Lendas escoteiras.
As aventuras do Escoteiro Chico Landi.
Eu conhecia pouco
Chico Landi. Ele com 12 e eu quase Pioneiro havia enorme distância. Mas sua
história todos conheciam. Ele mesmo quando entrou para o restrito Primeiro
Grupo de Giwell um dia em reunião só dos IMs tive a oportunidade de ouvir dele
toda a história que era contada no grupo e que virou mito e lenda. Sei que
parte da historia aconteceu. Disse que seu pai era um fã incondicional de Chico
Landi, um famoso automobilista brasileiro o primeiro a participar da Formula
um. Motivo de seu nome. Seu apelido de Centelha na Tropa não pegou. Chico Landi
gostava de dizer bem alto: - Escoteiro não corre, voa! Escoteiro que é
Escoteiro não chora da risada! A chuva para o Escoteiro é como pétalas de rosas
a cair em seu rosto! Não existe para o Escoteiro a palavra impossível.
Tinha um caderno onde
colecionava frases e ele mesmo inventava na hora outras tantas. A Baguira Vera
não sabia como a Akelá Rosinha tinha tanta paciência com Chico Landi. Era um
ótimo lobo, mas não parava de falar – Kelá! Tem dois meses que fomos ao
acantonamento, vamos fazer outro! Kelá chega de reunião na sede. Vamos passear
no campo! Chico Landi adorava a natureza. Quando passou para os Escoteiros tudo
mudou. Era uma Tropa quase autônoma de chefia. Marcio o Chefe tinha pouco tempo
para dedicar e deixava os monitores agirem sob a sua supervisão. Algumas vezes
acampavam juntos e a Tropa seguia sozinha sem adultos. Monty o Guia da tropa
dizia sempre: – Onde tem um Escoteiro tem uma Tropa e onde tem uma Tropa tem
aventuras. Chico Landi deixou de ser bom aluno. Dona Laurinda conversou com
seus pais. – Chico Landi deixou de estudar, só vive nas nuvens, Chico Landi não
pode continuar assim, só fala em escotismo, escotismo e mais nada! Doutor
Juvenal pai de Chico Landi era um pai compreensivo. Conversou longo tempo com o
filho.
Chico Landi adorava o pai.
Seguia seus conselhos a risca. Mas Chico amava o campo. Adorava correr pelas
campinas, espantar as borboletas colher flores silvestres e ficar horas vendo os
raios de sol de um amanhecer. Ele gostava de cantar. Sabia fazer nós, reconhecia
na natureza qualquer gorjeio, qualquer canto – Olhe! Ouçam! É o pássaro Preto
do serrado perdido aqui nas campinas! Pegadas? Chico era um bam, bam. Nos
acampamentos sua Patrulha Lobo era a primeira a dar o grito para o almoço,
jantar, inspeção, formaturas e sempre motivando a patrulha. - Monty, por que
não ganhamos? Monty ria, ora, ora Chico Land, não podemos viver em um
acampamento. A sede precisa de nós. Humm! Se é assim vamos fazer um Salcedo!
Para quem não sabe Salcedo era um apelido que deram ao Comando Crow. Eles
faziam diferente, um de cada lado, ao se encontrarem tinham de passar um pelo
outro. Sempre um despencava no chão. A vida era bela para Chico Landi. Uma
família que o amava, um grupo Escoteiro respeitado pela comunidade, uma Tropa
de aventuras e uma Patrulha sem igual.
Não vamos esquecer Dona
Laurinda a professora e o Padre Gabriel. Eles também faziam parte da família
feliz de Chico Landi. A vida tem destas coisas, quanto menos se espera o
destino bate na porta. Desta vez foi uma pancada forte do destino na vida de
Chico Landi. Seis bandidos resolveram assaltar o Banco do Brasil da cidade.
Prenderam os quatro praças e o sargento Nonô na cadeia. Acharam que a cidade
estava dominada. No banco Pinta Cega um vaqueiro da fazenda Luvião não achou
graça. Mandaram todo mundo deitar dando chute nas costas e na cara dos
clientes. Zé Pinga Cega não levava desaforos para casa. Seu 38 dentro do bolso de
seu paletó.
Nenhum dos bandidos reparou
nele. Era um anão de um metro e cinquenta, magro e um bigodinho a lá Charles
Chaplin. Com três tiros Zé Pinga Cega matou três, mais um tiro e outro caiu
estrebuchando no chão. Dois correram e Zé Pinga Cega correu atrás. Eles abriram
fogo e o Zé Pinga Cega recebeu um balaço nos quadris, mesmo caído atirou. Não
acertou ninguém e desmaiou. Os bandidos fugiram sem levar nada. Levaram Zé
Pinga Fogo para o Hospital de Eldorado a vinte quilômetros dali. O povo na
praça assustado custou para notar que atrás de um pé de Jabuticaba Chico Landi
gemia e cantava. Um canto triste. Ele cantava o Rataplã. Ninguem ouviu a
principio. Dona Modesta viu. Deu um grito. Chico Landi sangrava seu rosto
branco como cera. Mais um para o hospital de Eldorado. Ele tentou imitar o seu
herói querendo caminhar com suas próprias pernas.
Ainda estava vivo. Uma bala
perdida. Chico Landi ficou entre a vida e a morte. A escoteirada, a lobada e os
chefes iam ao hospital de Eldorado visitarem-no. Dona Neném sua mãe dia e noite
ao seu lado. Seu Pai o Doutor Juvenal fez tudo que podia. Chico não iria morrer,
mas estava tetraplégico. Nunca mais iria andar. A noticia caiu como uma bomba
na cidade. A lobada e a escoteirada choravam. O Padre Gabriel convidou toda a
cidade para uma grande missa e pedir a Deus por Chico Landi. Era o menino mais
alegre da cidade. Vivaz, grande Escoteiro, amante da natureza, era uma
infelicidade ele ficar assim.
A praça tomada, toda a cidade
estava lá. Muitos Escoteiros eram coroinhas e no altar ajudavam na missa. Muitos
com os olhos cheios de lagrimas, A Akelá Rosinha, a Baguira Vera e o Balu
Nonato choravam como bebês. Monty o Guia da Tropa estava firme com seu bastão
em pé ao lado do altar. Não chorava, mas seu coração estava sangrando. A
ambulância com o Doutor Juvenal e dona Neném chegaram na praça. Chico Landi em
uma cadeira de rodas chorava. Todos olharam para ele e soluçando. Alguém gritou
– Uma palma para Chico landi! A praça ribombou de cima em baixo. Chico olhava
sem acreditar. Ele não podia estar tetraplégico. Deus não ia dar a ele este
caminho. Um grito enorme na multidão. Um silêncio sepulcral. Chico Landi se
esforça e fica em pé. Impossível diziam os médicos que o assistiram. Chico
sorria. Cambaleando foi até o altar. O padre Gabriel ajoelhou e gritou – Um
milagre! Um milagre! Louvado seja Deus! Um coro de palmas durou bem uns vinte
minutos. Sorrisos em profusão.
Os seis patrulheiros da Lobo o
carregaram dando uma volta pela praça. Chico Landi ria e chamava em alto e bom
som – “Monty, Monty”! Eu quero acampar! Eu quero voltar ao campo nesta
primavera, eu quero ver as flores no monte Sariel, eu quero beber a água da
fonte do roncador. Monty, Oh! Monty. Papai e mamãe estão sorrindo eles não vão
dizer não. Chico landi levantou do banquinho de madeira que ele mesmo tinha
feito. Eu juro por Deus que é verdade. Eu juro por tudo neste mundo. Chico
landi com lágrimas parou de contar. Vi um enorme raio de sol iluminando aquela
noite. O fogo que eram só brasas reacendeu. As fagulhas da noite iluminaram
aquela clareira onde estávamos.
Uma brisa gostosa vindo do norte nos
pegou de pronto. Olhei para Jota Mauro, ele sorria. Olhamos de novo para Chico
Landi, ele olhava para o céu. Uma grande estrela brilhante estava lá. A maior
estrela que eu já vira até então. Parecia que ela e ele eram um só. Lembrei-me
de Chico Xavier: - Em minhas preces de todo dia, sempre peço coragem e
paciência. Coragem para continuar superando as dificuldades do caminho naqueles
que não me compreendem. E paciência, para não me entregar ao desânimo diante
das minhas fraquezas!... “E guardemos a certeza pelas próprias dificuldades já
superadas que não há mal que dure para sempre.”.
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