Uma fábula
para meditar.
O menino que
carregava água na peneira.
Certa vez, nos tempos dos
sonhos impossíveis, um Velho sentado na beira de uma estrada sorrindo me
chamou. – Escoteiro! Você sabe carregar água na peneira? Fiquei imaginando o
que ele queria dizer. Ele não se fazendo de rogado, acedeu seu pito de palha me
olhou e começou a contar: Era um Escoteiro que carregava água na peneira. O
Chefe dele um homem muito sábio disse que carregar água na peneira era o mesmo
que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos demais amigos da
patrulha. O Chefe disse que era o mesmo que catar espinhos na água. O mesmo que
criar peixes no bolso. O escoteiro era ligado em despropósitos. Quis montar os
alicerces de uma casa sobre orvalhos. O chefe reparou que o escoteiro gostava
mais do vazio, do que do cheio. Falava que vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele escoteiro
se tornou cismado e esquisito, porque gostava de carregar água na peneira. Com
o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira. No
escrever o escoteiro viu que era capaz de ser um sonhador. O Escoteiro aprendeu
tudo de nós e amarras e a usar as palavras. Viu que podia fazer peraltagens com
as palavras. E começou a fazer peraltagens. Foi capaz de modificar a tarde
botando uma chuva nela. O Escoteiro fazia prodígios. Até fez uma pedra dar
flor. O Chefe reparava o escoteiro com ternura. O chefe falou: Escoteiro você
vai ser poeta! Você vai carregar água na peneira à vida toda. Você vai encher
os vazios com as suas peraltagens, e algumas pessoas vão te amar por seus
despropósitos e outras não! E assim termina a história do Escoteiro que
carregava água na peneira e depois se tornou um poeta.
Verdade ou não hoje fico
pensando se ainda carrego água na peneira. Vejo e sinto que a água me escorre
pelos dedos. Para onde vamos? Levanto a cortina dos meus olhos, contemplo a maravilha do amanhecer. Eu
sei que a vida é uma criança, esperta, bonita, inteligente passa
correndo, é preciso ver. Acredito e nem duvido que não exista dor sem
alento nem tristeza tão longe da alegria. Quando a luz de cada
dia acende a vida, iluminando o amanhecer, não vacila, toma
posse da imensa alegria de viver. E então esqueço as tempestades, me dá
uma vontade imensa de colocar meu uniforme, meu lenço e meu chapéu, pegar meu
bastão e sair por aí a acampar. Chegar ao campo e ouvir a voz do vento: -
Escoteiro! - Acende a fogueira
acende! Ilumina esta clareira, as fagulhas subindo alto no firmamento vão virar
estrelas! Acende fogueira acende! Tira da mata a escuridão, escoteiros reunidos
ao pé do fogo de chão contam histórias da tropa guardadas no coração! - Acende
fogueira acende arde até ao alvorecer, madrugada já vai alta acalenta o meu
viver!
Apenas sonhos?
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