segunda-feira, 30 de maio de 2016

A audácia dos amarelos.


Lendas Escoteiras.
A audácia dos amarelos.

                    Moreno olhava no espelho. Gostava do que via. Era simpático, agradável. Cabelos negros lisos, vasta cabeleira. Um nariz afilado e uma boca que as mulheres desejavam. Usava um perfume exclusivo importado. Sabia que todos o admiravam e sempre impressionava a primeira vista. Moreno não sabia o porquê do seu apelido. Tinha a pele clara, alto, dentes perfeitos. Moreno se achava um partidão. Mas infelizmente Moreno sabia que não era isso que procurava. Ria sempre do que fazia. Dizia a si mesmo – Enquanto houver escoteiro otário nesse mundo eu vou me dar bem.

                   Moreno nunca fora Escoteiro. Um dia em uma cidade do interior tentava aplicar um golpe no prefeito da cidade quando viu os escoteiros. Isso mesmo. Moreno era um escroque. Melhor dizendo ele era um embusteiro, trapaceiro, impostor e fraudador e ladrão. Vivia disso. Seus golpes já não davam os resultados esperados. Porque não dar um golpe nos escoteiros? Bolou um plano. Plano que deu certo. Na primeira cidade na Bahia, conseguiu roubar um cofre cheio de dólares. No Piauí não foi muito, mas deu para o gasto. Assim o nordeste conheceu a fama de Moreno. Ou melhor, os escoteiros. Mas nunca puderam provar nada.

                     Era simples seu golpe. Comprou um uniforme Escoteiro caqui de tergal, um chapéu, distintivos, um lenço azul (ficou sabendo que era o lenço dos dirigentes) e além da meia de seda tinha um sapato preto incrivelmente bem engraxado. Sabia que isso impressionava. Chegava à cidade, se informava do dia de reunião e hora. Chegava com aquela estampa toda – Sempre Alerta! Beijos aperto de mão forte. Moreno aprendeu muitas coisas. Até nós o danado sabia dar. Aprendeu alguns jogos que os meninos adoravam. Fazia amizade com os chefes, mas suas vítimas eram os lobinhos.

                      Isso mesmo. Eles eram sempre mais puros, mais simples, acreditavam em tudo. Moreno escolhia o mais bem uniformizado, o mais falador e aos poucos descobria os mais ricos. Fazia jogos (as Akelás adoravam) Contava história e assim cativa à turma do Mowgly. Na cidade de Ubaráu, interior de Goiás lá estava moreno. Conquistou todo mundo. Os lobinhos riam a valer com ele. Anotava tudo. Vamos fazer o jogo dos ricos – Eu pergunto vocês respondem um por um! – Quem é o mais rico na cidade? Dr. Antônio dizia um - Não o Senhor Ludovico! Dizia outro. E aos poucos ia sabendo o que faziam e o resto era fácil.

                       Escolheu a casa do Dr. Antônio. Sabia que ele era do Lions Club e todo sábado com a esposa ia ao jantar de gala que era uma tradição. Não voltariam antes da meia noite. No hotel tirou o uniforme, vestiu sua roupa preta, guardou a mascara e esperou pacientemente a saída do casal. Eram nove da noite quando entrou. Tinha uma chave mestra. Abria com facilidade qualquer porta. Entrou. Silencio. Tudo na penumbra. Viu a escada que levava ao quarto. Subia pé ante pé quando recebeu na cabeça com toda força um saco de areia na cabeça. Caiu da escada.

                     Uma voz horrenda gritou – Deita no chão bandido. Vou te matar. E Moreno ouviu um tiro. Deitou logo. Alguém amarrou suas mãos e seus pés. O viraram de barriga para cima. Meu Deus! Não acreditava no que via! Era a matilha amarela e a frente Neco, o primo da matilha. Logo chegou o delegado. Levaram Moreno preso. A cidade inteira ficou sabendo. O delegado disse que ele dava golpes em muitas cidades com Grupo Escoteiro.

                    No sábado, após a cerimonia de bandeira todos se reuniram com Neco. Como você desconfiou Neco? Chefe, muito fácil. Muito fácil. Vocês não notaram que ele usava o distintivo de promessa no bolso direito? E o distintivo da região do Rio de Janeiro no ombro esquerdo? E as estrelas de atividade? Todas no bolso direito. Tudo errado! Se ele era "Chefe" Escoteiro, devia saber como colocar no lugar certo!

                        Muitas risadas. E o tiro? Perguntaram. O saco de pipoca.  E o saco de areia? Vimos no filme “Esqueceram de mim” que a Akelá passou aqui. E a voz grossa? Ligamos o som, já tínhamos gravado em casa. Papai achou que era uma brincadeira. A Matilha Amarela se portou com vivacidade e sabia como fazer. Não eram ainda Sempre Alerta, mas abrir os olhos e os ouvidos isto sim, eles eram perfeitos. Esses lobinhos maravilhosos. Fico espantado com eles sempre que os encontro.


E viva os Amarelos, agora chamados na Alcatéia de “OS AUDACIOSOS” Uma grande palma Escoteira para eles! E para terminar eu digo sempre: - Adoro estes lobinhos que bebem água no rio Waigunga e se sentem felizes em Seeonee, onde a vida pulsa, pois eles sabem que são do mesmo sangue. “Tu e Eu”!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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