sexta-feira, 3 de junho de 2016

Uma fábula para meditar. O menino que carregava água na peneira.


Uma fábula para meditar.
O menino que carregava água na peneira.

                      Certa vez, nos tempos dos sonhos impossíveis, um Velho sentado na beira de uma estrada sorrindo me chamou. – Escoteiro! Você sabe carregar água na peneira? Fiquei imaginando o que ele queria dizer. Ele não se fazendo de rogado, acedeu seu pito de palha me olhou e começou a contar: Era um Escoteiro que carregava água na peneira. O Chefe dele um homem muito sábio disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos demais amigos da patrulha. O Chefe disse que era o mesmo que catar espinhos na água. O mesmo que criar peixes no bolso. O escoteiro era ligado em despropósitos. Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos. O chefe reparou que o escoteiro gostava mais do vazio, do que do cheio. Falava que vazios são maiores e até infinitos.

                   Com o tempo aquele escoteiro se tornou cismado e esquisito, porque gostava de carregar água na peneira. Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira. No escrever o escoteiro viu que era capaz de ser um sonhador. O Escoteiro aprendeu tudo de nós e amarras e a usar as palavras. Viu que podia fazer peraltagens com as palavras. E começou a fazer peraltagens. Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela. O Escoteiro fazia prodígios. Até fez uma pedra dar flor. O Chefe reparava o escoteiro com ternura. O chefe falou: Escoteiro você vai ser poeta! Você vai carregar água na peneira à vida toda. Você vai encher os vazios com as suas peraltagens, e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos e outras não! E assim termina a história do Escoteiro que carregava água na peneira e depois se tornou um poeta.

                  Verdade ou não hoje fico pensando se ainda carrego água na peneira. Vejo e sinto que a água me escorre pelos dedos. Para onde vamos? Levanto a cortina dos meus olhos, contemplo a maravilha do amanhecer. Eu sei que a vida é uma criança, esperta, bonita, inteligente passa correndo, é preciso ver. Acredito e nem duvido que não exista dor sem alento nem tristeza tão longe da alegria. Quando a luz de cada dia acende a vida, iluminando o amanhecer, não vacila, toma posse da imensa alegria de viver. E então esqueço as tempestades, me dá uma vontade imensa de colocar meu uniforme, meu lenço e meu chapéu, pegar meu bastão e sair por aí a acampar. Chegar ao campo e ouvir a voz do vento: - Escoteiro! - Acende a fogueira acende! Ilumina esta clareira, as fagulhas subindo alto no firmamento vão virar estrelas! Acende fogueira acende! Tira da mata a escuridão, escoteiros reunidos ao pé do fogo de chão contam histórias da tropa guardadas no coração! - Acende fogueira acende arde até ao alvorecer, madrugada já vai alta acalenta o meu viver!

                   Apenas sonhos?


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