sábado, 28 de fevereiro de 2015

O grande jogo do Ouro da Esfinge.



Lendas Escoteiras.
O grande jogo do Ouro da Esfinge.

                     Seria uma atividade de um domingo. Próximo ao Vale Cinzento. Disseram que seria filmado por uma emissora. Uma grande publicidade para o escotismo. Não podíamos ficar de fora. A vida pulsava com alegria em nossa tropa. Claro muitos esperando ansioso o dia em que iriam confraternizar com outras patrulhas. Diziam que estariam presente vinte ou trinta patrulhas. Talvez um pouco mais com as patrulhas femininas. Às oito da manhã partiram para a Matriz onde seria o ponto de encontro. Muitos lá estavam e como sempre a tropa do Chefe Jurema foi à última a chegar. Ele um rapagão de uns vinte e cinco anos, óculos escuros, chapéu de exploradores canadenses e uma vareta embaixo do braço. Chegou sem cumprimentar ninguém e deram o grito de tropa. Como sempre diziam que eram os melhores, iam arrasar. Nem o demônio podia com eles enfim um monte de asneira mais própria de times sem formação e que não sabiam ainda o que era uma fraternidade Escoteira.

           O distrital tomou a palavra e explicou o jogo. A conquista do Ouro da Esfinge. Deu como ponto de partida uma parte do Vale Cinzento que ia da nascente até a estrada do Astro Rei que cortava boa parte do Vale. Ali estavam escondidos quinze lenços escoteiros. Todos numerados. As Patrulhas não precisavam seguir a ordem, mas para achar a pista final precisavam de pelo menos cinco lenços. Menos que isto não seria fácil chegar ao Ouro da Esfinge. A ordem era clara. Toda a patrulha deveria  estar sempre juntos. Em cada ponto haveria um Chefe Escoteiro. Se a Patrulha dispersasse seria desclassificada. Às treze horas poderiam parar para o lanche. Obrigatório. Deu outras instruções e depois o debandar. Paulo Cobra Monitor da Caveira do Diabo (Como deixaram dar esse nome a uma Patrulha Escoteira ninguém sabia) se aproximou sorrindo e disse para Nonôvat – Não me esperava eim? Não tem para ninguém. Você sabe que somos os bons, os melhores da cidade. Melhor reconhecer agora e desistir! E começou a rir se dirigindo para sua Patrulha.

              O jogo começou guerra! Gritou o Comissário Distrital. Eram dez da manhã. Vai aqui, vai ali e a Patrulha Jaguatirica conseguiu achar três lenços. Faltavam ainda dois. Ao meio dia e vinte Nonôvat viu Paulo Cobra sozinho correndo sem a Patrulha. Não podia. Era contra as normas. Chamar um Chefe e dizer? Nonôvat preferiu ir atrás dele e ser sincero – Se continuar vou informar ao dirigente distrital. E ele sabia que faria isto. Correu atrás de Paulo Cobra que tinha subido em um penhasco proibido pela direção do jogo por oferecer grande perigo. Avisou sua Patrulha, deixou Leozinho no comando. Ao subir uns oitenta metros ouviu um grito de socorro. Avistou lá em bairro Paulo Cobra estirado em cima de um galho enorme de uma árvore. Desceu com cuidado.

              Paulo Cobra chorava. Gritava de dor. Dizia ter fraturado uma costela e o braço. Nonôvat achou que deveria ir buscar ajuda. Mas ventava forte e ele sabia que uma tempestade se aproximava. Deixar Paulo Cobra sozinho seria pior. Subiu na árvore. Galho por galho foi descendo Paulo Cobra. Ele gemia. Chorava e pedia sua mãe. Com muito custo chegou ao pé da árvore. A chuva caiu. Forte. Raios cortando pedras e árvores no fundo da garganta. Viu uma grande pedra que fazia uma espécie de caverna a uns quarenta metros. Pegou Paulo Cobra a moda Escoteira e o carregou ombro acima até a pedra. Não foi fácil. Ele era pequeno. Paulo Cobra forte, meio gordo. Nonôvat não desistiu. Chegou à pedra e protegeu o Paulo com sua blusa Escoteira ficando sem nada sobre a pele. Disse que ia buscar ajuda. Paulo gritou que não iria ficar só tinha medo. Muito medo.

             A chuva passou. Nonôvat pegou novamente Paulo Cobra e o colocou no ombro. Poderia ter ido buscar ajuda, mas Paulo Cobra choramingava, pedia para não ficar sozinho. Andava tropeçando. A cada cem ou duzentos metros parava para descansar. Viu que ia escurecer. Resolveu fazer um SOS. Acendeu um fogo com muitas folhas verdes. Com sua blusa presa em duas varetas tentava fazer no código Morse as letras S. O. S. difícil. Se conseguiu ou não a noite chegou. Mas menos de uma hora depois ouviu vozes.  Vários chefes chegando. Paulo Cobra foi levado por uma carroça de um sitiante. Nonôvat soube depois que quebrou duas costelas, uma fratura na coxa direita e no braço direito. Mas ia ficar bom. Levou sua Patrulha para visitá-lo em sua casa. Foi muito bem recebido. Paulo Cobra chorou varias vezes e pediu perdão por tudo que fez. Nonôvat o abraçou. Ficaram amigos para sempre.

                       Dois meses depois um “monte” de chefes adentrou a sede. Nonovat sabia que eram figurões da região e do distrito. A ferradura foi formada. O Chefe Ricardo usou da palavra para apresentar a todos. O Presidente Regional chamou Nonovat a frente. Ele se assustou. Que seria? Então ficou sabendo que iam lhe entregar a medalhar de valor. Ouro. Não era bronze e nem prata. Seria ouro mesmo. Acharam que ele mereceu. Nonovat segurou as lágrimas. Ele não era de chorar fácil. As patrulhas deram o grito. Nonôvat estava tremendo. Emocionado. Viu que seus pais também estavam lá. Todo o grupo se fechou em circulo fechado e deram o grito do grupo. Uma festa. Ele Nonôvat não sabia. No salão de festas muitos comes e bebes. Primeiro entraram os grandões, depois chamaram Nonovat. Ele educadamente disse que sua Patrulha fazia parte dele. Assim como as demais. Entraram todos. Até tarde da noite cantaram e brincaram. Nonôvat em hora nenhuma se sentiu superior. Ele sabia o que tinha feito. Ajudar um amigo Escoteiro. Não importa quem ele seja.


                       Nonôvat teve muitas outras histórias. Histórias que não serão contadas. Histórias de escoteiro de valor. História de Escoteiro amigo e fraterno. Aquele que pensa primeiro nos outros e que tem amor no coração. Dizem que cada coração tem uma sentença. Tem sim, Nonôvat tem a sentença de fazer o bem. Espírito Escoteiro antes de tudo. Soube que ele e seus patrulheiros sempre ficaram juntos mesmo quando passaram para Sênior. José Sanho, Marlon, Leozinho, Marcondes, Daniel um cozinheiro adorado e Zezé Ruaça. Uma vez eu disse para mim mesmo, tem gente que nasce para ser Escoteiro, tem gente que nasce para ser um grande Escoteiro e tem aqueles que nascem para dar o exemplo de humildade e amor com todos ao seu redor. Nonôvat, um Escoteiro que nunca será esquecido!   

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