Joubert.
O catador de limão. Jogo
simples e que exigia muito. Joubert caiu como um tomate maduro ao chão.
Escoriações na face. Iria abrir o berreiro de sempre. Desta vez não. Sorria!
Incrível! Joubert sorrindo? Era um pata-tenra molenga que a patrulha abominava.
Seu sorriso era contagiante. Eu sabia que sorrir é a segunda melhor coisa para
se fazer com a boca, a primeira continuava a permanecer calado. A Tropa não
esperava. Ninguem esperava. Como disse o poeta muita coisa que ontem parecia
importante ou significativa amanhã virará pó no filtro da memória. Mas o
sorriso? Ah! Esse resistirá a todas as ciladas do tempo. Levantou e perguntou
ao monitor: - Vamos continuar? Era demais. Uma virada no tempo do passado. –
Olhou para mim: - Chefe mamãe me ensinou que chorar alivia, mas sorrir torna
tudo mais bonito. Eu não estava acreditando. – Compartilha? Ele me olhou
levantando as sobrancelhas. Compartilhar Chefe? Essa sua alegria, este seu novo
jeito de ser. – Ele riu. Mamãe me deu um abraço! Um abraço? Foi aí que lembrei
que desde que seu pai foi para o céu ela nunca mais sorriu para ninguém.
Um simples abraço de uma
mãe? Ele sorriu. Olhou-me e disse: Chefe sabe o que ela disse? – Que seu lugar
favorito seria sempre dentro do meu abraço. Lembrei-me de Leôncio um Sênior que
ia embora e chorando tentou sorrir: - Chefe aproxime-se mais... Vou lhe dar meu
último abraço. Tente sentir do que um abraço é capaz. Quando bem apertado, ele
ampara tristezas, combate incertezas, sustenta lágrimas, põe nostalgia de lado.
E é até capaz de diminuir o medo. Se for cheio de ternura, ele guarda segredos
e jura cumplicidade. Um abraço Chefe de um amigo de verdade divide alegrias e
fica feliz em comemorar o que quer que seja mesmo a dor de uma partida. Abraços
são pequenas orações de fé, de força e energia. Cabra danado o Leôncio. Dizem
que agora é Chefe Escoteiro em um país da América do sul. Joubert mudou. Era
outro. Não percebeu o bem que fez a patrulha e a Tropa. Com seu sorriso fez
todos sorrirem. Antes no acampamento as noites eram de lágrimas saudades da
mamãe, hoje de alegria, de aprender com os pássaros seu cantar, de sorrir para
a lua e de correr sorrindo pelas campinas.
Nunca esqueci Joubert.
Antes do seu sorriso era uma Tropa, agora é outra. Todos aprenderam a sorrir.
Mas quem não sabe sorrir Chefe? Olhei para ele agora sorrindo também. Eu gosto
de gente que sorri com os olhos, que sorri com a alma, que sorri de dentro para
fora e vice versa. Gente que sorri apesar de tudo, que contagia quem está ao
seu redor. Gente que nem parece viver num mundo tão injusto, porque sabe sorrir
e melhor ainda, sorrir de verdade! Nicolino quando passou para os seniores me
procurou: - Chefe Faça de Joubert o próximo monitor. O senhor não vai se
arrepender. Mas deixei que a patrulha escolhesse e por unanimidade Joubert foi
eleito. Ah o tempo! Um dia Joubert se foi. Voltou sorrindo doutor. Na sede nova
leva de meninos que tinham ouvido falar em Joubert. Um circulo se formou com
ele no meio. Olhava a todos sem distinção. – Escoteiro, nunca esqueçam, a vida
me ensinou que chorar alivia, mas sorrir torna tudo mais bonito. E porque não
abraçar? Tem palavras que chegam como um abraço... E tem abraços que não
precisam de palavras... E Joubert fez questão de abraçar a todos naquela hora!
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