Lendas
escoteiras.
A Árvore da Montanha.
(Um tributo à canção símbolo dos
escoteiros do Brasil)
¶ A
árvore da montanha
Ole-li aio...
Ole-li aio...
Não se mede o tempo. O tempo não pode
ser medido. O tempo eu o trago comigo presente nas minhas lembranças como se
fosse ontem, tudo está ali na minha frente como se estivesse gravado um filme
que nunca esquecerei. Tanto tempo se passou? Alguns dizem que sim, mas para mim
cada história do meu passado se torna presente quando eu começo a lembrar. Foi
em um acampamento na Chapada dos Lagos Negros. Naquela estradinha de terra a
carretinha não tinha o barulho peculiar das rodas na engrenagem. Nas retas dois
bastavam para empurrar e nas subidas todos colaboravam. Moleque o intendente
sabia do seu ofício. Ganhou do Seu Toledo do Posto de Gasolina um galão de
graxa. Das boas. Sei que ela durou anos. Todo mês Moleque lavava a carretinha e
lubrificava. Fazia isto com um carinho enorme. A carretinha era como se fosse
sua vida. Grande sujeito o Moleque.
¶ Esta árvore tinha um galho O
que galho, belo galho.
Ai, ai, ai que amor de galho. E o galho da árvore...
Ai, ai, ai que amor de galho. E o galho da árvore...
A jornada era para todos os
patrulheiros uma diversão. O acampamento nós sabíamos que deixaria saudades.
Duas coisas chamavam a nossa atenção quando acampávamos na Chapada dos Lagos
Negros. Logo depois da Curva do Lobo Cinzento avistaríamos o Sitio do Seu Modesto.
Gente boa, grande amigo. Gostava da gente como se fossemos seus filhos. Tinha
dois e eles cresceram, mudaram para a capital e o deixaram sozinho. Dona Salete
morrera há muitos anos e ele fazia de tudo não só para os filhos como para os
amigos que lhe davam a gratidão de uma visita. Ele não estava na varanda, mas
ela lá estava imponente, enorme mais de seis metros, há mais linda Porteira que
tinha visto. Dava um ar clássico e acolhedor às paisagens do campo. Entre as
duas sebes os mourões de madeira de lei se sobressaiam. Quem a fez era um
artista. Ela era verde, uma verde oliva que se sobressaia na entrada do sitio.
Corremos até ela, tiramos as mochilas e sem avisar ao Seu Modesto encarapitamos
em cima dela no primeiro vão entre uma taboa e outra. Um de nós empurrava até o
barranco, dava seu pulo certeiro e lá ia ela correndo ao vão do outro lado com
aqueles sete Escoteiros sorrindo e com um cantar que nunca esquecemos.
¶ A arvore da montanha
Ole-li aio...
Ole-li aio...
O barulho que ela fazia era uma melodia
doce e suave para nossa audição de Escoteiros mateiros. Na varanda Seu Modesto
chegava e nos cumprimentava. Querem almoçar? – Grato Seu Modesto, temos de
partir, queremos chegar até às duas da tarde! E despedindo dele e da porteira
partíamos. Agora era o Morro da Saudade. Quase dois quilômetros de subida.
Todos em volta da carretinha empurrando. Sabíamos que logo após a Curva da
Nascente ela estaria lá, imponente, a desafiar a natureza com sua arrogância de
uma altura e copa sem igual. A Castanheira se destacava sozinha naqueles pastos
verdejantes. Única a desfilar pelas terras dos sonhos. Ela com sua magnífica pose reinava sozinha.
Era hora de encher os cantis na nascente e molhar o rosto, tirar os sapatos e
sentir a água fria nos pés. Uma delicia incomparável! Depois um descanso
embaixo dela, descanso que muitas vezes ficamos até o raiar do outro dia. A
Castanheira nos fazia sonhar, uma Árvore na Montanha que chegava aos céus.
¶ Este galho tinha um broto Ó que
broto, belo broto.
Ai, ai, ai que amor de broto. E o broto do galho E o galho da árvore.
Ai, ai, ai que amor de broto. E o broto do galho E o galho da árvore.
Nossas mochilas nossos travesseiros
saudosos nos fazia sonhar ali embaixo daquele sombreiro maravilhoso. A Árvore
da Montanha parecia sorrir. Desta vez não ficaríamos muito tempo. Hora de
partir, podia chover ou escurecer e precisávamos chegar. Partimos. Sempre
olhando para trás como a dizer a Castanheira que não era mais que um até logo,
não era mais que um breve adeus. A volta já estava marcada. No topo da serra
onde a Árvore da Montanha reinava avistamos a Chapada dos Lagos Negros. Dois
lagos pequenos com um grande bosque em volta. Quantas vezes fomos ali? Nem
lembro mais. Eu só lembrava da Montanha onde tinha uma Árvore.
¶ A arvore da montanha
Ole-li aio (bis)...
Ole-li aio (bis)...
Sonhos não morrem jamais, sonhos
vividos são lembranças firmes na mente que dificilmente deixaremos fugir com
alguma outra recordação que não queremos perder. Acampamentos? Foram tantos!
Todos marcados no livro da vida. Os campos que nos receberam sorrindo, as selvas
que se apaixonaram por nós, os vales que se deleitavam com nossas presenças.
Uma noite, duas um punhado. Sem novidades no Front. Ali na Chapada dos Lagos
Negros nos divertíamos em um acampamento gostoso, um vento sul com brisas
frescas, sem chuvas, lagos a pedirem que banhássemos em suas águas cristalinas.
Foi no penúltimo dia quando a noite chegou fizemos um fogo estrela no centro do
campo de patrulha, Escoteiros sorrindo, uma conversa ao pé do fogo, canções
indo e vindo e ao cantarmos a Árvore da Montanha veio à lembrança. Olhamos uns
para os outros. Não havia o que discutir. Iriamos partir um dia antes.
¶Este broto tinha uma
folha. E esta folha tinha um ninho.
E este ninho tinha um ovo.
E este ninho tinha um ovo.
O acampamento estava supimpa,
gostoso, mas não sei por que nos deu uma saudade enorme da Árvore da Montanha.
Partimos à tardinha. Lá estava ela, pomposa, imponente como a nos dizer – Sabia
que viriam! Montamos rancho ali sobre sua sombra, um jantar delicioso, um fogo
quadrante sem fumaça para não machucar a Castanheira. A noite chegou. Não tinha
problemas... Sete Escoteiros ali sob a Árvore
iriam tê-la junto às estrelas cintilantes como sua barraca, dormir e sonhar com
a vida escoteira. A Árvore da Montanha estava feliz. E ela junto aquelas sete
almas nobres também dormiu. Era como se estivessem abraçados. Tornaram-se um
só. Brancas nuvens no céu sorriram. A estrela Dalva apareceu como se fosse um
anjo para olhar aqueles meninos heróis e aquela Árvore centenária que abrigou
para sempre todos os Escoteiros do Brasil. Da árvore do silêncio pende seu
fruto, a paz.
¶ E este ovo tinha uma
ave. E esta ave tinha uma pluma. E esta pluma tinha um índio.
¶ E este índio tinha um arco. E este arco tinha uma flecha. Esta flecha foi na árvore ó que árvore, bela árvore. ¶ Ai, ai, ai que amor de árvore.
E a árvore da montanha
Olé-li-aio (bis).
¶ E este índio tinha um arco. E este arco tinha uma flecha. Esta flecha foi na árvore ó que árvore, bela árvore. ¶ Ai, ai, ai que amor de árvore.
E a árvore da montanha
Olé-li-aio (bis).
Nenhum comentário:
Postar um comentário