Histórias de
Fogo de Conselho.
O Formador.
Nota: - Um conto simples sem muitas
pretensões. Real? Deixo para cada um pensar a respeito. Muitas vezes sem
conhecer sem conviver temos animosidade com alguém. Isto não significa que não
poderíamos conviver em fraternidade. Um passo de cada vez. Uma noite linda e um
final de semana cheio de paz e amor.
Eu o conhecia de vista. Desculpe por não
dizer o seu nome. Eu não sabia. Sou ruim de memória para muitas coisas. Mas sou
bom para lembrar minha Promessa e minha Lei. Soube que era um velho formador
daqueles das antigas que ainda está na ativa. Não sei se ele me conhecia e até
mesmo suspeitava que eu não fosse para ele muito simpático. Por mim eu sei que
não era verdade. Muitas vezes cria-se uma barreira entre duas pessoas por
motivos abstratos e incompreensíveis que nem imaginamos o porquê de tudo. Seria
do nosso passado? Encontros em vida anterior? - Quem sabe o temor, o receio de
ser melindrado por outro que poderia não ter o mesmo pensamento a mesma maneira
de ver pontos de vista diferentes faziam com que ele não se abrisse para mim.
Já o tinha visto em
publicações nas redes sociais. Conhecia bem o escotismo de BP. Nunca trocamos
palavra e ele vivia sua vida e eu a minha. Muitas vezes pecamos por não dar um
sorriso, um aperto de mão e dizer: - Olá! Como vai? Quem sabe só isso abre
portas que estavam fechadas. Temos em nosso mundo muito disto. Desconhecemos
muitas vezes quem está ao nosso lado. Sei que muitos mais ligados à liderança não
me olham com bons olhos. Acho que eles têm razão. Não sou mesmo flor que se
cheire e metido a conhecedor do escotismo, por esta razão não sou bem visto por
muitos dirigentes. Dias destes fui convidado por um Chefe que também não
conhecia para participar de uma atividade em um Grupo Escoteiro que ele fazia
realizar anualmente. Precisava me espraiar voltar às origens e ver se ainda
tinha aquele espírito escoteiro que sempre acreditei ter. Aceitei.
Foi-me apresentado e educadamente nos
cumprimentamos como manda a boa fraternidade escoteira. Ficamos eu e ele próximos
em um banco ao lado do pateo de reuniões e por minutos não sabíamos o que
dizer. Achei que era hora de dizer a ele que éramos do mesmo sangue Badeniano e
não poderia haver distâncias em pessoas que acreditam na filosofia escoteira.
Ele se levantou e meio constrangido me deu um aperto de mão e calmamente me
disse Sempre Alerta. Sorri para ele e lhe dei um abraço. Ficou inibido e
ruborizado. – Me apresentei. Meu irmão escoteiro sou o Chefe Vado e quero que
saiba que é uma honra conhecer você! Ele se abriu. – Disse seu nome e
completou: - A honra é minha! A ponte em cima do fosso se materializou. Com
aquelas palavras já nos considerávamos amigos de longa data.
Vimos no
desenrolar do tête-à-tête que tínhamos muitos pontos em comum. Seu estilo não
era agressivo. Fora Sênior e passou uma temporada fora do escotismo. Voltou
pelo seu filho. – Velha formula que hoje traz bons frutos. Rapidamente contou-me
sua história. Nada de novo no front. Histórias de muitos que foram e desejam
voltar de novo à ninhada. Os tempos passados ficam na memória e voltar aos
tempos de menino é uma questão de honra para todos nós. Falei de mim com
cautela. Não queria me mostrar esnobe e nem vaidoso com o escotismo que fiz.
Outra época, outro momento que dificilmente voltará a acontecer. Sem ser
pedante me contou que em um curso há anos, dava uma palestra quando um
Chefe-aluno perguntou: - Chefe! – Diga uma frase sobre seu pensamento de
caráter! – Chefe Vado, ele disse, fui pego de surpresa. Lembrei-me de Rui
Barbosa e o imitei: - Meu caro Chefe eu não me importo com o que os outros
pensam sobre o que eu faço, mas eu me importo muito com o que eu penso sobre o
que eu faço. Isso é caráter! Ele ficou cismado e aproveitei para completar: - O
caráter é como uma árvore e a reputação como sua sombra. A sombra é o que nós
pensamos dela, a árvore é a coisa real...
O olhei com respeito. Sabia
que ali estava um homem de bem e conhecedor da metodologia Badeniana. Muitas
vezes precisamos estar próximo, ouvir muito, sentir a respiração e seu amor à
causa. Sabemos por experiência própria que quando estamos juntos em um
acampamento o conhecimento e a amizade aparece com rapidez. Eu poderia ter
completado que o caráter de uma pessoa é ver como ela trata os que podem não
lhe trazer benefício algum. Falamos de banalidades, de cortesia, de ética e vi
que ele fazia questão de ser um Chefe com dignidade. Não me convidou para uma visita
a seu grupo. Não precisava. Sabia que ele me mostrou que tinha seu coração
aberto e se o fechava não era pela pessoa e sim pelo que os outros poderiam
dizer. Voltei para casa satisfeito. Ele era um formador dos bons. Eu sempre
soube que o talento educa-se na calma e o caráter no tumulto da vida. A gente
nunca perde a capacidade de se surpreender. A vida se renova em velocidade
muito rápida e, por mais que você ache que já viu de tudo, ela sempre terá algo
novo pra te mostrar. Nós escoteiros e chefes ou mesmo dirigentes e formadores
não podemos ficar presos em um casulo. Nosso líder Baden-Powell fazia questão
de sorrir e de cumprimentar a todos em seu redor.
Marcamos nos encontrar
novamente. Eu e ele sabíamos que teríamos muita coisa para comentar e aprender
mutuamente. Muitas vezes é no até logo que há um verdadeiro encontro. É na
distancia que podemos nos aproximar mais. Infelizmente não aconteceu. Soube
meses depois que ele tinha partido para o Grande Acampamento no Céu!
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