quarta-feira, 1 de junho de 2016

Joubert.


Joubert.

                     O catador de limão. Jogo simples e que exigia muito. Joubert caiu como um tomate maduro ao chão. Escoriações na face. Iria abrir o berreiro de sempre. Desta vez não. Sorria! Incrível! Joubert sorrindo? Era um pata-tenra molenga que a patrulha abominava. Seu sorriso era contagiante. Eu sabia que sorrir é a segunda melhor coisa para se fazer com a boca, a primeira continuava a permanecer calado. A Tropa não esperava. Ninguem esperava. Como disse o poeta muita coisa que ontem parecia importante ou significativa amanhã virará pó no filtro da memória. Mas o sorriso? Ah! Esse resistirá a todas as ciladas do tempo. Levantou e perguntou ao monitor: - Vamos continuar? Era demais. Uma virada no tempo do passado. – Olhou para mim: - Chefe mamãe me ensinou que chorar alivia, mas sorrir torna tudo mais bonito. Eu não estava acreditando. – Compartilha? Ele me olhou levantando as sobrancelhas. Compartilhar Chefe? Essa sua alegria, este seu novo jeito de ser. – Ele riu. Mamãe me deu um abraço! Um abraço? Foi aí que lembrei que desde que seu pai foi para o céu ela nunca mais sorriu para ninguém.  

                     Um simples abraço de uma mãe? Ele sorriu. Olhou-me e disse: Chefe sabe o que ela disse? – Que seu lugar favorito seria sempre dentro do meu abraço. Lembrei-me de Leôncio um Sênior que ia embora e chorando tentou sorrir: - Chefe aproxime-se mais... Vou lhe dar meu último abraço. Tente sentir do que um abraço é capaz. Quando bem apertado, ele ampara tristezas, combate incertezas, sustenta lágrimas, põe nostalgia de lado. E é até capaz de diminuir o medo. Se for cheio de ternura, ele guarda segredos e jura cumplicidade. Um abraço Chefe de um amigo de verdade divide alegrias e fica feliz em comemorar o que quer que seja mesmo a dor de uma partida. Abraços são pequenas orações de fé, de força e energia. Cabra danado o Leôncio. Dizem que agora é Chefe Escoteiro em um país da América do sul. Joubert mudou. Era outro. Não percebeu o bem que fez a patrulha e a Tropa. Com seu sorriso fez todos sorrirem. Antes no acampamento as noites eram de lágrimas saudades da mamãe, hoje de alegria, de aprender com os pássaros seu cantar, de sorrir para a lua e de correr sorrindo pelas campinas.


                    Nunca esqueci Joubert. Antes do seu sorriso era uma Tropa, agora é outra. Todos aprenderam a sorrir. Mas quem não sabe sorrir Chefe? Olhei para ele agora sorrindo também. Eu gosto de gente que sorri com os olhos, que sorri com a alma, que sorri de dentro para fora e vice versa. Gente que sorri apesar de tudo, que contagia quem está ao seu redor. Gente que nem parece viver num mundo tão injusto, porque sabe sorrir e melhor ainda, sorrir de verdade! Nicolino quando passou para os seniores me procurou: - Chefe Faça de Joubert o próximo monitor. O senhor não vai se arrepender. Mas deixei que a patrulha escolhesse e por unanimidade Joubert foi eleito. Ah o tempo! Um dia Joubert se foi. Voltou sorrindo doutor. Na sede nova leva de meninos que tinham ouvido falar em Joubert. Um circulo se formou com ele no meio. Olhava a todos sem distinção. – Escoteiro, nunca esqueçam, a vida me ensinou que chorar alivia, mas sorrir torna tudo mais bonito. E porque não abraçar? Tem palavras que chegam como um abraço... E tem abraços que não precisam de palavras... E Joubert fez questão de abraçar a todos naquela hora!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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