboree no Canada e
me presenteou. Está limpo, sua capa bem adornada sem manchas. Vendo cinco
meiões já gastos, alguns puídos, pois viajaram por tantos lugares e que guardam
ainda belas recordações. Vendo um chapelão Escoteiro, de três pontas conservado
e com as abas retas sem tortura. Tive três deles, mas só um posso vender, os
outros valem uma vida escoteira que não posso perder minhas recordações.
Com amargura vendo
também minhas estrelas de atividade. Algumas com cinco dez ou quinze anos e
outras somente de um ano. Usei até receber minhas poucas medalhas de Bons Serviços.
Estão em perfeito estado, pois meu Chefe fazia questão delas brilharem. Vendo cinco
cadernos de aventuras, onde anotei minhas mais de setecentas noites de acampamentos,
com histórias e contos dos fogos de conselhos, jogos noturnos, travessias em
rios e balsas incríveis que hoje não existem mais. Vendo um sonho de menino que
se realizou como escoteiro e dele nunca esqueceu. Não posso vender minha honra
escoteira. Dela não abro mão. Meu caráter seguirá comigo para a estrela que for
me receber. Ainda guardo na mente minha única palavra, minha honra e ética
escoteira, minha lealdade e meu cavalheirismo aliado à cortesia que nunca
abandonei. Ficam também sem oferta meus setenta e dois anos escoteirando e
minha fé em Deus, pois sei que ele nunca vai me abandonar.
Pensei
em vender as estrelas brilhantes no céu por onde acampei e que levei comigo
devidamente guardadas no meu bornal amarelo por este mundão sem fim. As canções
do passado que cantei e outras que eu mesmo fiz não é tão fácil de vender. Inegociável
o sol meu amigo que não me pertence assim como a lua espetada no céu. Desculpe
não oferecer os milhares de cometas que passaram por mim em velocidades
incríveis sem dizer adeus e nem me lembro de quantos pedidos eu fiz. Ah! Ia
esquecendo, A coruja buraqueira minha amiga do Pico do Ibituruna não me
autorizou vender. O pardal o bem ti vi e a rolinha que me beijou nas margens do
lago dos cisnes onde fiz meus amados acampamentos também não posso dispor. O Lobo
Guará, um amigo da Serra da Piedade, Desconfiado sorriu e me disse: - Nem pensar
Vado Escoteiro, nem pensar... Não estou à venda!
Quem quiser comprar, me
encontre em Capella, uma estrela distante onde irei morar quando partir deste
mundo. Estará tudo lá, pois levarei tudo comigo amarrados no cabo trançado que
aprendi a fazer com um vaqueiro amigo calejado do Guaçuí. Sempre levava um
deles bem apertado no meu cinto escoteiro que nunca troquei. E se quiserem histórias,
venham sentar comigo em minha estrela que contarei a viva voz e de graça os
dias felizes que escoteirando viajei nos meus sonhos e os transformei em
realidades mil. Preço? Quanto valem? Não sei calcular. Venha se assente,
esquente um cafezinho que está na brasa. Faça uma oferta, pois na minha
Conversa ao pé do fogo você é sempre bem vindo. Espero você lá no céu amigo onde
irei habitar.
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