sábado, 11 de junho de 2016

As seis badaladas da Ave Maria.


Lendas Escoteiras.
As seis badaladas da Ave Maria.

                           Padre Tomazo tinha não mais que vinte e seis anos. Sempre sonhou em um dia ser um religioso. Dizia com convicção que foi a Virgem Maria quem um dia lhe apareceu em sonhos sorrindo e dizendo para ele ser um sacerdote, homem de Deus junto aos homens. Seu pai era um incrédulo e não levou a sério os desejos do menino. Sua mãe agradecia a Deus por lhe dar aquela graça. Entrou para o seminário contra a vontade de seu pai, mas com as graças da sua mãe. Era sua vocação e ele acreditava. Devoto de São Francisco de Assis tinha como modelo sua vida e seguidor do evangelho de Jesus. No seminário todos o admiravam. Diziam até que ele tinha todas as condições para ser um bispo e quem sabe um cardeal. Don Carmelo o arcebispo da cidade quando ele se formou o pós a prova. O mandou para a cidade de Cataclisma. Ele sorriu, já tinha ouvido falar de lá. Terra de criminosos e ladrões.

                         Quando subiu às escadarias da Casa de Deus ele parou no primeiro degrau. Parecia que na porta tinha alguém com uma figura de Satanás. Ajoelhou, rezou para a Virgem Maria, fechou os olhos e entrou. Vazia a igreja. Ninguem a esperá-lo. Dois anos depois havia dois mundos em Cataclisma, um formado por bandidos e ladrões, outro pelos novos catequistas formados pelo Padre Tomazo. Sentia-se uma mudança profunda nos rumos da cidade. O comércio aumentou e até mesmo turistas voltaram a visitar para ver o que o Padre estava realizando. Belzebu um maldito ladrão de estradas jurou o Padre Tomazo de morte. Seus comparsas tentaram dissuadi-lo, mas não houve jeito. O Padre Tomazo agora estava vibrando com sua nova criação. Um Grupo Escoteiro em Cataclisma. Ele pouco entendia e contava com a colaboração de Nilo Ventania. Fora Escoteiro na juventude e aceitou o convite do padre. A vida da cidade mudou muito com a chegada dos escoteiros. A bandidada se sentia ameaçada e o Padre Tomazo orava por eles, pois para ele todos eram filhos de Deus.

                     O primeiro acampamento do Grupo Escoteiro São Francisco foi o máximo. Padre Tomazo se obrigou a tirar umas férias de cinco dias e ficar com eles durante todo o tempo que lá permaneceram. Bebeu á agua da fonte da filosofia escoteira e sabia que nunca mais deixaria de ser um ativista Escoteiro. Na igreja muitas das organizações que o Padre organizou começaram a se sentir enciumados. Mesmo mantendo seu otimismo e seu ele sorriso, se desdobrando para estar presente eles queriam mais. Reclamaram com o Bispo Dom Carmelo. O próprio foi à cidade de Cataclisma para verificar o que acontecia. Não gostou dos escoteiros. Achava que a meninada era promiscua, pois junto estavam dezenas de meninas que se vestiam igual a eles. Por mais que o Padre Tomazo insistisse recebeu ordens de acabar com o Grupo Escoteiro. Que eles fossem fazer escotismo onde quisessem na sua igreja não.

                    O que fazer? - Ajoelhava-se no altar e de olhos fechados cantava baixinho o Te Deum, exaltando a Deus. Pedia uma graça, um milagre para que o Bispo visse como ele via aquela filosofia de uma organização sem igual. Cada badalada da Ave Maria era uma prece, um pedido, quem sabe Deus na sua infinita sabedoria poderia ajudar a dar a benção escoteira para o coração do Bispo? Sua prece foi atendida. Naquele dia o bispo voltava para sua cidade e uma chuva torrencial caiu na estrada. O carro do bispo um Velho Ford atolou na lama e nem ia para frente e nem prá trás. O Bispo não sabia o que fazer. Tinha reunião, tinha missa tinha de atender o cardeal que ia chegar. Eis que um olhar astuto, bonachão de um jovem disse para ele de supetão: - Deixa com nois Padre, marque no seu tic tac 20 minutos e vai voar que nem avião.

                  O Bispo espantado viu que eram seis escoteiros sendo duas mocinhas. Mochilas as costas, chuva no costado e eles nem aí, cortaram paus, escoraram pedras e logo o fordinho do Bispo de pôs a andar. Ele olhou os escoteiros, saiu do carro e pisou no barro sujando a batina, mas fazendo questão de abraçar e agradecer a cada um. Sem perceber o mosquito filosófico Escoteiro penetrou em seu coração. – Vai carona? Perguntou. “Gracias” padre. “Temos um caminho a percorrer, afinal nosso herói deixou para nós uma frase que ninguém esquece: - O Escoteiro caminha com suas próprias pernas”. O Bispo adorou aqueles meninos. Se o escotismo era assim ele teria que apoiar. Passou um telegrama para o Padre Tomazo. – “Mande bala, escoteiros aprovados. Conte cm minha benção”. – Bom demais para ser verdade pensou o Padre Tomazo.

                   A vida não é feita só de caminhos floridos. Em cada estrada existem espinhos nas curvas que aparecem. Belzebu entrou com mais uma quadrilha de bandidos na cidade. – Digam ao Padre se ele aparecer na minha frente lhe meto um balaço na cabeça. Na igreja Padre Tomazo pensava em seu mestre: - Vamos confiar mais em Deus e obedecer às Suas magnânimas leis. Se trabalharmos em favor do Bem, esse Bem virá ao nosso encontro, esta é a lei. Dito e feito. Um raio caiu na porta do banco. Belzebu ficou branco. Quase rachou no meio. Montou em sua égua Sibina e partiu correndo de Cataclisma. Nunca mais voltou. Quando em um final de novembro um padre de caqui e chapelão se dirigiu a bandeira à cidade inteira estava lá. Disse pensando em Deus: Senhor fazei de mim um instrumento de vossa paz. Eu prometo senhor fazer o melhor possivel... E Padre Tomazo foi promessado. Os escoteiros voltaram a sorrir. Para pregar a Paz, primeiro você deve ter a Paz dentro de você.

E de novo Cataclisma ouviu as seis badaladas da Ave Maria!

          

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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