Helena.
Lembro bem dela.
Magrinha, sorriso delicioso, rouca para falar. Ultimamente taciturna, problemas
que não queria contar. Fui até ao campo de patrulha só ela a cozinhar. - E as
demais? Foram pescar outras colher flores eu fiquei chefe. Sentei no banco
tosco feito por elas. – Ela me olhou e sorriu. – Chefe, vai ser meu último
acampamento. Olhei curioso. – Como sabe? Eu sonhei Chefe. – Sonhou? Sonhei com
Deus dizendo que preciso mudar. Olhei enigmático. Falou com Deus? O senhor nunca
falou? Foi simples. Eu disse a ele estava próxima de perder as esperanças. Ele
sorriu e me disse que meus planos são maiores que os meus sonhos. O que ele
queria dizer Chefe? Falei quase sussurrando: - Talvez Deus não mude tua
situação, mas ele está usando o agora para mudar você. Ela me olhou sem
entender. – Continuei: - Faça algo que nunca teve, faça algum que nunca fez.
Nunca saberemos o quão forte somos até que ser forte seja a ultima escolha. Ela
não disse nada.
Chefe Mamãe me disse que se
alguém jogar pedra no meu caminho devo juntá-las e formar degraus para minha
vitória. As Escoteiras retornavam. Saudaram-me e eu voltei para o campo da
chefia. Neusa a Chefe estava lá. Paciência tem limite, mas o limite dela passou
a fase da razão. Era paciente demais. Nem me perguntou o que houve o que Helena
disse. Apenas sorriu e me olhou calada. – Não quer saber? Perguntei. – Que seja
livre para falar, que seja doce o que pensar e que seja breve o que tiver de
ser. Deus obrigado por iluminar o meu caminho. Minha vida tem sido
marcada por realizações diárias, que às vezes não dou o devido valor, mas eu
sei que a graça de Deus se faz presente em todos os momentos da minha vida. Eu
sabia que uma noite de sono resolve muito. O poeta dizia que a madrugada é a
hora que você pensa em todas as coisas que não pensou o dia inteiro.
Devia ter dito a Helena
que quando as coisas não fizerem mais sentido e nada mais prender nosso
destino, não tenha medo de trocar o roteiro. No palco da vida você só descobre
novos caminhos quando muda de direção. Alguns meses depois Helena se foi. Sua
mãe não contou e nunca nos disse o porquê. Afinal a vida é assim, cada um tem
suas escolhas. Uns vão por uma trilha que julgam perfeita outros não. Não
importa. Fiquei sabendo que ela se entregou a Deus. Irá viver para sempre enclausurada
em um Convento só para elas. Seu espaço será ínfimo, irá falar muito pouco. Sei
que dificilmente irá sair dali. Agora vive orando para o Senhor dos céus. Bonito mesmo é estar de bem com a vida e se ela
escolheu assim, assim será. Afinal o destino une e separa. Mas nenhuma força é
grande o suficiente para fazer esquecer pessoas que por algum motivo um dia nos
fizeram felizes. Vida longa Helena. Sua patrulha ainda fala em você e te saúda.
Seja feliz no caminho que escolheu!
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